A Confissão de Fé Escocesa - Capítulo 24


24º CAPÍTULO

Do Magistrado Civil

Confessamos e reconhecemos que impérios, reinos, domínios e cidades foram diferenciados e ordenados por Deus; o poder e a autoridade neles – dos imperadores nos impérios, dos reis nos reinos, dos duques e príncipes em seus domínios, e dos outros magistrados nas cidades – são uma santa ordenança de Deus destinada à manifestação de sua própria glória e à singular utilidade do gênero humano.1 Por isso afirmamos que todos os que procuram levantar ou confundir todo o Estado do poder civil, já há muito estabelecido, não são apenas inimigos da humanidade, mas lutam impiamente contra a vontade manifesta de Deus.2

Além disso, confessamos e reconhecemos que todos os que foram colocados em autoridade devem ser amados,3 honrados, temidos e tidos na mais respeitosa estima, pois fazem as vezes de Deus, e em seus concílios o próprio Deus se assenta e julga.4 São eles os juízes e príncipes a quem Deus entregou a espada para o louvor e defesa dos bons e para justo castigo e vingança de todos os malfeitores.5 Além disso, afirmamos que a purificação e preservação da religião é, sobretudo e particularmente, dever de reis, príncipes, governantes e magistrados. Não foram eles ordenados por Deus apenas para o governo civil, mas também para manter a verdadeira religião e para suprimir toda idolatria e superstição. Pode-se ver isso em Davi,6 Josafá,7 Josias,8 Ezequias9 e outros altamente recomendados pelo seu singular zelo.
Por isso, confessamos e declaramos que todos quantos resistem à suprema autoridade, usurpando o que pertence ao ofício desta, resistem a essa ordenação de Deus e, portanto, não podem ser considerados inculpáveis diante dele. Afirmamos mais que, enquanto príncipes e governantes vigilantemente cumprirem sua função, quem quer que lhes recusar auxílio, conselho e assistência nega-o a Deus, que pela presença do seu lugar-tenente lhes solicita isso.

1. Rm 13:1; Tt 3:1; 1Pd 2:13-14.
2. Rm 13:2.
3. Rm 13:7; 1Pd 2:17.
4. Sl 82:1.
5. 1Pd 2:14.
6. 1Cr 22-26.
7. 2Cr 17:6, etc.; 19:8, etc.;
8. 2Cr 29-31.
9. 2Cr 34-35.

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Comentário: A questão da autoridade é da maior importância. Por natureza somos rebeldes e não gostamos da ideia de sermos governados. Desde que a serpente sugeriu a liberdade e independência ao homem ele embriaga-se com esse sonho. A realidade é que ninguém está fora da cadeia de autoridade que Deus estabeleceu em toda sua criação. Nenhuma criatura é autônoma e cada um de nós é colocado sob autoridades desde o nosso nascimento para aprendermos desde cedo que não somos uma ilha neste mundo. E a palavra de Deus afirma que toda autoridade é levantada e estabelecida por Deus - não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus” (Romanos 13.1-b). Assim, tanto quem está em autoridade quanto quem está sob autoridade, todos devem saber é Deus quem os posiciona e estabelece. E a palava do Senhor nos ordena a submissão não apenas as autoridades que andam de acordo com a reta justiça, senão também aquelas que agem injustamente - “sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus” (1a Pedro 2.18). Por que “quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus” (Romanos 13.2a). De forma que tanto o que manda quanto o que obedece, todos estão sob a fonte de toda a autoridade – o trono de Deus, pois é dali que emana o poder a autoridade absolutos. Quem resiste uma autoridade sofrerá as consequências temporais e poderá sofrer também a penalidade eterna. E quem abusa da posição de autoridade também terá que prestar contas, se não aqui, então no dia do juízo, quando estará diante do Grande Rei.


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