"Segunda Confissão de Fé Helvética" 1. Da Sagrada Escritura como a verdadeira Palavra de Deus
Escritura Canônica. Cremos e confessamos que as
Escrituras Canônicas dos santos profetas e apóstolos de ambos os Testamentos
são a verdadeira Palavra de Deus, e têm suficiente autoridade de si mesmas e
não dos homens. O próprio Deus falou aos patriarcas, aos profetas e aos
apóstolos, e ainda nos fala a nós pelas Santas Escrituras.
E nesta Escritura Sagrada a Igreja Universal de Cristo tem a mais
completa exposição de tudo o que se refere à fé salvadora e à norma de uma vida
aceitável a Deus; e a esse respeito é expressamente ordenado por Deus que a ela
nada se acrescente ou dela nada se retire.
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A Escritura ensina plenamente toda a piedade.
Julgamos, portanto, que destas Escrituras devem derivar-se a verdadeira
sabedoria e piedade, a reforma e o governo das igrejas, também a instrução em
todos os deveres da piedade; enfim, a confirmação de doutrinas e a refutação de
todos os erros, assim como todas as exortações segundo a palavra do apóstolo: “Toda
Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão”, etc. (2ª
Tim 3.16-17). E ainda: “Escrevo-te estas cousas”, diz o apóstolo a Timóteo,
“para que fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus”, etc. (1ª Tim
3.14-15).
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A Escritura é a Palavra de Deus. O mesmo apóstolo diz
aos tessalonissenses: “Tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é
de Deus, acolhestes, não como palavra de homens, e, sim, como, em verdade é, a
palavra de Deus”, etc. (1ª Tes 2.13). E o Senhor disse no Evangelho: “Não sois
vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós” (Mat 10.20);
portanto, “quem vos der ouvidos, ouve-me a mim; e, quem vos rejeitar, a mim me
rejeita; quem, porém, me rejeitar, rejeita aquele que me enviou”, (Mat 10.40;
Luc 10.16; João 13.20).
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A pregação da Palavra de Deus é a Palavra de Deus.
Portanto, quando esta Palavra de Deus é agora anunciada na Igreja por
pregadores legitimamente chamados, cremos que a própria Palavra de Deus é
anunciada e recebida pelos fiéis; e que nenhuma outra Palavra de Deus pode ser
inventada, ou esperada do céu: e que a própria Palavra anunciada é que deve ser
levada em conta e não o ministro que a anuncia, pois, mesmo que este seja mau e
pecador, contudo a Palavra de Deus permanece boa e verdadeira.
Nem pensamos que a pregação exterior deve ser considerada infrutífera
pelo fato de a instrução na verdadeira religião depender da iluminação interior
do Espírito; porque está escrito: “Não ensinará jamais cada um ao seu
próximo... porque todos me conhecerão” (Jer 31.34), e “nem o que planta é
alguma cousa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento”, (1ª Cor 3.7).
Pois, ainda que ninguém possa vir a Cristo, se não for levado pelo Pai (cf.
João 6.44), se não for interiormente iluminado pelo Espírito Santo, sabemos
contudo que é da vontade de Deus que sua palavra seja pregada também
externamente. Deus poderia, na verdade, pelo seu Santo Espírito, ou diretamente
pelo ministério do anjo, sem o ministério de São Pedro, ter ensinado a Cornélio
(cf. At 10.1 ss); não obstante, ele o envia a São Pedro, a respeito de quem o
anjo diz: “Ele te dirá o que deves fazer” (cf. At 11.14).
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A iluminação interior não elimina a pregação exterior.
Aquele que ilumina interiormente dando aos homens o Espírito Santo é o mesmo
que deu aos discípulos este mandamento: “Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura” (Mc 16.5). E assim, em Filipos, São Paulo pregou a
Palavra externamente a Lídia, vendedora de púrpura; mas o Senhor, internamente,
abriu o coração da mulher (At 16.14). E o mesmo São Paulo, numa bela gradação,
em Romanos 10.17, chega, afinal, a esta conclusão: “E assim, a fé vem pela
pregação e a pregação pela palavra de Cristo”.
Reconhecemos, entretanto, que Deus pode iluminar quem ele quiser e
quando quiser, mesmo sem ministério externo, pois isso está em seu poder; mas
aqui falamos da maneira usual de instruir os homens, que nos foi comunicado por
Deus, tanto por mandamento como pelo exemplo.
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Heresias. Detestamos, portanto, todas as heresias de
Artêmon, dos maniqueus, dos valentinianos, de Cerdon e dos marcionitas, os
quais negaram que as Escrituras procediam do Espírito Santo; ou não aceitaram
algumas partes delas, ou as interpelaram e corromperam.
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Apócrifos. Contudo, não dissimulamos o fato de que certos
livros do Velho Testamento foram chamados Apócrifos pelos antigos autores, e
Eclesiásticos por outros, porquanto alguns admitiam que fossem lidos nas
igrejas, não, porém, invocados para confirmar a autoridade da fé. Assim também
Santo Agostinho, em sua De Civitate Dei, livro 18, cap. 38, observa que “nos
livros dos Reis, nomes e livros de certos profetas são citados”; mas acrescenta
que “eles não se encontram no Cânon”; e que “os livros que temos são
suficientes para a piedade”.
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Deus antigamente falou, pessoal, e muitas vezes audivelmente, e ainda
através de visões e sonhos aos patriarcas, aos profetas e aos apóstolos.
Finalmente, falou de maneira especial através de Seu Filho, Jesus Cristo - Havendo
Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho - Hebreus 1.1. E uma vez
completada a revelação, Deus não mais fala daquela forma, mas fala-nos através
da sua Palavra escrita, iluminando nosso entendimento pelo Seu Espírito Santo.
Temos nas escrituras toda a revelação do plano da redenção e todos os
princípios de vida que Deus quer que pratiquemos para a sua glória, tanto
pessoais quanto para a igreja como o povo pactual. Deus fala de modo especial
com sua igreja através da pregação da Palavra. Quando homens chamados legítima
e oficialmente para o ministério da Palavra, pregam, é Deus falando à sua
igreja e também chamando os homens ao arrependimento, ainda que para que esses
sejam salvos os mesmos necessitem da iluminação interior do Espírito Santo.
Seja como for a voz de Deus ressoa da Palavra escrita.
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