Confissão Escocesa Comentada
A Confissão de Fé Escocesa
John Knox
O principal autor deste documento foi John Knox em 1560. Knox foi um homem piedoso cuja data e o local de nascimento são incertos, sendo aceita a data de 1513 como a mais provável. É possível que Knox tenha nascido no povoado de Haddington, às margens do rio Tyne, distrito de Lothian Oriental, cerca de 30 Km a leste de Edinburgo.
Knox foi um sacerdote católico-romano que se converteu às doutrinas reformadas. Influenciado pelos ideais da reforma zuingliana na Escócia, e mais tarde em Genebra se tornou aluno de João Calvino.
Knox foi responsável por implantar o calvinismo e fundar a igreja presbiteriana escocesa. Em 1558 publicou o “Primeiro Clarim Contra o Monstruoso Governo de Mulheres”, dirigido à Maria Tudor, em que ele dizia ser contra a natureza, Deus, e sua Palavra, uma mulher governar, pois isso era “a subversão da boa ordem, de toda justiça e equidade”.
Sua teologia era profundamente calvinista. Sua obra, Tratado Sobre a Predestinação (1559) segue de perto as formulações de Calvino e Beza, quando ensina que Deus escolheu soberanamente alguns para a salvação e outros para a condenação eterna, afirmando que a salvação do homem depende exclusivamente da graça divina.
Morreu em 24 de novembro de 1572 em Edimburgo, deixando um grande legado para a igreja reformada.
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Prefácio
Os Estados da Escócia, com seus habitantes, professando o evangelho santo de Jesus Cristo: para os seus compatriotas, e para todos os outros reinos e nações, professando o mesmo Senhor Jesus com eles, deseja graça, misericórdia, e paz de Deus o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, com um espírito de justo julgamento, para saudação, etc.
Durante muito tempo, queridos irmãos, nós tivemos o desejo de notificar ao mundo, a soma daquela doutrina a qual nós professamos, e pela qual nós temos recebido infâmia e perigo. Mas tal foi a fúria de Satanás contra nós, e contra a verdade eterna de Jesus Cristo, recentemente nascida entre nós, que até este dia nenhum tempo foi concedido a nós para clarear nossas consciências, como alegremente nós teríamos feito. Como nós temos sido lançados a um ano inteiro de passado, a maior parte de Europa (como nós supomos) entende. Mas vendo que a infinita bondade de nosso Deus (que nunca faz sofrer o aflito completamente para não ser confundido), acima de qualquer expectativa, nós obtivemos algum descanso e liberdade, nós não pudemos, mas passo adiante esta breve e simples confissão de tal doutrina como é proposta a nós, e como nós acreditamos e professamos; em parte para satisfação de nossos irmãos cujos corações, não temos dúvida, temos sido ainda feridos apesar da ira que ainda temos de não aprender a falar bem; e em parte pelo parar as bocas de insolentes blasfemadores que corajosamente amaldiçoam aquilo que eles nem mesmo ouviram, e o que nem ainda entendem.
Não que julguemos que tal cancerosa malícia pode ser curada por esta nossa simples confissão. Não, nós sabemos que o doce sabor do evangelho é, e deve ser, morte para os filhos de perdição. Mas nós temos respeito principalmente para com nossos irmãos fracos e enfermos, para quem nós comunicaríamos o fundo de nossos corações, para que eles não sejam aborrecidos ou levados por diversos rumores que Satanás espalha [contra] nós, para derrotar este nosso empreendimento religioso; protestando que, se qualquer homem notar nesta nossa confissão, que qualquer artigo ou sentença seja repugnante para com a Palavra santa de Deus, isto nos agradará, por sua gentileza, e pela causa da caridade cristã, nos prevenir destes mesmos escritos; e nós, por nossa honra e fidelidade, prometemos a ele satisfação da boca de Deus (quer dizer, de suas Escrituras Santas), ou qualquer reforma que ele prove em que temos nos extraviado. Para Deus nós levamos as histórias de nossas consciências, que de nossos corações nós detestamos todas as seitas heréticas, e todos os professores de doutrina errônea; e que, com toda humildade, nós abraçamos a pureza do evangelho de Cristo que é o único alimento de nossas almas; e isto é tão precioso para nós, que nós estamos determinados a sofrer a extremidade do perigo mundano, ao invés de que nós sofreremos ao ser defraudados pelo mesmo. Pela espera nós somos certamente persuadidos, que aquele que de alguma forma negar a Cristo Jesus, ou ter vergonha dele, na presença dos homens, será negado diante do Pai, e diante de seus santos anjos. E então, pela ajuda do poderoso Espírito do nosso mesmo Senhor Jesus, nós firmemente propomos ficar juntos até o fim, na confissão desta nossa fé, como se seguem nestes artigos.
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Comentário: Este é mais um dos grandes documentos nascidos do grande movimento do século XVI, o único movimento reconhecido como legítimo de restauração da Igreja de Cristo. Obviamente que estes documentos não foram inspirados e, portanto, não estão em pé de igualdade com as Sagradas Escrituras. Esses santos homens tiveram a humildade de reconhecer que poderiam cometer erros, e se anteciparam dizendo:
“Se qualquer homem notar nesta nossa confissão, que qualquer artigo ou sentença seja repugnante para com a Palavra santa de Deus, isto nos agradará, por sua gentileza, e pela causa da caridade cristã, nos prevenir destes mesmos escritos; e nós, por nossa honra e fidelidade, prometemos a ele satisfação da boca de Deus (quer dizer, de suas Escrituras Santas), ou qualquer reforma que ele prove em que temos nos extraviado”.
Contudo, a Igreja deveria manter esses documentos em seus arquivos e estudá-los sistematicamente em suas congregações, pois são verdadeiros tesouros. Estudados juntamente com a Palavra de Deus, são eficientes e servem como balizas para manter as igrejas nos trilhos. As igrejas que têm soberbamente desprezado esse precioso material produzido pelos reformadores, têm-se perdido em grandes heresias e falsos ensinos. Que Deus nos dê a humildade, a piedade, a coragem, o zelo e a sabedoria daqueles santos.
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1º CAPÍTULO
De Deus
Confessamos e reconhecemos um só Deus, a quem, só, devemos apegar-nos, a quem, só, devemos servir, a quem, só, devemos adorar e em quem, só, devemos depositar nossa confiança.1 Ele é eterno, infinito, imensurável, incompreensível, onipotente, invisível;2 um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.3 Cremos e confessamos que por ele todas as coisas que há no céu e na terra, visíveis e invisíveis, foram criadas, são mantidas em seu ser, e são governadas e guiadas pela sua inescrutável providência para o fim que determinaram sua eterna sabedoria, bondade e justiça, e para a manifestação de sua própria glória.4
1. Dt. 6:4; 1Co. 8:6; Dt. 4:35; Is. 44:5-6.
2. 1Tm. 1:17; 1Rs. 8:27; 2Cr. 6:18; Sl. 139:7-8; Gn. 17:1; 1Tm. 6:15-16; Êx. 3:14-15.
3. Mt. 28:19; 1Jo. 5:7.
4. Gn. 1:1; Hb. 11:3; At. 17:28; Pv. 16:4.
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Comentário: Nosso Deus Trino – Pai, Filho e Espírito Santo, criou todas as coisas nos céus e na terra, e também as sustenta, mantêm, governa e dirige para o fim que ele próprio decretou desde o princípio. Deus é essencialmente bom, por isso também, tudo quanto faz é bom, justo, certo e tem santos propósitos. Esse é o Deus dos cristãos e não há outro Deus além dele. Todos os demais pretensos deuses, são falsos e serão destruídos de debaixo do céu (Jeremias 10.11). Sendo ele o único Deus vivo e verdadeiro, reivindica absoluta exclusividade. Só ele criou, só ele pode salvar o pecador, só ele julgará os desobedientes. E o fará tudo como decretou desde o princípio. À quem ele decretou vir a este mundo, vem, à quem decretou salvar, salva, à quem não ordenou para a salvação, mas decretou abandonar no seu pecado e suas consequências, assim o faz. E tudo quanto faz, fá-lo para sua própria glória, sem se importar com as críticas e juízos de seus adversários. Ele é todo bondade e quer que o homem entenda, para o seu próprio bem, que é uma criatura que veio do pó. Felizes aqueles que são atraídos para esse Deus, mas ai daqueles que estiverem em rota de colisão com ele.
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2º CAPÍTULO
Da Criação do Homem
Confessamos e reconhecemos que nosso Deus criou o homem, isto é, nosso primeiro pai, Adão, segundo sua própria imagem e semelhança, e lhe deu sabedoria, domínio, justiça, livre arbítrio e consciência de si mesmo, de modo que em toda a natureza do homem não se podia encontrar nenhuma imperfeição.1 Dessa perfeição e dignidade caíram o homem e a mulher; a mulher, enganada pela serpente e o homem dando ouvido à voz da mulher, ambos conspirando contra a soberana majestade de Deus, que, com palavras claras, os havia previamente ameaçado de morte, se ousassem comer da árvore proibida.2
1. Gn. 1:26-28; Cl. 3:10; Ef. 4:24.
2. Gn. 3:6; 2:17.
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Comentário: O maior desastre da história da humanidade, tragédia sem precedentes, comparando com tudo o que conhecemos nesta terra, foi sem sombra de dúvidas a queda. A decisão de Adão e Eva de se tornarem independentes de Deus, desprezando seu mandamento e sua aliança graciosa, traindo sua confiança e seu amor, é a nota mais triste da nossa História.
Após serem criados, Adão e Eva, foram colocados no Paraíso do Éden para dele desfrutar e gozar. Poderiam comer de todas as árvores do jardim, bem como aproveitar todas as regalias e delícias que ali haviam. Deus lhes ordenou que cultivassem o jardim, que o guardassem e lhes advertiu sobre uma única árvore da qual deveriam ficar longe – a árvore do conhecimento do bem e do mal.
Não vigiaram nem guardaram o jardim, não levaram a sério a mandamento do Senhor e nem suas advertências de que no dia que comessem daquela árvore, morreriam. Não se trata assim a quem se ama, ao contrário, quando amamos alguém queremos lhe agradar e satisfazer-lhe a vontade. Não levando Deus a sério, pecaram contra a sua santidade, contra a sua glória, contra a sua autoridade.
As consequências da desobediência foram terríveis. Decaíram de seu estado de perfeição para um estado miserável de pecado e depravação. E sendo Adão nosso representante, seu pecado colocou toda a humanidade debaixo da culpa e da dívida. Assim, cada homem que nasce neste mundo, nasce debaixo da ira, da maldição e da condenação. Extremamente trágico! Desesperador!
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3º CAPÍTULO
Do Pecado Original
Por essa transgressão, geralmente conhecida como pecado original, a imagem de Deus foi totalmente deformada no homem, e ele e seus filhos se tornaram, por natureza, inimigos de Deus, escravos de Satanás e servos do pecado,1 de modo que a morte eterna tem tido e terá poder e domínio sobre todos os que não foram, não são e não forem regenerados do alto. Essa regeneração se realiza pelo poder do Espírito Santo, que cria nos corações dos escolhidos de Deus uma fé firme na promessa de Deus a nós revelada pela sua Palavra; por essa fé aprendemos Jesus Cristo com os seus dons gratuitos e com as bênçãos nele prometidas.2
1. Sl. 51:5; Rm. 5:10; 7:5; 2Tm. 2:26; Ef. 2:1-3.
2. Rm. 5:14,21; 6:23; Jo. 3:5; Rm. 5:1; Fp. 1:29.
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Comentário: Usando uma linguagem mais atual, a queda adulterou completamente o design do homem e arruinou a sua configuração. A imagem de Deus impressa nele foi danificada e aquelas qualidades maravilhosas que Deus lhe havia dado foram substituídas por defeitos, os defeitos do próprio Satanás. De aliado de Deus tornou-se seu inimigo, de honrado servo do Criador tornou-se vassalo do pecado e do Diabo. O negócio foi péssimo e essa decisão de Adão abriu as portas para a morte entrar na humanidade. O mundo feito para ser um paraíso tornou-se um lugar de morte. Após a transgressão da Aliança Adão foi expulso da presença de Deus e atirado para fora do Éden para lavrar a terra e esperar a morte, como Deus disse: No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás - Gênesis 3.19. Desde então, para onde se olha neste mundo se vê sinais da morte: enfermidades, doenças, dores, males físicos e espirituais, todo o tipo de sofrimento e miséria. A única esperança para essa humanidade caída é o Filho de Deus que veio a este mundo para expiar os pecados de todos os que creem e confiam nele. O que falta à nossa sociedade é essa compreensão de que a solução é Cristo e nada fora ele. O mundo está cheio de religiões e seitas, cada uma ensinando suas filosofias, doutrinas, terapias e remédios. A humanidade cresceu cientificamente e está cheia de ideias, de opiniões, de experiências, mas tudo o que consegue é remediar a condição do homem, seja física ou emocional. O problema do homem é a enfermidade eterna que se chama pecado e este só pode ser tratado por Jesus Cristo. Não adianta negar o pecado, diminuir sua importância, mudar seu nome, tentar se livrar dele. Quanto mais o homem busca solução fora de Cristo, tanto mais se enchafurda na lama do pecado. Cada pecador só tem um lugar que pode deixar esse problema e é aos pés do Senhor Jesus Cristo.
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4º CAPÍTULO
Da Revelação da Promessa
Cremos firmemente que Deus, depois da tremenda e horrenda defecção de sua obediência feita pelo homem, procurou Adão, chamou-o a si,1 foi ter com ele, repreendeu-o e convenceu-o do seu pecado e fez-lhe afinal a promessa gratuita e a mais grata de que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente,2 isto é, destruiria as obras do Diabo. Essa promessa foi repetida e tornada cada vez mais clara com o correr do tempo; foi abraçada com firmeza e alegria por todos os fiéis, de Adão a Noé. Semelhantemente, de Noé a Abraão, de Abraão a Davi e assim por diante até a encarnação de Jesus Cristo; todos - isto é, os patriarcas crentes sob a lei - viram os dias agradabilíssimos de Cristo e se regozijaram.3
1. Gn. 3:9.
2. Gn. 3:15.
3. Gn. 12:3; 15:5-6; 2Sm. 7:14; Is. 7:14; 9:6; Ag. 2:6; Jo. 8:56.
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Comentário: É verdade que depois do desastre sem proporções que foi a queda, que colocou toda a descendência de Adão sob a morte e condenação eterna, não poderia haver notícia mais bendita e maravilhosa do que esta, de que dentre os filhos da mulher nasceria Um, que brecaria e reverteria a queda, e consertaria suas trágicas consequências. Um dia, no tempo, Deus traria um descendente da mulher que pisaria a cabeça de Satanás, aniquilando a sua autoridade e desfaria completamente as suas obras malignas, aniquilando o seu malfeito. Duas descendências foram descritas pelo próprio Deus, uma seguiria unida a serpente (Satanás e demais anjos caídos) e em sua rebelião para sempre; outra seria redimida por um Redentor que viria ao mundo algum dia para mudar toda a História. Assim, todos os crentes do Antigo Testamento viveram olhando para o futuro Messias Redentor, confiando nele para sua redenção e salvação. Um dia bendito, esperado e desejado pelos crentes antigos, o anjo Gabriel anunciou a chegada do Redentor - Ele se chamará Jesus, porque salvará o seu povo dos seus pecados - Mateus 1.21. Num dos encontros mais dramáticos registrado no Evangelho de João vemos uma mulher que vivia na expectativa da vinda o Messias e o Senhor Jesus dizendo ser ele mesmo a esperança de Israel. Na conversa ela lhe disse: Eu sei que o Messias vem, e quando ele vier nos anunciará todas as coisas, e Jesus lhe respondeu: Eu o sou, eu que falo contigo - João 4.25, 26. Isso mostra como até muitos dos samaritanos (pois ela era samaritana) viviam na esperança da vinda do Redentor prometido por Deus. A mesma mulher disse aos seus conterrâneos: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito: Porventura não é este o Cristo? e mais tarde muitos daqueles samaritanos foram convencidos de que de fato Jesus de Nazaré era o Messias, o Salvador - Nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo - João 4.39, 42.
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5º CAPÍTULO
Contituidade, Aumento e Preservação das Igrejas
Cremos, com a maior segurança, que Deus preservou, instruiu, multiplicou, honrou, adornou e vocacionou, da morte para a vida, a sua Igreja em todas as épocas, desde Adão até a vinda de Cristo Jesus em carne.1 Ele chamou Abraão da terra de seu pai, instruiu-o e multiplicou a sua semente;2 ele o preservou maravilhosamente e mais admiravelmente livrou sua semente da servidão e da tirania de Faraó;3 deu-lhes as suas leis, constituições e cerimônias,4 deu-lhes a terra de Canaã.5 Depois de lhes haver dado juízes, e posteriormente Saul, deu-lhes Davi para ser rei, a quem prometeu que do fruto dos seus lombos um devia assentar-se para sempre no seu trono real.6 A esse mesmo povo ele enviou profetas, em contínua sucessão de tempo, a fim de, da idolatria pela qual eles frequentes vezes se desviaram, reconduzi-los ao caminho reto do seu Deus.7 E, embora, por seu obstinado desprezo da justiça, tenha sido ele, compelido a entregá-los nas mãos dos seus inimigos,8 como fora previamente ameaçado pelos lábios de Moisés,9 de modo que a cidade santa foi completamente destruída, o templo devorado pelo fogo,10 e toda a terra desolada durante setenta anos,11 contudo, por sua graça e misericórdia ele os reconduziu a Jerusalém, onde a cidade e o templo foram restaurados e onde eles resistiram contra todas as tentações e assaltos de Satanás, até a vinda do Messias, segundo a promessa.12
1. Ez. 6:6-14.
2. Gn. 12:1; 13:1.
3. Êx. 1, etc.
4. Jo. 1:3; 23:4.
5. 1Sm. 10:1; 16:13.
6. 2Sm. 7:12.
7. 2Rs. 17:13-19.
8. 2Rs. 24:3-4.
9. Dt. 28:36,48.
10. 2Rs. 25.
11. Dn. 9:2.
12. Jr. 30; Ed. 1, etc.; Ag. 1:14; 2:7-9; Zc. 3:8.
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Comentário: Deus sempre preservou seu povo na terra. Ele sempre manteve um remanescente da semente da mulher em sua presença. Desde que fez a promessa do Redentor aos nossos primeiros pais, Adão Eva, Deus vem chamando homens e mulheres das trevas para a luz, da rebelião para a obediência, convertendo-os à luz, do poder de Satanás a Deus, trazendo-os da perdição para a salvação. O remanescente fiel atravessou séculos e séculos, de Adão até Abraão, com quem Deus estabeleceu uma aliança. Nesta aliança ele prometeu abençoar a semente natural de Abraão, fazendo de seus filhos uma grande nação, que seriam os judeus, e também prometeu através deles abençoar todas as demais nações da terra. Promessa que estendia a bênção abraâmica aos gentios de todos os povos. Obviamente isso cumpriu-se com a vinda do bendito Emanuel. Antes do Filho eterno encarnar-se, todos quantos viveram em obediência a Deus criam na promessa da sua vinda. Quatro mil anos depois da queda no Éden, o Descendente da mulher veio. Ele é Filho de Abraão, da família de Davi. Nele a promessa de salvar os gentios de todas as nações se cumpriu. Até o fim do mundo, a Igreja será composta por homens de todas as tribos, línguas, povos e nações. Quando da primeira destruição de Jerusalém com o primeiro templo, pelos babilônios, Deus fez a promessa de trazê-los de volta à sua própria terra, porque o Messias ainda não havia vindo. Já na segunda destruição de Jerusalém e do segundo templo, pelos romanos, Deus não fez mais promessas de aos judeus. Até porque agora o Messias já viera e o plano da redenção caminhou. Deus não mais teria uma Igreja judaica, mas uma Igreja judaica-gentílica, o novo Israel de Deus.
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6º CAPÍTULO
Da Encarnação de Cristo
Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou ao mundo o seu Filho1 - sua eterna sabedoria, a substância da sua própria glória - o qual assumiu a natureza humana da substância de uma mulher, uma virgem, e isso por obra do Espírito Santo.2 E assim nasceu a “semente justa de Davi”, o “Anjo do grande conselho de Deus”, o próprio Messias prometido, a quem reconhecemos e confessamos como o Emanuel, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por duas naturezas unidas e ligadas em uma só pessoa.3 Assim, por esta nossa Confissão condenamos as condenáveis e pestilentas heresias de Ário, Márcion, Eutiques, Nestório e outros, que, ou negaram a sua divindade eterna ou a verdade da sua natureza humana, ou as confundiram ou dividiram.
1. Gl. 4:4.
2. Lc. 1:31; Mt. 1:18; 2:1; Rm. 1:3; Jo. 1:45; Mt. 1:23.
3. 1Tm. 2:5.
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Comentário: Cremos que Jesus de Nazaré, filho de José e Maria, é o Messias, prometido desde o início da humanidade. Logo após a queda de Adão, no Éden, Deus anunciou a vinda de Um nascido da semente da mulher, que venceria Satanás. Pelas próprias palavras de Deus em Gênesis 3.15 podemos ver quem ele seria e o que faria - E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Ele nasceria da mulher, portanto seria um homem como os demais nascidos de mulher. Isso fala da humanidade do Senhor Jesus. Ele nasceria da mulher apenas e não do homem, por isso Deus disse “sua semente” referindo-se a semente da mulher. Para nascer da mulher e não do homem deveria ser de maneira sobrenatural. Isso fala da concepção virginal do Senhor Jesus e da sua impecabilidade, pois nascendo apenas da mulher não herdaria o pecado de Adão. Disse ainda o Senhor Deus que o Redentor lutaria contra Satanás e nessa luta seria ferido. Isso nos lembra outra vez seu lado humano. Contudo, finalmente ele derrotaria Satanás. Ora, sendo Satanás uma das criaturas mais poderosas que Deus criou, jamais um ser humano comum poderia vencê-lo. Então para que o Redentor pudesse derrotá-lo esse Redentor deveria ser divino. Assim nosso Salvador deveria ser humano e divino ao mesmo tempo. O pecado entrou no mundo e pelo pecado a morte. O Redentor deveria vencer não apenas Satanás, mas também o pecado e a morte. Para pagar pelos pecados da humanidade precisava ser um humano, cem por cento homem, e assim é o Senhor Jesus Cristo. Para ser sacrificado pelos pecados do seu povo precisava ser humano, até porque Deus não pode morrer, assim Jesus Cristo é totalmente homem. Mas se fosse apenas humano o pecado e a morte o manteriam no Hades. Então o Salvador deveria ser divino para sair da sepultura vitorioso sobre Satanás, o pecado e sobre a morte. Assim, o Senhor Jesus é também cem por cento divino, um com o Pai. Amém.
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7º CAPÍTULO
Por que Devia o Mediador ser Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem
Reconhecemos e confessamos que esta admirável união entre a divindade e a humanidade, em Jesus Cristo, procedeu do decreto eterno e imutável de Deus, do qual decorre e depende toda a nossa salvação.1
1. Ef. 1:3-6.
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Comentário: Que o Descendente da mulher seria também divino, a Bíblia nos deixa muito claro, desde o seu primeiro anúncio em Gênesis 3.15, passando pelos patriarcas, profetas, até chegar no seu precursor João, o Batista. Todos anunciavam a mesma mensagem: o Messias Redentor era Deus em carne. E o próprio Senhor Jesus durante sua vida terrena, falou e viveu como alguém único em toda a História da humanidade. Ele era cem por cento homem, tendo um corpo e uma alma humana, mas também era cem por cento divino, porque era o próprio Filho de Deus, vindo do Pai ao mundo para a missão que o aguardava desde antes da fundação do mundo. Ele precisava ser humano porque assim como um homem trouxe culpa, juízo e maldição sobre toda a humanidade, outro homem deveria pagar com sua própria vida, para livrar aqueles que o Senhor decretou salvar, da culpa do pecado, da maldição e do juízo. E para suportar a eterna ira divina contra os pecados da humanidade caída, para derrotar Satanás, a morte e o mundo, ele precisava ser divino, pois nenhuma criatura poderia fazê-lo. Logo, quem crê no Evangelho, crê nas duas naturezas do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
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8º CAPÍTULO
A Eleição
O mesmo eterno Deus e Pai, que somente pela graça nos escolheu em seu Filho, Jesus Cristo, antes que fossem lançados os fundamentos do mundo,1 designou-o para ser nosso chefe,2 nosso irmão,3 nosso pastor e o grande bispo de nossas almas.4 Mas, visto que a inimizade entre a justiça de Deus e os nossos pecados era tal que nenhuma carne por si mesma poderia ter chegado a Deus,5 foi preciso que o Filho de Deus descesse até nós e assumisse o corpo de nosso corpo, a carne de nossa carne e o osso de nossos ossos, para que se tornasse o perfeito Mediador entre Deus e o homem,6 dando a todos os que creem em Deus o poder de se tornarem filhos de Deus,7 como ele mesmo diz: “Subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus”.8 Por meio desta santíssima fraternidade, tudo o que perdemos em Adão nos é de novo restituído,9 e por isso não tememos chamar a Deus nosso Pai,10 não tanto por nos ter ele criado - o que temos em comum com os próprios réprobos -11 como por nos ter dado o seu Filho unigênito para ser nosso irmão,12 e por nos ter concedido graça para reconhecê-lo e abraçá-lo como nosso único Mediador, como ficou dito acima.
Além disso, era preciso que o Messias e Redentor fosse verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porque ele seria capaz de suportar o castigo devido a nossas transgressões e apresentar-se ante o juízo de seu Pai, como em nosso lugar, para sofrer por nossa transgressão e desobediência,13 e, pela morte, vencer o autor da morte. Mas, porque a Divindade, só, não podia sofrer a morte,14 nem a humanidade podia vencê-la, ele uniu as duas numa só pessoa, a fim de que a fraqueza de uma pudesse sofrer e sujeitar-se à morte que nós merecíamos - e o poder infinito e invencível da outra, isto é, da Divindade, pudesse triunfar e preparar-nos a vida, a liberdade e a vitória perpétua.15 Assim confessamos e cremos sem nenhuma dúvida.
1. Ef. 1:11; Mt. 25:34.
2. Ef. 1:22-23.
3. Hb. 2:7-8, 11-12; Sl. 22:22.
4. Hb. 13:20; 1Pd. 2:24; 5:4.
5. Sl. 130:3; 143:2.
6. 1Tm. 2:5.
7. Jo. 1:12.
8. Jo. 20:17.
9. Rm. 5:17-19.
10. Rm. 8:15; Gl. 4:5-6.
11. At. 17:26.
12. Hb. 2:11-12.
13. 1Pd. 3:18; Is. 53:8.
14. At. 2:24.
15. Jo. 1:2; At. 20:20; 1Tm. 3:16; Jo. 3:16.
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Comentário: Fomos eleitos para sermos salvos em Cristo. Desde a eternidade Deus elegeu Seu Filho para ser o Redentor do povo eleito e elegeu a cada membro desse povo eleito, desde Adão até o último homem redimido antes do retorno de Cristo, no final da história da humanidade. Não há ninguém dentre esse povo que não haja sido escolhido antes da fundação do mundo, e no final da História não haverá nenhum eleito fora desta grande nação. Toda eleição implica uma escolha e uma rejeição. Assim Deus, em sua infinita sabedoria, santidade e glória o fez. Entre todos os homens que nasceriam neste mundo, certo número deles pertenceria ao povo eleito, salvo pelo Redentor, outros seriam deixados sem redenção, exatamente como os anjos que caíram em rebelião. Após a queda de Adão, Deus estendeu a destra da sua misericórdia aos seus eleitos e lhes ofereceu perdão e reconciliação, enquanto que aos demais ele oculta sua face e os abandona em seus pecados. Essa doutrina envolve grande mistério, mas a Bíblia no-la expõe nesses termos. O Filho Eterno encarnou-se e assumiu nossa culpa e nos resgatou da maldição e morte eternas. Recebeu sobre si a pena a nós devida e imputou-nos sua justiça e santidade. Sendo homem-Deus venceu todos os nossos inimigos – Satanás, o pecado, a morte e o inferno, e nos deu nova vida. Ser cristão é o maior de todos os privilégios deste mundo. Ser cristão é pertencer ao povo mais bem-aventurado e feliz do mundo. Ser cristão é encontrar o sentido da vida.
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9º CAPÍTULO
A Morte, a Paixão e o Sepultamento de Cristo
[Confessamos] que nosso Senhor Jesus Cristo se ofereceu ao Pai em sacrifício voluntário por nós,1 que sofreu a contradição dos pecadores, que foi ferido e açoitado pelas nossas transgressões,2 que, sendo o Cordeiro de Deus puro e inocente3 foi condenado na presença de um juiz terreno,4 a fim de que fôssemos absolvidos perante o tribunal de nosso Deus;5 que sofreu não só a cruel morte de cruz - que foi maldita pela sentença de Deus6 - mas também sofreu por um pouco a ira de seu Pai,7 que os pecadores mereciam. Mas declaramos que ele permanece como o Filho unicamente amado e bendito do Pai, mesmo em meio à angústia e ao tormento que ele sofreu na alma e no corpo, para dar plena satisfação pelos pecados do povo,8 e agora confessamos e declaramos que não resta nenhum outro sacrifício pelo pecado.9 Se há alguns que assim afirmam, não necessitamos em declarar que são blasfemos contra a morte de Cristo e contra a satisfação eterna que por ela nos foi preparada.
1. Hb. 10:1-12.
2. Is. 53:5; Hb. 12:3.
3. Jo. 1:29.
4. Mt. 27:11,26; Mc. 15; Lc. 23.
5. Gl. 3:13.
6. Dt. 21:23.
7. Mt. 26:38-39.
8. 2Co. 5:21.
9. Hb. 9:12; 10:14.
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Comentário: O sacrifício a que o Senhor Jesus Cristo se entregou foi perfeito, suficiente, eficiente e permanente, portanto único, de valor eterno. Numa palavra o próprio Jesus disse: Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados - Mateus 26.28. O sangue do Novo Testamento ou da Nova Aliança é o sangue de Cristo. Enquanto no Antigo Testamento havia muito sangue, de muitos sacrifícios, repetidos vez após vez, no Novo Testamento só há um sangue: o sangue de Jesus Cristo. Todo o sangue da Nova Aliança é este, portanto, seu valor é eterno, todo suficiente, todo-poderoso. O sacrifício de Cristo interrompeu todos os sacrifícios tipológicos e estancou definitivamente toda sangria para expiação de pecado realizada pelos séculos das sombras, dos tipos e figuras. Ele é o verdadeiro e real Cordeiro de Deus, e seu sangue é o único puro e imaculado, portanto mais precioso e valioso do que tudo; aceito no céu como propiciação pelos pecados dos eleitos de Deus de todos os tempos, desde Adão até o último a ser chamado antes da volta de Cristo.
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10º CAPÍTULO
A Ressurreição
Visto que era impossível que as dores da morte pudessem reter cativo o Autor da vida,1 cremos sem nenhuma dúvida que nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado morto e sepultado, o qual desceu ao inferno, ressuscitou para nossa justificação2 e para a destruição daquele que era o autor do pecado, e nos trouxe de novo a vida, a nós que estávamos sujeitos à morte e ao seu cativeiro.3 Sabemos que sua ressurreição foi confirmada pelos testemunhos de seus inimigos4 e pela ressurreição dos mortos, cujos sepulcros se abriram e eles ressuscitaram e apareceram a muitos dentro da cidade de Jerusalém,5 e que foi também confirmada pelos testemunhos dos anjos,6 pelos sentidos e pelo julgamento dos apóstolos e de outros que privaram com ele e com ele comeram e beberam depois da sua ressurreição.7
1. At. 2:24.
2. At. 3:26; Rm. 6:5, 9; 4:25.
3. Hb. 2:14-15.
4. Mt. 28:4.
5. Mt. 27:52-53.
6. Mt. 28:5-6.
7. Jo. 20:27; 21:7,12-13; Lc. 24:41-43.
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Comentário: A ressurreição de Jesus Cristo é um grande pilar da doutrina cristã. Ela é o último ato terreno da redenção. O evento foi presenciado pelos próprios soldados romanos que montavam guarda ao redor do sepulcro, a fim de impedirem a violação do mesmo. Três dias e três noites após ser colocado na cava daquela rocha, o Senhor Jesus ressurgiu dentre os mortos, conforme ele próprio havia profetizado - Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites: no seio da terra - Mat. 12.40. Embora os discípulos houvessem perdido de ver com os próprios olhos Jesus saindo da sepultura, porque nenhum deles ficou perto do lugar onde fora colocado, todavia, depois da ressurreição Jesus procurou por eles para que vissem com seus próprios olhos e tocassem com suas mãos seu corpo ressurreto, incorruptível. Primeiro apareceu as mulheres que visitaram o sepulcro no primeiro dia da semana. A princípio foram informadas pelo anjo que o Senhor não estava mais ali, mas havia ressuscitado, e em seguida o próprio Senhor lhes apareceu. Depois Jesus foi visto por todos os discípulos, muitas vezes por muitos dias, de fato quarenta, até chegar a hora da sua subida ao céu. Assim como os demais atos da redenção, também o Senhor ressuscitado foi testemunhado por muitas pessoas. Embora nem todos estivessem à porta do sepulcro para presenciar a cena que os soldados romanos jamais esquecerão, contudo o Senhor apareceu aos discípulos e esteve com eles, falando, comendo e bebendo. Assim como a morte de Jesus significa que ele é homem, porque Deus não pode morrer, por outro lado sua ressurreição significa que ele é Deus, porque derrotou a morte, o inferno e Satanás que detinha o poder da morte. Assim, sua ressurreição coroa todos os atos terrenos da redenção. Por isso o apóstolo diz: O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação - Rom. 4.25.
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11º CAPÍTULO
A Ascensão
Não duvidamos, de modo nenhum, que exatamente o mesmo corpo que nasceu da Virgem, foi crucificado, morto e sepultado, e que ele ressurgiu e subiu aos céus, para cumprimento de todas as coisas,1 onde em nosso nome e para a nossa consolação recebeu todo o poder no céu e na terra,2 onde ele está sentado, à destra do Pai, tendo sido coroado no seu reino, como o único advogado e mediador por nós;3 essa glória, honra e prerrogativa possuirá ele, só, entre os irmãos, até que todos os seus inimigos sejam feitos escabelo dos seus pés.4 Assim também cremos, sem dúvida alguma, que haverá um juízo final, para cuja execução o mesmo Senhor Jesus há de vir visivelmente, como foi visto subir.5 E cremos firmemente que virá então o tempo da recriação e restauração de todas as coisas,6 de modo que aqueles que desde o princípio sofreram violência e afronta por causa da justiça, entrarão na posse da bendita imortalidade a eles prometida desde o princípio.7
Mas, por outro lado, os obstinados, os desobedientes, os cruéis, os perseguidores, os impuros, os idólatras e incrédulos de toda sorte serão lançados no cárcere das trevas exteriores, onde o seu verme não morrerá, nem seu fogo se apagará.8 A lembrança daquele dia e do juízo que nele será executado não é apenas freio para coibir nossos apetites carnais, mas também uma consolação tão grande e tão incomparável que nem a ameaça dos príncipes deste mundo, nem o medo da morte temporal e do perigo presente podem levar-nos a renunciar e abandonar aquela bendita sociedade que nós, os membros, temos com o Cabeça e nosso único Mediador, Jesus Cristo:9 a quem nós confessamos e reconhecemos ser o Messias prometido, o único Cabeça da Igreja, nosso justo Legislador, nosso único Sumo Sacerdote, Advogado e Mediador,10 em cujas honras e funções, se homem ou anjo ousa intrometer-se, nós os detestamos e repudiamos completamente como blasfemos de nosso soberano e supremo Governador, Jesus Cristo.
1. Mc. 16:9; Mt. 28:6; Lc. 24:51; At. 1:9.
2. Mt. 28:18.
3. 1Jo. 2:1; 1Tm. 2:5.
4. Sl. 110:1; Mt. 22:44; Mc. 12:36; Lc. 20:42-43.
5. At. 1:8.
6. At. 3:19.
7. Mt. 25:34. 2Ts. 1:4-8.
8. Ap. 21:27; Is. 66:24; Mt. 25:41; Mc. 9:44, 46,48; Mt. 22:13.
9. 2Pd. 3:11; 2Co. 5:9-11; Lc. 21:27-28; Jo. 14:1, etc.
10. Is. 7:14; Ef. 1:22; Cl. 1:18; Hb. 9:11,15; 10:21; 1Jo. 2:1; 1Tm. 2:5.
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Comentário: A ascensão de Jesus Cristo foi o último ato da redenção que foi visto pelos homens da terra. De fato, depois da ascensão ninguém mais viu o Senhor aqui na terra. Chegando ao céu, Jesus Nazareno, foi coroado e entronizado ao lado de Deus Pai, de quem ele recebeu o reino. É maravilhoso o fato de Jesus Cristo haver subido ao céu no mesmo corpo que viveu aqui na terra. Como ele mesmo disse, um corpo físico - Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho - Lucas 24.39. Isso nos dá certeza de que o céu é um lugar físico e real, muito mais real do que o mundo em que vivemos, pois aqui tudo é passageiro. Tendo sido entronizado rei, recebeu também a autoridade para julgar. A função de juiz está unida ao seu ofício de rei. Então, o Senhor Jesus já está reinando e julgando a humanidade. E no dia marcado desde a eternidade voltará a esta terra para o juízo final e definitivo. Então nossa crença é que Jesus Cristo de Nazaré e o Filho Eterno tornaram-se uma única pessoa com duas naturezas distintas, uma humana e outra divina. E dessa forma ele viveu aqui na terra, morreu, foi sepultado, ressurgiu depois de três dias e três noites; nesse mesmo corpo subiu ao céu e assentou-se junto com o Pai em seu trono, de onde está reinando, seu reino “milenar”; e também da mesma forma que foi ao céu, um dia voltará a este mundo para o julgamento final da humanidade. Felizes são aqueles que viram e compreenderam essa doutrina, e vivem sua vida neste mundo com um olho aqui e outro na eternidade, um olho na terra e outro no céu.
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12º CAPÍTULO
A Fé no Espírito Santo
Esta fé e a sua certeza não procedem da carne e do sangue, isto é, de uma faculdade natural que há em nós, mas são a inspiração do Espírito Santo,1 que nós confessamos ser Deus, igual com o Pai e com seu Filho,2 que nos santifica e nos conduz em toda verdade pela sua operação, sem o qual permaneceríamos para sempre inimigos de Deus e ignorantes de seu Filho, Jesus Cristo. Porque por natureza somos mortos, cegos e perversos, de maneira que nem sequer sentimos quando somos aguilhoados, nem vemos a luz quando brilha, nem podemos assentir à vontade de Deus quando ela se revela, se o Espírito de nosso Senhor não vivificar o que está morto, não remover as trevas de nossas mentes e não dobrar a rebelião dos nossos corações à obediência da sua bendita vontade.3 Dessa forma, assim como confessamos que Deus, o Pai nos criou quando ainda não existíamos,4 assim como o seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, nos redimiu quando éramos seus inimigos,5 assim também confessamos que o Espírito Santo nos santificou e regenerou, sem qualquer respeito a qualquer mérito nosso - seja anterior seja posterior à nossa regeneração.6 Para deixar isto ainda mais claro: como de boa vontade renunciamos a qualquer honra e glória pela nossa própria criação e redenção,7 assim também o fazemos pela nossa regeneração e santificação, pois por nós mesmos nada de bom somos capazes de pensar, mas só aquele que em nós começou a obra nos faz continuar nela,8 para o louvor e glória de sua graça imerecida.9
1. Mt. 16:17; Jo. 14:26; 15:26; 16:13.
2. At. 5:3-4.
3. Cl. 2:13; Ef. 2:1; Jo. 9:39; Ap. 3:17; Mt. 17:17; Mc. 9:19; Lc. 9:41; Jo. 6:63;
Mq. 7:8; 1Rs. 8:57-58.
4. Sl. 100:3.
5. Rm. 5:10.
6. Jo. 3:5; Tt. 3:5; Rm. 5:8.
7. Fp. 3:7.
8. Fp. 1:6; 2Co. 3:5.
9. Ef. 1:6.
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Comentário: A fé verdadeira, fé bíblica não é congênita, não nascemos com ela, não herdamos de nossos pais, por mais piedosos que tenham sido. Ela não é algo natural ou comum a todos os homens, por isso mesmo se chama fé dos santos, fé dos eleitos, fé salvífica, porque ela é dada apenas aos que Deus predestinou na eternidade para a salvação através de Jesus Cristo. Ela é um dom exclusivo aos que foram dados a Cristo. Por isso também essa fé direciona o eleito unicamente para Cristo e para mais ninguém. Quem recebeu essa fé não se inclina para os ídolos, para outros mediadores ou co-mediadores, justamente porque essa fé é exclusiva dos salvos. Quem ainda está no reino dos ídolos não tem essa fé; quem ainda divide sua confiança entre Jesus Cristo e outros mediadores também não tem essa fé. A fé dos eleitos direciona sua confiança exclusivamente para o Mediador. Fé no Espírito Santo não significa crer no Espírito Santo, mas a fé que o Espírito Santo dá aos eleitos e os leva a crer no Deus Trino e confiar no único Mediador da Aliança eterna, Jesus Cristo. Sem essa fé não seríamos reconciliados com Deus e permaneceríamos na terrível condição de inimigos de Deus, sendo assim condenados eternamente, junto com os anjos rebeldes. Então, tributamos a Deus toda glória pela criação, pela redenção e pela providência. Ele criou tudo, a partir do nada, sem qualquer participação de terceiros; ele também redimiu seus eleitos sozinho, sem qualquer participação desses; da mesma forma ele mantêm toda criação, sem depender de qualquer ajuda ou participação de suas criaturas. Soli Deo Gloria.
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13º CAPÍTULO
A Causa das Boas Obras
Assim, confessamos que a causa das boas obras não é nosso livre arbítrio, mas o Espírito de Jesus, nosso Senhor, que habita em nossos corações pela verdadeira fé, produz as obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas. Por isso, com toda a ousadia afirmamos que é blasfêmia dizer que Cristo habita nos corações daqueles em quem não há nenhum espírito de santificação.1 Portanto, não hesitamos em afirmar que os assassinos, os opressores, os cruéis, os perseguidores, os adúlteros, os fornicários, os idólatras, os alcoólatras, os ladrões e outros que praticam a iniquidade, não têm nem verdadeira fé, nem qualquer porção do Espírito do Senhor Jesus, enquanto obstinadamente continuarem na impiedade. Pois, logo que o Espírito do Senhor Jesus, a quem os escolhidos de Deus recebem pela verdadeira fé, toma posse do coração de alguém, imediatamente ele regenera e renova esse homem, que assim começa a odiar aquilo que antes amava e a amar o que antes odiava. Daí resulta a contínua batalha entre a carne e o Espírito: a carne e o homem natural, segundo a sua corrupção, cobiçam coisas que lhes são agradáveis e deleitáveis, murmuram na adversidade e enchem-se de orgulho na prosperidade e estão em todos os momentos propensos e prontos a ofender a majestade de Deus.2 Mas o Espírito de Deus, que dá testemunho junto ao nosso espírito de que somos filhos de Deus,3 leva-nos a resistir aos prazeres imundos e a suspirar na presença de Deus pelo livramento desse cativeiro da corrupção,4 e finalmente a triunfar sobre o pecado, para que ele não reine em nossos corpos mortais.5
Os homens carnais não têm esse conflito, pois são destituídos do Espírito de Deus, mas seguem e obedecem com avidez ao pecado, sem nenhum pesar, estimulados pelo Diabo e por sua cupidez depravada. Os filhos de Deus, porém, como antes foi dito, lutam contra o pecado, suspiram e gemem quando se sentem tentados à prática do mal; e, se caem, levantam-se outra vez com arrependimento não fingido.6 Eles fazem estas coisas não pelo seu próprio poder, mas pelo poder do Senhor Jesus, sem quem nada podem fazer.7
1. Ef. 2:10; Fp. 2:13; Jo. 15:5; Rm. 8:9.
2. Rm. 7:15-25; Gl. 5:17.
3. Rm. 8:16.
4. Rm. 7:24; 8:22.
5. Rm. 6:12.
6. 2Tm. 2:26.
7. Jo. 15:5.
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Comentário: A causa das boas obras é o Espírito Santo através da vida de Cristo implantada no crente assim que este crê no Senhor e o recebe pela fé. É como uma nova árvore que foi plantada para produzir certo tipo de frutos. Segundo a sua natureza ela os produzirá. O homem natural, morto em delitos e pecados, nunca poderá produzir obras aceitáveis diante de Deus. Mas quando o Espírito Santo vem habitá-lo, então uma nova vida surge ali, a vida ressurreta, a qual irá, infalivelmente produzir frutos diferentes daqueles que eram ali produzidos outrora. Tais frutos são a prova de que houve regeneração, houve um ressuscitamento, onde havia morte agora há vida, um tipo de vida desconhecido na terra e comum ao céu. Contudo, como a velha natureza não é totalmente removida daquele que é regenerado, logo começa uma luta em seu interior. Essa luta, ao contrário do que muitos pensam, é uma evidência da regeneração. O homem natural, aquele que não tem o Espírito Santo, não tem consciência da sua verdadeira condição diante de Deus nem da gravidade do seu estado pecaminoso. Ele está cego para essas coisas e não se incomoda com isso. Mas o regenerado luta contra sua tendência pecaminosa, aborrece sua vida neste mundo, sabe que está com Deus e o pecado é seu inimigo. Se nessa luta, que as vezes pode chegar até a morte, ele cair, não ficará prostrado, mas levantar-se-á pelo poder do Espírito Santo e retomará a peregrinação confiante no Autor e consumador da fé, Jesus Cristo.
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14º CAPÍTULO
As Obras que são Consideradas Boas diante de Deus
Confessamos e reconhecemos que Deus deu ao homem sua santa Lei, na qual não só se proíbem as obras que desagradam e ofendem sua divina majestade, mas também se ordenam todas aquelas que lhe agradam e que ele prometeu recompensar.1 Essas obras são de duas espécies. Umas são praticadas para a honra de Deus e as outras para benefício de nosso próximo, e ambas têm a vontade revelada de Deus como sua garantia.
Ter um só Deus, adorá-lo e honrá-lo, invocá-lo em todas as nossas dificuldades, reverenciar o seu santo nome, ouvir a sua Palavra e crer nela, participar dos seus santos sacramentos, são obras da primeira espécie.2 Honrar pai, mãe, príncipes, governantes e poderes superiores, amá-los, sustentá-los, obedecer às suas ordens - se estas não são contrárias aos mandamentos divinos - salvar as vidas dos inocentes, reprimir a tirania, defender os oprimidos, conservar nossos corpos limpos e santos, viver em sobriedade e temperança, tratar de modo justo todos os homens tanto por palavras como por obras e, finalmente, reprimir quaisquer desejos pelos quais nosso próximo recebe ou pode receber dano,3 são as boas obras da segunda espécie, as quais são mui gratas e aceitáveis a Deus, visto que ele mesmo as ordenou.
Os atos contrários são pecados dignos da maior indignação, que sempre lhe desagradam e o provocam à ira. São eles: não invocar só a ele quando temos necessidade, não ouvir com reverência a sua Palavra, mas desprezá-la e rejeitá-la, ter ou adorar ídolos, alimentar e defender a idolatria, fazer pouco do venerável nome de Deus, profanar, abusar ou desprezar os sacramentos de Jesus Cristo, não obedecer ou resistir aos que Deus colocou em autoridade, enquanto se mantenham dentro dos limites da sua vocação,4 cometer homicídio ou ser conivente com homicídio, odiar o próximo, permitir que seja derramado o sangue inocente, se podemos impedi-lo.5 Em conclusão, confessamos e afirmamos que a quebra de qualquer mandamento da primeira ou da segunda espécie é pecado,6 pelo qual se acende a ira de Deus contra o mundo soberbo e ingrato. Assim, afirmamos serem boas obras somente as que são praticadas com fé,7 segundo o mandamento de Deus,8 que, em sua lei, expôs o que lhe agrada. Afirmamos que as obras más não são apenas as que se praticam expressamente contra o mandamento de Deus,9 mas também as que em assuntos religiosos e de culto a Deus, não têm outro fundamento senão a invenção e a opinião do homem. Desde o princípio Deus as vem rejeitando, como aprendemos das palavras do profeta lsaías10 e de nosso Senhor Jesus Cristo: Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.11
1. Êx. 20:3, etc.; Dt. 5:6, etc.; 4:8.
2. Lc. 10:27-28; Mq. 6:8.
3. Ef. 6:1,7; Ez. 22:1,etc.; 1Co. 6:19-20; 1Ts. 4:3-7; Jr. 22:3, etc.; Is. 50:1, etc.;
1Ts. 4:6.
4. Rm. 13:2.
5. Ez. 22:13, etc.
6. 1Jo. 3:4.
7. Rm. 14:23; Hb. 11:6.
8. 1Sm. 15:22; 1Co. 10:31.
9. 1Jo. 3:4.
10. Is. 29:13.
11. Mt. 15:9; Mc. 7:7.
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Comentário: A lei de Deus tem um aspecto negativo, estabelecendo um limite, proibindo ultrapassarmos essa marca, e tem um aspecto positivo, o qual nos exorta a atingir o alvo estabelecido. Assim, tanto a transgressão da lei quanto a nossa omissão diante dela mostra que estamos fora do esquadro, que não estamos em linha com a vontade de Deus e estamos em falta. E segundo o ensino apostólico, se tropeçarmos num só dos mandamentos, seremos culpados pela transgressão e omissão de toda a lei - Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos - Tiago 2.10. A lei de Deus e toda sua explanação que nos foi feita pelos profetas e apóstolos nos estimula à prática das boas obras. Ela não é passiva mas ativa e sempre nos motiva a fazer algo, a dar, a nos aplicar - Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas – Mateus 7.12. A Bíblia não diz: “o que não queres para ti mesmo não faças para os outros”; isso seria passividade. Mas ela diz que o que gostaríamos que nos fizessem, por ser isso bom, então que façamos isso para os outros, mesmo que não recebamos nada em troca. Deus se agrada disso, de pessoas que fazem algo pelos outros, que se doam, que se prestam serviço, que compartilham, que repartem. E mais, tudo isto deve ser feito por fé, por amor e obediência a Deus. Isso são boas obras agradáveis a Deus. Ele se ira contra o pecado, todo tipo de pecado, todos os pecados. Por isso que necessitamos urgente e desesperadamente do Mediador, Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas os piores pecados que se podem cometer contra Deus, dizem respeito ao seu culto. Quando diz respeito ao seu culto, ele não quer criatividade, não quer nossa opinião, não quer invenção, não quer contextualização, não quer upgrade, mas deseja apenas nossa observação obediente e reverente. Grave pecado é oferecer a Deus um culto modificado, adulterado, diferente do que ele prescreveu em sua Palavra. Nossa geração, talvez mais do que qualquer outra, tem pecado por adulterar o serviço sagrado, misturando o profano ao santo, o material ao espiritual, introduzindo coisas mundanas, voltando as sombras da Antiga Aliança, judaizando a Igreja. Em muitas chamadas igrejas hoje, o que se vê, é uma mistura de paganismo, superstições, idolatria e até feitiçaria, shows de danças e coreografias acompanhados por dezenas de instrumentos inanimados [mortos] e luzes estroboscópicas. Dirigentes que são verdadeiros animadores, ministrações que são palestras motivacionais em lugar das antigas pregações expositivas da Bíblia. Em vez de edificar as almas dos crentes, entretém os descrentes e os deixa confortáveis em seus pecados. Mas o pior de tudo é que o culto solene e pactual foi substituído por essas aberrações e a glória de Deus foi desprezada. Por isso a suposta adoração de grandes setores da chamada Igreja hoje é absolutamente vã, pecaminosa, de nenhum proveito e atrai a ira do Deus Santo. Que Deus tenha misericórdia de nós e nos ajude. Amém.
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15º CAPÍTULO
A Perfeição da Lei e a Imperfeição do Homem
Confessamos e reconhecemos que a Lei de Deus é a mais justa, a mais imparcial e a mais santa, e o que ela ordena, se perfeitamente praticado, iluminaria e poderia conduzir o homem à felicidade eterna;1 mas a nossa natureza é tão corrupta, fraca e imperfeita que jamais seríamos capazes de cumprir perfeitamente as obras da Lei.2 Mesmo depois de sermos regenerados, se dissermos que não temos pecados, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade de Deus não está em nós.3 Por isso, importa que nos apeguemos a Cristo, em sua justiça e satisfação, pois ele é o fim e o complemento da Lei e é por ele que somos libertados, de modo que, embora não cumpramos a Lei em todos os pontos, contudo, estamos imunes da execração de Deus.4 Deus, o Pai contempla-nos no corpo de seu Filho Jesus Cristo, aceita como perfeita a nossa obediência imperfeita5 e cobre todas as nossas obras, que estão poluídas por muitas manchas,6 com a perfeita justiça do seu Filho.
Não queremos dizer que fomos libertados, de modo a não devermos mais obediência alguma à Lei - pois já reconhecemos o lugar dela - mas afirmamos que ninguém na terra, pela sua conduta - com exceção apenas de Cristo Jesus - deu, dá e dará à Lei a obediência que ela requer. Quando tivermos feito tudo, devemos prostrar-nos e confessar sinceramente que somos servos inúteis.7 Portanto, todos os que se vangloriam dos méritos de suas obras, ou põem sua confiança em obras de supererrogação, ou se vangloriam da vaidade, ou põem sua confiança em idolatria condenável.
1. Lv. 18:5; Gl. 3:12; 1Tm. 1:8; Rm. 7:12; Sl. 19:7-9; 19:11.
2. Dt. 5:29; Rm. 10:3.
3. 1Rs. 8:46; 2Cr. 6:36; Pv. 20:9; Ec. 7:22; 1Jo. 1:8.
4. Rm. 10:4; Gl. 3:13; Dt. 27:26.
5. Fp. 2:15.
6. Is. 64:6.
7. Lc. 17:10.
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Comentário: O santo apóstolo foi claro ao dizer que a Lei é espiritual e eu sou carnal - Porque bem sabemos que a lei é espiritual: mas eu sou carnal, vendido sob o pecado - Romanos 7.14. Enquanto estivermos nesse corpo caído jamais conseguiremos obedecer a Lei moral de Deus perfeitamente. Não podíamos fazê-lo antes de sermos justificados por Cristo e não podemos fazê-lo depois de justificados, porque ainda estamos nesse corpo sujeito e inclinado ao pecado. Não há nada de errado com a Lei de Deus e sim comigo, como ele mesmo completa: Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne - Romanos 8.3. Nossa carne é enferma por causa do pecado que habita em nós. Contudo, é preciso compreender que isso não nos isenta da responsabilidade que temos diante da Lei. Ela é o nosso parâmetro que circunscreve nossos limites e nos exorta a agir como o Senhor Jesus agiu neste mundo. De modo que a Lei ainda é posta diante de nós como alvo, e mesmo que não tivéssemos de cumpri-la para sermos justificados, pois isso o nosso Redentor fez por nós, todavia a Lei ainda estabelece as normas para a nossa conduta em santificação, o que também não podemos realizar sozinhos, pelo que, o Senhor Jesus nos deu o seu Espírito para estar em nós, para nos alinhar à sua vontade e nos conformar a Ele. Posto isto, não necessitamos dizer que o ensino romanista das obras de supererrogação é completamente falso, e que tais obras são total e absolutamente impossíveis a quaisquer dos santos. Elas não passam de uma invenção da mente caída, que ainda não compreendeu o tamanho do estrago que a queda causou na humanidade, isto é a total corrupção e depravação do ser humano.
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16º CAPÍTULO
Da Igreja
Assim como cremos em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, assim também firmemente cremos que houve desde o princípio, há agora e haverá até o fim do mundo uma só Igreja, isto é, uma sociedade e multidão de homens escolhidos por Deus, que corretamente o adoram e aceitam, pela verdadeira fé em Jesus Cristo,1 o qual, só, é a Cabeça da Igreja, assim como é ela o corpo e a esposa de Jesus Cristo. Essa Igreja é católica, isto é, universal, porque compreende os escolhidos de todos os tempos, de todos os reinos, nações e línguas, ou dos judeus ou dos gentios, que tenham comunhão e associação com Deus o Pai, e com seu Filho, Jesus Cristo, pela santificação do Espírito Santo.2 Por isso ela é chamada comunhão, não dos profanos, mas dos santos, que, como cidadãos da Jerusalém celestial,3 gozam de benefícios inestimáveis: um só Deus, um só Senhor Jesus Cristo, uma só fé e um só batismo.4 Fora dessa Igreja não há nem vida nem felicidade eterna. Portanto, detestamos completamente a blasfêmia dos que sustentam que os homens que vivem segundo à equidade e a justiça serão salvos, não importando que religião professem. Pois, visto que sem Cristo não há vida nem salvação,5 ninguém terá parte nesta senão aquele que o Pai deu ao seu Filho, Jesus Cristo, e aqueles que no tempo oportuno a ele vierem,6 confessarem a sua doutrina e nele crerem (incluímos as crianças de pais crentes).7 Essa Igreja é invisível, conhecida só de Deus - que é o único a conhecer os que ele escolheu8 - e compreende, como já ficou dito, tanto os escolhidos que já partiram, e é chamada geralmente a “Igreja Triunfante”, como os que ainda vivem e lutam contra o pecado e Satanás, e os que viverem daqui por diante.9
1. Mt. 28:20; Ef. 1:4.
2. Cl. 1:18; Ef. 5:23-24, etc.; Ap. 7:9.
3. Ef. 2:19.
4. Ef. 4:5.
5. Jo. 3:36.
6. Jo. 5:24; 6:37; 6:39; 6:65; 17:6.
7. At. 2:39.
8. 2Tm. 2:19; Jo. 13:18.
9. Ef. 1:10; Cl. 1:20; Hb. 12:4.
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Comentário: Professar a catolicidade da Igreja de Cristo é algo extremamente sério e importante. A Igreja de Cristo possui uma catolicidade geográfica, por isso é chamada de universal. Todos quantos estão em Cristo, em todo o mundo, congregados em todas as igrejas locais e talvez alguns que, por motivo de força maior, não podem congregar, todos pertencem a mesma Igreja católica. A Igreja possui também uma catolicidade histórica. Isto é, sempre existiu uma única Igreja desde o princípio do mundo e existirá até o final do mesmo. Nossa fé tem história e nossa história é única. Ela tem também uma catolicidade doutrinária. Isto é, reza a mesma doutrina: um só Deus, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um único Cabeça que não é terreno, mas que está no céu que é Cristo Jesus. A Igreja crê no Trino Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, e crê nas duas naturezas do Senhor Jesus Cristo. Após isso vem a catolicidade litúrgica, isto é, todas as igrejas locais que formam a Igreja católica, devem ter a mesma liturgia, o mesmo modelo de culto e adoração. Não é possível duas igrejas locais, com liturgias completamente distintas uma da outra, ambas pertencerem a Igreja católica. A Igreja possui ainda uma catolicidade atemporal, que significa que a ela pertencem todos os crentes que militam na terra e todos os que já estão gozando na glória eterna. Isto porque Cristo só tem uma Esposa e a ela pertencem todos os crentes de todos os tempos. Fora da Igreja não há salvação, porque a aliança de Cristo é com sua Noiva e somente os que a ela pertencem é que estão assegurados.
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17º CAPÍTULO
Da Imortalidade das Almas
Os escolhidos, que partiram, estão em paz e descansam de seus trabalhos;1 não que durmam e estejam perdidos no esquecimento, como sustentam alguns fantasistas, mas porque foram libertados de todo medo, de tormentos, e de toda tentação, coisas a que nós e todos os escolhidos de Deus nesta vida estamos sujeitos.2 Por isso a Igreja é chamada Militante. Por outro lado, os réprobos e infiéis falecidos padecem angústia, tormentos e penas inenarráveis.3 Nem estes nem aqueles se encontram em tal sono que os impeça de sentir em que situação estejam, como claramente atestam a parábola de Jesus Cristo em São Lucas 16,4 as suas próprias palavras na cruz ao ladrão5 e o clamor das almas, sob o altar:6 “Senhor, que és justo e imparcial, até quando deixarás sem vingança o nosso sangue entre os habitantes da terra?”.
1. Ap. 14:13.
2. Is. 25:8; Ap. 7:14-17; 21:4.
3. Ap. 16:10-11; Is. 66:24; Mc. 9:44,46,48.
4. Lc. 16:23-26.
5. Lc. 23:43.
6. Ap. 6:9-10.
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Comentário: A Bíblia nada fala sobre algum tempo de inconsciência depois da morte do corpo. O próprio texto, geralmente usado para dizer que as almas dos crentes ficam como que adormecidas aguardando o dia do Juízo, sim, esse mesmo texto revela que estão bem despertas. Não diz que as almas estão ali dormindo, ao contrário, estão muito conscientes, e até clamam por justiça divina sobre os seus algozes. “Sob o altar” é apenas uma expressão que significa que estão na presença de Deus. Quando estavam na Igreja militante, aqui na terra, estavam “sobre o altar”, como sacrifícios vivos serviram a Deus. Agora, no céu estão “sob o altar” aguardando sua recompensa (Apocalipse 6.9-11). Apenas uma forma de dizer que esses santos estão esperando o dia final, quando tudo será consumado, quando todas as coisas e pessoas estarão em seus devidos e definitivos lugares. Obviamente que todos os crentes militantes que chegam ao fim da sua carreira, são recolhidos no descanso eterno, onde estão todos os santos de todos os tempos, aguardando a inauguração da “terra-céu”, onde Deus estará no meio deles para sempre. Assim está escrito: E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus - Apocalipse 21.1-3. Igualmente os descrentes ou réprobos, para sua tristeza, estarão muito conscientes após deixarem este mundo, onde viveram em desobediência e incredulidade. Obviamente que esses começaram a sofrer a indescritível, interminável e ininterrupta pena pelos seus pecados.
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18º CAPÍTULO (Parte I)
Os Sinais pelos quais a Verdadeira Igreja será Distinguida da Falsa e quem será Juiz da Doutrina
Satanás vem trabalhando desde o princípio para adornar sua pestilenta sinagoga com o título de Igreja de Deus, e inflamando corações de crudelíssimos assassinos, para perseguirem, perturbarem e molestarem a verdadeira Igreja e seus membros, como Caim com Abel,1 Ismael com Isaque,2 Esaú com Jacó3 e todos os sacerdotes dos judeus com Jesus Cristo e seus apóstolos que vieram depois dele.4 Por isso, é necessário que a verdadeira Igreja, por sinais claros e perfeitos, se distinga de tais sinagogas corruptas, a fim de que não sejamos enganados e, para nossa própria condenação, recebamos e abracemos a falsa pela verdadeira. As marcas, os sinais e as características pelos quais a noiva imaculada de Cristo se distingue da impura e horrível meretriz - a Igreja dos maldosos - nós afirmamos que não são nem a antiguidade, nem o título usurpado, nem a sucessão linear, nem a multidão de homens que aprovam o erro. Caim existiu primeiro do que Abel e Sete5 quanto à idade e ao título; Jerusalém tinha precedência sobre todos os outros lugares da terra,6 pois nela os sacerdotes descendiam linearmente de Aarão, e maior era o número que seguia os escribas, fariseus e sacerdotes do que aqueles que verdadeiramente criam em Jesus Cristo e aprovavam a sua doutrina.7 No entanto ninguém de são juízo, supomos, sustentará que qualquer dos acima nomeados era a Igreja de Deus.
Portanto, nós cremos, confessamos e declaramos que as marcas da verdadeira Igreja são, primeiro e antes de tudo, a verdadeira pregação da Palavra de Deus, na qual Deus mesmo se revelou a nós, como nos declaram os escritos dos profetas e apóstolos; segundo, a correta administração dos sacramentos de Jesus Cristo, os quais devem ser associados à Palavra e à promessa de Deus para selá-las e confirmá-las em nossos corações;8 e, finalmente, a disciplina eclesiástica corretamente administrada, como prescreve a Palavra de Deus, para reprimir o vício e estimular a virtude.9 Onde quer que essas marcas se encontrem e continuem por algum tempo - ainda que o número de pessoas não exceda de duas ou três - ali, sem dúvida alguma, está a verdadeira Igreja de Cristo, o qual, segundo a sua promessa, está no meio dela.10 Isto não se refere à Igreja universal de que falamos antes, mas às igrejas particulares, tais como as que havia em Corinto,11 na Galácia,12 em Éfeso13 e noutros lugares onde o ministério foi implantado por Paulo e às quais ele mesmo chamou igrejas de Deus.
Tais igrejas nós, habitantes do reino da Escócia, confessando a Jesus Cristo, afirmamos ter em nossas cidades, vilas e distritos reformados, porque a doutrina ensinada em nossas igrejas está contida na Palavra de Deus escrita, isto é, no Velho e no Novo Testamentos, nos livros originalmente reconhecidos como canônicos. Afirmamos que neles todas as coisas que devem ser cridas para a salvação dos homens estão suficientemente expressas.14 Confessamos que a interpretação da Escritura não é atribuição de nenhuma pessoa particular ou pública, nem mesmo de qualquer igreja em virtude de qualquer preeminência ou prerrogativa, pessoal ou local, que uma tenha sobre a outra, mas esse direito e autoridade só pertencem ao Espírito de Deus por quem as Escrituras foram escritas.15
Quando surge, pois, controvérsia acerca do exato sentido de qualquer passagem ou sentença da Escritura, ou para a reforma de algum abuso na Igreja de Deus, devemos perguntar não tanto o que os homens disseram ou fizeram antes de nós, como o que o Espírito Santo, uniformemente, fala no corpo das Escrituras Sagradas e o que Jesus Cristo mesmo fez e mandou.16 Pois todos reconhecem sem discussão que o Espírito de Deus, que é o Espírito de unidade, não pode se contradizer a si mesmo.17 Assim, se a interpretação ou decisão ou opinião de qualquer doutor da Igreja ou concílio é contrária à expressa Palavra de Deus em qualquer outra passagem da Escritura, é certo que essa interpretação não representa a mente e sentido do Espírito Santo, ainda que concílios, reinos e nações a tenham admitido e aprovado. Não ousamos admitir nenhuma interpretação contrária a qualquer artigo principal de fé, ou a qualquer texto claro da Escritura, ou à regra do amor.
1. Gn. 4:8.
2. Gn. 21:9.
3. Gn. 27:41.
4. Mt. 23:34; Jo. 15:18-20,24; 11:47,53; At. 4:1-3; 5:17, etc.
5. Gn 4:1.
6. Sl. 48:2-3; Mt. 5:35.
7. Jo. 12:42.
8. Ef. 2:20; At. 2:42; Jo. 10:27; 18:37; 1Co. 1:13; Mt. 18:19-20; Mc. 16:15-16;
1Co. 11:24-26; Rm. 4:11.
9. Mt. 18:15-18; 1Co. 5:4-5.
10. Mt. 18:19-20.
11. 1Co. 1:2; 2Co. 1:2.
12. Gl. 1:2.
13. Ef. 1:1; At. 16:9-10; 18:1, etc.; 20:17, etc.
14. Jo. 20:31; 2Tm. 3:16-17.
15. 2Pd. 1:20-21.
16. Jo. 5:39.
17. Ef. 4:3-4.
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Comentário: A principal atividade de Satanás na terra é roubar a adoração e a glória de Deus, atraindo e desviando o máximo de homens que possa. Em relação à Igreja ele tenta de todas as formas e por todos os meios corrompê-la. Por um lado, ele se vale dos meios mais infames, canalhas, atrozes para atacar e corromper a Igreja de Deus, porque odeia a Cristo e sua linda noiva. Por outro lado, ele tenta fazer uma versão da Igreja adaptada ao gosto dos pecadores, a qual ele equipa e ornamenta com tudo de mais aprazível para a carne, para o ego e para os interesses imediatos ou temporais. Tudo que os homens naturais buscam no mundo, podem encontrar na falsa Igreja - diversão, entretenimento, lazer. A Igreja de Cristo é a única agência de salvação na terra. Todas as atividades seculares nos levam a pensar na terra, no temporal, no aqui e agora. À Igreja cabe a tarefa de nos preparar para a eternidade. Não vamos a Igreja para receber cura das enfermidades físicas, receber bênçãos de prosperidade financeira, resolver nossos problemas familiares, profissionais, emocionais, entre outros. Vamos ali para ouvir sobre nosso futuro lar com Cristo, que é a nova terra-céu (Isaías 65.17; 66.22; Apocalipse 21.l). Queremos ser preparados para o momento da travessia do rio e entrada na terra prometida. Por isso precisamos ouvir sobre as promessas eternas, aquelas que são incondicionais, que já temos em Cristo e por causa de Cristo e sua aliança conosco. Precisamos ouvir sobre o novo domicílio, no qual estaremos em breve com Cristo e todos os seus santos. Enfim precisamos ouvir sobre as coisas que nos dão esperança, que nos confirmem nas promessas da aliança, precisamos ouvir sobre o consolo que temos na vida e na morte. Se ela, a igreja, falhar em nos proporcionar isso, falhou na sua preciosa missão.
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18º CAPÍTULO (Parte II)
Comentário: Desde o princípio, tem sido concorde entre os doutores da Igreja que, pelo menos três marcas distinguem a verdadeira Igreja da falsa. A primeira é a pregação fiel do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Por pregação fiel entenda-se Sola Scriptura, (Tota Scriptura), Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria. Pregar fielmente o evangelho é seguir esse lema. A segunda marca é a administração fiel dos sacramentos. Isto significa administrar os sacramentos pura e simplesmente como Cristo os estabeleceu, como eles foram deixados em lugar dos antigos sacramentos, circuncisão e páscoa, seguindo as mesmas normas e princípios. Significa administrar os sacramentos despojados de superstições, tais como a regeneração batismal e a transubstanciação, entre outras. A terceira marca da igreja fiel é exercer, com amor, a disciplina eclesiástica, para o bem do membro faltante e de toda a congregação. Estas três marcas são as mais importantes. Havendo estas características, ali deve estar a igreja fiel ou uma congregação fiel da Igreja católica. Mas há outras que também são importantes, como por exemplo o governo. A Bíblia ensina o governo plural por meio de presbíteros e não como vemos em muitos lugares um governo centralizado tendo um líder máximo, um sênior, como cabeça, seja de uma só congregação ou de diversas congregações. A Bíblia ensina que as igrejas locais nas cidades são independentes, têm seus próprios presbitérios e conselhos, e não estão sujeitas a outras igrejas, a não ser a submissão e comunhão em amor, mas não governadas por igrejas de outras localidades.
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18º CAPÍTULO (Parte III)
Comentário: Sobre a quantidade de pessoas temos a dizer que o número de pessoas é algo importante a ser destacado. Obviamente que gostaríamos que o número dos salvos fosse sempre grande em todo o lugar, fosse nas congregações locais, fosse nas cidades, ou nas nações. Gostaríamos mesmo que toda a geração em que vivemos fosse cristã. Contudo, nunca foi assim. O evangelho sempre encontrou muito mais oposição e rejeição do que aceitação neste mundo. Os homens naturais estão totalmente inclinados a fazer oposição ao evangelho, à Igreja e a Deus mesmo. Lendo a história Israel no Antigo Testamento constatamos que os profetas do Senhor sempre foram rejeitados e perseguidos. A fama da própria Jerusalém era de matar os mensageiros do Senhor - Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! - Mateus 23.37. A verdade de Deus nunca foi bem-vinda a este mundo governado por Satanás. Logo, a pregação dos mensageiros de Deus, exceto em alguns poucos momentos da história, nunca reuniu grandes multidões. Uma pregação fiel, junto com a fiel administração dos sacramentos e uma disciplina eclesiástica fiel, dificilmente congregará multidões. Então não devemos procurar a igreja fiel começando pelo número de membros ou interessados. Quando mencionamos os cinco solas da Grande Reforma, a propósito lembramos de colocar junto do Sola Scriptura, o Tota Scriptura, para enfatizar exatamente que tudo quanto está nas escrituras deve ser pregado e pregado com fidelidade, porque tudo quanto precisamos crer para a nossa salvação está ali contido. Cremos no Canon fechado e revelado. Fechado porque tudo quanto Deus queria falar a sua Igreja está dito ali. E revelado no sentido que nele, Antigo e Novo Testamentos, Deus se revela como Criador, como Redentor e Mantenedor da vida. Todas as verdades que devem ser recebidas e cridas pelo seu povo estão registradas na Bíblia. De modo que podemos, sem medo de errar, rejeitar qualquer novidade que surgiu após o livro do Apocalipse. Por isso mesmo rejeitamos toda interpretação que seja de alguma igreja em particular, de algum corpo de presbíteros em particular, de algum concílio isolado das demais congregações na terra. Enfim, qualquer coisa que seja abusiva, contraditória, estranha ao contexto do Antigo e do Novo Testamentos, tentando acrescentar ou diminuir às escrituras expostas por Cristo e seus apóstolos, repudiamos. Rejeitamos também as chamadas contextualizações, modernizações, inovações, e as consideramos ataques assassinos ao Canon Sagrado.
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19º CAPÍTULO
A Autoridade das Escrituras
Cremos e confessamos que as Escrituras de Deus são suficientes para instruir e aperfeiçoar o homem de Deus, e assim afirmamos e declaramos que a sua autoridade vem de Deus e não depende de homem ou de anjo.1 Afirmamos, portanto, que os que dizem não terem as Escrituras, outra autoridade a não ser a que elas receberam da Igreja, são blasfemos contra Deus e fazem injustiça à verdadeira Igreja, que sempre ouve e obedece à voz de seu próprio Marido e Pastor, mas nunca se arroga o direito de senhora.2
1. 1Tm. 3:16-17.
2. Jo. 10:27.
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Comentário: Grande e terrível equívoco cometem os teólogos que afirmam que as Escrituras vieram da Igreja, colocando a Igreja acima da Bíblia. Afirmam-no porque foi a Igreja, através de seus concílios, que agrupou as cartas apostólicas que circulavam pelas comunidades locais formando o Canon. Contudo isso não quer dizer que a Igreja surgiu antes das Escrituras nem que a Igreja esteja acima delas. A verdade é que a Igreja surgiu da pregação da Palavra de Deus. Onde quer que a Palavra de Deus seja proclamada, ali pode surgir uma igreja local. Isto significa que sem a Palavra não existiria a Igreja. Então primeiro vêm as Escrituras, depois a Igreja e depois os Sacramentos. A voz do Marido só pode ser ouvida a partir das Escrituras. É isso que a Igreja apostólica e católica crê e pratica.
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20º CAPÍTULO
Dos Concílios Gerais, seu Poder, sua Autoridade e Causas de sua Convocação
Assim como não condenamos irrefletidamente o que homens bons, reunidos em concílio geral legalmente convocado, estabeleceram antes de nós, assim não admitimos sem justo exame tudo o que tenha sido declarado aos homens em nome de concílio geral, pois é manifesto que, sendo humanos, alguns deles manifestamente erraram, e isso em questões de máximo peso e importância.1 Então, na medida em que um concílio confirma sua decisão e seus decretos pela clara Palavra de Deus, nós os respeitamos e acatamos. Mas, se homens, em nome de um concílio, pretendem forjar-nos novos artigos de fé, ou tomar decisões contrárias à Palavra de Deus, então devemos definitivamente negar como doutrinas de demônios tudo aquilo que afasta nossas almas da voz do único Deus para levar-nos a seguir doutrinas e decisões de homens.2
A razão por que os concílios gerais se reuniram não foi para elaborar qualquer lei permanente que Deus não tivesse feito antes, nem para formular novos artigos para a nossa fé, nem para conferir autoridade à Palavra de Deus; muito menos para afirmá-la como Palavra de Deus, ou para dela dar a verdadeira interpretação que não fora previamente expressa pela sua santa vontade em sua Palavra.3 Mas a razão dos concílios - pelo menos daqueles que merecem tal nome - foi em parte refutar heresias e fazer confissão pública de sua fé a ser seguida pela posteridade, e eles fizeram uma e outra coisa pela autoridade da Palavra de Deus escrita, sem apelar a qualquer prerrogativa de que, pelo fato de serem concílios gerais, não poderiam errar. Foi essa a razão primeira e principal dos concílios gerais, em nossa opinião. Uma segunda foi constituir e observar boa administração na Igreja, em que - como casa de Deus que é4 – convém que tudo seja feito com decência e ordem.5 Não que pensemos que a mesma administração ou ordem de cerimônias possa ser estabelecido para todas as épocas, tempos e lugares; pois, como cerimônias que os homens inventaram, são apenas temporais, e, assim, podem e devem ser mudadas quando se percebe que o seu uso fomenta antes a superstição que a edificação da Igreja.
1. Gl. 2:11-14.
2. 1Tm. 4:1-3; Cl. 2:18-23.
3. At. 15:1, etc.
4. 1Tm. 3:15; Hb. 3:2.
5. 1Co. 14:40.
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Comentário: A única coisa que não está para ser julgada é a Palavra de Deus. Decisões de concílios, documentos e escritos de homens, ainda que santos, tudo pode e deve ser avaliado, julgado, considerado, sejam recentes ou remotos. Isto porque a Palavra inspirada é infalível e nós somos falíveis. Os concílios não são para buscar nova luz ou iluminação sobre a doutrina, com objetivo de contextualizar a mensagem e proclamação do evangelho. Isso pode parecer espiritual, mas é extremamente perigoso. Um concílio serve para fortalecer e firmar a Igreja nas antigas veredas. E aí, sim, se houver algo que destoe das veredas apostólicas, então isto deve ser corrigido. Uma doutrina não é verdadeira porque é crida ou porque é antiga, ela é verdadeira se Deus a disse. A aceitação de uma doutrina falsa por uma grande multidão, não a torna verdadeira. Ainda reforçamos que a Palavra de Deus não precisa ser adaptada, reinterpretada, modernizada, contextualizada. Também o modo como ela deve ser anunciada Deus já nos ensinou – é a pregação. Não há nada nas escrituras que diga que a igreja deve representá-la com peças teatrais, com expressões dos folclores regionais, com shows, etc. Apenas diz que devemos pregá-la. Os profetas pregaram, João Batista pregou, o Senhor Jesus pregou, os apóstolos pregaram e ordenaram que assim a igreja continuasse a fazer. Conjuro-te pois diante de Deus, e do SENHOR Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina - 2a Timóteo 4.1-2. E até mesmo a liturgia sagrada não deve ser mudada de uma região para outra, a não ser que haja vital necessidade. Se não, a catolicidade litúrgica deve ser mantida tanto quanto a catolicidade doutrinária.
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21º CAPÍTULO
Dos Sacramentos
Assim como os patriarcas sob a Lei, além da realidade dos sacrifícios, tinham dois sacramentos principais, isto é, a circuncisão e a páscoa, e aqueles que os desprezavam e negligenciavam não eram contados entre o povo de Deus,1 assim nós também reconhecemos e confessamos que agora, na era do Evangelho, só temos dois sacramentos principais, instituídos por Cristo e ordenados para uso de todos os que desejam ser considerados membros de seu corpo, isto é, o Batismo e a Ceia ou Mesa do Senhor, também chamada popularmente Comunhão do seu Corpo e do seu Sangue.2 Esses sacramentos, tanto do Velho Testamento como do Novo, foram instituídos por Deus, não só para estabelecer distinção visível entre o seu povo e os que estavam fora da Aliança, mas também para exercitar a fé dos seus filhos e, pela participação de tais sacramentos, selar em seus corações a certeza da sua promessa e daquela associação, união e sociedade mui felizes que os escolhidos têm com seu Cabeça, Jesus Cristo.
E, assim, condenamos inteiramente a vaidade dos que afirmam que os sacramentos não são outra coisa que meros sinais desnudos. Muito ao contrário, cremos seguramente que pelo Batismo somos enxertados em Jesus Cristo, para nos tornarmos participantes de sua justiça, pela qual todos os nossos pecados são cobertos e perdoados; cremos também que na Ceia corretamente usada, Cristo se une de tal modo a nós, que se torna o próprio alimento e sustento de nossas almas.3 Não que imaginemos qualquer transubstanciação do pão no corpo natural de Cristo e do vinho em seu sangue natural, como têm ensinado perniciosamente os pontifícios e como creem para sua condenação; mas essa união e associação que temos com o corpo e o sangue de Jesus Cristo no uso reto dos sacramentos se realiza por meio do Espírito Santo, que pela verdadeira fé nos transporta acima de todas as coisas visíveis - que são carnais e terrenas - e nos habilita a alimentar-nos do corpo e do sangue de Jesus Cristo, uma vez partido e derramado por nós, e que agora está no céu e se apresenta por nós na presença do Pai.4 Não obstante a distância entre o seu corpo agora glorificado no céu e nós mortos aqui na terra, contudo cremos firmemente que o pão que partimos é a comunhão do corpo de Cristo e o cálice que abençoamos é a comunhão do seu sangue.5 Assim, confessamos, e cremos, sem nenhuma dúvida, que os fiéis, mediante o uso reto da Ceia do Senhor, comem o corpo e bebem o sangue de Jesus Cristo, porque ele permanece neles e eles nele; eles, até, se tornam carne da sua carne e osso dos seus ossos6 de maneira tal que, como a Divindade eterna conferiu à carne de Jesus Cristo vida e imortalidade,7 assim também o comer e o beber da carne e do sangue de Jesus Cristo nos confere essas prerrogativas. Declaramos, contudo, que isto não nos é dado só na ocasião do sacramento, nem pela sua ação ou virtude; mas afirmamos que os fiéis, mediante o uso certo da Ceia do Senhor, têm com Jesus Cristo,8 uma união que o homem natural não pode compreender. Além disso afirmamos que, embora os fiéis, impedidos pela negligência e pela fraqueza humana, não aproveitem tanto quanto desejariam, na própria ocasião em que se celebra a Ceia, no entanto subsequentemente ela produzirá frutos, sendo semente viva semeada em boa terra, pois o Espírito Santo, que nunca pode estar separado do uso reto da Instituição de Cristo, não privará os fiéis do fruto dessa ação mística. Mas tudo isto, dizemos, vem da verdadeira fé que apreende Jesus Cristo, o único que faz o sacramento eficaz em nós. Portanto, todos os que nos difamam dizendo que afirmamos ou cremos que os sacramentos não são outra coisa que sinais desnudos e vazios, fazem-nos injustiça e falam contra a verdade manifesta. Isto, no entanto, admitimos livre e espontaneamente, que fazemos distinção entre Cristo em sua substância eterna e os elementos dos sinais sacramentais. Assim, nem adoramos os elementos em lugar do que eles significam, nem os julgamos dignos de adoração, nem os desprezamos, ou interpretamos como inúteis e vãos, mas deles participamos com grande reverência, examinando-nos a nós mesmos o mais diligentemente antes de participarmos deles, pois somos persuadidos pelos lábios do apóstolo, de que “aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue de Jesus Cristo”.9
1. Gn. 17:10-11; Êx. 23:3,etc.; Gn. 17:14; Nm. 9:13.
2. Mt. 28:19; Mc. 16:15-16; Mt. 26:26-28; Mc. 14:22-24; Lc. 22:19-20;
1Co. 11:23-26.
3. 1Co. 10:16; Rm. 6:3-5; Gl. 3:27.
4. Mc. 16:19; Lc. 24:51; At. 1:11; 3:21.
5. 1Co. 10:16.
6. Ef. 5:30.
7. Mt. 27:50; Mc. 15:37; Lc. 23:46; Jo. 19:30.
8. Jo. 6:51; 6:53-58.
9. 1Co. 11:27-29.
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Comentário: A kahal no Antigo Testamento participava, como a Igreja no Novo Testamento participa de dois sacramentos. A antiga congregação, que servia ainda nas sombras um Cristo velado, possuía a circuncisão e a páscoa como sinais da Aliança. A nova congregação do Senhor, que serve o Cristo revelado, tem o batismo e ceia em lugar da circuncisão e da páscoa, respectivamente. As duas ordenanças são muito importantes para a vida da Igreja. Erram, portanto, aqueles que desprezam os sacramentos como se fossem coisa de pouco valor espiritual. A circuncisão dos prepúcios não salvavam os circuncidados, por isso Deus falou muitas vezes que eles precisavam da circuncisão do coração. Mas aquela circuncisão que recebiam em sua carne era um selo que os colocava sob as promessas da Aliança de Deus com seu povo. Cada circuncidado passava a ser um membro da nação de Israel e da Kahal. Da mesma forma o batismo com água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não salva automaticamente, mas é um selo que coloca o batizado sob as promessas do Evangelho. Cada batizado é considerado membro do povo de Deus e da Igreja de Cristo. Quando um judeu participava da páscoa, comendo a carne do cordeiro, não havia a superstição de que ele estivesse comendo a carne do Messias (Cristo), propriamente. Contudo, a páscoa não era uma refeição comum, mas havia um profundo significado espiritual nela, era uma refeição espiritual, de fato Deus os alimentava na fé, na confiança e esperança da salvação e vida eterna. Da mesma forma quando participamos do sacramento da Ceia hoje, não temos a superstição de estarmos comendo literalmente a carne de Cristo, mas ela também não é uma refeição comum, como alguns afirmam. Não, a Ceia do Senhor é profundamente espiritual. Nela recebemos a bênção do próprio Senhor Jesus, quando a instituiu dizendo do pão: “tomai e comei, este é o meu corpo partido por vós”; e do vinho: “bebei dele todos, este é o meu sangue, o sangue da nova aliança”. Na mesa do Senhor somos alimentados espiritualmente, fortalecidos na fé e firmados na esperança da vida eterna. Por isso o apóstolo advertiu a que ninguém coma e bebe de forma indigna porque faria isso para sua própria condenação.
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22º CAPÍTULO
Da Reta Administração dos Sacramentos
Duas coisas são necessárias para a reta administração dos sacramentos. A primeira é que eles devem ser ministrados por ministros legítimos; e declaramos que tais são apenas os que são designados para a pregação da Palavra, em cujos lábios pôs Deus a Palavra de exortação e que estes são os que são para isso legitimamente escolhidos por alguma Igreja. A segunda é que devem ser ministrados com os elementos e da maneira que Deus estabeleceu; de outra forma, afirmamos que deixam de ser os sacramentos corretos de Jesus Cristo.
Esse o motivo por que abandonamos a sociedade da Igreja pontifícia e fugimos à participação dos seus sacramentos. Primeiramente, porque seus ministros não são ministros de Jesus Cristo (o que é mais horrendo é que eles permitem que mulheres batizem, quando a estas o Espírito Santo não permite ensinar na congregação). Em segundo lugar, porque adulteraram de tal modo um e outro sacramentos com as suas próprias invenções que nenhuma parte do ato original de Cristo permanece em sua simplicidade original. O óleo, o sal, o cuspo e outras coisas, no batismo, são simples invenções humanas; a adoração ou veneração do sacramento, o transportá-lo pelas ruas e praças das cidades, a conservação do pão num escrínio ou cápsula, não é o uso legítimo do sacramento do corpo de Cristo, mas simples profanação dele. Cristo disse: “Tomai e comei”, e “Fazei isto em memória de mim.”1 Por estas palavras e por esta ordem ele santificou o pão e o vinho para sacramento do seu corpo e do seu sangue, de modo que um seria comido e todos bebessem do outro, e não que se conservem, e se adorem e honrem como Deus, como até agora fizeram os pontifícios, que, subtraindo ao povo o cálice da bênção, praticaram um horrendo sacrilégio.
Além disso, para uso correto dos sacramentos, requer-se que o fim e a causa da sua instituição sejam entendidos e observados não menos pelos comungantes do que pelos ministros. Se a intenção no participante se mudar, cessa o uso correto, o que é muito evidente na rejeição dos sacrifícios (assim como também se o ministro ensinar doutrina claramente falsa, o que seria odioso e detestável diante de Deus), ainda que os sacramentos sejam instituições dele próprio, porque homens ímpios deles usam para fim diverso daquele para que foram ordenados por Deus. Afirmamos que isto foi feito aos sacramentos na Igreja Pontifícia, na qual toda a ação de Jesus Cristo é adulterada, tanto na forma exterior, como no fim e na concepção. O que Cristo fez e ordenou que se fizesse é evidente dos Evangelistas e de São Paulo; o que o sacerdote pontifício faz junto do altar não é necessário repetir. O fim e a causa da instituição de Cristo, e por que o que ele instituiu deve ser feito por nós, exprime-se nestas palavras: “Fazei isto em memória de mim”; “Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais” isto é, enalteceis, pregais, engrandeceis e louvais – “a morte do Senhor, até que ele venha”.2 Mas qual é o fim, qual a concepção com que os sacerdotes dizem a sua missa; revelem-no as suas próprias palavras na missa: e é que, como mediadores entre Cristo e sua Igreja, eles oferecem a Deus o Pai um sacrifício propiciatório pelos pecados dos vivos e dos mortos, doutrina blasfema porque anula a suficiência do sacrifício único de Cristo, uma vez oferecido para a purificação de todos os que são santificados. Nós aborrecemos, detestamos e repudiamos profundamente essa blasfêmia contra o próprio Jesus Cristo.3
1. Mt. 26:26; Mc. 14:22; Lc. 22:19; 1Co. 11:24.
2. 1Co. 11:24-26.
3. Hb. 9:27-28; 10:14.
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Comentário: Há muita superstição no que diz respeito aos sacramentos. De fato, há mais superstição do que biblicidade. Desde o começo da Igreja, a História Eclesiástica está cheia de relatos de desvios em relação aos sacramentos, em especial a Ceia do Senhor. Ora mistura, ora super ênfase, ora desprezo, assim vão os erros; eles não têm fim. Exatamente por serem sacramentos, que são selos e sinais da Aliança, é que o espírito do erro está sempre rondando. Falsos ministros, não alinhados com a Palavra de Deus, vão repetindo os erros milenares dos antepassados. Pelo menos no que diz respeito a Igreja de Roma, isso é verdadeiro. Mas o outro lado não está isento, quando esvazia completamente de significado, tornando o sacramento apenas um memorial. Assim, tanto o batismo quanto a Ceia do Senhor são alvo de horríveis e impiedosos ataques. Há igrejas que chamam o batismo e a ceia do Senhor ordenanças e não sacramentos, com medo de torná-los algo supersticioso. Seguindo esse desprecio outros seguimentos religiosos, que nem podemos considerar igreja, fazem “santa ceia da cura divina” e até “santa ceia da prosperidade”. Completo desatino por parte de tais ministros, instrumentos de Satanás. É tão simples seguir o ensino das Escrituras, Antigo e Novo Testamentos, e a catolicidade histórica-doutrinária da Igreja de Jesus Cristo. Circuncisão e Páscoa eram mandamentos, sim, mas continham mais, eram “selos da justiça da fé” (Romanos 4.11), selos das promessas da Aliança. Da mesma forma Batismo e Ceia são ordenanças ou mandamentos, mas contêm mais, eles selam e confirmam cada uma das promessas de Deus aos cristãos - A promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus nosso SENHOR chamar - Atos 2.39. São chamados de sacramentos e sacramento envolve mistério sagrado. Não é o ministro que abençoa os sacramentos, estes, quando administrados corretamente, trazem a bênção de Cristo consigo. No caso da Ceia do Senhor, embora não comamos a sua carne fisicamente nem bebamos seu sangue, porque os elementos não são transubstanciados, contudo, ela não é uma ceia comum. Jesus está conosco, em espírito, mas da mesma forma que esteve com os discípulos. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até àquele dia em que o beba de novo convosco no reino de meu Pai - Mateus 26.29. De modo que é a bênção que ele pronunciou sobre os elementos a mesma que recebemos naquele momento.
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23º CAPÍTULO
A quem Interessam os Sacramentos
Reconhecemos e sustentamos que o batismo se aplica tanto aos filhos dos fiéis como aos fiéis adultos, dotados de discernimento, e assim condenamos o erro dos Anabatistas, que negam o batismo às crianças até que elas tenham compreensão e fé.1 Mas sustentamos que a Ceia do Senhor é somente para aqueles que pertencem à família da fé e podem examinar-se e provar-se a si mesmos, tanto em sua fé como no dever da fé para com o próximo. Os que sem fé ou permanecendo em dissensão com os seus irmãos comem e bebem naquela santa mesa comem indignamente.2 Esta a razão por que os pastores da nossa Igreja fazem exame público e particular, tanto no conhecimento como na conduta e na vida, daqueles que devem ser admitidos à Ceia do Senhor Jesus.
1. Cl. 2:11-12; Rm. 4:11; Gn. 17:10; Mt. 28:19.
2. 1Co. 11:28-29.
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Comentário: A grande discussão sobre o sacramento do batismo começa com a falta de compreensão sobre a Aliança de Deus com seu povo. Quem parte do Novo Testamento, como os históricos Anabatistas, terá mais dificuldade de compreender a Aliança, por esta começou com Abraão. De fato podemos recuar até ao Éden e depois caminhar até chegar em Abraão. Mas partamos da Aliança Abraâmica. Foi com Abraão que Deus firmou a Aliança e instituiu a circuncisão como selo da mesma. A partir de então a circuncisão passou a ser realizada em todas as crianças aos oito dias de vida, isso é em todos os filhos de Abraão. Se algum pagão professasse fé no Deus de Abraão então tal homem seria circuncidado adulto. Por isso não se fala de “circuncisão infantil”, porque, obviamente a circuncisão era feita como mandamento, ao oitavo dia após o nascimento. Quando houve a transição da Antiga para a Nova Aliança, todo derramamento de sangue foi abolido. O único sangue derramado foi o de Cristo e este é absolutamente suficiente. A circuncisão sangrenta foi substituída pelo batismo com água. Falar de batismo infantil é um pleonasmo, o mesmo que falar de circuncisão infantil. Tal expressão soaria estranho a um crente fiel da Antiga Aliança. O Santo batismo é obrigatoriamente para as crianças (filhos dos crentes) e eventualmente para adultos. Quando o Senhor Jesus enviou os discípulos entre os pagãos para anunciar o evangelho, deu ordens para que todos quantos cressem fossem batizados – Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do filho e do Espírito Santo - Mateus 28.19. Com respeito a Ceia do Senhor, o apóstolo nos dá orientação para que haja um exame antes de comermos do pão e bebermos do cálice. Isso é suficiente para compreendermos que uma criança, que ainda não tem idade para discernir entre a Santa Ceia e uma ceia comum, não deve participar da mesa do Senhor. Além disso uma criança não consegue compreender a pregação visível ali representada.
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24º CAPÍTULO
Do Magistrado Civil
Confessamos e reconhecemos que impérios, reinos, domínios e cidades foram diferenciados e ordenados por Deus; o poder e a autoridade neles – dos imperadores nos impérios, dos reis nos reinos, dos duques e príncipes em seus domínios, e dos outros magistrados nas cidades – são uma santa ordenança de Deus destinada à manifestação de sua própria glória e à singular utilidade do gênero humano.1 Por isso afirmamos que todos os que procuram levantar ou confundir todo o Estado do poder civil, já há muito estabelecido, não são apenas inimigos da humanidade, mas lutam impiamente contra a vontade manifesta de Deus.2
Além disso, confessamos e reconhecemos que todos os que foram colocados em autoridade devem ser amados,3 honrados, temidos e tidos na mais respeitosa estima, pois fazem as vezes de Deus, e em seus concílios o próprio Deus se assenta e julga.4 São eles os juízes e príncipes a quem Deus entregou a espada para o louvor e defesa dos bons e para justo castigo e vingança de todos os malfeitores.5 Além disso, afirmamos que a purificação e preservação da religião é, sobretudo e particularmente, dever de reis, príncipes, governantes e magistrados. Não foram eles ordenados por Deus apenas para o governo civil, mas também para manter a verdadeira religião e para suprimir toda idolatria e superstição. Pode-se ver isso em Davi,6 Josafá,7 Josias,8 Ezequias9 e outros altamente recomendados pelo seu singular zelo.
Por isso, confessamos e declaramos que todos quantos resistem à suprema autoridade, usurpando o que pertence ao ofício desta, resistem a essa ordenação de Deus e, portanto, não podem ser considerados inculpáveis diante dele. Afirmamos mais que, enquanto príncipes e governantes vigilantemente cumprirem sua função, quem quer que lhes recusar auxílio, conselho e assistência nega-o a Deus, que pela presença do seu lugar-tenente lhes solicita isso.
1. Rm. 13:1; Tt. 3:1; 1Pd. 2:13-14.
2. Rm. 13:2.
3. Rm. 13:7; 1Pd. 2:17.
4. Sl. 82:1.
5. 1Pd. 2:14.
6. 1Cr. 22-26.
7. 2Cr. 17:6, etc.; 19:8, etc.;
8. 2Cr. 29-31.
9. 2Cr. 34-35.
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Comentário: A questão da autoridade é da maior importância, porque toda autoridade provém de Deus e todas as autoridades delegadas por ele devem ser respeitadas para a glória de Deus e para o bem de todos. Nós, por natureza, somos rebeldes e não gostamos da ideia de sermos governados. Desde que a serpente sugeriu a liberdade e independência ao homem ele embriaga-se com esse conselho. Gostamos de nos sentir no controle da nossa vida, pois achamos que isso é liberdade, mas só desfrutamos da verdadeira liberdade quando nos dispomos a nos sujeitar e obedecer. Ninguém está fora da cadeia de autoridade que Deus estabeleceu em toda sua criação. Nenhuma criatura é autônoma e cada um de nós é colocado sob autoridades desde o nosso nascimento para aprendermos desde cedo que não somos uma ilha neste mundo. E a palavra de Deus afirma que toda autoridade é levantada e estabelecida por Deus - não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus - Romanos 13.1-b. Assim, tanto quem está em autoridade quanto quem está sob autoridade, todos devem saber é Deus quem os posiciona e estabelece. E a palava do Senhor nos ordena a submissão não apenas as autoridades que andam de acordo com a reta justiça, senão também aquelas que agem injustamente - sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus - 1a Pedro 2.18. Por que quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus - Romanos 13.2a. De forma que tanto o que manda quanto o que obedece, todos estão sob a fonte de toda a autoridade – o trono de Deus, pois é dali que emana o poder a autoridade absolutos. Quem resiste uma autoridade governante sofrerá as consequências temporais e poderá sofrer também a penalidade eterna. E quem abusa da posição de autoridade também terá que prestar contas, se não aqui, então no Dia do Juízo, quando estará diante do Grande Rei.
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25º CAPÍTULO
Os Dons Livremente Concedidos à Igreja
Embora a Palavra de Deus verdadeiramente pregada, os sacramentos corretamente administrados e a disciplina executada segundo a Palavra de Deus sejam sinais certos e incontestáveis da verdadeira Igreja, contudo nem por isso julgamos nós que toda pessoa, individualmente, nessa comunidade seja um membro escolhido de Jesus Cristo.1 Reconhecemos e confessamos que o joio pode ser semeado com o bom trigo, e joio e palha crescem em grande abundância no trigal, isto é, que réprobos podem se unir às congregações dos escolhidos e comungar com eles nos benefícios externos da Palavra e dos sacramentos. Mas, como eles só confessam a Deus por um pouco com seus lábios e não com seus corações, desviam-se e não continuam até o fim.2 Portanto, não participam dos frutos da morte, ressurreição e ascensão de Cristo.
Mas os que de coração creem, sem nenhuma simulação, e corajosamente confessam com seus lábios o Senhor Jesus, receberão esses dons com a mais absoluta certeza, como dissemos acima.3 Primeiramente, nesta vida terão a remissão dos pecados, e isso unicamente pela fé no sangue de Cristo; pois, apesar de o pecado permanecer e continuamente habitar nestes nossos corpos mortais, contudo ele não nos será imputado, mas será perdoado e coberto pela justiça de Cristo.4 Em segundo lugar, no Juízo Geral conceder-se-á a cada homem e mulher a ressurreição da carne.5 O mar devolverá os seus mortos e a terra aqueles que nela estão sepultados. Sim, o eterno Deus estenderá a sua mão sobre o pó da terra e os mortos ressurgirão incorruptíveis,6 e na substância da mesma carne que cada um agora tem,7 para receber, segundo as suas obras, ou a glória ou o castigo.8 Os que agora se deleitam na vaidade, na crueldade, na impureza, na superstição ou idolatria serão condenados ao fogo inextinguível, no qual em seus corpos e espíritos - os quais agora servem o Diabo cometendo toda abominação - eles serão atormentados para sempre. Mas os que continuam a fazer o bem até o fim confessando corajosamente o Senhor Jesus cremos firmemente que eles possuirão a glória, a honra e a imortalidade, para reinarem para sempre na vida eterna com Jesus Cristo,9 a cujo corpo glorificado todos os escolhidos se tornarão semelhantes,10 quando ele aparecer de novo no Juízo e entregar o Reino a Deus, seu Pai, o qual será então e para sempre permanecerá tudo em todas as coisas, Deus bendito para todo o sempre,11 a quem, com o Filho e o Espírito Santo seja toda honra e glória, agora e para sempre. Amém.
Levanta-te, ó Senhor, e sejam confundidos todos os teus inimigos; fujam da tua presença os que odeiam o teu divino Nome. Dá aos teus servos forças para proclamarem a tua Palavra com ousadia, e que todas as nações se apeguem ao verdadeiro conhecimento de ti. Amém.12
1. Mt. 13:24, etc.
2. Mt. 13:20-21.
3. Rm. 10:9,13.
4. Rm. 7; 2Co. 5:21.
5. Jo. 5:28-29.
6. Ap. 20:13.
7. Jó 19:25-27.
8. Mt. 25:31-46.
9. Ap. 14:10; Rm. 2:6-10.
10. Fp. 3:21.
11. 1Co. 15:24,28.
12. Nm. 10:35; Sl. 68:1; At. 4:29.
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Comentário: Uma das coisas que a Bíblia nos deixa bem claro é exatamente isso: onde estiver o verdadeiro aí estará indubitavelmente o falso. Podemos ver essa realidade desde Gênesis, quando dois adoradores ofereceram culto ao Senhor e lhe apresentaram suas ofertas; um era verdadeiro, outro falso; até o último livro da Bíblia quando vemos os próprios judeus trocando o Cordeiro pela Besta. Em Gênesis vemos a serpente enganando umas poucas pessoas, já em Apocalipse a antiga serpente se transformou num grande dragão que engana todo o mundo. No evangelho vemos os judeus rejeitando seu verdadeiro Rei celestial, e prestando honra ao rei de Roma: Não temos rei senão César. Entre os próprios discípulos do Senhor Jesus, dos doze um deles era falso, nas palavras de Jesus, um diabo. Desde que a Igreja começou em Jerusalém, entre os que iam sendo alcançados pelo evangelho vinham também os falsos convertidos, tanto dentre os judeus quanto dentre os gentios. O joio sempre esteve no meio do trigal de Deus e estará até a consumação do mundo. Eles só serão separados pelo Senhor definitivamente no Juízo Final. Aqui na terra é possível que santos e ímpios convivam juntos, trabalhem e estudem juntos, casem-se entre si, estejam na congregação juntos. Quando o Senhor Jesus voltar para julgar a Humanidade, então colocará cada um em devido lugar, definitivamente, eternamente. Satanás e todos os inimigos de Deus estarão na condenação eterna, enquanto que os crentes estarão com os santos anjos na glória eterna com Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Louvado seja para sempre. Amém.
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Nelson Nincao
Londrina - 2024
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