A Confissão de Fé Escocesa - Capítulo 13

13º CAPÍTULO

A Causa das Boas Obras

Assim, confessamos que a causa das boas obras não é nosso livre arbítrio, mas o Espírito de Jesus, nosso Senhor, que habita em nossos corações pela verdadeira fé, produz as obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. Por isso, com toda a ousadia afirmamos que é blasfêmia dizer que Cristo habita nos corações daqueles em quem não há nenhum espírito de santificação.1 Portanto, não hesitamos em afirmar que os assassinos, os opressores, os cruéis, os perseguidores, os adúlteros, os fornicários, os idólatras, os alcoólatras, os ladrões e outros que praticam a iniquidade, não têm nem verdadeira fé, nem qualquer porção do Espírito do Senhor Jesus, enquanto obstinadamente continuarem na impiedade.
Pois, logo que o Espírito do Senhor Jesus, a quem os escolhidos de Deus recebem pela verdadeira fé, toma posse do coração de alguém, imediatamente ele regenera e renova esse homem, que assim começa a odiar aquilo que antes amava e a amar o que antes odiava. Daí resulta a contínua batalha entre a carne e o espírito: a carne e o homem natural, segundo a sua corrupção, cobiçam coisas que lhes são agradáveis e deleitáveis, murmuram na adversidade e enchem-se de orgulho na prosperidade e estão em todos os momentos propensos e prontos a ofender a majestade de Deus.2 Mas o Espírito de Deus, que dá testemunho junto ao nosso espírito de que somos filhos de Deus,3 leva-nos a resistir aos prazeres imundos e a suspirar na presença de Deus pelo livramento desse cativeiro da corrupção,4 e finalmente a triunfar sobre o pecado, para que ele não reine em nossos corpos mortais.5
Os homens carnais não têm esse conflito, pois são destituídos do Espírito de Deus, mas seguem e obedecem com avidez ao pecado, sem nenhum pesar, estimulados pelo Diabo e por sua cupidez depravada. Os filhos de Deus, porém, como antes foi dito, lutam contra o pecado, suspiram e gemem quando se sentem tentados à prática do mal; e, se caem, levantam-se outra vez com arrependimento não fingido.6 Eles fazem estas coisas não pelo seu próprio poder, mas pelo poder do Senhor Jesus, sem quem nada podem fazer.7

1. Ef 2:10; Fp 2:13; Jo 15:5; Rm 8:9.
2. Rm 7:15-25; Gl 5:17.
3. Rm 8:16.
4. Rm 7:24; 8:22.
5. Rm 6:12.
6. 2Tm 2:26.
7. Jo 15:5.
----------------------------------------------------------------------
Comentário: A causa das boas obras é a nova vida, a vida de Cristo implantada no crente assim que ele crê no Senhor e o recebe pela fé. É como uma nova árvore que foi plantada para produzir certo tipo de frutos. Segundo a sua natureza ela os produzirá. O homem natural, morto em delitos e pecados, nunca poderá produzir obras aceitáveis diante de Deus. Mas quando o Espírito Santo vem habitá-lo, então uma nova vida surge ali, a vida ressurreta, a qual irá, infalivelmente produzir frutos diferentes daqueles que eram ali produzidos outrora. Tais frutos são a prova de que houve regeneração, houve um ressuscitamento, onde havia morte agora há vida, um tipo de vida desconhecido na terra e comum ao céu. Contudo, como a velha natureza não é totalmente removida daquele que é regenerado, logo começa uma luta em seu interior. Essa luta, contudo, é uma evidência da regeneração, uma vez que o homem natural, aquele que não tem o Espírito Santo, não tem consciência da sua verdadeira condição diante de Deus nem da gravidade do seu estado pecaminoso. Ele está cego para essas coisas e não se incomoda com isso. Mas o regenerado luta contra sua tendência pecaminosa, aborrece sua vida neste mundo, sabe que está com Deus e o pecado é seu inimigo. Se nessa luta, que as vezes pode chegar até a morte, ele cair, não ficará prostrado, mas levantar-se-á pelo poder do Espírito Santo e retomará a peregrinação confiante no Autor e consumador da fé – Jesus Cristo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Salmos Metrificados na Melodia Genebrina - I

"Segunda Confissão de Fé Helvética" - A História

Os Cânones de Dort Comentados