"Segunda Confissão de Fé Helvética" 21. Da Santa Ceia do Senhor (V)

Os incrédulos recebem o sacramento para seu julgamento. Mas, aquele que se aproxima da sagrada Mesa do Senhor sem fé, participa somente do sacramento e não recebe a essência do sacramento, de onde provém vida e salvação; e tais pessoas participam indignamente da Mesa do Senhor. Ora, os que comem o pão e bebem o cálice do Senhor de modo não digno, tornam-se culpados do corpo e do sangue do Senhor comendo e bebendo para si mesmo condenação (I Co 11.26-29). Não se aproximando com verdadeira fé, desonram a morte de Cristo e, consequentemente, comem e bebem condenação para si mesmos. 
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A presença de Cristo na Ceia. Nós, pois, não identificamos o corpo do Senhor e seu sangue com o pão e o vinho a ponto de dizer que o próprio pão é o corpo de Cristo, exceto no sentido sacramental; ou que o corpo de Cristo está oculto corporeamente sob o pão, de modo que deve ser adorado sob a forma de pão; ou ainda que, quem quer que receba o sinal, recebe também a própria realidade. O corpo de Cristo está nos céus, à mão direita do Pai; e, portanto, nossos corações devem elevar-se para o alto e não se fixarem no pão, nem deve o Senhor ser adorado no pão. Contudo, o Senhor não está ausente de sua Igreja, quando esta celebra a Ceia. O sol, que está afastado de nós, nos céus, encontra-se, entretanto, efetivamente presente em nosso meio. Quanto mais o Sol da justiça, Cristo, embora estando ausente de nós nos céus, pelo seu corpo, não estará presente conosco, não corporal, mas, espiritualmente, pela sua operação vivificadora, como ele mesmo declarou, por ocasião da última Ceia, que haveria de estar presente conosco (João, caps. 14, 15 e 16). Decorre daí que não temos uma Ceia sem Cristo, mas uma Ceia incruenta e mística, como foi universalmente chamada pela antiguidade. 
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Outros propósitos da Ceia do Senhor. Além do mais, na celebração da Ceia do Senhor, somos admoestados a estarmos conscientes de cujo corpo nos tornamos membros, e portanto, a sermos uma só mente com todos os irmãos; a viver uma vida santa e a não nos corrompermos com a iniquidade e com religiões estranhas; mas, perseverando na verdadeira fé até o fim da vida, esforçarmo-nos para alcançar a excelência da santidade de vida. 
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Preparação para a Ceia. Convém, portanto, que tendo de participar da Ceia, primeiro examinemo-nos a nós mesmos, segundo o mandamento do apóstolo, especialmente quanto à fé que temos, se cremos que Cristo veio para salvar os pecadores e chamá-los ao arrependimento, e se cremos que pertencemos ao número dos que foram libertados e salvos por Cristo; e se estamos resolvidos a mudar nossa vida ímpia, a fim de levarmos uma vida santa e, com o auxílio do Senhor, a perseverar na verdadeira religião e na harmonia com os irmãos, e a render graças devidas a Deus pelo seu livramento. 
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A observância da Ceia com pão e vinho. Julgamos que o rito, a maneira ou forma da Ceia mais simples e excelente seja aquela que mais se aproxime da primeira instituição do Senhor e da doutrina dos apóstolos. Consiste na proclamação da Palavra de Deus, em orações piedosas, na ação do Senhor mesmo, e em sua repetição, comendo do corpo do Senhor, e bebendo de seu sangue; relembrando a morte do Senhor e ele fiel ação de graças; e numa santa participação na união do corpo da Igreja. 
Desaprovamos, pois, os que privaram os fiéis de um dos elementos do sacramento, a saber, do cálice do Senhor. Estes pecam seriamente contra a ordem do Senhor, que diz: “Bebei dele todos”; o que ele não disse de modo tão expresso a respeito do pão. 
Não estamos discutindo, agora, que espécie de missa existiu outrora entre os antigos, se deve ser tolerada ou não. Mas, dizemos isto abertamente: a missa agora usada em toda a Igreja Romana foi abolida em nossas igrejas por muitas e boas razões, as quais, para sermos breve, não enumeramos agora em pormenores. Não poderíamos aprovar a mudança de uma ação salutar em um espetáculo inútil, e num meio de alcançar mérito, e celebrado por um preço. Nem poderíamos aprovar a afirmação de que na mesma, o sacerdote efetua o próprio corpo do Senhor, e realmente o oferece pela remissão dos pecados dos vivos e dos mortos, e ainda para a honra, veneração e lembrança dos santos no céu, etc. 
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O Sacramento da Eucaristia lembra a Aliança entre Deus e Seu povo. Sendo assim, apenas aqueles que fazem parte dessa Aliança é que devem recebê-lo. Tão somente aqueles que têm consciência do significado da Aliança são chamados a participar dessa refeição sagrada. O Senhor está sempre conosco, todos os dias, mas ele prometeu estar de maneira especial quando a Congregação se reúne em Seu nome. Então Sua presença santa se manifesta de maneira muito especial quando celebramos a Santa Ceia. É preciso ter consciência do imenso privilégio é ser chamado à Ceia de Cristo. E também que a responsabilidade é tão grande quanto o privilégio. Uma aliança inclui benefícios e obrigações. Logo o Senhor adverte que nenhum “incircunciso” se aproxime. Se o fizer, receberá maldição em vez de bênção. O Cristo vivo está presente de maneira especial todas as vezes que nos reunimos em Seu nome, e está de maneira muito especial na hora da santa comunhão, todavia sua presença não é física e sim espiritual. Não há nada de supersticioso na Sagrada mesa. Aliás é bom que se diga que a Palavra de Deus é mais importante do que a própria Eucaristia, porque sem a Palavra não haveria nem Igreja e nem Eucaristia. Dizemos isso para alertar aqueles que supõem que perder a ministração da Palavra não é tão grave, mas perder a Eucaristia sim. Na verdade quem não participa regularmente da ministração da Palavra, também não deve participar da Santa Comunhão, porque já está em pecado. Como o próprio Cristo estabeleceu a Eucaristia dando o pão juntamente com o cálice a todos os discípulos, está claro que esse rito deve seguido à risca. Não importa quantas pessoas estão presentes, se poucas ou muitas, todos devem receber uma partícula do pão e pelos menos um gole de vinho. Assim o Senhor fez, assim devemos prosseguir fazendo.

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