Os Cânones de Dort Comentados

 

Os Cânones de Dort – Sua história


Jacob Harmenszoon (holandês), que ficou conhecido como Jacobus Arminius (Latim), (1560-1609), foi um teólogo e também ministro da Igreja Reformada Holandesa, que se opôs a doutrina da predestinação, conforme Calvino ensinava, e desenvolveu sua própria doutrina, que ficou conhecida depois como arminianismo. Arminius, interpretava a doutrina bíblica da eleição, como sendo condicional, isto é, a oferta divina da salvação, poderia ser ou não, afetada pela vontade livre do homem. Após a morte de Arminius, vitimado pela tuberculose, os adeptos, simpatizantes e defensores de seus ensinos, provocaram grandes distúrbios dentro dos arraiais reformados. Os arminianos, representavam uma espécie de reavivamento das antigas doutrinas semipelagianas, que haviam tanto tempo, perturbado a boa ordem da Igreja cristã. Esses seguidores desses falsos ensinos, compuseram e assinaram em 1610, um documento teológico, chamado Remonstrance, no qual resumiram em cinco pontos a sua rejeição do calvinismo clássico. Por calvinismo, entenda-se a doutrina apostólica e histórica, sobre a salvação pela graça mediante a fé, tudo como um dom de Deus. Foi então, que a Igreja Reformada Holandesa, para resolver a controvérsia arminiana, convocou um concílio, que se reuniu em Dordrecht, entre 13 de Novembro de 1618 e 09 de Maio de 1619, em 154 sessões, onde as ideias arminianas, foram reprovadas e consideradas antibíblicas. Após seis meses de trabalho exaustivo, os teólogos estrangeiros, partiram e os teólogos holandeses permaneceram para 22 sessões adicionais devotadas, em sua maioria, à preparação de uma nova liturgia e ordem eclesiásticas. Nesse concílio, conhecido como o Sínodo de Dort, o arminianismo foi desacreditado, condenado pelo sínodo, e os arminianos foram considerados hereges. Dos teólogos que compuseram esse sínodo, disse um antigo escritor: “Os membros deste sínodo formavam uma constelação dos melhores e mais eruditos teólogos, que já se congregaram num concílio, desde a dispersão dos apóstolos; salvo se excetuarmos a convocação imperial de Nicéia, no quarto século” [Biographia Evangélica II, p. 456]. No Sínodo de Dort, foi escrito um documento, que ficou conhecido como Os Cânones de Dort, que abordam cinco tópicos doutrinários, em 59 artigos: (1) A predestinação divina; (2) A morte de Cristo e a redenção do homem; (3-4) A corrupção do homem e sua conversão a Deus; (5) A perseverança dos santos. As principais ênfases do documento, são as seguintes: Deus elege e reprova, não com base na previsão de fé ou incredulidade, mas por sua vontade soberana; a morte de Cristo, foi suficiente para todos, mas é eficaz somente para os eleitos; mediante a queda, a humanidade ficou totalmente corrompida; a graça de Deus atua eficazmente, para converter os descrentes, embora não o faça por coerção; Deus preserva os crentes, de modo que não podem decair totalmente da graça. Essas declarações, foram resumidas em algumas expressões conhecidas, como “Os Cinco Pontos do Calvinismo”: Depravação total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível e Perseverança dos santos, cujas iniciais em inglês formam a palavra “TULIP” – Total depravity – Unconditional election – Limited atonement – Irresistible grace – Perseverance of the saints. Se, os arminianos tivessem prevalecido, e suas doutrinas introduzidas na Igreja de Cristo, uma catástrofe seria inevitável, cujo resultado final seria destruição da doutrina cristã da salvação pela graça. A partir dos Cânones – o caráter incondicional e gracioso da eleição; a expiação de Cristo limitada em seu desígnio e amplitude; a depravação total do homem; a graça irresistível; e a perseverança dos santos – foram todos, em resposta aos cinco artigos da Remonstrance, com a intenção de estabelecer, clara e inequivocamente, o absoluto e gracioso caráter da salvação, que “não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” - Romanos 9.16.

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A eleição e a reprovação divinas


Capítulo 1


Artigo 01 – Toda a humanidade é condenável diante de Deus


Como todos os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição e merecem a morte eterna. Deus não teria feito injustiça a ninguém se tivesse sido sua vontade deixar toda a raça humana no pecado e debaixo da maldição, e condená-la por causa do seu pecado, de acordo com estas palavras do apóstolo: “para que se cale toda a boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus… pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rom. 3.19-23) e “o salário do pecado é a morte” (Rom. 6.23).

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Comentário: Todos os homens pecaram, portanto, todos são culpados e dignos de morte. Assim, o que quer que Deus faça com as criaturas caídas, é absolutamente justo. Os anjos caíram e Ele os condenou, justamente, às trevas eternas. Se agisse da mesma forma em relação ao homem, estaria apenas manifestando sua justiça. Mas, quando quis prover um meio de redenção, para uma parte deles, estava revelando sua misericórdia. É direito inalienável de Deus, distribuir seus dons, como e a quem desejar. É direito seu, fazer o que quiser com todas as suas criaturas, e em toda a sua criação - “Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu?” - Mateus 20.15. Se Deus, não se revelasse aos homens, todos se perderiam; se resolvesse nunca mais falar com o homem, nunca mais o homem retornaria à sua presença. Mas, Ele buscou o homem, para trazê-lo de volta. Entretanto, revela-se à quem escolheu fazê-lo, e aqueles à quem Ele se revela são salvos; aqueles porém, à quem Ele não se revela, permanecem perdidos em seus pecados. Se desejasse salvar a todos, Ele o faria, mas onde revelaria sua justiça? Aqueles à quem não mostra a sua misericórdia e graça perdem-se eternamente. Alguém já disse, que a humanidade perdida, é como um grande navio de passageiros, à deriva com o casco furado. Todos os passageiros irão fatalmente morrer; é apenas uma questão de tempo. Assim, toda a humanidade irá naufragar e perecer em seus pecados. Mas Deus, em sua infinita misericórdia salva muitos dentre eles, porém não todos. Que injustiça ele faria se não salvasse a ninguém? Nenhuma. Então, que injustiça ele faz com aqueles que não salva? Nenhuma. Por outro lado, que justiça faz ele para com os que salva? Também nenhuma. E que justiça para com os que são abandonados em seus pecados? Para com esses, Deus faz justiça. Logo, para com aqueles que salva, ele revela sua graça e seu amor, para com os que se perdem, revela sua justiça e sua ira. De modo que só podemos dizer, que Deus é justo e também misericordioso - “Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso, misericordioso e justo” - Salmo 112.4.

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Artigo 02O envio do Filho de Deus


Mas nisto se manifestou o amor de Deus: em que ele enviou seu Filho Unigênito ao mundo, “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3.16).

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Comentário: Deus criou os céus é a terra e tudo quanto há neles; na terra, onde criou o homem, decretou a queda; no contexto de um mundo caído, pôde expressar seus maravilhosos atributos, revelando o eu maravilhoso Ser. Na criação Ele expressou seu poder, sua glória, sabedoria e majestade; na redenção Ele revelou seu amor, graça, misericórdia; na punição dos ímpios, revelou sua santidade, justiça e ira santa. Tudo o que Deus fez ou decretou para a sua criação, sempre tem um bom e santo propósito; nada é por acaso, mas tudo com propósito. Dizer que tudo é mero casuísmo, isto é, produto do acaso, denota superfluidade e desprezo para com a criação e o Criador. Não é isso, pois Deus tem, em tudo o que acontece na vida das suas criaturas, um propósito certo e definido. Naturalmente, que seus propósitos são tremendamente elevados e não os podemos atingir. Como criaturas que somos, jamais podemos perscrutar os mistérios eternos. Ainda como criaturas temos uma agravante: somos criaturas caídas. Nossas mentes embotadas pelo pecado, não têm a mínima chance de sondar tais maravilhas de Deus. Por isso, é sábio, quando depararmos com os seus mistérios, que nos prostremos humilhados e o adoremos na beleza da Sua santidade. O Filho eterno de Deus, veio a este mundo para salvar aqueles, a quem Deus em conselho eterno, decretou salvar. Ele escolheu dentre os homens de todos os tempos, de todas as raças, de todas as nações, um povo para Si. Foi por eles, que Jesus Cristo se ofereceu a si próprio como sacrifício - “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” - João 17.9. Estes, e apenas estes, creem de fato em Cristo para a salvação, porque muitos outros há, que até professam nele crer, mas sua fé não é autêntica, não vem acompanhada de arrependimento, de regeneração, de santificação e por isso não os salva.

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Artigo 03A pregação do evangelho


Assim, para que os homens sejam conduzidos à fé, Deus misericordiosamente envia arautos dessa mais bem-aventurada mensagem a quem ele quer e quando quer. Pelo ministério desses arautos, os homens são chamados ao arrependimento e à fé no Cristo crucificado. Pois, “como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados” (Rom. 10.14-15).

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Comentário: Deus, em sua infinita sabedoria, decretou salvar os eleitos através da pregação. E, se o meio pelo qual chama seus escolhidos, é a pregação do evangelho, então, o trabalho da Igreja é pregar esse evangelho. Essa, é a sua missão inestimável e insubstituível neste mundo. Entretanto, se a pregação do evangelho, não trouxer tantos quantos gostaríamos, não alcançar a todos que objetivávamos, não despertar o espírito e trazer ao convívio da Igreja todos quantos almejávamos, devemos confiar e esperar em Deus; porque, se a pregação não fizer esse trabalho, é porque não há o que fazer ali ou, o que deveria ser feito, já o foi. Contudo, jamais a Igreja deve se desesperar, e lançar mão dos recursos e estratégias do mundo para atrair pessoas, como se o resultado, fosse sua responsabilidade. O evangelho genuíno, não precisa da ajuda de artifícios para atrair as ovelhas. Elas ouvem a voz do Pastor, e vêm a ele. Jesus veio para as suas ovelhas perdidas, e elas, quando ouvem a sua voz, correm para ele - “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” - João 10.27-29. Os que não vêm a Cristo ao ouvir sua Palavra, é porque não são suas ovelhas - “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” - João 10.26. Esses, que querem unir-se à Igreja por causa do ambiente agradável, da boa música, dos bons relacionamentos, das atividades, dos entretenimentos, mas não por causa da Palavra de Cristo, não são das suas ovelhas. Quem Deus deseja salvar, ele o atrairá pela sua Palavra - “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve” - 1ª João 4.6. É isto, que o apóstolo, fala em Romanos 10. Àqueles a quem Deus deseja salvar, ele mesmo enviará mensageiros com sua Palavra. Estes pregarão, e aqueles darão ouvidos e serão trazidos à família da fé. Igreja é o resultado da pregação da Palavra de Deus. Multidão que resulta de palestras motivacionais, de um evangelho positivista e triunfalista, composto de meias-verdades, sem a cruz de Cristo, recheadas de entusiasmo carnal, essa multidão não é Igreja. É um povo enganado e iludido por falsas promessas de uma vida fácil, de prosperidade, saúde, triunfo, sucesso e ainda pela garantia do céu após a morte. Mas a verdadeira Igreja, é aquela que resulta da pregação do genuíno evangelho de Cristo. Ali, estão aqueles que foram atraídos, não para receberem uma cura física e temporal, uma promessa de benção material, mas foram atraídos para o Bom Pastor, ouvindo a sua voz - “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido... Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” - João 10.14, 16. A responsabilidade dos mensageiros, é serem fiéis a mensagem e não pelos resultados. A Igreja deve buscar ser fiel a qualquer custo, e não buscar resultados a qualquer custo.

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Artigo 04Um duplo resultado


A ira de Deus permanece sobre os que não creem nesse evangelho. Mas aqueles que o recebem e abraçam a Jesus, o Salvador, com uma fé verdadeira e viva, são libertos por ele da ira de Deus e da destruição, e a eles é dada a vida eterna.

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Comentário: Assim está escrito: Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” - João 3.36; e também: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” - Marcos 16.16. Embora seja Deus quem escolha aqueles que irá salvar eternamente, quando o Evangelho é proclamado, há um grande e alto chamado de Deus, a todos quantos têm ouvidos para ouvir - “Dizendo ele estas coisas, clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” - Lucas 8.8. Este, é um grande mistério, pois muitos ouvem, mas não atentam para o que ouvem; já os que foram destinados para a salvação, não apenas ouvem, mas escutam, dão ouvidos, seu espírito é despertado, recebem a Palavra com grande alegria, creem, vêm e recebem a Cristo como seu Salvador - “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna” - Atos 13.48. O apóstolo Paulo disse, que sua mensagem para alguns tinha cheiro de vida, já para outros, cheiro de morte - “E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo?” - 2ª Coríntios 2.14-16. Uma vez que a expiação de Cristo é suficiente para salvar o mundo inteiro, e não sabemos quem são os eleitos de Deus, precisamos anunciar a todos os homens, em todos os lugares as boas novas. E foi isso que o Senhor nos ordenou: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo…”; “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” - Mateus 28.19; Marcos 16.15-16. Assim, a pregação do Evangelho, equaciona um duplo resultado: aceitação por parte de uns, e rejeição por parte de outros. A autêntica pregação leva os homens a reagirem e se posicionarem, uns o acolhem e outros não. Aqueles que pensam que podem ficar neutros, na verdade já se posicionaram. O Senhor Jesus definiu apenas dois grupos: os que são por ele e os que são contra ele - “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha” - Mateus 12.30. Dele disse o profeta Simeão: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel…” - Lucas 2.34.

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Artigo 05A causa da incredulidade e a fonte da fé


A causa ou a culpa dessa incredulidade, assim como a de todos os outros pecados, não está de modo nenhum em Deus, e sim no homem. No entanto, a fé em Jesus Cristo e a salvação através dele é o dom gratuito de Deus, como está escrito: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Ef. 2.8). Semelhantemente, “porque vos foi concedida a graça [… ] de credes nele” (Fp. 1.29).

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Comentário: Quando a Bíblia fala sobre crer em Deus, quer dizer mais do que acreditar que ele existe e que é o Criador de todas as coisas. Bem poucos são, se é que existem, os que não creem na existência de Deus. Há aqueles que negam com seus lábios, mas em seu íntimo ainda tentam se convencer de que ele não existe. Entretanto a fé que é dom de Deus aos eleitos é uma confiança absoluta nele. De modo que ter fé em Deus é confiar nele, obedecê-lo e segui-lo ou andar com ele. Alguém pode dizer acreditar que Deus existe, mas não confia a sua vida a ele, não o ama, nem o serve. Muitos são os que afirmam crer em Deus e em Jesus Cristo, contudo, não têm uma fé bíblica, segundo as profecias, conforme os fatos e declarações de Deus nas Escrituras - “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras - 1ª Coríntios 15.3-4. É preciso crer, mas crer segundo o ensino bíblico, segundo as escrituras. Muitos creem num falso Cristo, criado segundo suas mentes caídas. Para muitos, Cristo foi um grande profeta, um grande mestre. Para outros Jesus é uma espécie de papai noel, ou um curandeiro. Há os que veem nele um revolucionário, que promoveu uma contracultura em seus dias. Há também, aqueles que até aceitam que Jesus foi um deus, significando um ser evoluído. Todos esses, porém, estão equivocados a respeito de quem foi Jesus de Nazaré, e por isso têm uma crença errada e um tipo de fé que é inferior a dos demônios. Os demônios sabiam e confessavam que Jesus de Nazaré era o Filho de Deus, mas não o amavam e nem o obedeciam - “Dizendo: Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus” - Marcos 1.24. Os demônios têm um grande conhecimento de Deus e Jesus Cristo, têm mais experiências dos que qualquer homem jamais teve, mas mesmo assim estão condenados. Da mesma forma muitos crentes professos que têm grande conhecimento, experiências, muitas boas obras, mas estão condenados porque sua fé, não os leva a amar a Cristo e identificar-se com ele, nem a viver para sua glória e para o seu agrado. A fé salvífica, é um dom maravilhoso de Deus aos seus eleitos. Essa fé vem acompanhada de: 1) uma profunda consciência de pecado; 2) um profundo arrependimento pelos pecados; 3) um reconhecimento de Cristo Jesus como o único Mediador e Salvador. 1.1) A consciência de sua pecaminosidade o humilha e o leva a reconhecer sua total dependência de Deus. Dá-lhe entendimento de que não há qualquer justiça pessoal que o possa salvar, nenhuma obra que o possa recomendar diante de Deus. 2.1) O arrependimento que acompanha a fé salvífica, também é um dom de Deus, e quando o eleito o recebe, corre para Cristo para ser perdoado, reconciliado e aceito na Família de Deus. 3.1) Juntamente com a fé o eleito recebe uma revelação de Cristo, isto é, da Pessoa e obra de Cristo. Ele compreende a absoluta suficiência da redenção de Cristo, e por isso deposita toda sua confiança só em Cristo. Um eleito de Deus não está dividido entre crer em Cristo e também sua justiça própria; crer em Cristo e em mais algum outro intercessor. Não, a fé salvífica o leva a crer unicamente em Cristo. Essa é a marca da fé, que é dom de Deus, e que é dada apenas aos seus eleitos. Essa fé os leva andar e viver no temor de Deus.

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Artigo 06O decreto eterno de Deus


Procede do decreto eterno de Deus conceder, no tempo devido, o dom da fé a alguns e a outros não. Pois ele conhece todas as suas obras desde a eternidade e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef. 1.11). De acordo com esse decreto, ele graciosamente quebranta o coração dos eleitos, por mais duro que seja, e os inclina a crer; entretanto, segundo o seu juízo, ele deixa os que não são eleitos em sua própria malignidade e dureza. E aqui, especialmente, nos é revelada a profunda, misericordiosa e, ao mesmo tempo, justa distinção entre homens igualmente merecedores de condenação, que é o decreto da eleição e da reprovação, revelado na Palavra de Deus. Embora os homens perversos, impuros e instáveis o distorçam para a sua própria destruição, esse mesmo decreto proporciona consolo inexprimível às almas santas e tementes a Deus.

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Comentário: Enquanto uns ouvem a Palavra de Deus e se quebrantam, outros a ouvem se endurecem. Uns são erguidos do monturo enquanto outros se chafurdam ainda mais nele. Alguém já afirmou com muita propriedade que o mesmo sol que derrete a cera, endurece a argila. Contudo, é Um e o Mesmo quem faz o sol, a cera, e também a argila. A incredulidade é um pecado como os outros e pode ser perdoado pelo Senhor. Do lado humano e humanamente falando, o homem é culpado por não crer. Mas do lado do eterno Conselho de Deus, o homem não pode crer se Deus não lhe conceder a fé - “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” - João 10.26. O Senhor não disse que aqueles judeus não eram ovelhas porque não criam, ou porque não queriam crer; ele disse exatamente o contrário: que eles não criam porque não eram ovelhas. Isto é aqueles que não creram foi porque não receberam a fé e não faziam parte do rebanho eleito do Senhor. E isto, em última instância não dependia deles. Toda escolha implica uma rejeição; sempre que algo é escolhido, também é separado; seja como for a escolha, uns serão preferidos em detrimento de outros que serão preteridos. Jesus disse que o Pai lhe havia dado um presente dentre a humanidade: “Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra... Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” - João 17.6, 9. O Pai separou dentre toda a humanidade um grupo de homens e os deu ao seu Filho. Como esses homens haviam caído no pecado de Adão, Jesus deveria morrer por eles para os redimir. E foi isso que ele fez ao vir a este mundo: comprou-os dentre os homens - “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação” - Apocalipse 5.9. O pecador pode tomar uma livre decisão contra a vontade expressa de Deus, e responderá por isso, mas nunca tomará uma decisão fora dos decretos imutáveis de Deus.

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Artigo 07Definição da eleição


A eleição é o propósito imutável de Deus pelo qual ele, antes da fundação do mundo, dentre toda a raça humana, caída pela própria culpa do estado original de integridade no pecado e na perdição, e segundo o soberano beneplácito da sua vontade e por pura graça, escolheu, em Cristo, para a salvação, um número definido de pessoas específicas, em nada melhores nem mais dignas que as outras, porém envolvidas na mesma miséria das demais.

Ele também, desde a eternidade, constituiu a Cristo como o Mediador e Cabeça de todos os eleitos e o fundamento da salvação. Assim, decretou dar a Cristo os que haveriam de ser salvos, e chamá-los e trazê-los eficazmente à sua comunhão pela sua Palavra e Espírito.

Ele decretou conceder-lhe a fé verdadeira em Cristo, justificá-los, santificá-los e, por fim, – depois de tê-los preservado poderosamente na comunhão do seu Filho – glorificá-los, para demostração da sua misericórdia e o louvor da riqueza da sua graça gloriosa. Como está escrito: Deus nos escolheu em Cristo “antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef. 1.4-6). E em outro lugar: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também jutificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rom. 8.30).

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Comentário: Os eleitos foram escolhidos na eternidade, quando o tempo não existia; eles são chamados, justificados, regenerados, santificados, adotados no tempo; e serão glorificados na eternidade, quando o tempo não mais existirá. Podemos imaginar conforme o ensino bíblico, como a vida de cada salvo foi assunto no Alto Conselho da Santíssima Trindade e sua salvação foi ali decidida. Entendemos que Deus pensou, planejou, decretou todas as coisas na eternidade e as traz à existência no tempo - “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” - Efésios 1.11. Também o salmista cantou: “Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” - Salmo 115.3. Os nossos documentos, fazem-nos rememorar, que ninguém deve orgulhar-se nem supor serem melhores que os que se perdem, porque os eleitos não são, de forma alguma, melhores do que os demais homens, que foram deixados em seus pecados; não são mais dignos, mas o que os diferencia é um dom que receberam de Deus. A essas alturas é oportuno lembrar as palavras do apóstolo: “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” - 1ª Coríntios 4.7. Deus fez isso de si para si mesmo, pois tudo é para a sua própria glória. Ele “… nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” - 2ª Timóteo 1.9. Quão grande é a misericórdia de Deus, demonstrada naqueles que são salvos e quão perfeita justiça exercida para com aqueles que se perdem.

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Artigo 08Um único decreto de eleição


Não há vários decretos de eleição, mas um único e mesmo decreto para todos os que hão de ser salvos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Porque a Escritura declara que o beneplácito, o propósito e o conselho da vontade de Deus é único. Segundo esse propósito, ele nos escolheu desde a eternidade tanto para a graça quanto para a glória, como também para a salvação e para o caminho da salvação, o qual preparou para que andássemos nele.

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Comentário: Nem há vários decretos de eleição nem há uma eleição em série, como se Deus escolhesse um grupo de homens indistintos de cada época da humanidade. Não, mas Deus fez um único decreto onde incluiu todos quantos escolheu salvar dentre os filhos de Adão. Incluiu, porém um a um a quem escolhia, nome a nome, indivíduo a indivíduo. Conforme a escolha, assim também é o chamado – um a um. Assim como Jesus escolheu os apóstolos um a um, também ele escolheu, na eternidade, os que seriam salvos. Deus é um Ser pessoal e se relaciona com pessoas, com indivíduos e não simplesmente com um povo. Ele trata, sim, com seu povo como um todo, como uma grande família, porém, seu relacionamento conosco é individual. Temos muitos exemplos na Bíblia, de homens, que Deus identificou pessoalmente, exemplo: de Abraão Ele diz: meu servo - “Abraão meu servo” - Gênesis 26.24; de Moisés: “o meu servo Moisés” - Números 12.7; de Calebe: “o meu servo Calebe” - Números 14.24; de Davi: “a meu servo Davi” - 2º Samuel 7.5; de Jó: “a meu servo Jó?” - Jó 1.8. Assim Deus falou dos profetas, dos apóstolos, dos discípulos, chamando-os pelo nome, mostrando que seu relacionamento é pessoal - “Mas agora, assim diz o SENHOR que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu” - Isaías 43.1. Isto tanto é verdade em relação à toda a Congregação de Israel, como aos seus servos individualmente, porque a eleição, o chamado e a redenção são atos individuais. A Bíblia diz que somos filhos adotados por Deus. Se ‘família’ denota coletividade: muitos filhos -, por outro lado, ‘filho’ denota a individualidade na relação com o Pai - “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” - Efésios 1.4-5.

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Artigo 09A eleição não se baseia em fé prevista


A eleição não se baseia em fé prevista, obediência da fé, santidade, ou qualquer outra boa qualidade ou disposição que seja a causa ou a condição necessária aos homens para serem eleitos; todavia, os homens são eleitos para a fé, para a obediência da fé, para a santidade, etc.

A eleição, portanto, é a fonte de todas as virtudes salvadoras, de onde emanam a fé, a santidade e outros dons salvíficos e, por fim, a própria vida eterna, como frutos e efeitos da eleição. É isso o que o apóstolo ensina quando diz: “assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, (não porque fôssemos santos, mas) para sermos santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef. 1.4).

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Comentário: Definir eleição, como uma previsão que Deus fez na eternidade, sobre a vida de cada um daqueles que haveria de escolher, e que escolheu conforme previu quem creria quando fosse chamado, ou algo parecido com isso, é colocar a causa última no homem. Isto é, Deus me escolheu porque previu algo em mim que o motivou a fazê-lo. Contudo, nada poderia estar mais longe da verdade. A eleição não se baseou em fé, obras, justiça, obediência ou santidade previstas. Não, ela não teve sua motivação no objeto escolhido, mas apenas naquele que fez a escolha. A revelação bíblica diz que os eleitos o foram para serem santos, para crer, para a prática das boas obras. De modo que a eleição veio primeiro, sendo ela a causa de todas as demais bênçãos de Deus na vida dos crentes. O fato é que o homem natural está morto espiritualmente e totalmente arruinado; nessa condição ele jamais desejará Deus, jamais buscará a Deus, pelo contrário, ele continuará sempre fugindo de Deus para a direção oposta. E a menos que Deus faça algo para detê-lo, o homem cai em queda livre e somente parará quando chegar ao fundo do inferno. Então acordará para a sua real condição, quando será tarde, muito tarde. Na parábola do rico e Lázaro de Lucas 16.19-31, o Senhor Jesus Cristo mostra essa realidade. Supor que o homem natural pode ir a Deus quando quiser seria o mesmo que afirmar que um morto pode sair da sepultura sozinho, se assim o desejar. Tudo começou com a soberana escolha de Deus na eternidade, depois vem o chamado do Espírito Santo no tempo, ato contínuo a regeneração comprovada com a santificação, e termina com a glorificação novamente na eternidade - “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” - Romanos 8.30.

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Artigo 10 – A eleição baseia-se no beneplácito de Deus


A causa dessa eleição graciosa é tão somente o beneplácito de Deus. Esse beneplácito não consiste em Deus ter escolhido, dentre todas as condições possíveis, certas qualidades ou ações dos homens como requisito par a salvação; mas consiste em ele ter adotado, dentre a multidão dos pecadores, certas pessoas para a sua própria possessão. Pois está escrito: “ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal…” (Rom. 9.11-13) e já fora dito a ela [à Rebeca]: “o mais velho será servo do mais moço” (Gen. 25.23). E também: “todavia amei a Jacó, porém aborreci a Esaú” (Ml. 1.2,3). E ainda: “e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At. 13.48).

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Comentário: Tudo que o homem gostaria, ou tudo que melhor se adequaria ao pensamento do pecador, é que existisse alguma condição para a salvação; condição que estivesse ao seu alcance cumpri-la, a fim de que, ele também recebesse um pouco da glória. Mas, o fato é que os pecadores são verdadeiros mendigos diante de Deus. Sim, somos como pedintes andrajosos, que se tivermos que obter algo, isso mesmo precisa ser nos dado. Assim é a salvação – um presente, um dom de Deus. Se fosse um salário ou recompensa, então apenas aqueles que trabalhassem por ela, seriam salvos. Pessoas como o ladrão da cruz jamais poderia ser contemplado com a salvação. Se a salvação fosse uma premiação, então apenas os melhores a receberiam. Apenas aqueles que tivessem sucesso a conquistariam. De qualquer forma, seria uma seleção feita à base do mérito. Mas, não é assim. Antes, do começo ao fim, a Bíblia nos ensina uma salvação, totalmente gratuita, por misericórdia, pela benevolência de Deus, que é amor e ama dar e doar-se. Deus, escolheu salvar quem quis, e nessa lista incluiu alguns dos piores exemplares da nossa raça, justamente para revelar a grandeza de seu amor benevolente - “mas, onde abundou o pecado, superabundou a graça” - Romanos 5.20. Deus salva aos que elegeu para a salvação, em Cristo; logo, os méritos são todos de Cristo. Posso dizer que sim, fui salvo por méritos, mas os méritos de Jesus Cristo. Eis o grande amor do Senhor Deus revelado através de seu Filho Unigênito: “Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí” - Jeremias 31.3.

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Artigo 11A eleição imutável


Como o propósito de Deus é infinitamente sábio, imutável, onisciente e onipotente, assim também a sua eleição não pode ser desfeita, refita, alterada, revogada nem anulada; tampouco podem os eleitos ser rejeitados, nem o número deles diminuído.

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Comentário: Se um só dos eleitos se perdesse, o inimigo teria triunfado e Deus seria envergonhado. Se um único homem inscrito no livro da vida se perdesse, o mal teria obtido uma grande vitória e uma parte do propósito eterno seria frustrado. Impensável! Impossível! O eterno Deus jamais terá um único propósito frustrado - “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido” - Jó 42.2. Uma vez o eleito chamado e declarado justo, essa sentença judicial, forense de Deus jamais será revogada. Assim, todos os atos decretativos de Deus são absolutamente soberanos e têm sua causa no Conselho Eterno. Portanto, são inexoravelmente trazidos a luz e infalivelmente concluídos. Quando ele decretou a eleição para a salvação de um de seus servos, também decretou o meio através do qual seria salvo; determinou em que tempo isso ocorreria, em quais condições, em que localidade e quais as circunstâncias a envolveriam. O Mediador é um: Jesus Cristo - “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” - João 14.6; o meio também é um: a pregação do Evangelho - “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” - 1ª Coríntios 1.21. O tempo, a história e as circunstâncias variam caso a caso, mas, nada de improvisos e imprevistos, tudo foi decretado na eternidade. Nada é por acaso, tudo é por propósito - “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” - Efésios 1.11. Um dos atributos de Deus é a imutabilidade, isto é, ele não muda, não precisa mudar, pois tudo nele é perfeito, pleno, completo, eterno. Assim, tudo quanto faz também é perfeito, não precisa de ajustes, adaptações, melhorias, contextualizações. Não. Por isso ele não retrocede em suas decisões. Não existe tal coisa como alguns dizem: “Conheci alguém que era um crente fiel e que voltou para o mundo”. É que nós só vemos o exterior do homem; Deus, porém, vê o coração. Alguém que foi justificado, jamais perde esse status; alguém que foi regenerado, jamais cai na perdição eterna; alguém que foi tirado do monturo e foi colocado à mesa com os príncipes do Rei, jamais decai dessa posição; pelo menos, não definitivamente. Isto, porque Deus não retira os seus dons uma vez que os deu. Sendo assim, o número dos eleitos não pode ser alterado, nem para mais, nem para menos. Dos que Deus escolheu e deu ao seu Filho, nenhum só faltará naquele dia; nenhum lugar estará vazio na eternidade, porque nenhum dos escolhidos ficará para trás. Todos os eleitos de Deus serão salvos. Cada um deles será chamado individualmente, declarado justo, receberá fé, arrependimento, regeneração, será selado com o Espírito Santo, viverá para Deus enquanto estiver neste mundo e depois, no grande dia será glorificado com Cristo.

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Artigo 12A certeza da eleição


Os eleitos recebem, no tempo oportuno, ainda que em vários graus e diferentes modos, a certeza da sua eterna e imutável eleição para a salvação. Eles , todavia, não a obtêm quando curiosamente investigam as coisas ocultas e profundas de Deus, mas quando observam, em si mesmos, com alegria espiritual e santo deleite, os infalíveis frutos da eleição indicados na Palavra de Deus, tais como a fé verdadeira em Cristo, o temor filial a Deus, a piedosa tristeza pelos seus pecados, e a fome e a sede de justiça.

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Comentário: Certeza ou convicção da eleição, é uma grande bênção que os santos gozam de maneiras diferentes, conforme a sabedoria de Deus. Ele sabe o que é bom e adequado para cada um de seus filhos. Às vezes o que é bom para um pode não ser para outro; então um desfruta de plena certeza e convicção, enquanto que outro pode ter um défice de segurança. Ambos, porém, estão igual e absolutamente seguros, mesmo porque a segurança não depende de nós a percebermos ou não. Ela só depende d’ Aquele que segura todas as suas ovelhas em suas mãos. Quanto mais conhecemos a Deus e sua Palavra mais nos firmamos em suas promessas. Assim vamos percebendo a segurança da eleição e salvação que temos em Cristo. Por isso nossos documentos dizem que uns a têm mais outros menos, mas isso não significa que uns estão mais seguros e outros menos. Absolutamente. Todos os filhos de Deus estão tão seguros quanto ele os pode tornar, isto é, total e eternamente. Assim como ninguém conhece a Deus através de investigação curiosa, estudo ou pesquisa, da mesma forma também ninguém obtém a certeza da eleição e salvação, e o crescimento na graça dessa forma. É preciso esperar e confiar em Deus humildemente, buscando-o numa relação constante com a sua Palavra que é onde ele se revela a nós e também nos mostra como podemos nos sentir seguros - conforme observamos em nós próprios aqueles frutos do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” - Gálatas 5.22. Dessa forma vamos ganhando mais confiança de que somos filhos de Deus - “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” - Romanos 8.16. Embora enquanto estiver nesse corpo, o crente fiel sofra com muitas dúvidas, fraquezas e imperfeições, sendo também assediado constantemente pelo pecado, contudo ele mantém firme confiança em Cristo, temor filial para com Deus, piedosa tristeza pelos pecados e grande desejo de santificação. Essas são fortes evidências de que é um salvo em Cristo. O santo joga contra o pecado, o ímpio joga contra Deus. O lado que cada um está identifica a quem cada qual pertence e serve.

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Artigo 13O valor dessa certeza


A consciência e a certeza da eleição proporcionam aos filhos de Deus maior motivo para se humilharem diariamente diante dele, para adorarem a profundidade das suas misericórdias, para se purificarem, e para amarem fervorosamente àquele que os amou primeiro de modo tão grandioso. Portanto, absolutamente, não é verdade que a doutrina da eleição e o meditar nela os façam relaxar na observação dos mandamentos de Deus ou produzam falsa segurança. No justo juízo de Deus, isso normalmente ocorre com aqueles que supõem atrevidamente ter a graça da eleição, ou que falam dela de modo leviano e arrogante, mas se recusam a andar nos caminhos dos eleitos.

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Comentário: Um eleito autêntico [e é preciso dizer assim, porque há supostos eleitos] jamais se vangloria de haver sido escolhido, pois sabe que não foi por seu mérito pessoal, mas pelos méritos de Cristo Jesus. Não haveria nada tão patético quanto um mendigo se orgulhar de um presente que acabara de receber. Ele pode se alegrar, mas jamais se orgulhar supondo que o merecia. Isso seria completo ridículo e absurdo. Contudo, despropósito muito maior seria um escolhido de Deus vangloriar-se dessa escolha e aplaudir Deus. Nenhum eleito cometeria tal absurdo. Charles Spurgeon disse com boa dose de humor, mas com muita sobriedade, algo parecido com isto: “Sei que Deus me escolheu antes de eu nascer, porque depois ele não o teria feito”. Voltando ao mendigo, ele jamais acharia que alguém lhe daria um presente porque viu nele algum mérito pessoal, a menos que tal mendigo fosse grandemente desequilibrado. E é o que acontece com alguns supostos crentes. Vangloriam-se da sua salvação, de sua eleição, de sua espiritualidade, como se neles houvesse grandes méritos muito bem reconhecidos por Deus. Diversamente, o eleito de Deus, sente-se humilhado por receber tal bênção imerecidamente. E quanto mais percebe o contraste entre a grandiosidade da dádiva e seu demérito, tanto mais humilhado fica. Por isso mesmo tal bênção jamais o torna relapso, ao contrário, fá-lo deleitar-se mais na comunhão do Senhor e desejar ardentemente ser parecido com ele. Sabe que continua habitando num corpo que se ajusta bem a este mundo caído e ao sistema de satanás, então precisa vigiar e orar em todo o tempo, mantendo-se sob a disciplina da Palavra e do Espírito Santo. Como está escrito: “E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” - 1ª João 3.3.

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Artigo 14Como se deve ensinar a eleição


Segundo o mui sábio conselho de Deus, a doutrina da eleição divina foi pregada pelos profetas, pelo próprio Cristo e pelos apóstolos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, e então foi registrada nas Sagradas Escrituras. Por isso, também hoje essa doutrina deve ser ensinada na Igreja de Deus, para a qual ela foi particularmente destinada, em tempo e lugar apropriados, com espírito criterioso, de modo reverente e santo, sem curiosa investigação dos caminhos do Altíssimo, para a glória do santíssimo nome de Deus, e para o vivo consolo do seu povo.

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Comentário: Tudo o que está na Bíblia deve ser pregado e ensinado à Igreja do Senhor. Assim fizeram os ministros de Deus desde os primórdios da Igreja. Tudo quando os profetas e apóstolos falaram e escreveram, o fizeram sob inspiração do Espírito Santo e, portanto, é proveitoso para a edificação dos crentes - “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça…”; “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” - 2ª Timóteo 3.16; 2ª Pedro 1.21, por isso mesmo deve ser ministrado à Congregação de Deus. Esse era o método do apóstolo Paulo, que também foi inspirado pelo Espírito Santo: ensinar toda a Palavra de Deus, todo o Conselho de Deus - “Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” - Atos 20.27. A doutrina da eleição é grandemente confortante e consoladora para os santos. Aquele que é de Deus, ouve, crê, prostra-se e adora. Se Deus falou ele crê, confia e descansa. Todavia ela deve ser ensinada com critérios e sabedoria. Convém que quando esse assunto for ensinado, faça-se um estudo completo, sistemático, com pessoas que já tenham lido a Bíblia toda, ao menos uma vez, para que o estudo seja mais proveitoso e mais facilmente compreendido. Isto não quer dizer, absolutamente, que não se deva pregar para qualquer público, sermões expositivos ou até temáticos sobre esse assunto, se Deus assim conduzir. Lembrando sempre que diante de todos os mistérios de Deus devemos nos aproximar com reverência e humildade, nunca com espírito de curiosidade. Deus é bom e revelou-se a ao seu povo, bem como revelou tudo quanto precisamos saber para servi-lo. Como nosso Pai, ele nos revela tudo o que importa sabermos, o necessário, o suficiente. Os limites são óbvios – Ele é Deus Criador e nós criaturas caídas que ele bondosamente redimiu, reconciliou, e adotou como seus filhos. Que mais precisamos saber?

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Artigo 15A descrição da reprovação


As Sagradas Escrituras nos mostram e recomendam essa graça eterna e imerecida da nossa eleição, especialmente quando declaram que nem todos os homens são eleitos, mas que alguns não são eleitos ou foram preteridos na eleição eterna de Deus. Deus, pelo seu beneplácito mui soberano, justo, irrepreensível e imutável, decretou deixá-los na miséria comum em que eles se lançaram por sua própria culpa, e não lhes concedeu a fé salvadora nem a graça da conversão.

Para mostrar a sua justiça, Deus os deixou sem seus próprios caminhos e debaixo do seu justo juízo, decretando, por fim, os condenar e punir eternamente, não apenas pela incredulidade deles, mas também por causa de todos os seus outros pecados. Esse é o decreto da reprovação, o qual não faz de Deus o autor do pecado (só em pensar isso é blasfêmia!), mas, antes, o revela como o terrível, irrepreensível e justo Juiz e Vingador do pecado.

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Comentário: Toda escolha implica uma rejeição. Se Deus escolheu uns para serem redimidos através de Jesus Cristo, obviamente também rejeitou outros, abandonando-os em suas misérias espirituais. Se Deus salvasse a todos os homens a Bíblia não falaria sobre escolha e eleição, pois seria desnecessário. Contudo, de Gênesis ao Apocalipse encontramos o assunto e lemos sobre muitas situações essa escolha de Deus na prática. Então é muito óbvio e patente que Deus faz escolhas. E antes de subir qualquer pensamento em nossas mentes é preciso lembrar que ele é o Criador e que não há ninguém acima dele. Logo ninguém há que possa avaliar suas obras e ações senão ele próprio, e ele o fez; e assim está escrito: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” - Gênesis 1.31. Quem mais pode avaliá-lo? Sabemos que tudo quanto ele faz é bom, é justo, é certo. Tudo quanto Deus faz tem propósitos sublimes, dignos, nobres, porque são segundo o seu caráter. Se lhe apraz deixar os homens andarem em seus próprios caminhos para depois puni-los revelando sua imutável justiça, ele o faz - “O qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos” - Atos 14.16; “Portanto eu os entreguei aos desejos dos seus corações, e andaram nos seus próprios conselhos” - Salmo 81.12. E a respeito dos que se perdem, não é apenas por causa da sua incredulidade, mas por causa de todos os seus pecados que não foram expiados. A incredulidade é um pecado como outros e pode ser expiado. Aliás, todos nós éramos incrédulos até o Espírito Santo nos despertar e nos dar a fé. Por isso que o Senhor Jesus disse aos judeus incrédulos que eles não podiam crer porque não eram ovelhas - “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito” - João 10.26. Não disse que não eram ovelhas porque não criam, mas que não criam porque não eram ovelhas. As ovelhas creem porque recebem fé para crer; porque foram escolhidas desde o princípio pelo Supremo Conselho de Deus - “Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” - 2ª Timóteo 1.9. Com os que condena Deus faz justiça; com os que salva ele usa de misericórdia; logo, não faz injustiça com ninguém.

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Artigo 16Como reagir à doutrina da reprovação


Alguns ainda não discernem claramente em si mesmos uma fé viva em Cristo, nem uma firme confiança no coração, nem boa consciência, nem um zelo pela obediência filial e pela glorificação de Deus por meio de Cristo. Apesar disso, eles usam os meios pelos quais Deus prometeu operar tais coisas em nós. Eles não devem se assustar quando a doutrina da reprovação é mencionada nem devem se incluir entre os reprovados. Pelo contrário, devem continuar a usar esses meios com diligência, almejar com fervor um tempo de graça mais abundante, e esperá-lo com reverência e humildade.

Há também outros que desejam se converter a Deus com sinceridade, agradar somente a ele e ser libertos do corpo de morte; contudo, não conseguem chegar até onde gostariam no caminho da piedade e da fé. Essas pessoas não deveriam ter tanto medo da doutrina da reprovação, pois Deus, que é misericordioso, prometeu que não esmagará a cana quebrada e nem apagará o pavio que fumega.

Há ainda outros que desprezam a Deus e ao Senhor Jesus Cristo, e que se entregam completamente aos cuidados do mundo e às concupiscências da carne. Para esses, a doutrina da reprovação é mesmo apavorante, pois não se voltam para Deus com seriedade.

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Comentário: Diante dessa doutrina todos devemos nos humilhar, nos prostrar e adorar “Ao que está assentado no trono e ao Cordeiro” - Apocalipse 5.13, reconhecendo quão indignos e miseráveis todos somos, e quão merecedores da punição eterna nos tornamos. O homem é uma criatura caída sentada no banco dos réus diante do Grande Juiz, que “a um abate e a outro exalta” - Salmo 75.7, e fá-lo segundo o Conselho Eterno da sua vontade. Há momentos que todos nós, salvos em Cristo, temos mais consciência da nossa fraqueza, impotência e de quão atrasados estamos no caminho da santificação. De fato todos os verdadeiros crentes gostariam de ser mais piedosos, pois sempre achamos que estamos em débito. E se houver alguns, que de tão fracos e débeis, chegarem quase a desanimar por não verem em suas vidas os frutos que gostariam de ver, a fé viva e a intrepidez que veem nos outros santos, nem por isso devem sentir-se reprovados quando ouvirem esta doutrina. É preciso, contudo, diferenciar fraqueza de negligência, imperfeição de rebeldia, ignorância de indolência ou preguiça. O fato de alguém sentir-se fraco, débil, impotente, grande pecador e imerecedor da salvação, revela que Deus está agindo em sua vida. Pode ser mais preocupante quando a pessoa se acha muito confortável e segura de si e da sua eleição, em suas orações, em seu serviço a Deus, em suas obras. É bom lembrar sempre, que tudo que você recebe é por graça e pelos méritos de Jesus Cristo. Se a pessoa luta com dificuldades, fraquezas, limitações para compreender certos pontos da doutrina, insatisfeita com sua piedade, mas é sincera e tem propósito sincero de mudar e esforça-se para isso, não deve temer. A ameaça fica para aqueles que têm uma falsa paz, uma falsa segurança, não têm santificação e isto não os preocupa, pecam e ficam insensíveis. Esses, sim, devem tremer diante desta doutrina.

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Artigo 17Os filhos de crentes que morrem na infância


Devemos julgar a respeito da vontade de Deus com base na sua Palavra, que declara que os filhos dos crentes são santos, não por natureza, mas em virtude da aliança da graça, na qual estão incluídos com os seus pais. Portanto, pais tementes a Deus não devem duvidar da eleição e da salvação de qualquer de seus filho, que Deus chama desta vida ainda na infância.

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Comentário: A Congregação do Senhor é formada por homens, mulheres e crianças. Isto é, todos os membros da família. As crianças fazem parte da assembleia dos santos - “E enquanto Esdras orava, e fazia confissão, chorando e prostrando-se diante da casa de Deus, ajuntou-se a ele, de Israel, uma grande congregação, de homens, mulheres e crianças; pois o povo chorava com grande choro” - Esdras 10.1. O Senhor disse que os filhos dos crentes são seus e os vindicou através do profeta - “Além disto, tomaste a teus filhos e tuas filhas, que me tinhas gerado, e os sacrificaste a elas, para serem consumidos; acaso é pequena a tua prostituição? E mataste a meus filhos, e os entregaste a elas para os fazerem passar pelo fogo” - Ezequiel 16.20-21. Os filhos dos crentes participam das promessas da Aliança juntamente com seus pais e o batismo é o selo que lhes garante e assegura essas promessas. Por isso mesmo, devem receber o batismo logo quando nascem, sendo assim separados para Deus. Enquanto crescem, os pais devem lhes falar da sua natureza pecaminosa e da provisão graciosa de Deus; ensinar-lhes os privilégios, obrigações e responsabilidades decorrentes do status que possuem, até eles terem idade de responder por si mesmos a Deus. Contudo, se por uma infelicidade, houver uma interrupção nesse relacionamento e Deus chamar algum deles, devemos confiar que esse foi o melhor momento para aquele que foi chamado e que ele foi para o Senhor. Se qualquer dessas crianças for levada por Deus, devemos crer que foi salva. Sabemos que para ser salvo, o pecador precisa ser regenerado; os filhos da Aliança também. O sinal externo, o batismo, não é garantia da salvação, mas ele assegura as promessas da Aliança, por isso devemos descansar no Senhor e confiar firmemente nessas promessas. Quando Deus chama um filho da Aliança na infância devemos confiar que Deus completou a sua redenção naquele infante membro da sua Congregação e que aquele foi o melhor tempo para ser recolhido à eternidade.

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Artigo 18Não protesto, mas sim adoração


Aos que se queixam da graça da eleição imerecida e da severidade da reprovação justa, replicamos com as palavras do apóstolo: “Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus” (Rom. 9.20), e com estas palavras do nosso Salvador: “Porventura, não me é lícito fazer o que quero do que é meu?” (Mat. 20.15).

Nós, porém, adorando com reverência esses mistérios, exclamamos com o apóstolo: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Rom. 11.33-36).

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Comentário: Somos criaturas e nenhuma criatura pode sequer imaginar compreender tudo do Criador, porque ele é ilimitado e infinito, e ao contrário, todas as suas criaturas são naturalmente limitadas e finitas. Sendo homens e habitando neste mundo onde o pecado entrou através de Adão, temos a agravante da queda; assim, somos criaturas e caídas, pecadores corruptos e depravados. Tudo em nós foi contaminado pelo pecado: nosso corpo, nossa mente, vontade, emoções. Com todo esse know-how jamais poderíamos compreender qualquer mistério de Deus, a não ser que ele mesmo remova as trevas da nossa mente. Então, diante daquilo que não podemos alcançar, é sábio, nos prostrar humildemente e adorar ao Senhor. O mistério de Deus que não entendemos, adoramos. A doutrina da eleição envolve a providência de Deus, que é a maneira como ele sustém, governa e dirige toda a sua criação para o fim decretado por ele mesmo desde a eternidade. A premissa para cremos numa doutrina não é apenas se a compreendemos perfeitamente, mas se Deus a disse. Por um lado temos diante de nós o padrão da justiça de Deus estabelecido em sua santa lei, por outro lado, vemos nossa total incapacidade para obedecê-la, mas quando olhamos para o alto encontramos a solução que ele mesmo proveu para nós - a vida e a justiça de seu Filho. O crente que recebeu a revelação e compreendeu isto, deve render-lhe louvor e ações de graças. E ao que ouvir essa bendita doutrina e quiser argumentar ouça: “Portanto, os meus estatutos e os meus juízos guardareis; os quais, observando-os o homem, viverá por eles. Eu sou o Senhor” - Levítico 18.5; “E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás” - Lucas 10.25-28. Se alguém supuser que pode fazer isso, que tente, mas verá não pode. Quem for sábio ponha a sua boca no pó e diga: “E não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente” - Salmo 143.2; “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” - Lucas 18.13.

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A morte de Cristo e a redenção do homem através dela


Capítulo 2


Artigo 1 – O castigo que a justiça de Deus exige


Deus não é apenas supremamente misericordioso, mas também é supremamente justo. E, conforme ele mesmo revelou em sua Palavra, a sua justiça exige que os nossos pecados, cometidos contra a sua infinita majestade, sejam castigados não apenas nesta era, mas também na era porvir, tato no corpo quanto na alma. Não podemos escapar desse castigo, a menos que a justiça de Deus seja satisfeita.

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Comentário: Parece que a justiça e a misericórdia são irreconciliáveis. Como pode Deus ser justo e justificador a um só tempo? Como um justo juiz pode justificar um réu que deveria ser condenado? O próprio Deus diz: “porque não justificarei o ímpio”; ele também garantiu “… que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração” - Êxodo 23.7; 34.7. Contudo, o apóstolo Paulo nos ensinou que Deus justifica o ímpio, quando disse: “Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” - Romanos 3.26; e, “Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça” - Romanos 4.5. Pela ótica e observação humana parece uma contradição, mas há uma explicação. A única maneira de Deus ser justo e também justificador seria cobrando de Outro a nossa dívida. Para que ele pudesse nos justificar, Alguém deveria sofrer a nossa penalidade. Esse Outro foi Jesus Cristo - “Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados Isaías” - 53.4-5. Ele recebeu sobre si a punição que a nós estava imposta pela justiça de Deus. Por isso se diz que aquele que foi justificado por Deus jamais será condenado, porque isso seria cobrar duas vezes a mesma dívida - Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” – Colossenses 2.14. Contudo, aquele que não foi justificado, esse sim, indubitavelmente será cobrado pela justiça divina, e sua dívida é impagável.

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Artigo 2A satisfação cumprida por Cristo


Nós, porém, não podemos cumprir essa satisfação e nos livrar por nós mesmos da ira de Deus. Por isso Deus, em sua infinita misericórdia, nos deu o seu Filho Unigênito como nosso Fiador. Por nós ou em nosso lugar, ele foi feito pecado e maldição na cruz para que pudesse, em nosso favor, satisfazer a Deus.

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Comentário: Não foi o caso que Deus fez vistas grossas para com os nossos pecados. De maneira nenhuma; Ele não podia simplesmente nos perdoar. Alguns supõem que para Deus, perdoar é muito fácil, e que simplesmente, querendo ele, deixa de lado os nossos pecados. Não, não é assim. Alguém já disse que para Deus foi muito fácil criar o mundo, pois sendo Onipotente, foi apenas falando e tudo veio à existência. O homem ele o fez com o pó da terra e lhe soprou o espírito de vida. Tudo isso para Deus foi fácil. Mas, a redenção – que é a segunda criação – essa foi a coisa mais custosa para Deus, porque a redenção envolvia derramamento de sangue e o único sangue que tinha a qualidade exigida pela justiça eterna era o do Filho eterno, que se tornou o Cordeiro de Deus. A maldição da queda que pesava sobre nós recaiu sobre Cristo na cruz - “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” - Gálatas 3.13. O preço não poderia ser mais elevado e difícil, mas Deus manifestou e revelou nisso seu amor eterno pelos eleitos - “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” - Romanos 5.8. O preço da nossa redenção foi pago inteiramente pelo nosso Fiador -De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador” - Hebreus 7.22.

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Artigo 3O valor infinito da morte de Cristo


A morte do Filho de Deus é o único e o mais perfeito sacrifício e satisfação pelos pecados, de valor e mérito infinitos, e abundantemente suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro.

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Comentário: Para reverter os efeitos do pecado e da queda da humanidade, a mesma justiça de Deus exigia um sacrifício de valor infinito e eterno. Para que o homem fosse liberto da culpa, da escravidão, e também um dia da presença do pecado, seria necessário um sacrifício, digamos extraterreno, cujo efeito se sobrepusesse ao tempo e cuja eficácia adentrasse o santuário celestial. Naturalmente que um sacrifício assim só poderia ser feito pelo próprio Deus. Assim, se o nosso Fiador tinha que ser um homem para ser o representante da nossa raça, tinha também que ser Deus para oferecer um sacrifício infinito e eterno. Então Deus entrou na humanidade através de seu Filho. O Criador vestiu-se de criatura, para redimir dentre as suas criaturas, aqueles que dantes havia escolhido para com ele habitar. Essa é a maravilhosa história da redenção. Jesus morreu por nós; seu sacrifício é suficiente para o mundo inteiro, todavia eficiente só para os eleitos, pois esses são os que creem. Há suficiência para salvar todos quantos vierem a Cristo, trazidos pelo Pai - “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” - 1ª João 2.2. A morte de Cristo incluiu todos os eleitos de Deus de todos os lugares e de todos os tempos. Os crentes do Antigo Testamento foram salvos pela eficiência do sangue de Cristo tanto quanto os crentes do Novo Testamento. Isso porque esse sangue foi conhecido desde a fundação do mundo - “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado, O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” - 1ª Pedro 1.18-20. Nossa redenção foi feita pelo sangue do Cordeiro de Deus que veio para tirar o pecado do mundo. Amém.

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Artigo 4Por que a morte de Cristo tem valor infinito?


A morte do Filho de Deus tem tão grande valor e mérito porque aquele que se submeteu a ela não é apenas o homem perfeito e verdadeiro, mas é também o Filho Unigênito de Deus, da mesma essência eterna e infinita com o Pai e o Espírito Santo, pois tais qualificações era necessárias para o nosso Salvador. Além disso, essa morte tem tão grande valor e mérito porque foi acompanhada da consciência da ira e da maldição de Deus que, por causa dos nossos pecados, somos merecedores.

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Comentário: Todos os sacrifícios feitos pelos sacerdotes na Antiga Aliança eram apenas figuras e tipos que apontavam para Cristo, e portanto, precisavam ser repetidos e repetidos todos os dias - “E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados” - Hebreus 10.11. Mas o sacrifício que o Senhor Jesus, sendo o sacerdote eterno e também o Cordeiro de Deus, fez oferecendo-se a si mesmo, foi único e de uma vez para sempre - “Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus” - Hebreus 10.12. Na cruz do Calvário, o Senhor Jesus sorveu até a última gota do cálice da ira de Deus, que estava reservado a nós. Ele não foi poupado pelo Pai; não ficou mais em conta por ser ele o Filho Amado; não houve desconto por pagar uma dívida de terceiros. De fato o Senhor Jesus sofreu totalmente a penalidade do nosso pecado, pois não havia outro meio de sermos salvos da condenação. Então o Senhor sofreu os terrores da morte e do inferno na cruz, onde experimentou o que significa ser abandonado por Deus e estar totalmente desamparado e desassistido da Graça do Pai. Aquilo que é o inferno, ele o experimentou na cruz - ou seja, uma total e completa ausência da graça de Deus e uma sensível e aterrorizadora presença da ira de Deus - “Os cordéis da morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e tristeza” - Salmo 116.3. O Pai não pode contemplar seu Filho Unigênito sendo submetido aquele terrível sacrifício, sendo chagado e moído pelos nossos pecados, por isso Jesus clamou: “… Eloí, Eloí, lamá sabactani? que, traduzido é: Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?” - Marcos 15.34. Tudo isso tornou o sacrifício de Jesus, único, insubstituível, suficiente e poderosamente eficiente para reverter todos os efeitos catastróficos da queda. Um dia veremos a plenitude da remissão - “Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo,
de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” - Efésios 1.9-10.

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Artigo 5A proclamação universal do evangelho


A promessa do evangelho é que todo aquele que crer em Cristo crucificado não perecerá, mas tem a vida eterna. Essa promessa deve ser anunciada e proclamada universalmente e sem nenhuma discriminação a todos os povos e homens, aos quais Deus, em seu beneplácito, envia o evangelho juntamente com o mandamento de que se arrependam e creiam.

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Comentário: Alguns objetam que, se os eleitos serão salvos indiscutivelmente, então independente da igreja pregar ou não o evangelho, isso ocorrerá. Já, os que não são eleitos, não serão salvos, também independentemente da pregação do evangelho. Bem, que aqueles que Deus escolheu na eternidade ele mesmo os atrairá para si e apenas esses serão trazidos a ele, é um fato inegável e inequívoco. Contudo, o Senhor nos ordenou pregar o evangelho a toda criatura, porque, absolutamente, não cabe a nós julgar quem é ou quais são os que devem ouvir e quais não. Primeiro que “... aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” - 1ª Coríntios 1.21. Segundo que mesmo onde Deus não irá salvar, a pregação do evangelho acrescenta condenação aos que ouvem e rejeitam. Por isso ele nos ordena pregar o evangelho a todos, indistintamente. Que todos ouçam, seja para a salvação ou para a condenação, Deus será sempre glorificado, tanto nos que se salvam quanto nos que se perdem - “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida” - 2ª Coríntios 2.15-16. “Ide por todo o mundo” disse o Senhor, e “pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” - Marcos 16.15-16. À igreja cabe pregar e chamar os pecadores ao arrependimento - “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” - Atos 2.38; devemos obedecer a ordem do Senhor de pregar a toda a criatura e crer que o Espírito Santo chamará os eleitos de Deus. Os eleitos creem porque junto com a pregação Deus lhes dá a fé e o arrependimento.

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Artigo 6Por que alguns não creem?


No entanto, muitos dos que foram chamados pelo evangelho não se arrependem nem creem em Cristo, mas perecem na incredulidade. Isso não acontece por haver algum defeito ou insuficiência no sacrifício de Cristo oferecido na cruz, mas pela própria culpa deles.

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Comentário: A proclamação da glória de Deus está por toda a parte do mundo, tornando os homens indesculpáveis. Eles nascem com o senso do certo e do errado, do bem e do mal, gravado em suas almas. Toda a criação de Deus ao seu redor revela o poder, a majestade e a glória divinas, chamando o homem à contemplação e adoração do Criador. Isso por si só torna os pecadores inexcusáveis perante o tribunal de Deus. Quando rejeitam abertamente o chamado de Deus através de Cristo em sua Igreja, nada mais lhes resta senão a condenação eterna. Os que têm a oportunidade de ouvir o chamado do evangelho e não creem serão mais merecidamente deixados em seus pecados. Isto já foi anunciado pelo Senhor - “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” - Mateus 22.14. Outros há que nem mesmo tiveram essa oportunidade, mas foram impedidos de ouvir - “E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia” - Atos 16.6, viveram na escuridão sem nada conhecer do evangelho da glória de Deus - “O qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios caminhos” - Atos 14.16. Em todos esses, misteriosamente, a justiça de Deus será glorificada. De qualquer forma é muito justo que os pecadores sejam abandonados em seus próprios pecados e condenados ao inferno, e é demonstração de misericórdia e generosidade que Deus salve aqueles a quem quer. Se Deus abandonasse Adão e toda sua família em seus pecados, faria isto com toda justiça. Contudo, ele decretou salvar apenas uma parte dela, reconduzindo-os à sua presença, e deixar que os demais permaneçam na queda eternamente. Aqueles que decretou salvar Deus mesmo dá a fé e o arrependimento, e apenas esses creem e se arrependem.

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Artigo 7Por que outros creem?


Mas aqueles que verdadeiramente creem e pela morte de Cristo são libertos e salvos dos seus pecados e da perdição, recebem esse benefício apenas por causa da graça de Deus que lhes é dada em Cristo, desde a eternidade. Deus não deve tal graça a ninguém.

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Comentário: Deus nunca deixou os homens completamente sem seu testemunho. Como já havíamos visto, por toda a criação há uma proclamação silenciosa das obras de Deus, revelando seu poder, sua majestade e sua glória, conclamando o homem à contemplação do Criador - “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração à outro dia, e uma noite mostra sabedoria à outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo” - Salmo 19.1-4. Contudo, ainda assim os homens não vão a ele. A fé não é de todos, não é inata ao ser humano; nem mesmo todos aqueles que ouvem o evangelho o abraçam, isto porque crer em Deus é um dom que nem todos recebem, mas apenas aqueles destinados a crer. Por isso lemos: “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna… Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam” - Atos 13.48; 18.27. É-nos dito algo maravilhoso e misterioso sobre aqueles que creram: “estavam ordenados para a vida eterna”. O dom da fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus - “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” - Efésios 2.8. Mas só recebem esse dom aqueles a quem Deus escolheu. Esses ouvem, creem, atendem, vão a ele e o seguem em obediência. Em sua infinita sabedoria Deus fez com que o crer fosse assim: Ele concede o dom e o homem crê. Assim, todos os homens, de alguma forma, são chamados a crer e são responsabilizados se permanecerem em sua incredulidade e desobediência. Cada pessoa que está no céu tem a plena consciência que jamais mereceu estar ali, mas lá está pelos preciosos dons que Deus lhe deu. Já cada pessoa que está no inferno tem a mais perfeita consciência de que lá está, única e exclusivamente, pelos seus próprios pecados, por sua própria culpa e merecimento por não fazer caso do chamado de Deus.

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Artigo 8A eficácia da morte de Cristo


Este, pois, foi o soberano conselho de Deus, o Pai: que a eficácia salvadora e vivificante da preciosíssima morte do seu Filho se estendesse a todos os eleitos. Foi da sua graciosíssima vontade e intento conceder a fé justificadora apenas a eles e assim trazer-lhes infalivelmente à salvação. Isto é: Deus quis que Cristo, pelo sangue derramado na cruz (pelo qual ele confirmou a nova aliança), redimisse, eficazmente, de todo povo, tribo, nação, e língua, todos aqueles – e somente aqueles – que, desde a eternidade, foram eleitos para a salvação e foram dados ao Filho pelo Pai. Deus também quis que Cristo lhes desse a fé, que, juntamente com outros dons salvadores do Espírito Santo, adquiriu para eles pela sua morte, para que pelo seu sangue pudesse purificá-los de todos os seus pecados – tanto do pecado original quanto dos pecados reais cometidos antes e depois da fé – e para os guardar fielmente até o fim e, finalmente, os apresentar a si mesmo em glória, sem nenhuma mácula ou ruga.

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Comentário: Nos seus eleitos, Deus age com um poder soberano, porém gracioso, conhecido como a graça irresistível, a qual é infalível, pois age num recôndito mais secreto do nosso ser que só o próprio Deus conhece e ninguém mais, nem nós mesmos. Ali, ele planta o arrependimento e a fé, e muda a inclinação do nosso ser e nos leva a amar, crer, confiar e desejar a Cristo como nosso Senhor e Salvador. O Espírito Santo só revela Cristo àqueles que ele também regenerou. Resumindo, o eleito é salvo porque Deus quis salvá-lo, e Deus faz isto para a sua própria glória. De modo que a eficácia da redenção de Cristo é total e absoluta na vida de cada eleito de Deus. Por isso cremos que a expiação de Cristo é exclusiva aos eleitos de Deus. Quando um rei expulsa um súdito de sua presença, tal pessoa morrerá no exílio, a menos que o rei use de misericórdia e o perdoe e chame de volta à sua presença. O pecador é um exilado da presença do Rei; alguns são reconciliados e trazidos de volta outros não. Só assim podemos entender a oração de Cristo: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” - João 17.9. Mas todos os eleitos de Deus, de todos os lugares, de todos os tempos são, inequívoca e infalivelmente redimidos pela morte de Jesus Cristo. Deus escolheu antes da fundação do mundo, um povo, não apenas dentre os filhos naturais de Abraão, mas dentre todas as nações da terra, para levar ao céu e um dia povoar a nova terra e novos céus - “E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação”…. “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestidos brancos e com palmas nas suas mãos” - Apocalipse 5.9; 7.9. À esses a salvação não é proposta ou oferecida apenas mas executada graciosamente por obra do Espírito Santo, desde o chamamento até a glorificação, passando pela justificação e santificação.

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Artigo 9O cumprimento do conselho de Deus


Esse conselho, que procede do amor eterno de Deus pelos eleitos, tem sido poderosamente cumprido desde a fundação do mundo até o momento presente, e ainda continuará a ser cumprido, mesmo que as “portas do inferno” tentem, inutilmente, frustrá-lo. No devido tempo, os eleitos serão reunidos e sempre existirá uma igreja de crentes, fundada no sangue de Cristo. Essa igreja deve amá-lo firmemente e servi-lo fielmente como seu Salvador (o qual como Noivo derramou a sua vida na cruz pela sua Noiva) e celebrar os seus louvores aqui e por toda a eternidade.

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Comentário: Os planos e decretos de Deus não podem ser frustrados. Seu Conselho permanece firme e ele fará tudo quanto desejou fazer. A Igreja é a edificação dos crentes, em Cristo, feita por ele próprio - “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” - Mateus 16.18. Sendo assim, nada poderá impedir que os fiéis continuem congregando, para adorar ao Senhor que por eles morreu. Enquanto houver uma única ovelha do Senhor para ser atraída para Cristo, o Espírito Santo continuará sua obra na terra, pois nenhuma delas poderá faltar até o último dia. Todos os filhos de Deus devem ser reunidos conforme está escrito - “… sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” - João 11.51-52. O próprio Senhor Jesus assegurou que ainda tinha outras ovelhas fora do redil judaico e que iria agrega-las - “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” - João 10.16. Por isso a ordem para seus discípulos era sair por todo o mundo a partir de Jerusalém até aos confins da terra, chamando os pecadores a fé e ao arrependimento - “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” - Atos 1.8. Deve haver muitos eleitos que ainda não nasceram, pelo que os filhos da aliança devem continuar se procriando, pois esses eleitos precisam vir a este mundo. Deus os têm em todos os lugares e especialmente nos lares dos seus filhos, as famílias da aliança.

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A corrupção do homem, a sua conversão a Deus, e o modo como isso ocorre


Capítulos 3 e 4


Artigo 1 – O resultado da queda


No princípio, o homem foi criado à imagem de Deus. Foi adornado em seu entendimento com o verdadeiro e total conhecimento do seu Criador e de todas as coisas espirituais. A sua vontade e o seu coração eram retos; todos os seus sentimentos, puros; o homem era, portanto, completamente santo.

Mas, ao rebelar-se contra Deus pela instigação do diabo e pelo livre-arbítrio, ele se privou desses dons excelentes e, em lugar deles, trouxe sobre si cegueira, densas trevas, futilidade e perverso juízo em sua mente; malignidade, rebelião e obstinação com sua vontade e coração; e impureza em todos os seus sentimentos.

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Comentário: Antes da queda o homem era um ser perfeito e santo, como Deus o fez. Tudo nele estava em ordem: sua mente, vontade e emoções eram justos; seus afetos e inclinações eram bons, e tudo operava no mais perfeito equilíbrio. O próprio Deus, ao terminar a criação, atestou e aprovou tudo quanto havia criado. Disse que tudo quanto havia feito era muito bom - “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou... E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom...” - Gênesis 1.27, 31. Após a queda, porém, toda a criação foi afetada pelo mal e aquela perfeição que havia no homem, foi danificada; todo o seu ser foi contaminado pelas radiações corruptivas do pecado. Design original foi afetado, tornando-o desequilibrado emocionalmente, dominado pelas paixões e apetites sensuais; tristemente o caos foi instalado com sucesso. “E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração” - Gênesis 6.5-6. O pecado trouxe-lhe trevas que lhe obscureceram a mente, deixando-o cegado em seu entendimento e escravo do pecado: “e o seu coração insensato se obscureceu” - Romanos 1.21. Essa é a condição em que o pecado deixou os descentes de Adão: “Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus” - Efésios 4.18. Foi uma grande tragédia; de fato, a maior de toda a história da humanidade. O próprio nome já diz: Queda; o homem caiu. Caiu de um estado de glória para a corrupção e depravação. Isso por si só desmente a teoria da evolução, que afirma ser o homem um primata evoluído. Não, o homem não é um antropoide evoluído, mas sim o que sobrou de uma criatura que Deus fez com suas próprias mãos e nela imprimiu sua imagem e insuflou-lhe o fôlego da vida. Sim, somos o que restou daquilo que era a coroa da criação de Deus; degenerados pelos desastrosos efeitos da desobediência do nosso representante federal – Adão. É isso que é o homem – um ser involuído, isto é caído de um estado glorioso para um estado deplorável de miséria pecaminosa. O homem caiu e continua caindo até chegar no fundo do colossal abismo que está sob seus pés. Somente a mão amorosa do Senhor Jesus pode deter essa queda.

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Artigo 2 – A propagação da corrupção


Depois da queda, o homem se tornou corrompido e, como pai corrompido, gerou filhos corrompidos. Assim, de acordo com o justo juízo de Deus, a corrupção propagou-se de Adão a todos os seus descendentes – à exceção de Cristo somente – não por imitação, como afirmavam os antigos Pelagianos, mas pela propagação de uma natureza pervertida.

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Comentário: A desobediência de Adão foi um monstruoso insulto a Deus, à sua santidade, à sua glória, ao seu trono e autoridade. Foi uma quebra e rompimento de aliança e alta traição, que deveria ser punida com a pena máxima – morte temporal e eterna. Foi uma verdadeira tragédia, porque o pecado entrou não apenas em Adão, mas, segundo o justo juízo de Deus, alastrou-se por sua descendência a dentro. O pecado de Adão tornou-se o pecado original de todos os homens. Cada descendente de Adão já nasce em pecado, e como “o salário do pecado é a morte” - Romanos 6.23, cada bebezinho que vem a este mundo, nasce condenado à morte; literalmente nasce para morrer. A prova que todos pecaram é que todos morrem. Essa é uma estatística infalível e terrivelmente comprovada: para cada filho de Adão que nasce, morre um. O apóstolo Paulo disse: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” - Romanos 5.12. E por isso é que todos morrem. A porta de entrada da morte neste mundo foi o pecado de Adão. É o princípio da solidariedade. Somos solidários ao nosso cabeça federal e tudo o que ele fez é como se nós próprios o fizéssemos, de forma que seu pecado se tornou de todos nós. Nossos filhos não conhecem o pecado conforme vão crescendo neste mundo, mas já trazem dentro de si o pecado original. Aliás essa é a única coisa que trouxemos a este mundo: o pecado, e precisamos deixá-lo aqui quando daqui sairmos. Essa é a maravilhosa proposta do Evangelho: Livrar-nos da escravidão do pecado. “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” - João 8.34, 36.

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Artigo 3 – A total incapacidade do homem


Portanto, todos os homens são concebidos em pecado e nascem como filhos da ira, incapazes de realizar qualquer bem salvífico, inclinados para o mal, mortos em pecados e escravos do pecado. Sem a graça da regeneração do Espírito Santo, não desejam nem podem voltar-se para Deus, nem corrigir a sua natureza depravada, nem se preparar para essa correção.

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Comentário: Desde que o homem decaiu da gloriosa posição na qual havia sido colocado quando criado, passou também a fugir continuamente de Deus. Cheio de culpa, vergonha, medo, mas orgulhoso demais para admiti-lo; em vez de correr para Deus, que é a luz e a vida, onde encontraria o perdão, ele correu afoitamente na direção oposta. Assim continuará até desaparecer completamente nas trevas eternas, de onde nunca sairá nem jamais tornará a ver a luz, eternamente. Na condição de criatura caída e contaminada pelo pecado, o homem não tem desejo pela comunhão com Deus. O pecado entrou em seu sistema e o viciou de tal maneira que a única coisa que sabe fazer com grande propriedade é pecar e afastar-se cada vez mais do Bendito Criador. Ele é viciado e escravizado pelo pecado, de modo que é este quem governa sua vida, intoxicando-o mais e mais com seu veneno, e tirando dele qualquer desejo por Deus mesmo. Foi o Senhor Jesus que fez tal observação – quase um lamento: “E não quereis vir a mim para terdes vida” - João 5.40. Assim, o pecador está nas trevas e não tem desejo de vir para a luz que Deus é - “E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas” - João 3.19-20. O homem natural é carnal e jamais deixará de sê-lo senão por um milagre do Espírito de Deus recriando-o e dando-lhe o novo nascimento - Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo” - 2a Coríntios 4.6. O pecador só se tornará um novo homem, num homem espiritual quando for regenerado pelo Espírito Santo - “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” - João 3.5-6. Por si mesmo o pecador não pode corrigir-se a si próprio e nem mesmo contribuir ou preparar-se para uma eventual correção. Nos que foram eleitos para a salvação, essa regeneração é operada por Deus, e Deus a opera sozinho, sem a participação do homem, uma vez que este está morto no pecado.

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Artigo 4 – A insuficiência da luz da natureza


Com certeza, depois da queda restou no homem um pouco da luz natural, pela qual ele ainda conserva algumas noções sobre Deus, sobre as coisas naturais, e sobre a diferença entre o que é honrável e o que é vergonhoso, e mostra alguma consideração pela virtude e pela ordem exterior. Mas está tão longe de chegar ao conhecimento salvador de Deus e da verdadeira conversão por meio dessa luz da natureza, que nem mesmo a usa do modo apropriado nas questões naturais e civis. Antes, não importa o que seja essa luz, o homem a polui completamente de várias formas e a suprime pela sua injustiça, tornando-se assim inescusável diante de Deus.

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Comentário: Esse documento afirma que o homem natural tem luz suficiente para torná-lo indesculpável diante do tribunal de Deus, mas não tem iluminação suficiente para guiá-lo à salvação, a menos que Deus se revele a ele. O apóstolo Paulo disse que todos são indesculpáveis diante de Deus - “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” - Romanos 1.19-20. A queda não apagou de todo daqueles dons magníficos que ele possuía antes de desobedecer a Deus e dar ouvidos à velha serpente. Por isso o próprio apóstolo diz: “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” - Romanos 2.14-15. Isto é, mesmo aqueles que não conhecem e nem temem a Deus, têm alguma noção de certo e errado, justo e injusto, honroso e vergonhoso. Contudo essa luz que têm é insuficiente para atraí-los a Cristo para serem salvos. E como, sem Deus, eles não podem fazer outra coisa senão pecar, é isso que fazem, acabando por eclipsar totalmente essa luz com sua corrupção pessoal. Os ímpios costumam culpar Deus acusando-o de injustiça por não revelar-se a todos os homens. Sendo Deus absolutamente justo e também misericordioso, para com os incrédulos e desobedientes ele mostra verdadeira justiça, e para com os crentes ele mostra misericórdia. Logo, não faz injustiça a ninguém - “Aos justos nasce luz nas trevas; ele é piedoso, misericordioso e justo” - Salmo 112.4.

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Artigo 5 – A insuficiência da Lei


Aquilo que se afirma da luz da natureza também é válido para os Dez Mandamentos, dados por Deus através de Moisés, particularmente aos judeus. Embora a Lei revele a grandeza do pecado e cada vez mais convença o homem da sua culpa, ainda assim não lhe aponta a cura nem lhe dá poder para se erguer e sair das suas misérias. Antes, enfraquecida pela carne, a Lei deixa o transgressor debaixo de maldição. Por essa causa, o homem não pode obter a graça salvadora através da Lei.

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Comentário: Sozinha a lei também é insuficiente para trazer salvação ao pecador, porque ela projeta verdadeira luz sobre o pecado, contudo não capacita o homem para vencê-lo. Ela diagnostica a enfermidade humana mas não medica o moribundo, deixando-o desesperançado e confinado à morte - “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” - Romanos 3.19-20. A lei revela o altíssimo padrão da justiça de Deus e exige obediência irrestrita, amaldiçoando toda desobediência. Como o homem é totalmente incapaz por si mesmo de cumpri-la, fica imobilizado debaixo da sua sentença condenatória - “Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo” - Deuteronômio 27.26. Assim, se Deus nos desse apenas a sua Lei mas não revelasse sua misericórdia e graça, ninguém seria salvo. O apóstolo Paulo disse: “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las” - Gálatas 3.10. E Tiago completa: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” - Tiago 2.10. Ninguém teria alguma chance de escapar da maldição da Lei, se não fora a graça inefável de Deus revelada em Cristo Jesus. Bendito seja Deus que não deixou a Lei sozinha, antes ela está bem acompanhada da sua maravilhosa graça. Eis a nossa bendita ventura - a Lei nos inclina para a Graça que está em Cristo Jesus -De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados - Gálatas 3.24. Então a lei não salva mas faz o pecador procurar o Mediador da Aliança.

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Artigo 6 – A necessidade do Evangelho


Portanto, aquilo que nem a luz da natureza nem a Lei podem fazer, Deus realiza pelo poder do Espírito Santo através da palavra ou ministério da reconciliação, que é o evangelho do Messias, pelo qual agradou a Deus salvar os que creem, tanto na antiga quanto na nova dispensação.

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Comentário: Para que o homem seja atraído para Cristo e assim ser reconciliado com Deus é preciso um milagre: o novo nascimento. Uma nova criação precisa ser feita, um novo homem trazido à existência. O Senhor Jesus explicou dessa forma a Nicodemus, um príncipe dos judeus: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” - João 3.3-7. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento o caminho de volta para Deus é o mesmo: a regeneração, que consiste num novo espírito, um novo coração, uma nova natureza - “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” - Ezequiel 36.26. Através da pregação da Palavra, Deus chama o pecador à fé, ao arrependimento de seus pecados e a sujeição ao senhorio de Cristo. Este foi seu método no antigo e também no novo Testamento. Essa salvação sempre foi oferecida pela graça, porque também ninguém, jamais, poderá ser salvo de outra forma. De modo que nem com a luz da natureza e nem apenas com a Lei o homem pode chegar ao conhecimento do Salvador, mas através do chamado específico e eficaz que vem junto com a pregação do evangelho. O apóstolo disse que aquilo que o profeta Isaías pregou já era o evangelho: “Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?” - Romanos 10.16. Isso confirma o método de Deus para chamar os eleitos, a pregação: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” - 1ª Coríntios 1.21. Assim com o chamado exterior do evangelho juntamente com o chamado interior do Espírito Santo, o pecador é trazido a Cristo. O chamado exterior entra em seus ouvidos e o chamado interior penetra a sua alma atraindo-o para o Salvador e reconciliado com Deus.

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Artigo 7 – Por que o Evangelho é enviado a uns e não a outros?


Na antiga dispensação, Deus revelou esse mistério da sua vontade a poucos. Na nova dispensação, no entanto, ele não considerou os povos de modo diferente e o revelou a um número muito mairo de pessoas. Não se deve atribuir a causa dessa distribuição do evangelho ao mérito de um povo sobre o outro, nem ao melhor uso da luz da natureza, mas ao beneplácito soberano e ao amor imerecido de Deus. Portanto, nós, a quem tão grande graça é concedida, muito além e contrária a tudo o que merecemos, devemos reconhecê-la com coração humilde e grato. Ms quanto àqueles a quem tal graça não é dada, devemos com o apóstolo, adorar a severidade e a justiça dos juízos de Deus, sem de modo algum investigá-los inquisitiva e curiosamente.

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Comentário: Que Deus escolheu salvar um povo entre toda a humanidade está muito claro em toda a Bíblia. Isso disse o Espírito Santo pela boca do apóstolo: “Simão relatou como, primeiramente, Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” – Atos 15.14. Podemos ver isto deste Gênesis até o Apocalipse, contudo, o motivo pelo qual ele o fez é totalmente desconhecido a nós e pertence unicamente ao seu sábio conselho e arbítrio - “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus...” - Deuteronômio 29.29. Há lugares em que nunca se ouviu a pregação do evangelho e lugares em que se ouviu no passado e hoje não mais. Onde o evangelho é pregado os céus estão abertos e a graça está sendo oferecida. Mas é Deus quem envia seus mensageiros com a mensagem - “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” - Romanos 10.13-15. É prerrogativa de Deus fazer chegar sua oferta de reconciliação onde e a quem quer. No Antigo Testamento a revelação de Deus esteve restrita aos patriarcas e depois aos filhos de Abraão, os israelitas. Ao redor tudo era trevas. Isto não significa que gentios não foram chamados também, certamente o foram e muitos deles. Ainda assim vemos ali uma contenção da revelação de Deus aos homens. No Novo Testamento, com a vinda do Messias, os muros que represavam a revelação e a graça de Deus em uma nação, foram rompidos -Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio” - Efésios 2.14. A graça maravilhosa de Deus fluiu qual rio caudaloso em direção a todas as nações da terra, cumprindo a promessa anteriormente feita a Abraão - “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra… Visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?” - Gênesis 12.3; 18.18. Deus assim quis fazê-lo e assim Ele fez - “Mas o nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” - Salmo 115.3. O fato é que nenhum salvo merece sê-lo, nenhum habitante do céu merece estar lá e todo prisioneiro do inferno estará ali eternamente por sua própria culpa, merecidamente. Além disso que nos foi revelado nas Escrituras, não devemos investigar os mistérios de Deus, porque aquilo que nos interessa ele no-lo revelou e nas coisas reveladas temos motivos mais que de sobra para adorá-lo por sua sábia justiça, bondade e misericórdia.

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Artigo 8 – O chamado sincero do Evagelho


Mas todos os que são chamados pelo evangelho, sinceramente o são, pois Deus séria e sinceramente revela em sua Palavra aquilo que lhe agrada, a saber, que todos os que são chamados venham a ele. Deus também siceramente promete o descanso para a alma e a vida eterna a todo o que a ele vier e crer.

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Comentário: Deus não brinca com o homem, não brinca com as almas. Quando chama o pecador ao arrependimento, o faz mui seriamente. Todos quantos vierem a Cristo obterão perdão e reconciliação - “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” - João 6.37. Jamais despreza ou despede vazio alguém que se chega a ele. Por isso envia seus mensageiros com a ordem de pregar a Palavra e com a promessa a todos quantos derem ouvidos que receberão perdão e serão reconciliados - “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” - Mateus 11.28-29. O fato de Deus ter seus escolhidos e ter bênçãos especiais reservadas a eles não tira, de forma nenhuma, a responsabilidade do homem que ouve, de obedecer a sua Palavra. O Conselho eterno reserva para si a prerrogativa de escolher aqueles que irão habitar os novos céus e a nova terra – e isso é mistério para nós -, mas todos os que são chamados, o são de tal maneira que devem crer e obedecer. O chamado externo é igual a todos. Se dez pessoas congregadas ouvem a pregação e o chamado, todas as dez estão de fato tendo a oportunidade de salvação. Se apenas cinco dentre elas derem ouvidos, vierem a Deus arrependidas de seus pecados e perseverarem até o fim, isso significa que Deus escolheu essas cinco, mas que também de fato o convite estava estendido às dez.

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Artigo 9 – Por que alguns dos que são chamados não vêm?


Muitos dos que são chamados pelo ministério do evangelho não vêm e nem são convertidos. Mas isso não é culpa do evangelho nem do Cristo oferecido pelo evangelho; nem de Deus, que os chama pelo evangelho e até mesmo lhes concede vários dons. A culpa está nos próprios pecadores. Alguns dels não se importam com a palavra da vida nem a aceitam. Outros, de fato, a recebem, mas não a aceitam em seu coração e logo retrocedem depois que desaparece a alegria de uma fé temporária. Há ainda daqueles que sufocam a semente da Palavra com os espinhos dos cuidados e dos prazeres deste mundo, e não produzem nenhum fruto. Esse é o ensino do nosso Salvador na parábola do semeador.

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Comentário: Embora o chamado geral e exterior seja sério e verdadeiro, apenas o chamado específico e interior é eficaz. Isso porque o homem natural mesmo tendo a honra de ser chamado por Deus não responde e nem deseja vir a Deus. Ainda que Deus tenha a iniciativa de chamar, o homem não tem a iniciativa de responder positivamente antes de ser regenerado. O pecador em seu estado caído não tem nenhuma atração por Deus, pela sua glória, pela sua santidade, pela sua bondade, pela sua beleza. Está, quando muito, interessado em bênçãos materiais e imediatas, como cura física, solução de problemas financeiros, emocionais e coisas afins. Contudo, não tem nenhuma motivação quando o assunto é o Reino de Deus, como devemos viver para Deus e para sua glória. Quando se diz que muitos são chamados e não vêm a Deus, isto quer dizer que não se rendem a Deus, para servi-lo e viver para ele; porque muitos frequentam as reuniões das igrejas locais, mas isso não significa que já se deram a Cristo e a Deus. Foram chamados, sim, mas não atenderam os termos do chamado. Muitos dos que estão na igreja supõem que Deus, a igreja, a oração, a fé, existem para si. Então tentam usar tudo isso em benefício próprio. Tais pessoas não resistiriam uma perseguição religiosa, logo desistiriam da sua crença, porque de fato não têm a fé dos eleitos. Muitos frequentadores da igreja o fazem por desencargo de consciência, mas trocam uma assembleia solene por qualquer outra atividade mais atrativa para a carne. Eles, de fato, não têm fé e qualquer coisa os desequilibra, desanima e os leva na direção contrária. Esses são os que não vieram a Cristo efetivamente, porque a Palavra do Senhor é: “o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” - João 6.37. E ainda: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” - João 10.27-29. Isto não é uma promessa apenas, mas a declaração de um fato. O Senhor está afirmando que aquele que vem a ele, não retrocede, não volta atrás, não recua, não se perde jamais, porque está dito: “Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para a conservação da alma” - Hebreus 10.39. Amém.

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Artigo 10 – Por que outros que são chamados vêm?


Outros que são chamados pelo ministério do evangelho vêm e são convertidos. Mas, não se deve atribuir isso ao homem, como se ele, por causa do seu livre-arbítrio, fosse superior àqueles que receberam igual ou suficiente graça para a fé ou conversão (como afirma a arrogante heresia de Pelágio). Deve-se atribuir isso a Deus, pois foi ele quem escolheu os seus em Cristo, desde a eternidade, e os chama eficazmente no tempo; concede-lhes a fé e o arrependimento; livra-os do poder das trevas e os transporta para o reino do seu Filho. Tudo isso Deus faz para que eles possam declarar os maravilhosos feitos daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, e para que não se gloriem em si mesmos, mas no Senhor, segundo o testemunho dos apóstolos em diversas partes da Escritura.

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Comentário: Os que ouvem o chamado do evangelho de Cristo e vão a ele, rendem-se e passam a viver para ele em obediência, é porque sem dúvida foram destinados a isso. O pecador em seu estado natural não tem desejo de mudar de vida; ele não ama a Deus e nada que é de Deus – suas leis, seus atributos, suas obras –, o que ele ama são as coisas que Deus lhe pode dar, sem, contudo, interferir em sua vida. Se lhe disserem que Deus pode curá-lo, fazê-lo feliz, prosperá-lo, enriquecê-lo, ter sucesso, então, ele aceitará tudo isso. Mas, se disserem que Jesus Cristo é o Senhor e deseja governar a sua vida, então ele desiste - “Mas os seus concidadãos odiavam-no, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós” - Lucas 19.14. Muitos aceitam quando dizemos que Cristo morreu na cruz para nos salvar, e isto é verdade, mas param aí; a Bíblia, porém, continua dizendo que ele ressurgiu para ser o nosso Senhor: “Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos” - Romanos 14.9. Aqueles que Jesus salva não vivem mais para si mesmos, até porque um dos aspectos da salvação é o livramento da nossa autonomia a qual, sendo entregues à ela, nos levaria ao inferno - “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” - 2ª Coríntios 5.15. Se salvação é não viver mais para si mesmo e sim para Cristo, perdição é o contrário disso. Então não importa o quão próspero e religioso seja um homem nesta vida, se ele tiver uma vida autônoma e independente de Cristo está condenado. Um homem entregue a si mesmo está separado de Deus. A fé e o arrependimento são preciosos dons de Deus àqueles que ele destinou salvar - “Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados” - Atos 5.31. Deus deu o arrependimento a Israel. O apóstolo orienta os presbíteros a usar a disciplina com mansidão esperando que Deus dê o arrependimento àqueles que estão sendo corrigidos: “Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” - 2ª Timóteo 2.25. Podemos ler ainda o que foi dito dos crentes da Ásia: “Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam” - Atos 18.27. Pela graça criam, isto é, só creem aqueles que recebem esse dom. Resumindo, a salvação é uma obra de exclusiva de Deus, do começo ao fim, da eleição à glorificação. Toda glória seja dele para sempre, Amém.

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Artigo 11 – Como Deus realiza a conversão?


Deus realiza o seu beneplácito nos eleitos e opera neles a verdadeira conversão da seguinte maneira: ele cuida para que o evangelho lhes seja pregado e ilumina poderosamente a sua mente pelo Espírito Santo, de modo que possam compreender e discernir corretamente as coisas do Espírito de Deus. Pela operação eficaz do mesmo Espírito regenerador, ele também penetra até os recantos mais íntimos do homem; abre os corações fechados e abranda os endurecidos; circunda o que era incircunciso e infunde novas qualidades na vontade; faz viver a vontade outrora morta: a que era má, converte em boa; a indisposta, em solícita; a rebelde, em obediente. Ele muda e fortalece de tal maneira essa vontade que, assim como uma árvore boa, seja capaz de produzir o fruto das boas obras.

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Comentário: A obra do Espírito Santo em nós é tão misteriosa que nós próprios não podemos compreender perfeitamente, pois ele opera dentro de nós, numa área que nem mesmo nós conhecemos, mudando a inclinação do nosso íntimo, fazendo-nos responder ao seu precioso e incisivo chamado. Não podemos dizer como e nem quando o Espírito Santo opera a regeneração em nós; razão porque não podemos dizer o dia e a hora em que o novo nascimento ocorreu. Identificamos essa obra em nós pelos frutos que começamos a observar em nossa vida, mas não podemos dizer com certeza quando aconteceu o milagre. Nossa salvação, no seu todo, é monergística, isto é, Deus a realiza sozinho, do começo ao fim. Tudo que sabemos é que o homem natural em seus pecados não está disposto para Deus, seu coração está fechado para a verdade e há trevas em sua mente. Usando uma linguagem bem fácil para entendermos, ele está para as coisas espirituais tanto quanto um urubu está para alfaces ou couves – não lhe apetecem mesmo. Para tanto precisaria ter sua natureza mudada. E é isto que Deus faz em seus eleitos - “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” - 2ª Coríntios 5.17. É Deus quem providencia para que seus escolhidos ouçam a pregação do santo Evangelho enviando-lhes pregadores; é ele também, que abre os ouvidos dos mesmos de maneira que entendam a mensagem e a acolham em seus corações - “Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” - Romanos 10.13-15. Há um exemplo de como Deus faz o coração do homem natural inclinar-se a fazer algo espiritual, na vida de Ciro, poderoso rei da Pérsia. Ciro não temia a Deus e nem mesmo o conhecia, mas o Deus do céu tinha uma tarefa para ele: libertar os judeus da Babilônia para que retornassem a Jerusalém, a reconstruíssem, bem como ao templo. Assim está escrito: “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia ( para que se cumprisse a palavra do SENHOR, pela boca de Jeremias ), despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá” - Esdras 1.1-2. Deus despertou o espírito de Ciro para que atendesse aos seus propósitos, e o rei acabou fazendo algo que não estava em seus planos e que talvez nem ele mesmo soubesse porque fez, mas fez, e o fez livremente. Assim Deus realiza a conversão dos eleitos, soberanamente, contudo sem violência, mas graciosamente. Só descobrimos que algo aconteceu, quando ele já agiu e operou maravilhosamente em nós. Então ficamos muito agradecidos por tão grande salvação.

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Artigo 12 – A regeneração é obra de Deus somente


Essa conversão é aquela regeneração, nova criação, ressurreição dos mortos e vivificação, tão exaltada na Escritura, a qual Deus opera em nós independente de nós. Essa regeneração, contudo, não se realiza de modo algum pelo ensino exterior, pela persuasão moral, ou por um suposto modo de operação que, após Deus ter feito a sua parte, fica a critério do homem regenerar-se ou não, converter-se ou não. É, portanto, claramente uma obra sobrenatural, poderosíssima, e ao mesmo tempo a mais deleitosa, maravilhosa, misteriosa e indizível. Segundo a Escritura, inspirada pelo Autor dessa obra, a regeneração não é inferior em poder à criação ou à ressurreição dos mortos. Por isso, todos aqueles em cujo coração Deus opera desse modo maravilhoso são, com certeza, infalível e eficazmente regenerados e creem de fato. A vontade assim restaurada não é apenas alvo da ação e da restauração de Deus, mas, sob o agir de Deus, ela também age. Portanto, diz-se com justiça que o homem crê e se arrepende mediante a graça que recebeu.

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Comentário: Da forma que o Espírito Santo de Deus age todos os eleitos são infalivelmente salvos, todavia não contra a sua vontade; o Senhor age misteriosa e soberanamente sem contudo violar a vontade do homem. Quando o Espírito Santo opera dentro do eleito, ele passa a querer Deus, acorda para a sua condição, sente sua necessidade e precisão de Deus, reconhece sua miséria e indignidade, vê sua impotência e incapacidade e confia no Mediador estabelecido por Deus – Cristo Jesus. Então é despertado para uma nova vida, para coisas muito reais, mas que para ele não existiam. Um cadáver caído à beira do caminho nada vê, ouve ou sente do mundo ao seu redor. Tudo ao seu redor é muito real: as campinas verdejantes e floridas exalam seu perfume, os pássaros cantam à luz do sol radiante entre as ramagens exuberantes. Tudo é muito sensível para alguém que está vivo, mas para o cadáver, nada daquilo existe. Ele não pode ver a luz ou as cores, nem ouvir os sons ou os cantos, nem sentir os odor das flores ou a brisa. Então, para ele, é como se nada daquilo existisse. Assim são as coisas espirituais para aqueles que estão “mortos em ofensas e pecados” - Efésios 2.1. Se Deus não o vivificar jamais o homem natural poderá compreender tais mistérios maravilhosos - “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente - 1ª Coríntios 2.13-14. Como disse o Senhor Jesus ele “não pode ver o reino de Deus” - João 3.3. Veja que não é o caso de algo que Deus realiza uma parte e então deixa o restante com o homem. A salvação do eleito não é algo que está a sua disposição, algo que ele pode tomar ou largar, não; mas é uma obra completa - “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” - Romanos 8.30. O pecador eleito é salvo apesar dele próprio e não com a sua ajuda. É uma operação sobrenatural, irresistível, graciosa, deleitosa; nós fomos atraídos para Cristo e nele incluídos para sempre. O regenerado diz com toda propriedade: Deus me amou e me salvou apesar de mim mesmo.

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Artigo 13 – A regeneração é incompreensível


Na vida presente, os crentes não podem compreender completamente o modo como Deus realiza essa obra. Contudo, é suficiente para os crentes conhecer e sentir que, por essa graça de Deus, eles creem de coração e amam o seu Salvador.

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Comentário: Todas as obras de Deus têm algo misterioso – a criação, a regeneração, a ressurreição espiritual e a física, tudo envolve mistério. Mistério, no sentido de que é incompreensível para as criaturas, pois são coisas muito gloriosas e profundas. Assim, a Igreja de Cristo é um mistério, o crente é um mistério. Como criaturas caídas jamais entenderemos plenamente o agir de Deus, por sinal isso é uma das coisas que nos difere dele – o Senhor é o Deus Criador e nós meramente suas criaturas. Como o Espírito de Deus vem a nós e age em nós é totalmente misterioso - “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito” - João 3.8. Sabemos que está escrito: “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” - Romanos 10.9. Mas se ele não despertar o nosso espírito e nos dar o dom da fé, jamais creremos. Também está escrito: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” - João 6.37. Mas ele disse em seguida: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” - vs. 44. Não devemos ficar questionando as obras de Deus, mas apenas adorá-lo. Tudo o que ele faz é bom, é certo, pois ele é bom, perfeito, justo e misericordioso. Jamais devemos cometer erro de investigar curiosamente as ações do Senhor, mas nos prostrar a adorá-lo na beleza da sua santidade. Quando compreendemos que ele nos amou e nos salvou a despeito de nós, isto é, do que somos e do que fazemos, só nos resta colocar nossa boca no pó, humilhados e adorar esse Deus maravilhoso, cujo amor excede todo entendimento. Amém.

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Artigo 14 – A fé é um dom de Deus


A fé, portanto, é um dom de Deus, não porque meramente seja oferecida por Deus ao livre-arbítrio do homem, mas porque é de fato conferida ao homem, e implantada e infundida nele. Também não é um dom no sentido de que Deus confere apenas a capacidade para crer, e aguarda, do livre-arbítrio do homem, o consentimento para crer ou o ato de crer. É, antes, um dom no sentido de que é Deus quem efetua no homem tanto o querer quanto o realizar, quem verdadeiramente faz tudo em todos, quem realiza no homem tanto a vontade de crer quanto o ato de crer.

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Comentário: Deus dá aos eleitos uma fé viva, ativa, operante e predisposta a crer em Cristo, porque ela nos é dada juntamente com a revelação de Cristo. Tão logo o eleito conhece o Cristo do Evangelho, crê nele para sua salvação. A fé dos eleitos nunca se inclina para o reino dos ídolos, das superstições, nem repousa sobre boas obras ou justiça pessoal. Ela é um dom de Deus aos herdeiros da salvação. Tal fé os projeta diretamente para o Mediador, pois ele mesmo é o Autor e consumador dessa fé - “Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” - Hebreus 12.2. Essa fé, que é um dom especial aos eleitos de Deus, é gerada e operada pelo Espírito Santo. Por isso foi dito que não é apenas uma capacidade que Deus dá ao pecador para crer, se ele desejar; é muito mais do que isso. Esse dom, necessariamente, propulsiona o homem a crer; ele crê ininterruptamente pela ação do Espírito de Deus. O eleito jamais perde essa fé, antes nela cresce e se fortalece, e conta com a promessa de Deus de fazê-lo perseverar até o fim - “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” - Filipenses 1.6.

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Artigo 15 – A atitude correta quanto à graça imerecida de Deus


Deus não deve tal graça a ninguém. O que poderia Deus dever ao homem? Quem primeiro lhe deu alguma coisa, para ser por ele ressarcido? O que poderia Deus dever a quem, em si mesmo, nada tem senão pecado e falsidade? Portanto, aquele que recebe essa graça é devedor e deve render eternamente gratidão somente a Deus. Mas quem não recebe essa graça não tem o menor interesse por essas coisas espirituais e está satisfeito com o que possui, ou se vangloria com a falsa segurança de ter o que não tem. Além disso, quanto aos que professam externamente a sua fé e corrigem a sua vida, devemos julgar e falar da forma mais favorável, de acordo com o exemplo dos apóstolos, pois não conhecemos o íntimo recôndito do coração; quanto aos que ainda não foram chamados, devemos orar a Deus em favor deles, pois Deus é quem chama à existência as coisas que não existem; quanto a nós, não devemos jamais nos vangloriar, como se nós fôssemos melhores do que eles.

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Comentário: O devedor é alguém que recebeu algo de outrem. Em relação a Deus, claro está que os grandes devedores somos sempre nós, os homens. Devemos tudo a Deus, e ele não deve nada a nós, nem tem qualquer obrigação para conosco - “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” - 1ª Coríntios 4.7. Obviamente também que Deus não nos propõe qualquer troca. Portanto nada há que possamos fazer, para, em troca, obter uma bênção de Deus. As coisas de Deus não têm preço e não estão à venda. A graça é gratuita, ninguém a compra e ninguém a merece. Deus a dá a quem quer, a quem escolhe - “Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” - Romanos 9.14-16. Só aprecia essa graça especial quem a recebe, mas quem não é contemplado com ela, ignora-a e não tem por ela qualquer interesse ou apreço. Diferentemente, aqueles que a receberam querem que todos dela participem e oram fervorosamente por aqueles que ainda estão longe desse recôndito, para que Deus se compadeça deles e os faça chegar a si.

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Artigo 16 – A vontade do homem não é eliminada, mas vivificada


Apesar de sua queda, o homem não deixou de ser homem, dotado de inteligência e vontade; e o pecado, que impregnou toda a raça humana, não privou o homem da sua natureza humana, mas trouxe sobre ele a depravação e a morte espiritual. Assim também, a graça divina da regeneração não atua sobre os homens como se fossem máquinas ou robôs, e não elimina a vontade e as suas propriedades nem a coage violentamente, mas torna-a espiritualmente viva, sara-a, corrige-a e, de modo agradável e ao mesmo tempo poderoso, a subjuga. O resultado é que onde antes dominava totalmente a rebelião e a resistência da carne, agora, pelo Espírito, começa a prevalecer uma pronta e sincera obediência, que é a verdadeira renovação e libertação espiritual da nossa vontade. Mas, se o Maravilhoso Autor de todo o bem não tivesse nos conduzido dessa maneira, o homem não teria a menor esperança de erguer-se da sua queda mediante o seu livre-arbítrio, o qual, quando ele ainda estava em pé, o lançou na perdição.

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Comentário: Há uma grande e misteriosa diferença entre a queda dos anjos e a dos homens. A queda dos anjos foi total e completa, irreversível e definitiva. De criaturas maravilhosas que eram tornaram-se horríveis demônios. Tais criaturas se tornaram tão malévolas quanto poderiam se tornar, ou seja, essencialmente más. Para elas não há resgate, mas já se encontram na condenação eterna. Os homens caíram, mas sua queda foi muito diferente. Mesmo caídos, continuam humanos e vivem num mundo caído, porém, assistido pela graça geral de Deus. Assim, os homens naturais, ainda que totalmente depravados, rebeldes, perdidos e em trevas, não se tornaram tão malignos quanto poderiam se tornar. Em geral há ainda, digamos, fragmentos da imagem de Deus neles. O pior bandido e malfeitor ainda pode se arrepender, sentir empatia, apresentar traços de bondade, mesmo que muito tênues, mas estão lá. Então quando o Espírito de Deus vem sobre um eleito e a graça soberana nele opera, não acontece algo automático, onde a sua vontade não participa. Ao contrário, a graça de Deus age libertando sua vontade, dissipando as trevas da sua mente, revelando as maravilhas de Cristo - “E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará” - 2ª Coríntios 3.15-16. De modo que a obra da conversão, ainda que em alguns casos, seja dramática, contudo é doce e suave como só o Senhor pode e sabe fazer. Contudo, se não fora o novo sopro do Espírito de Deus, fazendo uma nova criação, jamais aquele homem poderia desvencilhar-se da escravidão do pecado e se voltar para Deus por sua própria iniciativa. Graças, porém a Deus que não nos entregou a nós mesmos, nem nos abandonou em nossos pecados! “Graças a Deus pelo seu dom inefável!” - 2ª Coríntios 9.15.

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Artigo 17 – O uso dos meios


A onipotente obra de Deus, pela qual ele produz e sustenta a nossa vida natural, não exclui, mas exige, o uso dos meios através dos quais ele quis exercer o seu poder, segundo a sua infinita sabedoria e bondade. Assim também, a mencionada obra sobrenatural de Deus, mediante a qual ele nos regenera, não exclui nem cancela, de jeito nenhum, o uso do evangelho que o sapientíssimo Deus ordenou para ser a semente da regeneração e o alimento da alma. Por essa razão, os apóstolos e os mestres que os sucederam ensinaram reverentemente ao povo sobre a graça de Deus, para a glória dele e para a vergonha de toda a soberba. Ao mesmo tempo, não negligenciaram mantê-los por meio das santas admoestações do evangelho, debaixo da administração da Palavra, dos sacramentos e da disciplina. Portanto, os que hoje instruem ou são instruídos na Igreja não devem ousar tentar a Deus, separando aquilo que ele pelo seu beneplácito quis unir de forma inseparável. Pois a graça é concedida mediante admoestações, e quanto mais prontamente cumprirmos com o nosso dever, tanto mais esse favor de Deus, que é quem opera em nós, manifesta-se naturalmente em sua glória, fazendo a sua obra prosperar da melhor maneira.

A Deus somente seja dada a glória eternamente, tanto pelos meios quanto pelos frutos e eficácia da sua salvação. Amém.

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Comentário: A Providência de Deus muito se utiliza dos meios que o próprio Deus decretou para produzir os fins, também pelo eterno conselho, decretados. Deus se vale tanto de meios materiais e naturais quanto de meios espirituais e sobrenaturais para atingir seus objetivos. É Deus quem nos dá o pão cotidiano, mas ele não o faz cair do céu como poderia se o desejasse – antes ele orienta o agricultor a plantar a semente que será regada com a chuva do céu e frutificará, de onde virá o grão que será moído para com a farinha fazer-se o pão. Contudo, é ele quem governa e abençoa todo o processo. Quanto a nossa vida espiritual também proveu meios para a sua manutenção. Ele deu à sua Igreja os meios da graça, através dos quais os crentes são alimentados, fortalecidos e firmados na vida espiritual, na sã doutrina e na obediência. Nunca devemos viver ociosos, passivos supondo que uma vez que Deus tudo decretou, tudo acontecerá independente de nós; tal pensamento é equivocado. Fato é, que, uma vez justificados seremos glorificados, porém, entre a justificação e a glorificação está a santificação, o crescimento na graça e no conhecimento do Senhor; e tudo isto acontece pelos meios da graça que ele estabeleceu: comunhão, oração, leitura da Palavra, a pregação, os sacramentos, a disciplina, e outros. Portanto, devemos ser ativos no Reino de Deus, diligentes no seu serviço, disciplinados, submissos e preparados para toda a boa obra. Homens, mulheres, jovens e crianças devem, diária e sistematicamente, colher do maná com o qual Deus alimenta as nossas almas famintas.

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A perseverança dos santos


Capítulos 5


Artigo 1 – Os regenerados não estão livres do pecado interior


Aqueles que, de acordo com o seu propósito, Deus chama à comunhão do seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, e regenera pelo Espírito Santo, ele certamente os livra do domínio e da escravidão do pecado. Mas, nesta vida, ele não os livra totalmente da carne e do corpo o pecado.

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Comentário: A regeneração livrou o nosso espírito do pecado, ficando este apenas em nosso corpo. Nosso corpo, sim, ainda é, como que, viciado ou habituado a pecar, por isso é preciso vigilância e disciplina constantes - “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” - 1ª Coríntios 9.27. Mesmo depois da regeneração Deus ainda nos deixa vivendo no velho tabernáculo terreno, isto é, no antigo corpo. “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus” - 2ª Coríntios 5.1, mas por enquanto, devemos ficar nesse corpo até que ele volte ao pó de onde foi tirado. Um dos propósitos de Deus em nos redimir por partes é nos provar para ver se realmente o amamos e o obedeceremos. Exatamente como ele fez com Israel – deixou ficar alguns inimigos entre eles para que fossem provados - “Tampouco desapossarei mais de diante deles a nenhuma das nações, que Josué deixou, quando morreu; Para por elas provar a Israel, se há de guardar, ou não, o caminho do SENHOR, como seus pais o guardaram, para nele andar. Assim o SENHOR deixou ficar aquelas nações, e não as desterrou logo, nem as entregou na mão de Josué” - Juízes 2.21-23. Quando um crente em Cristo Jesus morre e seu espírito sai do seu corpo, então estará livre do pecado para sempre. Passará a aguardar a segunda parte da redenção que é o novo corpo - “E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” - Romanos 8.23. Já uma pessoa que morre no pecado, isto é, sem ser redimida e regenerada, quando sair desse corpo, o pecado, que está em seu espírito continuará para sempre amalgamado a ele. Na ressurreição do último dia, seu corpo sairá da sepultura, será unido de novo à sua alma e ambos serão condenados ao inferno eterno. O ímpio será punido no inferno justamente porque o seu pecado continua nele e com ele, inseparavelmente, eternamente. O crente porém, na ressurreição do último dia, ganhará um novo corpo, sobre o qual o pecado não mais terá poder, pois será um corpo glorioso que não mais conhecerá o pecado e a corrupção - “Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” - Filipenses 3.21. Nessa nova realidade não haverá mais a opção para pecarmos. O pecado e a queda serão uma lembrança da condição que estávamos e fomos libertos pelo sangue do Cordeiro, para que ele receba a glória eternamente. Amém.

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Artigo 2 – Os pecados diários por causa da fraqueza humana


Por causa da fraqueza humana, os santos pecam diariamente a até mesmo suas melhores obras são imperfeitas. Para eles, essas coisas são motivos permanentes para se humilharem diante de Deus, para se refugiarem no Cristo crucificado, para mortificarem cada vez mais a carne mediante o Espírito de oração e através de santos exercícios de piedade, e para ansiarem e se esforçarem pelo alvo da perfeição, até que, finalmente, livres deste corpo de morte, reinem com o Cordeiro de Deus no céu.

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Comentário: Conforme já vimos, o fato do sábio Deus nos deixar habitando no mesmo corpo caído até que a redenção se complete no último dia, também deixando um resquício do veneno do pecado em nós é porque isso é bom e necessário para nós. Isso nos humilha, faz-nos dependentes, leva-nos a orar constantemente; impede-nos de buscar a autonomia no pecado, o que nos levaria à destruição. Ainda deixa claro que jamais um pecador pode ser justificado pelas obras, simplesmente porque ele não tem boas obras, mas apenas obras contaminadas. Quando somos picados por uma abelha ela injeta seu veneno e deixa junto o seu ferrão. Mesmo que rapidamente retiremos o ferrão, o veneno continua agindo em nosso sistema. Assim também Cristo quebrou o aguilhão do pecado em nossas vidas, mas o veneno que já circulava em nossas veias continua agindo. Por isso temos que combater os efeitos desse veneno durante toda a nossa vida. Essa luta do crente contra o pecado faz com que ele aborreça a sua vida presente e não se apegue a nada deste mundo caído, antes deseje a glória do céu - “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna” - João 12.25. O autêntico crente vive diariamente mortificando sua carne, não cedendo terreno aos inimigos da sua alma - “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra: a prostituição, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria; Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência; Nas quais, também, em outro tempo andastes, quando vivíeis nelas. Mas agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos, E vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” - Colossenses 3.5-10. Por isso também o crente não teme a morte, antes a vê como uma libertação do corpo do pecado, como o apóstolo Paulo bem disse: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” - Filipenses 1.21-23.

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Artigo 3Deus preserva os que são seus


Por causa desses resquícios do pecado que ainda restam no íntimo, e também por causa das tentações do mundo e de Satanás, os convertidos não conseguiriam perseverar nessa graça, caso fossem entregues às suas próprias forças. Mas que, Deus é fiel e os confirma misericordiosamente na graça que, de uma vez por todas, lhes foi outorgada, e os preserva poderosamente nela até o fim.

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Comentário: O crente em Jesus Cristo não é mais servo do pecado e sim servo de Deus; contudo, apesar de haver sido liberto do poder e escravidão do pecado e ser totalmente livre em seu espírito, permanece no corpo de carne, que está habituado ao estilo de vida caído e pecaminoso, e por isso é muito difícil de ser subjugado. Só pela graça de Deus para vivermos desembaraçados do pecado neste mundo caído, com um corpo que se ajusta tão bem a ele. Mas essa tem sido a experiência de todos os servos de Deus de todos os tempos. Até o santo apóstolo Paulo disse: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” - Romanos 7.18-20. Nossa confiança é que Aquele que nos chamou e justificou agora está nos santificando pelo seu Espírito Santo que em nós habita, e fará isto até a nossa glorificação. Cremos e descansamos em sua fiel promessa: “E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” - Romanos 8.30. O Senhor Jesus é o nosso Sumo Pastor e nenhuma só das suas ovelhas poderá se perder - “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai. Eu e o Pai somos um” - João 10.27-30.

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Artigo 4Os santos estão sujeitos a cair em pecados graves


Embora o poder de Deus, pelo qual ele confirma e preserva os verdadeiros crentes na graça, seja tão grande que não pode ser vencido pela carne, os convertidos, contudo, nem sempre são guiados e dirigidos por Deus, de sorte que não possam, em certas circunstâncias particulares e pela própria culpa deles, se desviar da direção da graça e serem seduzidos pala carne e se rendam à sua concupiscência. Por isso, eles devem orar e vigiar constantemente para que não caiam em tentação. Quando não vigiam nem oram, eles não somente podem ser levados – pela carne, pelo mundo e por Satanás – a cometer sérios e atrozes pecados, mas, algumas vezes, podem ser levados a isso pela justa permissão de Deus. É o que demonstram as lamentáveis quedas de Davi, de Pedro e de outros santos, descritas na Escritura.

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Comentário: A mesma graça soberana que nos convence, inclina os nossos corações, nos convertendo a Deus, também nos faz perseverar e permanecer firmes e fiéis até ao fim. Contudo, na nossa jornada cristã, estamos sujeitos a pecar e fatalmente pecaremos muitas vezes, e alguns até poderão mesmo cair em graves pecados; por isso que somos exortados a orar e vigiar sem cessar. Deus, porém, tem um bom propósito em todas as coisas, até mesmo em permitir que sejamos vencidos pelo pecado algumas vezes. Nada humilha tanto o soldado fiel quanto cair diante de um inimigo, mas às vezes isso se faz necessário para que ele reconheça suas limitações e não subestime o inimigo. Somos advertidos, muitas vezes, que nossa luta é ferrenha e contra inimigos poderosíssimos, e que só estamos em pé pela graça do nosso bom Senhor e Comandante. Por isso o crente deve prestar muita atenção às advertências: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” - Mateus 26.41; “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” - 1ª Coríntios 10.12; “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” - Efésios 6.12. Entretanto o nosso alvo deve ser uma vida completamente vitoriosa sobre o pecado e devemos que orar, vigiar e nos esforçar para tanto. Essa é a nossa obrigação e essa também é a vontade de Deus para nós. Contudo, se eventualmente cairmos, não devemos ficar prostrados, mas confessar nossos pecados e fraquezas e prosseguirmos confiantes de que a batalha, em última instância não é nossa, mas do Senhor e, portanto, já está ganha. Todos os inimigos contra os quais lutamos já foram derrotados pelo nosso General. Uma das suas últimas palavras foram: Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo - João 16.33.

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Artigo 5As consequências desses graves pecados


Os crentes, no entanto, por causa desses graves pecados, ofendem profundamente a Deus, tornam-se culpados de morte, entristecem o Espírito Santo, suspendem o exercício da fé, ferem gravemente a própria consciência e, algumas vezes, perdem o senso do favor de Deus, até que voltem ao reto caminho por meio do arrependimento sincero, e o rosto paternal de Deus resplandeça novamente sobre eles.

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Comentário: É por demais encorajador, ver nas Escrituras que mesmo na sua justa e santa ira, Deus trata os seus filhos com misericórdia, pois esses são objeto de seu amor eterno – são seus filhos. Ainda que Deus se ire conosco por causa dos nossos pecados, ele irá nos corrigir como Pai amoroso que é, para o nosso bem. Sim, somos corrigidos para nossa boa saúde espiritual. Deus se vinga dos inimigos, mas nunca dos filhos. Veja o exemplo de Davi, quando, após seu pecado, Deus o tratou duramente, mas a punição tinha o objetivo de restaurá-lo - “Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao SENHOR as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado” - Salmo 32.3-5. Está escrito: “Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?” - Hebreus 12.6. Tudo o que Deus nos faz é visando o nosso bem maior, que é nos transformar e conformar a Jesus Cristo. Tudo que os ímpios sofrem neste mundo, de nada lhes aproveita, mas o que os santos sofrem traz-lhes grande proveito; fá-los participantes da santidade de Deus - Porque aqueles [nossos pais], na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este [Deus], para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade” - Hebreus 12.10. Da mesma forma que os ímpios são vasos de ira e objeto da ira eterna, outro tanto os pios são vasos de misericórdia e objeto do amor eterno. Portanto, mesmo nos momentos em que os homens piedosos caem em pecado, ofendem a Deus e provocam a sua ira, recebem apenas uma punição temporária para a sua correção - “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida; o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” – Salmo 30.5.

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Artigo 6Deus não permitirá que os seus eleitos se percam


Deus, que é rico em misericórdia, segundo o seu propósito imutável da eleição, não retira completamente o seu Espírito Santo dos que lhes pertencem, mesmo diante de suas deploráveis quedas. Tampouco permite que se afundem tanto a ponto de caírem da graça da adoção e do estado de justificação, ou que cometam o pecado para a morte – isto é, o pecado contra o Espírito Santo – e que, totalmente abandonados por ele, se lancem na ruína eterna.

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Comentário: O regenerado, pode, eventualmente, cair em algum pecado, mas jamais cometerá o pecado que leva à morte espiritual ou eterna. Todo eleito já foi curado eternamente pela expiação do Senhor Jesus Cristo. Ele está totalmente seguro nas mãos do Pai e no seu amor. É assistido pela graça soberana de Deus que o impede de voltar ao seu antigo estado de degradação e morte espiritual. Assim, ainda que caia em algum tipo de pecado, por grave que seja, todavia jamais cai no mesmo lugar que costumava cair antigamente; assim, ainda que venha a cair drasticamente, todavia não ficará caído - “Ainda que caia, não ficará prostrado, pois o SENHOR o sustém com a sua mão” - Salmo 37.24. Um dos medos do crente autêntico é ofender a Cristo, pecar contra o Espírito Santo, e esse medo até certo ponto pode ser saudável, mas é maravilhoso saber que jamais um autêntico filho de Deus pode cometer a blasfêmia contra o Espírito Santo, uma vez que esse pecado é imperdoável - “Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” - Mateus 12.31-32. Todo crente genuíno está tão seguro nas mãos do Senhor quanto Noé e seus filhos estavam dentro da arca. Durante todo o Dilúvio os olhos de Deus estiveram vigiando a arca onde estavam Noé e sua família para que nada de mal lhes acontecesse. Sobreviveram à maior catástrofe natural da humanidade, intactos. Abalos sísmicos, placas tectônicas se abrindo, fontes do grande abismo se rompendo, continentes e ilhas se movendo. Não sobrou nada com vida sobre a terra. Quanto a Noé e sua família? Pousaram no monte Ararate, sem um arranhão. Deus protege e ampara os seus graciosamente. Amém.

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Artigo 7Deus renova os seus eleitos para o arrependimento


Durante a queda dos eleitos, Deus, primeiramente, preserva neles a semente imperecível de regeneração par que ela não morra e seja lançada fora. Além disso, através da sua Palavra e do seu Espírito, ele certa e eficazmente os renova para o arrependimento. Como resultado disso, eles sentem o coração contristado com verdadeira tristeza espiritual pelos pecados que cometeram; e, com o coração contrito, buscam e obtêm pela fé o perdão no sangue do Mediador, experimentam novamente o favor de um Deus reconciliado, e adoram as suas misericórdias e fidelidade; daí em diante, passam a desenvolver mais diligentemente a própria salvação com temor e tremor.

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Comentário: O crente autêntico tem um conservante natural, ou melhor, sobrenatural, que é a vida de Deus nele implantada; essa vida vinda do Espírito Santo o preserva em meio à corrupção e depravação do mundo caído - “Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus... Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca” - 1ª João 3.9; 5.18. O bom e sábio propósito de Deus, converterá, até mesmo os nossos erros e fracassos em bem espiritual, ainda que tenhamos que sofrer certas consequências físicas, materiais e temporais. O santo pode vir a pecar mas, o Espírito Santo não o deixa no pecado e nem se retira dele, antes o leva ao arrependimento, pois o regenerado não tem mais prazer no pecado. A diferença entre o pio e o ímpio, é que o pio está com Deus e contra o pecado, já o ímpio está com o pecado e contra Deus. Ainda que o santo de Deus peque, ele se detesta e se abomina quando o faz. Imediatamente busca o perdão de Deus e a purificação no sangue de Cristo, e depois disto fica ainda mais vigilante em relação ao pecado e mais sensível em relação a Deus. Diferentemente, o ímpio não se importa quando peca, nem sente culpa por ofender a Deus, nem mesmo percebe quando o faz. São João escreveu aos crentes: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça…. Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” - 1a João 1.9 e 2.1-2.

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Artigo 8A graça do Trino Deus preserva


Não é pelos seus próprios méritos ou força, mas pela imerecida misericórdia de Deus, que os eleitos não se desviam totalmente da fé e da graça nem permanecem caídos a ponto de finalmente se perderem. Quanto a eles, isso facilmente poderia acontecer, e aconteceria sem dúvida. Mas quanto a Deus, não há a menor possibilidade de que isso aconteça, pois o seu conselho não pode ser mudado; a sua promessa não pode falhar; o chamado segundo o seu propósito não pode ser revogado; o mérito, a intercessão e a proteção de Cristo não podem ser anulados; e o selo do Espírito Santo não pode ser frustrado nem destruído.

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Comentário: Se a salvação dependesse em algum aspecto, em alguma instância ou em alguma medida de nós, certamente seríamos todos condenados ao inferno, porque não temos nada que possa ajudar, favorecer ou contribuir nesse sentido, antes, tudo que fosse deixado a nós, seria frustrado. Mas Deus não deixou nada para nós fazermos, ele fez tudo sozinho. Por isso o apóstolo falou tão firmemente: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou” - Romanos 8.29-30. Quando cremos em Cristo, ele nos dá seu Espírito Santo como penhor ou garantia de que a obra será completada - “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória” - Efésios 1.13-14. De fato o selo do Espírito Santo em nossas vidas significa: 1) propriedade – temos um Dono e Senhor que cuida de nós e ninguém nos tirará de Sua mão; 2) autenticidade – quem tem o selo do Espírito é um autêntico filho de Deus; 3) segurança – selo também indica segurança ou inviolabilidade. Estamos lacrados e hermeticamente fechados por Deus; 4) garantia – um selo significa garantia de que algo chegará ao seu destino final. Os dons de Deus são irrevogáveis e, portanto, imperdíveis. É absolutamente impossível um eleito de Deus perder-se definitivamente estando a caminho do céu. Tal pensamento seria um insulto ao Senhor - “O conselho do SENHOR permanece para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração” - Salmo 33.11. Então, ainda que o crente caia e perca toda esperança de retornar à sua antiga condição, Deus agirá nele e o fará voltar ainda mais forte e encorajado. Obviamente que isso não significa que ele tem um tipo de foro privilegiado para que possa ficar despreocupado em relação ao pecado. Muito pelo contrário, o pecado deve ser odiado, temido, evitado e combatido com toda a nossa alma.

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Artigo 9A certeza dessa preservação


Os próprios crentes podem ter a plena certeza da preservação do eleito para a salvação e da perseverança dos verdadeiros crentes na fé. E, de fato, cada um deles está convencido disso, segundo a medida da sua fé, pela qual creem firmemente que são e que permanecerão membros verdadeiros e vivos da igreja, e que possuem o perdão dos pecados e a vida eterna.

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Comentário: Como já falamos anteriormente, o eleito é chamado, justificado, santificado, conservado, preservado e glorificado. Nada pode quebrar a linda cadeia dourada, isso já foi dito e repetido muitas vezes, porque foi o próprio Senhor Jesus quem deu aos seus cordeiros essa segurança. Em sua oração intercessória disse mais: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo” - João 17.24. Se nem todos os crentes têm plena convicção da sua salvação, talvez seja por imaturidade ou falta de conhecimento da Palavra de Deus. Contudo, o fato inquestionável é, que todas as ovelhas do Senhor serão arrebanhadas e trazidas ao aprisco pelo Sumo Pastor e por ele mantidas até o fim desta era e para sempre. Não poderia ser de outra forma, pois nada temos que não tenhamos recebido - “E que tens tu que não tenhas recebido?” - 1ª Coríntios 4.7. Seja para nossa vida material ou para nossa vida espiritual, toda a manutenção vem do céu - “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” - João 3.27. Jesus fez promessas tão específicas que não há como não compreender o que estava dizendo. Ele disse que tornaria a salvação de suas ovelhinhas tão seguras quanto ele pode fazê-lo - “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” - João 10.28-29. Cabe a nós confiar nessas promessas e nelas descansar porque ele é fiel e poderoso para cumpri-las, e bom para conosco. Então, não devemos temer mal algum, antes confessar o que o apóstolo confessou: Eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” - 2ª Timóteo 1.12. Amém.

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Artigo 10A fonte dessa certeza


Tal certeza não é produzida por alguma revelação particular, além ou fora da Palavra, mas pela fé nas promessas de Deus, que ele revelou abundantemente em sua Palavra para o nosso consolo; pelo testemunho do Espírito Santo, que testifica com o nosso espírito que somos filhos e herdeiros de Deus; e, finalmente, pela busca zelosa e santa de uma consciência limpa e de boas obras. Se, neste mundo, os eleitos de Deus não tivessem o inabalável consolo da obtenção da vitória e da garantia infalível da glória eterna, eles seriam os mais miseráveis de todos os homens.

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Comentário: A certeza da perseverança na salvação, é uma bênção que os peregrinos desfrutam, enquanto atravessam o deserto deste mundo, lutando contra os seus inimigos, sob o sol causticante, expostos a todos os perigos e totalmente vulneráveis. É nesse contexto que a certeza de que o Senhor está conosco e que chegaremos do outro lado, faz toda a diferença. Essa certeza vem junto com uma confiança viva nas promessas da Aliança, um testemunho e convicção interior do Espírito Santo e um desejo de agradar ao Senhor, tanto por boas obras quanto mantendo uma consciência limpa e tranquila diante de Deus e dos homens. E, Deus mesmo cria e usa todas essas coisas para mostrar a nós que podemos descansar em sua Providência; porque ele não apenas começou algo para deixar conosco o dar continuidade, mas mantém tudo que criou pelo seu poder e levará toda a criação ao destino final -, por ele decretado -, para a sua própria glória e louvor. Saber que não estamos sozinhos em nossa jornada também é muito consolador, bem como ter conhecimento de que muitos outros cruzaram esse deserto antes de nós, e o fizeram vitoriosamente - “Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, Escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; Tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível... As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados ( Dos quais o mundo não era digno ), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra” - Hebreus 11.24-27, 35-38. Todos esses santos já chegaram do outro lado e hoje gozam da recompensa de sua fidelidade e confiança em seu Guia e Protetor.

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Artigo 11Essa certeza nem sempre é sentida


A Escritura, no entanto, testifica que nesta vida os crentes têm de lutar contra várias dúvidas da carne e, por estarem sujeitos a fortes tentações, nem sempre sentem essa plena segurança da fé nem a certeza da perseverança. Mas Deus, que é o Pai de toda consolação, não permitirá que sejam tentados além das suas forças, mas com a tentação proverá também o meio de escape e, pelo Espírito Santo, fará ressurgir a certeza da perseverança.

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Comentário: Tudo o que Deus em sua maravilhosa providência faz, é perfeito e tem sábios, justos e santos propósitos. Logo, se ele não removeu totalmente a toxina do pecado nas vidas dos regenerados, é porque tem nisso um propósito bom. Isso os fará compreender a dependência dele e os levará a buscar sua face continuamente. Enquanto estivermos nesse mundo caído e nesse corpo de carne, estaremos sujeitos a muitas tentações, muitas fraquezas e pecados. Dúvidas nos assaltam, tentações nos sobrevêm, questionamentos nos perturbam, instabilidades nos desencorajam, depressões nos abatem; mas temos a promessa: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” - 1ª Coríntios 10.13. Essa luta contínua, é para que não nos esqueçamos que ainda não chegamos ao porto seguro, do outro lado. Agora, é preciso lembrar que o grande Comandante, não apenas nos enviou para a batalha, mas está conosco a par e passo, dia a dia, minuto a minuto; ele disse: “Não te deixarei, nem te desampararei” - Hebreus 13.5. Ele mesmo nos protegerá dos inimigos internos e externos, não permitindo que sejamos desencorajados e nem destruídos - “Porque ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa. Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas te confiarás; a sua verdade será o teu escudo e broquel. Não terás medo do terror de noite nem da seta que voa de dia, Nem da peste que anda na escuridão, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti” - Salmo 91.3-7. Confiando em suas promessas e descansando em seu amor teremos a firme certeza de que as negras nuvens passarão e novamente veremos o brilho da sua glória; assim, prosseguiremos nossa marcha até cruzar o limite do tempo e adentrarmos a eternidade.

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Artigo 12Essa certeza é um estímulo à piedade


Essa certeza de perseverança, longe de tornar os verdadeiros crentes, orgulhosos e acomodados, é antes a verdadeira raiz da humildade, da reverência filial, da genuína piedade, da resistência em todo combate, das orações fervorosas, da perseverança no sofrimento e na confissão da verdade, e da duradoura alegria em Deus. Além disso, a reflexão sobre esses benefícios é para eles um incentivo à séria e constante prática da gratidão e das boas obras, como evidencia o testemunho da Escritura e os exemplos dos santos.

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Comentário: De fato, ao contrário do que supõem alguns, todas as doutrinas da Graça nos humilham grandemente, nos fazem sentir muita gratidão, temer a Deus e desejar servi-lo ardentemente. Elas nos estimulam a um viver piedoso e, a amar a Deus de todo o coração, pois revelam o grande amor de Deus por nós, tendo piedade de nós, mesmo quando estávamos em inimizade contra ele e vivendo nos esquivando dele; ele veio ao nosso encontro, estendeu-nos a destra da misericórdia, perdoou-nos e acolheu-nos em sua família. Como cantou o salmista: “Os teus votos estão sobre mim, ó Deus; eu te renderei ações de graças; Pois tu livraste a minha alma da morte” - Salmo 56.12-13. Quando temos consciência de onde Deus nos tirou e do que livrou-nos – corpo e alma –, desejamos louvá-lo mais e mais e nos separar para ele e para o seu inteiro agrado - “E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” - 1ª João 3.3. Poderíamos citar muitos valiosos exemplos nas escrituras e também fora delas, de homens piedosos, que tiveram muita clareza quanto a sua salvação graciosa e que jamais viveram de maneira desleixada, antes viveram numa fervorosa relação com Deus durante toda sua vida aqui na terra. Um grande exemplo desse fato é o apóstolo Paulo. Poucas pessoas tiveram uma firmeza tão grande na fé e segurança da sua salvação. Isso, longe de tornar Paulo inexpressivo ou vaidoso em seu testemunho, ao contrário, ele foi vibrante, entusiasmado e serviu ao Senhor fervorosamente. Como ele temos uma multidão de outros santos que, de igual modo, a certeza do perdão de Deus e de sua salvação os fez dedicar-se totalmente a ele com grande gratidão e fervor.

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Artigo 13Essa certeza não leva à negligência


A confiança renovada também não produz a falta de zelo ou negligência da piedade naqueles que foram restaurados, após caírem; antes, produz neles um cuidado ainda maior em observar os caminhos do Senhor, que ele preparou de antemão. Eles guardam esses caminhos para que, ao andar neles, mantenham a certeza da sua própria perseverança. Então, o rosto do seu Deus gracioso não se afastará deles novamente por abusarem da us bondade paternal, para não caírem em maior angústia espiritual. De fato, para os que temem a Deus, a contemplação do seu rosto é mais doce do que a vida, e o privar-se dela é mais amargo do que a morte.

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Comentário: O verdadeiro crente é filho e sente muito quando causa motivo de tristeza ao seu Pai celestial. Se comete algum pecado, nele não permanece, mas clama pelo perdão e purificação. Depois de perdoado e restaurado à plena comunhão, esforçar-se-á grandemente para não mais cair em desobediência. A coisa que mais o homem piedoso teme é pecar e entristecer o Espírito Santo. Para ele há pelo menos uma coisa pior do que a morte física – o pecado. “Antes morrer que pecar”, esse foi o lema dos mártires, porque a morte pode ser ganho, mas para o pecado estabelecido e não coberto pelo sangue de Cristo, não há recurso - “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” - Filipenses 1.21. Só de pensar na possibilidade de ficar sem a plena e doce comunhão com o Pai celestial, por causa de pecado, nos faz aborrecer-nos a nós mesmos e odiar a nossa vida neste mundo e, sonhar com o dia eterno, em que isso não será mais uma possibilidade.

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Artigo 14O uso dos meios de graça na perseverança


Assim como agradou a Deus começar essa obra de graça em nós pela pregação do evangelho, assim ele a mantém, continua e aperfeiçoa em nós pelo ouvir e pala leitura da sua Palavra, pela meditação nela, pelas suas exortações, ameaças e promessas, e pelo uso dos sacramentos.

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Comentário: As bênçãos espirituais nos são dispensadas através das práticas e atos espirituais. Tudo o que o Senhor ordenou a nós, é porque nos traz benefícios espirituais. Ler a Bíblia, orar, cantar salmos, meditar na Palavra, congregar, ouvir a pregação, participar do partir do pão e do cálice, exortar-nos mutuamente, praticar obras de caridade, e todo nosso trabalho no reino de Deus nos trazem bênçãos. Quanto mais estivermos envolvidos com o reino de Deus, quanto mais contemplarmos o reino, respirarmos seu ambiente e quanto mais essa for nossa motivação, tanto mais abençoado seremos, mais teremos firmeza na fé e confiança em nossa jornada.

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Artigo 15Essa doutrina é odiada por Satanás, mas é amada pela Igreja


Essa doutrina da perseverança dos verdadeiros crentes e santos, assim como a convicção que eles têm dela, Deus revelou abundantemente em sua Palavra para a glória do seu nome e consolo dos piedosos. Ele é quem imprime no coração dos crentes. É algo que a carne não compreende, que Satanás odeia, que o mundo zomba, que os ignorantes e os hipócritas ultrajam, e que os heréticos atacam. A Noiva de Cristo, por outro lado, sempre a defendeu firmemente como a um tesouro de valor inestimável; e Deus, contra quem nenhum plano pode prosperar ou força alguma prevalecer, cuidará para que a Igreja continue a fazer assim. Somente a este Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – seja a honra e a glória para sempre. Amém!

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Comentário: A perseverança do verdadeiro crente é certa, porque Aquele que começou a obra da redenção, é fiel e poderoso para completá-la, e ele o fará. A salvação é uma bênção completa e não pela metade; totalmente segura e não mais ou menos - “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá” - 1ª Pedro 5.10. Para os crentes essa doutrina é muitíssimo preciosa, porque nos leva ao descanso nas promessas do Pai; mas, o inimigo a odeia, justamente porque a glória de Deus está envolvida aqui de maneira especial. Isto é, Deus nos salva para a sua glória. Ele nos elegeu para a Sua glória, nos chamou, justificou e nos preserva em santidade até a glorificação, também para a sua glória - “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo... Para louvor e glória da sua graça... Nele, digo, em quem também fomos feitos herança... Com o fim de sermos para louvor da sua glória” - Efésios 1.5-6, 11, 12. A oposição do inimigo, só nos faz lembrar que o próprio Senhor Jesus Cristo assegura, que nenhuma das suas ovelhas se perderá, nenhuma será desprezada - “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” - João 6.37. O Senhor pode nos guardar como ninguém. As ovelhas de Cristo são assunto entre ele e o Pai: “Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu” - João 17.12. Agradeçamos ao nosso Pai celestial por tão grande e segura salvação. Amém.

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Pr. Nelson Nincao

Abril de 2023


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