Confissão Belga Comentada

 

A Confissão Belga – Sua História


A Confissão Belga foi escrita numa época em que os reformados dos Países Baixos sofriam grande repressão e perseguição vindas da Espanha católico-romana, que governava aquela região da Europa naqueles dias. Também conhecida como Confessio Belgica ou Confissão da Valônia, a Confissão Belga herdou seu nome porque foi escrita no sul dos Países Baixos, atual Bélgica. Guido de Brès, pastor reformado, também conhecido como Guy de Bray, que viveu entre 1522 e 1567, foi quem a escreveu. Ele foi e auxiliado por Adrien de Savaria, H. Modetus e G. Wingen. Sua composição foi em parte inspirada pela Confissão das Igrejas Reformadas Francesas escrita por João Calvino e outros. A Confissão escrita por Brès se desvincula expressamente dos anabatistas, com os quais os reformados muitas vezes eram confundidos pelas autoridades romanistas. A Espanha governada por Felipe II imprimiu tão grande perseguição contra os protestantes, que excedeu em muito as perseguições até então feitas pela Igreja Católica Romana. Talvez essa perseguição tenha produzido mais mártires até mesmo do que o império romano nos primeiros séculos da Igreja. Guido de Brès estava entre eles, e selou o seu testemunho com o próprio sangue, no ano de 1567, aos 45 anos. A perseguição daqueles dias vinha tanto das autoridades civis quanto das religiosas. Como uma forma de protesto contra a perseguição e para demonstrar que os reformados não eram subversivos nem ofereciam quaisquer ameaças à boa ordem do reino, buscaram escrever uma exposição de suas doutrinas. Guido de Brès concluiu a Confissão em 1561. No ano seguinte a mesma foi enviada ao rei Felipe II, junto com uma carta onde os confessantes juravam fidelidade à Coroa em todas as coisas, mas que estavam prontos para "oferecer suas costas aos chicotes, suas línguas às facas, suas bocas para mordaças e seus corpos inteiros para o fogo", antes de negarem a verdade expressa na Confissão. O objetivo imediato de amainar a fúria dos perseguidores não foi alcançado. O próprio de Brès e centenas de outros crentes foram cruelmente assassinados, mas um dos mais valiosos documentos da Igreja Reformada estava escrito. Brès escreveu a Confissão em francês em 1561, ela foi traduzida para o holandês em 1562 e depois para o alemão em 1566. Em 1618-1619 foi realizado pela Igreja Reformada Holandesa, o Sínodo de Dort, em Dordrecht, Holanda. Foram 154 reuniões, desde 13 de novembro de 1618 até 9 de maio de 1619. Essa assembleia analisou, aprovou e reafirmou a Confissão escrita por Brès. Recebida entusiasticamente pelas igrejas reformadas dos Países Baixos, a Confissão foi adotada por sínodos reunidos em Antuérpia em 1566, Wesel em 1568 e Emden em 1571 tido como o Sínodo de Fundação da Igreja Reformada da Holanda. Foi adotada em definitivo pelo Sínodo Nacional de Dort, em 1618. Tornou-se um dos três padrões doutrinários dessa Igreja, ao lado do Catecismo de Heidelberg e dos Cânones de Dort, que compõem “As Três Formas de Unidade”.

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O Único Deus


Artigo 1: Todos nós cremos com o coração, e confessamos com a boca, que só existe um Deus, que é um Ser espiritual e simples; Ele é eterno, incompreensível, invisível, imutável, infinito, onipotente, perfeitamente sábio, justo, bom, e a fonte transbordante de todo bem.

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Comentário: Os crentes, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento são monoteístas, isto é, creem que Deus é um só. Confessamos com nossas palavras a fé que está em nossos corações no Deus único e verdadeiro. A Igreja do Antigo Testamento declarava essa fé dizendo: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” - Deuteronômio 6.4. Javé é o único Senhor e Deus. Assim começa o “Shemá”, que em Hebraico significa “Ouve!”. Essa era a grande confissão de fé do povo de Israel. Deus declarou ser único: “Pois não há outro Deus senão eu” - Isaías 45.21. No Novo Testamento o apóstolo Paulo confirma o ensino - “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” - 1ª Timóteo 2.5. Há um único Ser que é onipotente, onisciente, onipresente, onissapiente, eterno, infinito, invisível, imutável. Só Ele é perfeitíssimo, essencialmente justo e bom; Esse é Javé [YHWH]. Ele é o Criador de tudo quanto existe nos céus e na terra, das coisas visíveis e invisíveis. Onipotência, onipresença, onisciência, entre outros, são atributos incomunicáveis e o Criador não os compartilhou com nenhuma criatura. Portanto não há ninguém no céu que possa ouvir nossas orações, nem nos ver aqui na terra, nem nos proteger, nem nos guiar. Só o Pai, o Filho e o Espírito Santo – o Trino Deus. Ele é um ser espiritual e ordenou que o adorássemos dessa forma – “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” - João 4.24. Na Antiga Aliança a adoração era mais exterior e física, já na Nova Aliança é mais interior e em espírito. Na era cristã a adoração não é mais através dos tipos e figuras, mas da realidade em Cristo, pois Ele é o cumprimento de todas aquelas coisas que eram sombras da realidade. Mas Deus é mais: é eterno, sem começo e sem fim, atemporal – está fora do tempo. É infinito, tanto em grandeza quanto em existência; toda a criação é finita, mas o Criador é infinito. Ele é incompreensível a nós, assim, tudo quanto quer que entendamos sobre Si, precisa nos revelar. Ele é invisível e não pode ser visto pelo homem, por isso pessoas que dizem terem visto Deus estão equivocadas; hoje Deus não fala mais audivelmente, mas através da sua Palavra escrita. Ele é imutável, se o homem servi-lo ou não servi-lo nada acrescenta a Deus e nem lhe diminui – Ele é completo, autossuficiente, perfeito e invariável. Ele sustenta, mantém, controla, governa, dirige toda criação e toda criatura, na terra e nos céus. Deus age como, quando e onde quer. Ele abriu o Mar Vermelho, parou o Rio Jordão, fez o Sol e a Lua pararem e a sombra projetada no relógio [de sol] de Acaz, voltar atrás. Mas age independente, ninguém diz o que Ele deve fazer. Ele é onissapiente, isto é, tem a perfeita e total sabedoria, de modo que é impossível Deus errar, equivocar-se ou cometer injustiça. Tudo o que nos acontece é decretado e governado pelo Senhor Deus. Se Ele não faz diferente do que supomos que deveria, é porque não deseja e porque assim é melhor. Ele é justo, e a maior demonstração da sua justiça foi levar o próprio Filho ao sacrifício em favor dos eleitos que não podiam ser salvos de outra forma. A cruz deu prova da elevada justiça de Deus, que só poderia ser satisfeita por Ele próprio, e também do seu amor eterno. Ele é essencialmente bom, uma fonte abundante de verdade e de todo bem. Esse Ser maravilhoso é o único objeto da nossa adoração, juntamente com o Filho e o Espírito Santo. Amém.

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Como Deus se faz conhecido a nós


Artigo 2: Nós O conhecemos por dois meios:

Primeiro, pela criação, preservação e governo do universo, exposto aos nossos olhos como o mais magnífico dos livros, no qual todas as criaturas, grandes e pequenas, são como as muitas letras que nos levam a reconhecer claramente os “atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como a sua divindade”, como nos diz o apóstolo Paulo em Romanos 1:20. Todas essas coisas são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis.

Segundo, Ele se faz mais clara e plenamente conhecido através da Sua Santa e Divina Palavra - tanto quanto para nós é necessário nesta vida - para a Sua glória e nossa salvação.

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Comentário: Deus criou os céus e a terra e tudo o neles se contêm para mostrar seu poder e sua glória e majestade. Ele salva os eleitos para mostrar sua graça e misericórdia; condenará os ímpios e infiéis para mostrar sua reta justiça e ira santa. Assim em todas as coisas Deus será glorificado. O esplendor e a absoluta perfeição da criação deixam o homem sem desculpa por não buscar o seu Criador. Ainda que não haja na natureza palavras audíveis, há, contudo uma proclamação e um anúncio - “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos... Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz... e as suas palavras até ao fim do mundo” - Salmo 19.1,3,4. Portanto os homens são inescusáveis mesmo aqueles que nunca tenham ouvido uma pregação audível - “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” - Romanos 1.19-20. Mas, além disso, Deus nos deu também a sua Palavra escrita, a Bíblia Sagrada. Neste livro santo Ele se revela de maneira muito mais clara. O escritor sagrado continua dizendo no salmo 19: “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro, e ilumina os olhos” - versículos 7 e 8. Ele diz que a exposição da Palavra de Deus traz luz ao nosso entendimento, dissipando as trevas do pecado. Deus mesmo autentica o que os profetas e apóstolos escreveram, dizendo ser ele o escritor: “Escrevi para eles as grandezas da minha lei; mas isso é para eles como coisa estranha” - Oséias 8.12. O apóstolo Paulo ensina que os salvos chegam ao pleno conhecimento de Deus pela pregação da Palavra: “a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” - 1ª Coríntios 1.18-21. Deus decretou a salvação dos eleitos e decretou também que eles seriam chamados e salvos ouvindo a sua Palavra, pela pregação. É assim que a Igreja deve chamar os eleitos de Deus - pregando a sua Palavra. Apesar da queda da humanidade e dos nossos muitos pecados, todavia Deus não abandonou a humanidade, mas oferece muitas oportunidades para que o homem o busque e volte-se para Ele. Todas as ovelhas do Senhor ouvirão a sua voz e o atenderão.

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A Palavra de Deus


Artigo 3: Confessamos que a Palavra de Deus não foi enviada nem produzida pela “vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo”, como afirma o apóstolo Pedro em 2ª Pedro 1:21. Após isso, Deus, em seu especial cuidado por nós e nossa salvação, ordenou que os profetas e os apóstolos, Seus servos, registrassem por escrito a Sua Palavra revelada, tendo Ele mesmo escrito com os próprios dedos as duas tábuas da lei. É por isso que chamamos esses escritos de Sagradas e Divinas Escrituras.

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Comentário: Nenhuma profecia bíblica veio do próprio homem que falou, mas os profetas foram apenas mensageiros e portadores da Palavra de Deus. Um dia o próprio Deus veio à terra e falou com seu povo - Moisés foi o mediador. Naquela ocasião, Deus não apenas falou, mas também Ele mesmo escreveu suas Palavras em tábuas de pedra - “E o Senhor me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus; e nelas estava escrito conforme a todas aquelas palavras que o Senhor tinha falado convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembleia” - Deuteronômio 9.10. Depois disso Ele escolheu, inspirou e usou homens como os profetas e apóstolos para escreverem e registrarem sua Palavra - “Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro… Escreve as coisas que tens visto” - Apocalipse 1.11,19. Por isso cremos na inspiração plenária das Escrituras - “Toda a Escritura é divinamente inspirada” - 2ª Timóteo 3.16. Assim os homens que Deus chamou para essa tarefa escreveram tudo. Não há mais nada a ser acrescentado ao que está escrito. O romanismo ensina que o seu Papa pode falar inspirado ainda hoje; que quando ele faz uma declaração oficial da sua cadeira (ex cathedra) isso equivale aos escritos bíblicos, igualmente infalível. Isso é muito conveniente para eles, mas é totalmente falso. O apóstolo Pedro disse que os homens de Deus “falaram” - no passado - portanto ninguém mais fala dessa forma hoje. Tudo quanto Deus queria falar para revelar-se a si mesmo e sua salvação, já falou. Hoje a Igreja deve apenas pregar e pregar apenas o que está escrito. A revelação já está completa. O escritor sagrado da carta aos Hebreus também diz que Deus “falou”, passado. Isto tanto pelos profetas quanto pelo Seu Filho, que é a suma da profecia, e depois dele não há mais profeta. Os profetas são comparados as estrelas, brilharam a seu tempo, mas no fim veio o Sol da justiça e confirmou tudo quanto os profetas falaram, e nele encerrou o ministério profético - “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” - Hebreus 1.1. A Bíblia é o livro da Aliança, do povo do Pacto. Ela não foi escrita para o mundo, mas para o povo de Deus - “Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel” - Êxodo 34.27. Nela Deus diz o que a Igreja deve pregar ao mundo. Todos quantos respondem o chamado do evangelho e vêm à Cristo têm o privilégio de usufruir de todas as bênçãos da Aliança, juntamente, é claro, com suas obrigações. Mas Deus não revela os mistérios do reino aos de fora, senão somente apenas aos filhos da Aliança - “Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado” - Mateus 13.11.

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Os livros canônicos


Artigo 4: Cremos que as Sagradas Escrituras constituem-se de duas partes: O Antigo e o Novo Testamentos, que são canônicos, e contra os quais nada se pode pretextar. Esta é a relação dos livros reconhecidos pela Igreja de Deus:

Os livros do Antigo Testamento são:


. Cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio;

. Doze livros históricos: Josué, Juízes, Rute, 1º e 2º Samuel, 1º e 2º Reis, 1º e 2º Crônicas, Esdras, Neemias, Ester;

. Cinco livros poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cânticos de Salomão;

. Quatro profetas maiores: Isaías, Jeremias (e Lamentações), Ezequiel e Daniel;

. Doze profetas menores: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.


Os livros do Novo Testamento são:


. Quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João;

. Os Atos dos Apóstolos;

. Treze cartas do apóstolo Paulo: Romanos, 1ª e 2ª Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1ª e 2ª Tessalonicenses, 1ª e 2ª Timóteo, Tito, Filemon;

. A carta aos Hebreus;

. As outras sete cartas: Tiago, 1ª e 2ª Pedro, 1ª, 2ª e 3ª João e Judas;

. A revelação do apóstolo João: Apocalipse.

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Comentário: ‘Livros canônicos’ significa os livros que compõem o Cânone Sagrado, únicos considerados e aceitos pela Igreja como inspirados pelo Espírito Santo. Eles são 66 livros ao todo, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo. Esses livros foram escritos durante um período de aproximadamente 1600 anos. Ao todo foram entre 36 e 39 diferentes autores, como legisladores, juízes, reis, agricultores, pescadores, médico, funcionário do governo, teólogo, apóstolos, profetas, mestres, sábios, doutos e indoutos, escreveram em vários gêneros literários, nos mais diferentes lugares, sob as mais diferentes circunstâncias. Um pastor de ovelhas fugitivo no deserto, um grande rei sentado em seu trono, um profeta no cativeiro, outro perseguido, um apóstolo na prisão outro exilado numa ilha, e assim por diante, todos sob a inspiração do Espírito Santo, escreveram os 66 livros que compõem a Bíblia Sagrada. Sem qualquer contradição ou informação desencontrada, a Bíblia contém uma sequência lógica e cronológica, e os fatos nela narrados podem ser comprovados por outros autores e escritos seculares, e também pela verdadeira ciência, em especial a arqueologia. Por ser um livro verdadeiro e divino ela não esconde as falhas pessoais de seus personagens, nem de seus autores, mas expõe o pecador exatamente como ele é, sendo esta outra grande evidência que esse é o livro de Deus. A única pessoa que atravessou pelas páginas sagradas sem deixar qualquer sombra de erro foi o Senhor Jesus. Ela contém todo o Conselho de Deus para nós. Deus se revela nessas palavras inspiradas. Cremos na absoluta suficiência da Bíblia, isto é, não precisamos de nenhum outro livro, de nenhuma outra fonte ou base para a nossa fé e doutrina. Cremos na sua inspiração plenária, isto é, toda a Bíblia é inspirada de uma a outra capa. Cremos na sua inspiração é verbal, isto é toda a Bíblia é inspirada palavra por palavra, e não apenas os pensamentos principais. Assim, a Bíblia é um livro único e ímpar; é a verdadeira Palavra de Deus, por isso, “Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente” - Isaías 40.8.

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A autoridade da Sagrada Escritura


Artigo 5: Recebemos todos estes livros - e só eles - como sagrados e canônicos, para regular, fundamentar e confirmar nossa fé. Cremos, sem dúvida nenhuma, em todas as coisas contidas neles, não tanto porque a Igreja assim os recebe e aprova, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em nosso coração que eles vêm de Deus, como eles mesmos provam; pois até os cegos podem perceber que as coisas preditas neles estão a se cumprir.

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Comentário: O apóstolo Paulo escreveu inspirado pelo Espírito Santo de Deus e ele próprio testificou que escreveu o que recebeu de Deus - “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” - Gálatas 1.11-12. E o apóstolo Pedro, que também escreveu sob inspiração divina, confirmou os escritos de Paulo como ‘Escrituras’ – “Falando (Paulo) disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” - 2ª Pedro 3.16. Escrevendo outra epístola, Paulo disse que a palavra não era sua mas de Deus que o inspirava - “Por isso ... damos ... graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra ... a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus” - 1ª Tessalonicenses 2.13). Recebemos tudo da Bíblia como Palavra de Deus. Ela contém todo o Conselho de Deus para a nossa salvação e nossa vida neste mundo. É o livro da lei, dos princípios, dos conselhos, das profecias, das promessas; ela cobre a história do tempo, que é uma ponte entre as duas eternidades – criação, queda, redenção. Tudo quanto os profetas de Deus anunciaram desde o princípio cumpriu-se, essa é a marca divina nas profecias bíblicas - “E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o Senhor não falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele” - Deuteronômio 18.21-22. Os falsos profetas do paganismo fizeram prognósticos e previsões, mas os profetas de Deus declararam o futuro - “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade” - Isaías 46.9-10. Todas as profecias passadas se cumpriram, portanto podemos esperar confiantemente que tudo quanto ainda está para se cumprir, certamente se cumprirá. Um dia haverá novos céus e nova terra, onde habita a justiça. Um lugar sem pecado e sem a opção de pecar, para sempre - “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão; Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” - Isaías 65.17; 2ª Pedro 3.13. A Bíblia é o livro da Aliança. Ela foi entregue a Igreja que deve proclamá-la a tempo e fora de tempo, chamando os homens ao arrependimento e sujeição ao Senhor Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores.

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A diferença entre os livros canônicos e os apócrifos


Artigo 6: Distinguimos esses livros sagrados dos apócrifos que são os seguintes: III e IV Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os acréscimos ao livro de Ester e Daniel (o Cântico de Azarias na fornalha, o Cântico dos três jovens na fornalha, a Estória de Suzana, Bel e o Dragão), a Oração de Manassés, e I e II Macabeus.

A Igreja pode ler e tirar deles instrução até onde concordem com os livros canônicos. Mas não têm nenhum poder nem autoridade que possam confirmar pelo seu testemunho qualquer artigo da fé ou da religião cristã; muito menos podem diminuir a autoridade dos livros sagrados.

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Comentário: Como os Cânones foram formados? Primeiro o próprio Deus escreveu as tábuas da lei e veio trazê-las pessoalmente ao seu povo no Sinai. Depois Moisés escreveu os cinco livros que compõem o Pentateuco e expandem os Dez Mandamentos. Mais tarde escreveram Samuel, Davi, Salomão, os profetas reconhecidos pelo povo de Deus. Conforme os livros foram sendo escritos, ao longo dos séculos, o povo de Deus os foi agrupando. Todos os escritos de Moisés, os Salmos, e os Profetas foram sendo copiados e duplicados por escribas fiéis. Assim se foi formando o Cânone Sagrado do Antigo Testamento, cuja autoridade foi testificada várias vezes pelo próprio Senhor Jesus, numa delas disse: “São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos Profetas e nos Salmos” - Lucas 24.44. Por isso os livros supracitados pela Confissão Belga em seu artigo 6 são considerados apócrifos, não inspirados e não fazem parte do Cânone do Antigo Testamento, porque não foram reconhecidos pelo povo de Deus. A composição do Cânone do Novo Testamento foi igual ao do Antigo. Ele foi sendo composto ao longo dos primeiros séculos do cristianismo, sendo todos os livros de autoria apostólica e homens que conheceram e conviveram com o Senhor Jesus, com exceção de Paulo e Lucas. O apóstolo Pedro disse: “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido. E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo” - 2ª Pedro 1.16-18; o apóstolo João afirmou: “O Que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida ( Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada ); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco” - 1ª João 1.1-3. O apóstolo Paulo deu muitas provas de que viu a Cristo ressuscitado que lhe conferiu pessoalmente a missão apostólica - “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” - Gálatas 1.11-12. O evangelho que Paulo ensinava não diferia em nada do ensinado pelos outros apóstolos que conviveram com Jesus; “esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram” - Gálatas 2.6. A partir do segundo século já circulavam os livros que hoje temos no Novo Testamento, com exceção talvez de alguns, como Hebreus, Tiago, 2ª Pedro, 2ª e 3ª João e Apocalipse, que demoraram um pouco mais de tempo para receber a aprovação geral da Igreja. Mas em 367dC, Atanásio escreveu a primeira lista com todos os 27 livros que completaram o Cânone Sagrado do Novo Testamento, que foi aprovado pelo Sínodo de Hipona em 393dC. Qualquer outro livro que não pertença a esta lista dos 66 deve ser considerado apócrifo, sem qualquer autoridade espiritual.

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A Suficiência das Sagradas Escrituras


Artigo 7: Cremos que as Sagradas Escrituras contêm perfeitamente a vontade de Deus e que ensina suficientemente tudo aquilo que o homem precisa saber para ser salvo. Nela está detalhado e escrito cabalmente o modo de adoração que Deus exige de nós. Por isso, não é lícito aos homens, mesmo se fossem apóstolos, nada ensinar que seja diferente daquilo que nos ensinam as Sagradas Escrituras, sim, nem que seja “um anjo vindo do céu”, como afirma o apóstolo Paulo (Gálatas 1.8). A proibição de acrescentar ou retirar qualquer coisa da Palavra de Deus (Deuteronômio 12.32; Apocalipse 22:18,19) é evidência que a doutrina nela contida é perfeitíssima e completíssima em todos os sentidos.

Não nos é permitido considerar quaisquer escritos de homens, por mais santos que estes tenham sido, como de igual valor ao das Escrituras Divinas; nem devemos considerar que costumes, maiorias, antiguidade, sucessão de tempos de pessoas, concílios, decretos ou estatutos tenham o mesmo valor da verdade de Deus, porque a verdade está acima de tudo. Pois todos os homens são, em si mesmos, mentirosos e “mais leves que a vaidade” (Salmo 62.9).

Por isso, rejeitamos de todo o coração tudo aquilo que discorde desta regra infalível, conforme nos ensinou o apóstolo: “provai os espíritos se procedem de Deus” (1a João 4,21), e também: “Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas vindas” (2a João 1.10).

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Comentário: Esta insistência da Confissão em defesa das Escrituras revela a preocupação dos reformadores em apresentar a Bíblia como a única regra de fé e prática da Igreja de Cristo, e também desmente a acusação de muitos contra os reformados, de fazerem uso de outros escritos além da Bíblia. A própria Confissão declara que nada deve ser colocado junto às Escrituras em pé de igualdade. O fato de estudarmos as Confissões e recitarmos os Credos, de modo algum, significa que consideramos esses documentos iguais à Santa Palavra de Deus. Qualquer acréscimo feito ao que já está escrito no Cânone Sagrado deve ser considerado maldito - “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” - Gálatas 1.8. A Bíblia é “divinamente inspirada”, e portanto, perfeita e suficientemente “proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”, assim o homem não necessita buscar em outra fonte recursos para que “seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” - 2ª Timóteo 3.16-17. A Bíblia é absoluta, portanto a Igreja e seus ministros devem ater-se apenas ao que está neste Livro Sagrado, pois qualquer desvio aqui é fatal - “A lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” - Isaías 8.20. Qualquer coisa fora do que foi escrito pelos autores sagrados é trevas. Portanto ninguém vá “além do que está escrito” - 1ª Coríntios 4.6. O apóstolo Paulo disse também que tudo quanto falou recebeu por revelação e confirmou tudo quanto já estava escrito anteriormente – “Mas, alcançando socorro de Deus, ainda até ao dia de hoje permaneço dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer” - Atos 26.22. A orientação apostólica com relação aos falsos mensageiros é: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis” - 2ª João 10. Os crentes maduros devem julgar tudo quanto ouvem, veem ou leem, devem avaliar e considerar se provêm de Deus – “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” - 1ª João 4.1. Provar, julgar, não é proibido e nem mesmo uma sugestão, mas é mandamento apostólico – “Examinai tudo” - 1ª Tessalonicenses 5.21. E nosso padrão seguro são as Escrituras Sagradas que a Igreja apostólica mantém desde o princípio.

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A Santíssima Trindade: Deus é um em essência, contudo distinto em Três Pessoas


Artigo 8: De acordo com essa verdade e a Palavra de Deus, cremos em um só Deus, uno na essência, em quem há três Pessoas distintas – de modo real, verdadeiro e eterno – conforme os seus atributos incomunicáveis: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. O Pai é a causa, a origem e o princípio de todas as coisas, visíveis e invisíveis. O Filho é a Palavra, a sabedoria e a imagem do Pai. O Espírito Santo é a força e o poder eternos que procede do Pai e do Filho. Deus, contudo, não está dividido em três, pois as Sagradas Escrituras nos ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cada um, tem sua existência pessoal distinta por seus atributos, mas de tal modo que as três Pessoas são apenas um único Deus.

É evidente, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; e também que o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. Todavia, essas Pessoas distintas não estão divididas nem misturadas entre si; pois o Pai não assumiu a nossa carne e sangue, nem também o Espírito Santo, mas somente o Filho. O Pai jamais existiu sem seu Filho ou sem seu Espírito Santo, pois os três, em uma única e mesma essência, são iguais em eternidade. Não há primeiro nem último, pois todos os três são um em verdade, poder, bondade e misericórdia.

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Comentário: Nem mesmo os anjos eleitos, que são criaturas celestiais e estão na presença do majestoso Deus, podem entender tudo do Criador, porque nenhuma criatura o pode. E se tais anjos não o podem muito menos nós que somos criaturas terrenas e ainda caídas. O fato é que Deus é muito, muito grande, infinito, eterno, perfeitíssimo, assim jamais uma mente finita, terrena, corrompida e danificada pelo pecado poderá compreender seus mistérios. A Trindade em Unidade é um dos grandes mistérios de Deus, é um maravilhoso mistério. O próprio Senhor Jesus Cristo disse que Ele e o Pai são um só; um mas não a mesma Pessoa - “Eu e o Pai somos um” - João 10.30. Disse ser a expressão do Pai - “Quem me vê a mim vê o Pai” - João 14.9. O Senhor Jesus afirmou ser onipotente quando disse que tinha todo o poder no céu e na terra - “Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra” - Mateus 28.18; revelou-se onipresente quando prometeu estar com todos e com cada um de seus discípulos até o fim dos tempos - “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” - Mateus 28.20; e ainda mais, que mesmo estando aqui na terra, também estava no céu - “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” - João 3.13. Ele disse ainda ser onisciente quando ensinou os discípulos a orarem a Ele - “E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” - João 14.13-14. Apenas um ser onisciente pode ouvir e receber orações. Conclusão: o único Ser que tem esses três atributos é Deus, então Jesus disse ser Deus. No entanto, mesmo Jesus sendo Deus e seu Pai sendo Deus, e também o Espírito Santo sendo Deus, são um só, o mesmo e o único Deus. Muitos supõem que Jesus é um bom mestre, ou um grande homem, ou um grande profeta. Mas se fosse apenas isso não poderia reivindicar ser Deus, pois seria uma reivindicação falsa. E afirmar que um homem é bom quando esse mesmo homem reivindicou ser Deus é falta de compreensão. Qualquer mero homem, por grande que seja, reivindicar ser Deus não é um homem bom, e está fora de si. O Senhor Jesus que disse ser Deus, porque de fato era, e é, e será Deus para sempre. A terceira Pessoa que compõe a Trindade, o Espírito Santo, nos é apresentado como Criador: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” - Gênesis 1.2, como uma Pessoa: “Quem guiou o Espírito do Senhor, ou como seu conselheiro o ensinou?” - Isaías 40.13; “contristaram o seu Espírito Santo; por isso se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles” - Isaías 63.10, e como Deus: “...para que mentisses ao Espírito Santo... não mentiste aos homens, mas a Deus” - Atos 5.3-4. Somos monoteístas, porém trinitarianos, cremos que Deus é um, porém três Pessoas distintas. Não precisamos e nem queremos entender o Deus Trino, apenas o adoramos.

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O Testemunho da Escritura sobre a Trindade


Artigo 9: Tudo isso sabemos tanto pelo testemunho das Sagradas Escrituras quanto pelas obras de cada uma das três Pessoas, e, especialmente, por aquelas obras que percebemos em nós mesmos. Os testemunhos da Escritura que nos ensinam a crer na Trindade Santa estão registrados em muitos lugares no Antigo Testamento. Não é necessário citá-los todos; basta selecionar criteriosamente alguns deles.

No livro de Gênesis 1.26-27, Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança… Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou”. Assim também em Gênesis 3.22: “Eis que o homem se tornou à nossa imagem como um de nós”. Quando Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, evidencia-se que existe mais do que uma Pessoa Divina; e, ao dizer: “Criou Deus”, demonstra-se que só existe um único Deus. É verdade que não se diz quantas pessoas são, mas aquilo que no Antigo Testamento parece um tanto obscuro, no Novo Testamento fica totalmente claro. Pois quando o nosso Senhor foi batizado no Rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai que disse: “Este é o meu Filho amado” – Mateus 3.17, enquanto o Filho foi visto na água e o Espírito Santo desceu sobre ele na forma corpórea de uma pomba. Além disso, Cristo prescreveu a seguinte fórmula para o batismo de todos os crentes: “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” – Mateus 28.19. no evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel assim diz a Maria, má do nosso Senhor: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” – Lucas 1.35. E, de modo semelhante: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” - 2a Coríntios 13.14. Em todas essas referências, somos amplamente ensinados que existem três Pessoas em uma única essência.

Embora tal doutrina ultrapasse o entendimento humano, na vida presente cremos nela alicerçados na Palavra de Deus, e esperamos usufruir de seu pleno conhecimento e fruto no céu porvir.

Temos, acima de tudo, que observar os ofícios e as obras distintos dessas três Pessoas para conosco. O Pai é chamado nosso Criador, por seu poder; o Filho, nosso Salvador e Redentor, por seu sangue; o Espírito Santo, nosso Santificador, porque habita em nosso coração. A doutrina da Santa Trindade tem sempre sido mantida na verdadeira Igreja, dos dias apostólicos até o presente, contra os judeus, os muçulmanos, e contra os falsos cristãos e os hereges como Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário, e outros que foram condenados pelos pais ortodoxos. Quanto a essa doutrina, portanto, aceitamos de boa vontade os três credos: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano; bem como o que os pais antigos estabeleceram em concordância com esses credos.

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Comentário: Ainda que a Bíblia não use os termos trindade, triunidade, trino ou triúno, contudo nos dá provas suficientes e contundentes dessa realidade. São muitas passagens, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que testificam o fato do Deus verdadeiro ser um só e, no entanto três Pessoas. Jesus disse ser o Deus Filho - “Àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?” - João 10.36, e disse também que quando subisse ao céu, retornando ao Pai, enviaria outro Consolador que ficaria em seu lugar aqui na terra para sempre, esse Consolador é a terceira Pessoa da Trindade Divina - “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” - João 14.16-17. O apóstolo Paulo fala sobre o Deus Pai, e o seu Filho e o Espírito Santo - “Mas quando apareceu a benignidade e amor de Deus, nosso Salvador, para com os homens, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” -Tito 3.4-6. Pedro também falou algo assim: “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas” - 1ª Pedro 1.2. E ainda Judas também apresenta a Trindade Santa dizendo: “Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos a vós mesmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna” - Judas 1.20-21. Depois foi João quem testemunhou sobre o Deus Triúno: “Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que nos deu do seu Espírito. E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” - 1ª João 4.13-14. Temos muitos outros textos bíblicos que testemunham do Deus Pai, do Deus Filho e do Deus Espírito Santo, atribuindo a cada um deles divindade e aos três unidade. Cada um deles é revelado nas Escrituras com os mesmos atributos gloriosos. Assim cremos que o verdadeiro Deus é um só em três Pessoas, três Pessoas num só Deus.

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Jesus Cristo: eterno e verdadeiro Deus


Artigo 10: Cremos que Jesus Cristo é, segundo sua natureza divina, o Filho Unigênito de Deus, gerado desde a eternidade, não feito nem criado – senão seria uma criatura -, mas é da mesma substância e coeterno com o Pai, “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hebreus 1:3), e, em tudo, igual a Ele.

Ele é o Filho de Deus não somente desde que assumiu a nossa natureza, mas desde a eternidade, conforme nos ensina a comparação dos seguintes testemunhos: Moisés afirma que Deus criou o mundo; o apóstolo João diz que tudo foi criado pelo do Verbo, o qual chama Deus. A Carta aos Hebreus diz que Deus criou o mundo por meio do seu Filho; igualmente o apóstolo Paulo afirma que Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo. Portanto, conclui-se necessariamente que aquele a quem chamam de Deus, de Verbo, de Filho e de Jesus Cristo, existia de fato já no tempo em que todas as coisas foram criadas por Ele. Por isso é que ele pôde dizer: “Em verdade, em verdade vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou” (João 8.58); e pôde orar: “Glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17.5). Logo, ele é o Deus verdadeiro e eterno, o onipotente a quem invocamos, adoramos e servimos.

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Comentário: É muito fácil comprovar a divindade de Jesus Cristo pelas Escrituras, basta conferir as profecias messiânicas no Antigo Testamento, todas cumpridas em Jesus de Nazaré, depois ler com atenção os evangelhos e constatar esse fato maravilhoso. Além disso, temos o testemunho do Espírito Santo que o comprova, bem como todos os escritos apostólicos. Embora o Senhor Jesus não ficasse proclamando: “Eu Sou Deus”, como gostam de fazer muitos falsos profetas, todavia Ele fez coisas e falou palavras que claramente indicam sua majestade e divindade. Nenhum homem poderia dizer: “… antes que Abraão existisse, Eu Sou” - João 8.58, mas só alguém que é eterno. Nenhum mortal diria ter poder sobre a morte, Jesus o fez: “... dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” - João 10.17-18. Pouco mais adiante Ele diz: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá” - João 11.25-26. Só alguém que tem a imortalidade poderia fazer tal afirmação. Mas Ele disse mais: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida” - João 14.6), não disse ter, mas ser a verdade - e só Deus é a verdade absoluta. Na mesma frase, bem como na referência anterior, disse também ser a vida. Qual criatura poderia dizer isso? Toda criatura, por mais gloriosa que seja recebeu vida, mas Jesus disse ser a vida e poder conceder vida - Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o filho vivifica aquele que quer… Porque, como o Pai tem a vida em si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo” – João 5.21, 26. Outra vez estando aqui na terra, Jesus disse estar simultaneamente no céu - “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” - João 3.13, assim afirmou sua onipresença, e ninguém tem onipresença senão o próprio Deus; e o mesmo Ele disse em relação a sua onipotência: É-me todo o poder no céu e na terra” - Mateus 28.18; e revelou também seu atributo da onisciência, por exemplo quando disse a Natanael: “Antes que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira” - João 1.48. Mas a maior revelação que Ele fez foi quando afirmou ser a expressão e imagem do Pai: “Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto... Quem me vê a mim vê o Pai... Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras” - João 14.7-10. E ainda Jesus recebeu adoração, o que nenhuma criatura temente a Deus aceitaria, pois a adoração é devida apenas, unicamente, tão somente a Deus. Contudo, Ele aceitou adoração: “E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!” - João 20.28. E também a mulher siro fenícia, o príncipe Jairo, o homem gadareno, a mulher curada do fluxo, um dos dez leprosos curados, e muitos outros prostraram-se aos pés de Jesus e Ele não os repreendeu por isso. Se Ele não fosse Deus não poderia aceitar essa adoração. Quando João quis adorar o anjo que falava com ele e o anjo o reprovou: “E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus.... E disse-me: Olha, não faças tal; porque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” - Apocalipse 19.10 e 22.9. Poderíamos trazer muitos outros textos afirmando que Jesus é Deus. Sim, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é Deus, juntamente com o Pai e o Espírito Santo.

Além de todas as coisas que Jesus fez e falou que indicam e comprovam sua divindade, e o testemunho dos apóstolos que conviveram com Ele, podemos acrescentar, a maneira como o Verbo Eterno invadiu o tempo. Jesus Cristo de Nazaré foi o único homem que nasceu de uma mulher virgem. Um anjo disse a jovem Maria que ela conceberia do Espírito Santo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” - Lucas 1.35. E assim foi, quando Maria de Nazaré se deu conta já estava grávida. Dessa concepção sobrenatural nasceu o Ungido que se fez carne, o próprio Criador vestido de criatura – Emanuel, Jesus Cristo. Também quando Jesus foi suspenso na cruz no monte Calvário, a criação manifestou-se de forma impressionante. Primeiro a terra escureceu-se - “E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona” - Mateus 27.45, como que representando as trevas espirituais da humanidade que cometia a maior injustiça, o maior equívoco, crime e traição de toda a história do tempo. Era como se o sol se escondesse protegendo Aquele que havia sido exposto à maior vergonha: martirizado nu sobre um horrível instrumento de suplício, pois os homens não se contentaram apenas em matar Jesus, senão também em o humilhar e lhe infligir terríveis torturas. O escritor sagrado diz também que “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” - versículo 51, confirmando: 1) que aquele seria o último sacrifício realizado pelos pecados, pois Jesus era o Cordeiro prometido, o próprio Deus o entregou e ele se ofereceu a si próprio como sacrifício; 2) que Deus se mudaria daquele templo para habitar um novo templo - a Igreja; 3) que a era mosaica-judaica havia se encerrado e iniciava-se uma nova era numa nova manifestação da Aliança eterna; 4) que iniciava-se a era do sacerdócio universal dos filhos de Deus, encerrando a antiga era do sacerdócio levítico; 5) que Cristo abriu um novo caminho para chegarmos a presença de Deus; 6) que a aliança do Sinai era passada dando lugar a aliança de Sião; 7) que o tempo da Jerusalém terrena havia passado dando lugar à Jerusalém celestial; 8) que agora o povo de Deus não entraria mais num tabernáculo terreno, que era uma figura do verdadeiro, mas que entrava no verdadeiro tabernáculo, o celestial, onde Jesus entrou primeiro; 9) que o antigo concerto do Cristo velado havia passado dando lugar ao novo do Cristo revelado; 10) que a era dos tipos, das sombras e figuras dava lugar à era da essência, do corpo, da realidade. O evangelista continuou narrando: “tremeu a terra, e fenderam-se as pedras” - versículo 51 - não apenas o sol ocultou-se mas também a terra tremeu, tão violentamente que até as rochas foram partidas ao meio, como que desejando lançar fora aqueles que cometiam tamanha maldade, e revelando que Aquele que estava sendo sacrificado não era um homem comum, mas era alguém soberano e todo-poderoso. A última parte da narrativa revela algo ainda mais maravilhoso: “E abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados; E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos” – versículos 52 e 53. Jesus afirmara ser a ressurreição e a vida, agora dava prova de seu divino poder de dar vida a quem quer. Misteriosamente muitos santos saíram de suas catacumbas e foram visitar seus familiares e depois subiram com Jesus ao céu. Sim, tais fatos comprovam e certificam que Jesus Cristo é Deus.

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O Espírito Santo: eterno e verdadeiro Deus


Artigo 11: Cremos e confessamos também que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado, nem gerado; pode-se afirmar apenas que ele procede de ambos. Ele é, pela ordem, a Terceira Pessoa da Trindade, de igual substância majestade e glória com o Pai e o Filho, verdadeiro e eterno Deus, conforme nos ensinam as Sagradas Escrituras.

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Comentário: O Espírito Santo é o Terceiro na composição da Santíssima Trindade. Composição é uma linguagem humana e o dizemos com toda reverência. E terceiro não significa em ordem de importância nem hierarquia mas de função; Ele é um com o Pai e com o Filho. Cada uma das Sagradas Pessoas representam a Trindade, onde está um deles estão os Três. Eles têm funções diferentes mas são Um só; estão juntos e unidos indivisivelmente. Quando adoramos o verdadeiro Deus, adoramos as Três Pessoas juntamente pois são indivisíveis e inseparáveis. O Senhor Jesus ensinou que os seus seguidores deveriam receber o batismo em nome dos Três - “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” - Mateus 28.19. Se o Espírito Santo não fosse uma Pessoa, como afirmam atrevida e equivocadamente alguns, essa fórmula do batismo cristão seria muito estranha, pois seria um batismo em nome de Duas Pessoas e de uma energia ou força ativa de Deus. Isso é impensável, inadmissível e blasfemo. O Senhor Jesus era um Consolador e antes de voltar ao céu disse que enviaria outro Consolador, igual a ele porém distinto [ ἄλλος diferente] para ficar em seu lugar - “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” - João 14.16-18. A promessa era tão clara: o Senhor Jesus enviaria outra Pessoa, distinta dele, contudo igual em essência e divindade. Era como se o próprio Jesus voltasse, por isso disse também: “Eu voltarei para vós”, mas quem veio foi o Espírito Santo. Aqueles que negam que o Espírito Santo seja uma Pessoa da Trindade atestam que são do mundo. Jesus disse que o mundo não O reconheceria, mas somente aqueles que são do Senhor; esses O reconhecem, O recebem e são por Ele ensinados e guiados em toda a verdade. Jesus é um Consolador, o Espírito Santo é o Outro. Jesus foi para o céu e o Espírito veio para a terra. Jesus disse: “Eu vou, Ele virá”. O apóstolo Paulo refere-se ao Espírito Santo como Espírito de Deus e Espírito de Cristo - “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” - Romanos 8.9. Quem habita o crente? Alguém, e esse Alguém é o Espírito Santo - “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? … Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” - 1ª Coríntios 3.16; 6.19. Quem habita um templo? Uma Pessoa. O Divino Residente em nós é o Senhor Espírito Santo. Amém.

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A criação de todas as coisas, especialmente dos anjos


Artigo 12: Cremos que o Pai, por sua Palavra, isto é, por meio de seu Filho, criou, do nada, o céu, a terra e todas as criaturas, quando bem lhe aprouve, e que, a cada uma delas, concedeu o ser, a forma e a aparência, bem como sua tarefa específica e função para servirem ao seu Criador. Cremos que ele também continua a sustentá-las e governá-las segundo a sua providência eterna e pelo seu poder infinito, para que sirvam ao homem, a fim de que o homem possa servir ao seu Deus.

Ele também criou os anjos bons, para serem seus mensageiros e servirem a seus eleitos. Porém, da posição exaltada em que foram criados por Deus, alguns deles caíram na perdição eterna, tendo os demais, pela graça de Deus, permanecido firmes em seu estado original. Os demônios e os espíritos malignos são tão corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem. E, como assassinos, esperam – com todas as suas forças – uma oportunidade para arruinarem a Igreja e a todos os seus membros, e para tudo destruírem com os seus artifícios malignos. Por isso, pela própria malignidade deles, estão condenados à perdição eterna e aguardam, a cada dia, os seus horríveis tormentos.

Assim, abominamos e rejeitamos o erro dos Saduceus, que negam a existência de espíritos e de anjos; e também os erros dos Maniqueístas, que dizem que os demônios não foram criados, mas que têm origem em si mesmos e que não se corromperam, sendo malignos pela sua própria natureza.

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Comentário: Os cristãos são criacionistas, isto é creem que tudo quanto existe tem um Criador Soberano e este é o Deus Trino - “Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente” - Hebreus 11.3. Deus criou do nada, todas as coisas visíveis e invisíveis, no céu e na terra. Não há nada em toda a criação que tenha origem à parte de Deus. Deus criou os anjos como seres bons, mas uma parte deles caíram. Deus criou o homem bom, mas ele caiu. Deus criou e também sustenta, mantém, governa e conduz todas as coisas para o seu devido fim, designado desde o princípio. A única razão para Deus criar estava em si mesmo. Tudo quanto criou, Ele mesmo o aprovou dizendo ser bom - “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” - Gênesis 1.31. Tudo Ele fez para sua glória - “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” - Colossenses 1.15-16. Em relação ao homem e a terra, podemos dizer que tanto a primeira criação que caiu, quanto a nova criação que é a redenção, Deus fez para a sua própria glória. No âmbito maior o começo foi a criação dos anjos, dos quais uma parte rebelou-se contra a autoridade de Deus. Os anjos maus, que foram criados bons, foram as primeiras criaturas a se rebelarem e serem excluídas da presença de Deus. Eles tornaram-se cruéis assassinos e opositores, odeiam a Deus, a Igreja e tudo o que é bom. Por isso foram condenados e serão punidos no fogo eterno - “E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia” - Judas 1.6; e também: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” - Apocalipse 20.10. Temos que viver próximos do Senhor para sermos protegidos dos ataques dos nossos inimigos que nos espreitam dia e noite - “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” - 1ª Pedro 5.8. De todos os anjos que caíram nenhum só foi redimido porque não há redenção para anjos; os anjos eleitos foram impedidos pela graça de Deus de cair. Com os homens foi diferente, em Adão todos caíram, e Deus redimiu uma parte deles, os eleitos. De modo que todos os anjos eleitos (não caídos) e os homens eleitos (redimidos) estarão na presença de Deus para sempre e se testemunharão a graça misericordiosa de Deus. Noutra condição estão todos os anjos caídos (não eleitos) e os homens caídos (não eleitos; não redimidos) habitarão a “cidade de fogo” para sempre. Assim Deus será sempre e em tudo glorificado. Nos santos redimidos, sua misericórdia, graça, bondade, serão glorificados; nos rebeldes serão glorificados a sua retidão, sua justiça e ira santa.

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A providência de Deus


Artigo 13: Cremos que o bom Deus, depois de haver criado todas as coisas, não as abandonou nem as entregou ao destino ou acaso, mas, segundo a sua santa vontade, ele as rege e governa de tal modo que no mundo nada acontece sem a sua determinação. Deus, contudo, não é o autor nem é culpável dos pecados que se cometem; pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que ele ordena e faz a sua obra de modo mais excelente e justíssimo, ainda que os demônios e os ímpios ajam com injustiça. E, quanto àquilo que ele faz que ultrapassa o entendimento humano, não queremos investigar curiosamente além da nossa capacidade de entender. Mas, com toda humildade e reverência, adoramos os justos juízos de Deus, que nos são ocultos, e nos contentamos em ser discípulos de Cristo, que devem aprender apenas o que ele nos ensina em sua Palavra, sem transgredir esses limites.

Essa doutrina nos traz uma consolação indizível, quando nos ensina que nada nos acontece por acaso, mas somente pela determinação do nosso gracioso Pai celestial. Ele cuida de nós com zelo paternal, guardando de tal modo as suas criaturas debaixo do seu poder, que nem mesmo um cabelo da nossa cabeça – pois estão todos contados – ou um pardal cai por terra sem o conhecimento do nosso Pai (Mateus 10.29-30). Nisso confiamos, pois sabemos que ele reprime o maligno e todos os nossos inimigos para que não possam nos ferir sem a sua permissão ou vontade.

Por isso, rejeitamos o detestável erro dos Epicureus, que afirmam que Deus não se importa com nada, mas tudo enrega ao acaso.

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Comentário: Quando falamos sobre a Providência de Deus não devemos pensar apenas em Deus dando provisão aos seus filhos, como pode parecer a princípio, quando vemos o tema de maneira superficial. Primeiro, Deus é providente porque, ele provê para si mesmo, tudo quanto quer para o cumprimento de seus planos e decretos eternos. No texto de Gênesis vinte e dois, quando Deus pediu a Abraão, que lhe sacrificasse Isaque, o seu único filho, o próprio Isaque perguntou a seu pai: “… Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” - Gênesis 22.7; E Abraão lhe respondeu: “… Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho...” - versículo 8. Então Abraão chamou aquele lugar de Javé Jiré, isto é, o Senhor proverá - “E chamou Abraão o nome daquele lugar o SENHOR proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do SENHOR se proverá” - versículo 14. Javé Jiré significa que Deus provê para si mesmo e para sua glória todas as coisas. Então, Providência significa Deus mantendo, sustentando, governando, dirigindo a história da criação e do tempo para o fim que Ele decretou. Tudo o que acontece em toda a extensão da Criação de Deus, seja no céu ou na terra, pode-se dizer que a Providência está presente e atuante. É grande tolice e grave insulto ao Sábio Criador, afirmar-se que Deus não se importa com as coisas que criou. Ele cuida pessoalmente da sua criação e jamais a abandonou. Ele dirige história da criação e da redenção (que é a segunda criação), desde os maiores atos descendo até as minúcias, de modo que não há acasos, acidentes, coincidências, mas em toda a criação há apenas propósitos. Muita coisa para nós é fortuita, mas não para o Senhor. Jesus disse: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” - João 5.17, isto é, ‘trabalhamos juntos, mantendo, sustentando, dirigindo a criação para que os decretos eternos se cumpram’. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação das nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” - Hebreus 1.3. E em tudo o que faz Deus um justo, bom e santo propósito; assim não existem acasos neste mundo mas sim propósitos divinos. Com relação ao mal que há no mundo, Deus não é, absolutamente, seu autor, porque o mal nasceu no coração da criatura. Tudo o que sabemos é que Deus fez uma criatura perfeita, bela, sábia e poderosa e, trouxe essa criatura para viver bem perto de si – um querubim. Porém toda beleza, sabedoria e poder levou esse querubim a adorar-se a si próprio e sua própria vontade – ele afrontou a autoridade de Deus, seu Criador. Nesse dia o mal entrou na criação de Deus e espalhou-se entre muitos anjos, os quais foram excluídos da comunhão de Deus. Esses são Satanás e seus demônios. Quando Deus criou o homem, também o fez perfeito, dando-lhe inteligência, volição, liberdade de escolha, até porque Deus quer ser escolhido e amado por suas criaturas e que elas respondam espontaneamente ao seu amor. Mas toda essa bondade de Deus novamente não foi apreciada. E o homem que fora feito a imagem e semelhança de Deus, o traiu, escolhendo livremente desobedecê-lo, dando mais crédito à Serpente do que à Palavra de Deus. Assim o mal chegou à terra e espalhou-se entre a humanidade. Mas nesse contexto de pecado e rebelião, Deus revelou seu amor chamando o homem à reconciliação. Todos quantos ouvem a sua voz e vêm a Ele são perdoados e reconciliados com Ele – esses são a Igreja de Deus na terra. Porém, Satanás e seus demônios odeiam a todos quantos tomam esse caminho de volta. Sabemos, contudo que Deus, através da sua Providência, protege os seus fiéis e os livra das mãos do Inimigo. Cada cristão pode ter a certeza de que em tudo quanto nos acontece, a mão do nosso Pai amoroso está presente. É isso que a Confissão diz, e é uma verdade grandemente encorajadora. O Deus que reina sobre todo o universo, com toda segurança, sabedoria e poder, é também o nosso Pai. Nisso está o nosso consolo e descanso.

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A criação e queda do homem e a sua incapacidade de realizar o que seja verdadeiramente bom


Artigo 14: Cremos que Deus criou o homem do pó da terra, e o fez e o formou à sua imagem e semelhança: bom, justo e santo. A sua vontade ajustava-se à vontade de Deus em tudo. Mas, quando o homem estava naquele estado sublime, ele não o compreendeu nem reconheceu a sua posição excelente, mas deu ouvido às palavras do diabo e sujeitou-se por livre vontade ao pecado e, consequentemente, à morte e à maldição. Porque transgrediu o mandamento de vida que recebera, por seu pecado ele se apartou de Deus, que era a sua vida verdadeira, corrompeu toda a sua natureza, tornando-se pois, merecedor da morte física e espiritual.

Havendo o homem se tornado ímpio e perverso, corrupto em todas as suas práticas, perdeu todos os dons excelentes que havia recebido de Deus. Nada lhe restou disso, senão uns poucos vestígios, suficientes para torná-lo indesculpável. Logo, qualquer luz que havia em nós transformou-se em trevas, como nos ensina a Escritura: E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela” (João 1.5). Aqui o apóstolo João chama a natureza humana de “trevas”.

Rejeitamos, portanto, todo ensinamento sobre o livre-arbítrio que seja contrário a isso, porque o homem não passa de escravo do pecado - Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade, vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado” (João 8.34), e ninguém “pode receber coisa alguma, se lhe não for dado do céu” (João 3.27). Pois quem é que ousa vangloriar-se de poder por si mesmo fazer algum bem, quando Cristo afirma que: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer…” (João 6.44). Quem se gloriará da sua vontade própria, depois de compreender que “o pendor da carne é inimizade contra Deus?” (Romanos 8.7). Quem pode falar do seu entendimento, quando “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus?” (1a Coríntios 2.14). Em resumo, quem é que ousa reivindicar, seja o que for, quando entende que “não somos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós mesmos, mas a nossa capacidade vem de Deus?” (2a Coríntios 3.5). Por isso, aquilo que o apóstolo diz deve justamente permanecer certo e firme: “Porque Deus é quem opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2.13). Pois, não há compreensão nem conformidade com o entendimento e a vontade de Deus, se Cristo não o efetuar em nós, segundo ele nos ensina: “sem mim nada podeis fazer” (João 15.5).

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Comentário: É maravilhoso observar e constatar nas escrituras sagradas que o homem foi a única criatura que Deus fez com suas próprias mãos. Depois de haver chamado à existência todas as coisas disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” - Gênesis 1.26. “Façamos” – revela que Ele tomou barro em suas mãos, trabalhou-o e o modelou, em seguida soprou em suas narinas, dando-lhe vida - “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente” – Gênesis 2.7. Diferentemente dos animais e o restante da criação, que Deus apenas chamou a existência, o homem Ele manuseou, construiu, edificou. Por isso se diz que o homem é a coroa da criação de Deus. Porém, muito embora Adão tenha nascido perfeito, desobedeceu a Deus e deu ouvidos ao diabo, caindo da sua posição aliando-se ao inimigo de Deus, colocando toda sua descendência sob a maldição e a ira de divina. Daí se dizer, contra a teoria evolucionista, que o homem é um “Adão caído” e não um “primata evoluído”; ele regrediu e não progrediu, caiu e não evoluiu. Mas Deus que já sabia que isto iria acontecer, depois da queda, estendeu a mão ao homem caído, para que ele não fosse condenado com os demônios. Iniciava-se a grande e maravilhosa obra da redenção – se houvesse evolução não seria necessária a redenção. O fato é que a queda trouxe grandes prejuízos à criação. Em lugar daqueles dons maravilhosos que o homem havia recebido, agora manifesta uma inclinação para o mal. Tornou-se corrupto, rebelde, inóspito e indiferente para com Deus. Sua mente tornou-se entenebrecida e ele perdeu a vida de Deus – “Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração” – Efésios 4.18. Ele tornou-se um fugitivo, vagando sem rumo – “Mas aquele que odeia a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos” – 1ª João 2.11. Aquela vontade livre que o homem possuía antes da queda, agora está corrompida e dominada por sua inclinação pecaminosa e tudo o que pode fazer é pecar, ir contra a lei de Deus, andar fora dos seus limites. Até mesmo suas melhores intenções e escolhas apresentam traços do pecado. Não há ensino, nem educação, nem religião que possa reformar o homem caído, ele necessita de um novo nascimento – o nascimento do Espírito. Mas o homem nem mesmo sabe dessa sua necessidade, não tem entendimento da sua real condição. E é aqui que entra a pregação das boas novas. A solução é Cristo Jesus; mas para o pecador vir a Cristo, precisa ser trazido por Deus, porque por si mesmo nunca fará esse caminho de volta, pois não tem esse desejo. Como na parábola das cem ovelhas, que o pastor buscou a ovelhinha desgarrada, tomou-a sobre os seus ombros e trouxe-a de volta ao redil, outro tanto, as ovelhas do Senhor precisam ser “carregadas” de volta para Deus e agregadas ao rebanho.

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O pecado original


Artigo 15: Cremos que, pela desobediência de Adão, o pecado original se estendeu a toda a raça humana. Esse pecado é a corrupção de toda a natureza humana e um mal hereditário que contamina até mesmo as criancinhas no ventre da mãe. Como uma raiz, ele produz no homem toda a sorte de pecados. É, portanto, tão vil e abominável diante de Deus que é suficiente para condenar a raça humana. Ele não é eliminado ou erradicado nem mesmo pelo batismo, pois o pecado continuamente jorra dessa corrupção como a água corrente de uma fonte contaminada. No entanto, apesar de tudo isso, o pecado original não é imputado para a condenação dos filhos de Deus, mas, por sua graça e misericórdia, lhes é perdoado. Isso não significa que os crentes podem descansar tranquilamente em seus pecados, mas que a consciência dessa corrupção muitas vezes pode fazê-los gemer, na ansiosa expectativa de serem libertos do corpo desta morte.

A esse respeito, repudiamos o erro dos Pelagianos, que dizem ser esse pecado apenas uma questão de imitação.

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Comentário: Em Adão toda a raça humana pecou e decaiu daquela glória original, pois em Adão estava representada. Ele é o cabeça da humanidade, tendo ele caído, toda a sua descendência tornou-se uma raça caída. O homem nasce neste mundo e já traz consigo o gene adâmico contaminado pela queda, ou seja, a hereditariedade caída. Uma criança não aprende a pecar imitando os mais velhos, ao contrário, cada novo ser que vem ao mundo traz dentro de si a semente do pecado, que com o tempo frutificará e multiplicará, revelando a corrupção do coração do homem e sua rejeição a Deus e a sua santa lei. O homem é pecador não porque peca, mas ele peca porque é pecador, esta é a sua natureza. Um limoeiro produz limões porque é limoeiro, é sua natureza. Assim como a árvore produz seu fruto de acordo com sua natureza, assim também o homem. O pecado original é a fonte de onde jorram os demais pecados ao longo da nossa vida. Adão fora criado a imagem e semelhança de Deus e caíra desse estado glorioso. Por causa da queda Adão o seu filho já trouxe a sua imagem caída - “E Adão ... gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” - Gênesis 5.3. Seu filho ainda nasceu trazendo a imagem de Deus, mas não mais como era antes da queda; agora seus filhos já nasciam caídos e depravados. Ser depravado não significa que o homem é tão mau quanto alguém poderia ser, mas que cada parte de seu ser está maculada pelo pecado – sua mente, vontade, emoções, suas motivações, suas ações e reações, tudo está envenenado, tudo no homem natural é desordenado. Embora nem todos sejam tão maus quanto um homem se pode tornar, há nele potencial para tornar-se tão maligno quanto um diabo. O homem natural peca até quando ora pois suas motivações são erradas e egocêntricas. Quando o pecador é regenerado, é liberto da culpa, da escravidão e domínio do pecado, mas ainda não da presença do pecado, pois esse ainda está em seu corpo de carne – “… o pecado que habita em mim” – Romanos 7.17. A Confissão explica que nem mesmo o batismo dá conta dessa fonte de morte que é o pecado original; nem mesmo a regeneração do nosso espírito resolve definitivamente o problema, só a morte encerra sua atividade em nossas vidas aqui e, depois a glorificação exterminará o pecado de nós para sempre. Daí a necessidade de travar uma batalha diária contra as tentações, contra a cobiça, a concupiscência e impurezas; sim, a importância da renúncia da nossa própria vontade. O grande sonho do crente é contemplar o dia em que será livre da presença do pecado para sempre; é ansiar por aquele lugar onde o pecado não entrará e pecar será uma opção inválida ou inexistente para sempre, eternamente, amém.

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A eleição divina


Artigo 16: Cremos que, quando toda a descendência de Adão se precipitou na perdição e na ruína pela transgressão do primeiro homem, Deus se manifestou como realmente é: misericordioso e justo. Misericordioso, por socorrer e salvar dessa perdição aos que, em seu conselho eterno e imutável, ele elegeu por pura bondade em Jesus Cristo nosso Senhor, se levar em consideração nenhuma das obras deles; Justo, por deixar os outros na queda e na perdição nas quais eles mesmos se precipitaram.

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Comentário: O lado bom, por assim dizer, da entrada do mal na criação é que o melhor lugar para que a graça, a misericórdia, o amor de Deus se revelem plenamente é este mundo caído. Alguns dos maravilhosos atributos de Deus só podem ser conhecidos plenamente no meio do caos que o pecado trouxe neste mundo. Foi aqui que o Filho eterno veio para manifestar o maior ato de amor jamais visto. Ele veio para morrer pelos eleitos e salvá-los da condenação eterna que a humanidade sem Deus justamente sofrerá. Um pecador redimido é o único que pode conhecer por experiência própria as dimensões do amor de Deus - “...a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento” - Efésios 3.17-19. Apenas um homem redimido pode apreciar devidamente o seu Redentor. Por isso também a relação de Cristo com seus redimidos é completamente diferente da que Ele tem com as demais criaturas, incluindo os anjos eleitos; é uma relação descrita como do Noivo Celestial com sua Noiva. Dentre a raça criada e caída, Deus escolheu um povo para si e o redimiu, e quanto aos demais os abandonou justamente às consequências de seus próprios pecados. Os eleitos são um presente do Pai à seu Filho Jesus Cristo - “Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste... Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus… Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” - João 17.2, 9, 12, e tal presente jamais será desprezado – “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” - João 6.37. Por isso, e somente por isso, o crente fiel jamais perde sua salvação. Por outro lado, este mundo caído também é o lugar próprio para Deus revelar seu padrão de justiça e sua ira santa contra o pecado. Se Deus fosse agir apenas com sua justiça, ninguém, nenhum filho de Adão seria salvo, antes todos seriam abandonados na queda e na maldição, justamente. Mas, ocorre que todos os seus atributos são revelados na criação: seu poder, sua sabedoria, seu amor, graça e misericórdia, sua justiça e ira santa e assim por diante. Deus não faria nenhuma injustiça se abandonasse todos os homens nos pecados deles; e se desejasse perdoar a todos os homens também poderia fazê-lo. Outro tanto, Ele não comete qualquer injustiça quando se propõe a salvar uma parte deles, e deixar os demais seguirem para a condenação. Afinal, Ele é o Criador, o Dono de tudo e não deve explicações à quem quer que seja. O ímpio ouve essa doutrina e range os dentes, o santo a ouve, prostra-se e adora.

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O socorro do homem caído


Artigo 17: Cremos que, ao ver que o homem se precipitara na morte física e espiritual e se fizera completamente miserável, o nosso Deus gracioso, em sua maravilhosa sabedoria e bondade, saiu em busca dele, quando fugiu trêmulo da sua presença. Deus o consolou com a promessa de que lhe daria o seu Filho, nascido de mulher – “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”
(Gálatas 4.4)
, para esmagar a cabeça da serpente - “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3.15); e torná-lo bem-aventurado.

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Comentário: Se após a queda Deus abandonasse o homem em seu pecado, fá-lo-ia justamente; se Deus nunca mais falasse com o homem, ele nunca mais veria a Deus e sua descendência nunca o conheceria. Não, o homem jamais voltaria para a comunhão de Deus e perder-se-ia na escuridão eterna. Mas Deus quis perdoá-lo e reconciliá-lo consigo, ainda que para isso teria que entregar seu Filho Unigênito para que sofresse a pena em lugar do homem pecador e fizesse expiação por ele. Assim, o Filho Eterno foi entregue pelo Pai, para que efetuasse a expiação salvadora. Deus buscou o homem, falou-lhe e lhe anunciou o Redentor e a redenção. Desde então todo homem que confia no Redentor que Deus constituiu é reconciliado e volta para a Sua comunhão. Após a queda e a entrada do pecado na humanidade, duas gerações espirituais se formaram: uma é chamada de “descendência da mulher” à qual pertence o próprio Redentor e todos os seus redimidos, e a outra geração é chamada de “descendência da serpente” à qual pertencem os demais homens. A partir de Gênesis três duas linhas são traçadas através das Escrituras, mostrando o desenrolar da história dessas duas gerações diametralmente opostas, distintas e rivais. Os nomes para identificar essas gerações nas escrituras mudam; recebem os nomes de: luz e trevas; judeus e gentios; pios e ímpios; crentes e descrentes; fiéis e infiéis; santos e iníquos; bons e maus; filhos de Deus e filhos do diabo; benditos e malditos; etc. Ao nascerem neste mundo todos os homens são iguais, mas Deus tem os seus escolhidos que no devido tempo os chama e os atrai à Cristo, o Redentor. É tristemente notável na humanidade, que desde o incidente no Jardim do Éden os filhos de Adão ajam exatamente como ele agiu: desobedecendo, desprezando as leis de Deus, fugindo da presença de Deus, escondendo-se atrás de alguma religião, justificando-se, empurrando a culpa para longe de si, tentando esconder sua nudez espiritual, fazendo-se de desentendidos. E a menos que Deus intervenha na vida de cada um, os homens fugirão de Deus até caírem na boca do dragão, que é a antiga serpente, e mergulharem nas trevas eternas. Todos os homens, mesmo os eleitos de Deus nascem no pecado; aos eleitos foi providenciada redenção, eles são redimidos e libertos da escravidão do pecado; ainda que enquanto estiverem na terra eventualmente cometam pecados, todavia o pecado não é mais senhor de suas vidas, nem mais é seu estilo de vida. Ao contrário eles resistem e combatem contra o pecado e andam no temor de Deus. Neste assunto o que difere o salvo do não-salvo é que este último é pelo pecado e contra Deus, enquanto que o salvo é por Deus contra o pecado.

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A encarnação do Filho de Deus


Artigo 18: Confessamos, portanto, que Deus cumpriu a promessa que fizera aos patriarcas pela boca de seus santos profetas quando, no tempo determinado por ele, enviou seu próprio Filho Unigênito e eterno ao mundo, que assumiu a forma de servo e nasceu à semelhança de homem (Fp. 2.7). Ele verdadeiramente assumiu a natureza humana verdadeira com todas as suas fraquezas, sem pecado, pois foi concebido no ventre da bendita virgem Maria pelo poder do Espírito Santo e não pela ação do homem. Para que fosse verdadeiramente homem, ele não apenas assumiu a natureza humana quanto ao corpo, mas também uma alma humana verdadeira. Pois, assim como o corpo e a alma estavam perdidos, foi necessário que ele assumisse ambos para salvá-los.

Por isso, confessamos (contra a heresia dos Anabatistas que negam que Cristo assumiu a natureza carnal da sua mãe) que Cristo partilhou da carne e do sangue dos filhos (Heb. 2.14). ele é da descendência de Davi (Atos 2.30); nascido da descendência de Davi segundo a carne (Rom. 1.3); fruto do ventre da virgem Maria (Luc. 1.42); nascido de mulher (Gál. 4.4); uma renovo de Davi (Jer. 33.15); rebento do tronco de Jessé (Is. 11.1); procedente da tribo de Judá (Heb. 7.14); descendente dos judeus segundo a carne (Rom. 9.5); da semente de Abraão (Gál. 3.16), pois o Filho estava ligado à descendência de Abraão. Portanto, ele tinha de ser igual aos seus irmãos em todos os aspectos, contudo, sem pecado (Heb. 2.16, 17; 4.15).

Assim ele é verdadeiramente o nosso Emanuel, isto é, Deus conosco (Mat. 1.23).

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Comentário: A primeira vez que Deus falou sobre o Messias Redentor, em Gênesis 3.15, disse que ele seria descendente da mulher. Como não disse descendente do homem, então estava no âmago desta promessa tanto uma divina concepção virginal quanto a divindade do próprio Redentor. Mais tarde revelou-se que Ele seria um descente de Abraão, depois de Jacó, e em seguida diz que Ele nasceria da tribo de Judá. E prosseguindo a revelação disse que Ele nasceria na família de Davi. E assim foi, no fim da era judaica, Ele veio cumprindo todas as profecias a seu respeito. E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: “Deus se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” – 1ª Timóteo 3.16. Grande é o mistério da encarnação, inconcebível e incompreensível à mente humana; Deus mesmo fez-se homem, o Criador vestiu-se de criatura, assumindo a forma humana; assim o próprio Deus esteve em carne neste mundo por 33 anos, na Pessoa de seu Filho Jesus Cristo; este é o Verbo Divino. O Filho Eterno sempre esteve com o Pai, já o próprio homem Jesus de Nazaré foi uma geração divina no tempo. Em sua concepção não houve participação do homem porque Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Enquanto esteve no céu Ele era apenas Divino. Vindo a este mundo tornou-se também humano. E ao retornar ao céu foi como Deus-Homem, por isso a encarnação do Verbo mudou a história do tempo e da eternidade para sempre. Hoje está assentado naquele alto e sublime trono, a direita do Pai; Ele é o Deus-homem – Jesus Cristo, o nosso Senhor e representante no céu, o cabeça do corpo, sua Igreja. Amém.

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As duas naturezas na única Pessoa de Cristo


Artigo 19: Cremos que, por essa concepção, a Pessoa do filho de Deus está inseparavelmente unida e ligada à natureza humana, de modo que não há dois filhos de Deus nem dua pessoas, mas duas naturezas unidas em uma única Pessoa. Cada uma delas mantém as suas características distintas: a sua natureza divina permaneceu sempre não-criada, sem começo de dias e nem fim de vida (Heb. 7.3), preenchendo céu e terra. A sua natureza humana também não perdeu as suas características: tem começo de dias e continua criada; é finita e conserva todos os atributos de um corpo verdadeiro. No entanto, pela sua ressurreição, ele concedeu imortalidade à sua natureza humana, não havendo modificado a realidade dela, pois a nossa salvação e ressurreição dependem também da realidade do seu corpo.

Contudo, essas duas naturezas estão tão intimamente unidas em uma única Pessoa que não foram separadas nem mesmo por sua morte. Ao morrer, portanto, ele rendeu nas mãos do Pai um espírito humano verdadeiro, que se apartou do seu corpo. Entretanto, a sua divindade permaneceu sempre unida à sua naturezas humana, até mesmo quando ele jazia na sepultura. A natureza divina sempre permaneceu nele, exatamente como estava nele quando ele era uma criancinha, embora por um tempo não tivesse se manifestado como tal.

Por isso, confessamos que ele é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: verdadeiro Deus, a fim de vencer a morte pelo seu poder; e verdadeiro homem, a fim de morrer por nós, segundo as fraquezas da sua carne.

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Comentário: As duas naturezas do nosso Salvador é outro grandioso mistério de Deus. O Filho Eterno é Deus que é também homem, e homem que também é Deus – isto é maravilhosíssimo e mais uma vez excede o nosso entendimento e quedamos extasiados diante de tal mistério. Jesus Nazareno é o único ser que tem duas naturezas distintas. Para ser o nosso Salvador ele precisava preencher dois requisitos essenciais: 1) precisava ser homem, porque só alguém da nossa raça, nascido de mulher, poderia nos representar e sofrer a pena do pecado em nosso lugar – “E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação. E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos” – João 11.49-52; esse homem teria que ser sem pecado porque morreria em lugar dos pecadores e precisava ter um sangue inocente, sem culpa; 2) precisava ser também Deus, alguém que tivesse poder para enfrentar a morte, o inferno, Satanás e todos os demônios, e vencê-los todos; e mais, receberia todo impacto da infinita, justa e santa ira divina contra o pecado, o que apenas o Filho de Deus mesmo poderia fazê-lo. Daí nosso Salvador precisava ter duas naturezas. Sua natureza humana herdou de Maria e a natureza divina sempre existiu. Se Maria não fosse totalmente humana, mas fosse uma espécie de deusa [como afirmam os romanistas], então não poderia ser a mãe de Jesus, pois ela deveria lhe dar a natureza humana, pois a divina Ele já trouxe do céu. O Senhor Jesus era ao mesmo tempo: finito e infinito; dependente e independente; mutável e imutável; sujeito ao espaço e não-sujeito; sujeito ao tempo e não-sujeito; passível de tentação e não passível; todo-fraco e todo-poderoso; com conhecimento limitado e conhecimento ilimitado. Depois da ressurreição Ele continuou com sua natureza humana, pois dela dependem a nossa ressurreição e salvação. No último dia Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso” – Filipenses 3.21. Assim, as duas naturezas de Jesus Cristo é um dos grandiosos mistérios da eternidade. Jesus Cristo é o único Deus que se fez homem sem nunca deixar de ser Deus, e será para sempre o Homem-Deus. Amém.

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A justiça e a misericórdia de Deus em Cristo


Artigo 20: Cremos que Deus, perfeitamente misericordioso e justo, enviou o seu Filho para assumir a mesma natureza na qual se cometer a desobediência, para fazer satisfação nessa mesma natureza e suportar o castigo do pecado através de seu sofrimento e morte mui amargos. Deus, portanto, manifestou a sua justiça contra o seu Filho quando colocou sobre ele as nossas iniquidades, e, sobre nós, que éramos culpados e merecedores da condenação eterna, derramou a sua bondade e misericórdia. Por amor perfeitíssimo, ele entregou o seu Filho para morrer por nós e o ressuscitou para a nossa justificação, a fim de que, por ele, possamos obter imortalidade e vida eternal.

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Comentário: Olhando de maneira superficial, a justiça e a misericórdia de Deus podem até parecer inimigas e contraditórias, mas de fato são irmãs porque são dois atributos eternos de Deus, de modo que uma não anula a outra, mas a completa. E por causa de Jesus Cristo, vemos esses dois atributos operando juntos. Por um lado a justiça divina exigindo do nosso Substituto a punição que nos era devida e por outro lado a misericórdia divina não imputando a nós nossos pecados. Como poderia um juiz ser ao mesmo tempo justo e misericordioso, ou ainda mais, justo e justificador para com um condenado? Se ele for justo apenas sentenciará o réu, se for justificador deverá inocentá-lo, mas não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Contudo foi o que o Supremo Juiz fez em relação a nós. Mesmo sendo nós culpados e réus, Ele, numa sentença judicial e forense nos declarou justos – “Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” – Romanos 3.26. Jesus Cristo foi declarado justo e inculpável perante os tribunais humanos - “ … Não acho nele crime algum;... Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum;... Vendo-o pois os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque eu nenhum crime acho nele” – João 18.38; 19.4, 6; “Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte” – Lucas 23.14-15. Contudo, o mesmo juiz que o declarou várias vezes inocente, o condenou à morte; Deus fez assim para que nós, os verdadeiros culpados, fôssemos declarados justos. Fomos declarados justificados porque a justa justiça não requer a mesma dívida duplicadamente. Nossa dívida pecaminosa com a justiça divina foi creditada à Cristo e a justiça e obediência de Cristo foram creditadas a nós. Assim fomos justificados diante de Deus por causa da propiciação feita por Cristo, isto é a morte de Jesus nos tornou propícios diante de Deus, porque a sua justiça foi satisfeita “E ele é a propiciação pelos nossos pecados – 1ª João 2.2; sua expiação por nós tornou-nos agradáveis a Deus. Fomos aceitos diante de Deus no Amado - “… nos fez agradáveis a si no Amado” - Efésios 1.6. Deus não mediu sofrimento para nos redimir, antes pagou o mais alto preço, deixando que Seu Filho fosse sacrificado em nosso lugar. Nosso Deus e Pai é “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós…” - Romanos 8.32. Nosso Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, ofereceu um sacrifício de si mesmo, isto é, ele, ao mesmo tempo é o Sacerdote e também o a Vítima oferecida. Ele fez-se homem e assumiu a natureza humana mas sem pecado, para que pudesse fazer expiação pelo nosso pecado. “Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz” - Filipenses 2.7-8. Jesus era em tudo semelhante a nós mas sem pecado – “… Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado” - Romanos 8.3. Por isso diz: “em semelhança” não igual, pois ele não tinha pecado.

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A satisfação de Cristo, nosso Suma Sacerdote

Artigo 21: Cremos que Jesus Cristo foi confirmado por juramento para ser Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Ele se apresentou em nosso lugar diante de seu Pai, aplacando-lhe a ira e satisfazendo-o totalmente pela oferta de si mesmo sobre o madeiro da cruz, onde verteu o seu precioso sangue para a purificação dos nossos pecados, conforme predisseram os profetas. Pois está escrito: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”; “Como cordeiro foi levado ao matadouro”; “Foi contado com os transgressores” (Is. 53.5, 7, 12) e condenado como um criminoso por Pôncio Pilatos, que no entanto havia antes declarado a sua inocência. Ele restituiu o que não havia roubado (Sal. 69.4). Ele morreu, “o justo pelos injustos” (1a Ped. 3.18). Ele sofreu no corpo e na alma, sentindo o castigo terrível causado pelos nossos pecados e o “seus suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Luc. 22.44). Finalmente, ele exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mat. 27.46). Tudo isso ele suportou para o perdão dos nossos pecados.

Portanto, dizemos, exatamente como Paulo, que nada sabemos “senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1a Cor. 2.2). Consideramos “tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus” nosso Senhor (Fp. 3.8). Encontramos consolo nas suas feridas e não temos necessidade de buscar ou de inventar qualquer outro meio de reconciliação com Deus, senão nesse único sacrifício, ofertado uma única vez, através do qual os que creem foram aperfeiçoados para sempre (Heb. 10.14). Por isso, o anjo de Deus o chamou de Jesus, isso é, Salvador, “porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mat. 1.21).



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Comentário: A frase “segundo a ordem de Melquisedeque” significa que Jesus não seria da tribo dos levitas de onde, segundo a lei, saíam todos os sacerdotes, porque Melquisedeque foi um sacerdote anterior a lei, anterior mesmo a Arão, ele não era levita. O próprio rei Davi profetizou: “Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” - Salmo 110.4. Jesus Cristo veio da tribo de Judá de onde não vinham sacerdotes. Mas dele se dizia que seria um sacerdote eterno e faria um único sacrifício, perfeito e de valor eterno. Somente tal sacrifício poderia satisfazer a justiça eterna. Quem receber os benefícios do sacrifício de Cristo desfrutará de paz e comunhão eterna com Deus. Os que forem excluídos dos benefícios da morte de Cristo sofrerão o castigo eterno. O padrão da justiça de Deus é tão elevado que, para fazer expiação por alguém que quebrou a sua lei, se fazia necessária a morte do transgressor ou algum substituto. Só o sangue do transgressor ou um substituto legal poderia satisfazer a justiça de Deus - “E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” - Hebreus 9.22. Os sacrifícios no templo do Antigo Testamento tinham esse sentido de substituição para expiação. Eram tipos que apontavam para o Cordeiro de Deus. A vítima (que era um animal) deveria ser perfeita para poder ser sacrificada – “E, quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, separando dos bois ou das ovelhas um voto, ou oferta voluntária, sem defeito será, para que seja aceito; nenhum defeito haverá nele” - Levítico 22.21. Jesus Cristo foi o verdadeiro Cordeiro do sacrifício, para quem apontavam todos os sacrifícios feitos antes da Sua encarnação. Ele era absolutamente perfeito; tendo sido observado, analisado, examinado e avaliado durante toda a sua vida, nunca alguém pode encontrar nele um único defeito. O governador Pôncio Pilatos o declarou inocente - “E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum” - João 18.38. O rei Herodes não achou nele crime algum - “Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem. Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte” - Lucas 23.14-15. Judas, o traidor reconheceu que havia traído sangue inocente - “Então Judas, o que o traíra, vendo que fora condenado, trouxe, arrependido, as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente...” - Mateus 27.3-4. Um dos homens crucificados ao seu lado sabia que Jesus era inocente e nada devia - “E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez” - Lucas 23.39-41. O centurião romano também viu e confessou a inocência de Jesus - “E o centurião e os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, tiveram grande temor, e disseram: verdadeiramente este era o Filho de Deus” - Mateus 27.54. Finalmente o mesmo tribunal que o condenou também o declarou inocente. Para condenar Jesus o Sinédrio Judaico também teve que montar um tribunal falso, pois nada tinham contra Ele que pudessem levar ao governador - “Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte; E não o achavam; apesar de se apresentarem muitas testemunhas falsas, não o achavam. Mas, por fim chegaram duas testemunhas falsas” - Mateus 26.59-60. O Senhor Jesus Cristo foi o único homem que pode dizer: “Quem de entre vós me convence de pecado?…” - João 8.46. Deus estabeleceu o Conciliador e Mediador – Seu Filho Unigênito, e não há nada mais ofensivo, do que o homem querer vir a Deus por outro meio que não o único que Ele estabeleceu para a nossa reconciliação. Também constitui-se grande pecado e insulto a Deus desejar acrescentar algo ao sacrifício de Cristo, como por exemplo: boas obras, justiça própria, méritos, penitências, autoflagelação, purgatório, etc. A salvação é um preciosíssimo dom de Deus, e querer pagar por ela é uma ofensa e injúria a Deus. Ele estabeleceu o Mediador que faz a reconciliação ou que restabelece o homem caído à Sua comunhão, e não aceita nada mais nem nada menos que Jesus Cristo como a perfeita justiça. Não aceitar a obra de Cristo, o Filho Unigênito de Deus, como plenamente satisfatória é contradizer a Deus pois Ele a aceitou e declarou perfeita. Ele disse de seu Filho: “… Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo! A ele ouvi” - Mateus 17.5. Quem quiser estabelecer outro mediador ou quiser chegar-se a Deus por outro meio, fundamentado em outras base que seja o Filho Amado, não é cristão e não ser cristão é o pecado que levará muitos ao inferno eterno, pois é permanecer em rebeldia contra Deus, sem qualquer chance de salvação.

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A nossa justificação pela fé em Cristo

Artigo 22: Cremos que, para podermos obter o verdadeiro conhecimento desse grande mistério, o Espírito Santo acende em nosso coração uma fé verdadeira. Fé que abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos, que se apropria dele, e que nada busca além deles mesmo. Pois das duas, uma: ou em Jesus Cristo não há tudo que precisamos para a nossa salvação, ou tudo se acha nele e, então aquele que possui Jesus Cristo pela fé tem a plena salvação. É, portanto, uma terrível blasfêmia afirmar que Cristo não é suficiente, mas que se faz necessário algo além dele; pois, a conclusão seria, então, que Cristo é apenas meio Salvador.

Por isso, dizemos exata e corretamente como Paulo que “somos justificados pela fé, independentemente das obras da lei” (Rom.3.28). Contudo, estritamente falando, não entendemos isso como se a própria fé nos justificasse, pois ela é apenas o instrumento com o qual abraçamos Cristo, justiça nossa. Ele nos imputa todos os seus méritos e todas as obras santas que tem feito por nós e em nosso lugar. Assim, pois, Jesus Cristo é a nossa justiça, e a fé é o instrumento que nos mantém com ele, na comunhão de todos os seus benefícios. Quando estes se tornaram nossos, são mais do que suficientes para nos absolver dos nossos pecados.

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Comentário: A fé é um decodificador das verdades espirituais, apenas ela consegue perceber e discernir claramente o mundo espiritual, do qual o homem natural nada vê ou nada compreende. Para ele o tal mundo não existe, ou se existe é incompreensível e inatingível. Ele vive totalmente alienado de Deus como se Deus também não existisse. Quando ele pensa no mundo espiritual o faz apenas em termos de futuro, pós-morte. Quanto ao eleito de Deus, este recebe a fé salvadora, que vem acompanhada de iluminação espiritual. Essa fé desvenda a mente do homem natural para que ele sinta necessidade de um salvador e então Jesus Cristo lhe é revelado, ele começa a crer ascendentemente e descansar em Cristo. Qualquer coisa que desvie o pecador de Cristo e o leve a crer em outros mediadores, ou a confiar em si mesmo, em suas obras, em sua justiça pessoal, não é a verdadeira fé. A fé salvífica é singular e exclusiva, ela só é dada aos eleitos, para que creiam em Cristo. Alguém que professa crer em Deus mas não crê em seu Filho Unigênito como o único caminho para Deus é porque não tem a fé salvadora. Contudo, não é a própria fé que nos justifica nem é ela a causa da nossa salvação; somos salvos pela obra de Cristo na cruz. A fé que nos é dada pelo Espírito Santo leva-nos a confiar nessa obra. De nada adianta alguém supor que tem muita fé, quando esta fé está em qualquer coisa, fora Cristo – como, por exemplo, fé na fé, fé nas obras, fé em si próprio, fé nos santos mortos. Tal fé não o salvaria porque quem salva é Cristo, e a fé autêntica nos leva a crer e confiar em Cristo e apenas nele - “Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” - Romanos 5.2. A fé que Deus dá, nos leva a Cristo, onde encontramos toda provisão necessária para a nossa salvação. Jesus Cristo é um Salvador completo e suficiente, não necessitando de qualquer ajuda para nos salvar. Ele não necessita de auxiliadores e nem de nós mesmos. Para aqueles que supõem que Deus fez apenas uma parte deixando o restante para o homem, devemos dizer que assim como o homem não participou da primeira criação, também não participa da nova criação. O ser criado simplesmente não participa da sua criação. Não é a vontade da criatura que conta mas a vontade do Criador. Ele cria e recria para a sua inteira glória. É isso que os cristãos creem e professam, e nisso descansam.

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A nossa justiça diante de Deus

Artigo 23: Cremos que a nossa bem-aventurança fundamenta-se no perdão dos nossos pecados, por causa de Jesus Cristo, e que nisso consiste a nossa justiça diante de Deus, segundo nos ensinam Davi e Paulo. Eles declaram que é “bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Sal. 32.1; Rom. 4.6). O apóstolo também diz que somos “justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rom. 3.24).

Portanto, sempre nos apegamos a esse firme fundamento. Damos toda a glória a Deus, humilhando-nos diante dele e reconhecemos aquilo que realmente somos. Nada temos que reivindicar por causa de nós mesmos nem por mérito nosso, mas dependemos e descansamos somente na obediência de Jesus Cristo crucificado. Essa obediência é nossa quando cremos nele.

Ela é o suficiente para cobrir todas as nossas iniquidades e nos conceder a ousadia de nos aproximarmos de Deus, livrando a nossa consciência de temor, terror e assombro, de modo a não seguirmos o exemplo do nosso primeiro pai, Adão, que trêmulo tentou se esconder e se cobrir com folhas de figueira. Certamente que seríamos consumidos, se tivéssemos que aparecer diante de Deus confiados – por pouco que fosse – em nós mesmos ou em qualquer outra criatura (ai de nós!). Por isso todos devem dizer com Davi: Ó Senhor, “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não há justo nenhum vivente” (Sal. 143.2).

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Comentário: O maior motivo de alegria para o pecador redimido é ter sido justificado e reconciliado com Deus, saindo da condição de inimigo e réu, que o sujeitava à condenação eterna, para a condição de filho de Deus por adoção. O pecador aceito na família de Deus é a pessoa mais feliz do mundo, pois foi tirado do monturo e elevado à condição de príncipe de Deus - “Levanta o pobre do pó, e do monturo levanta o necessitado, para o fazer assentar com os príncipes, mesmo com os príncipes do seu povo” - Salmo 113.7-8. Tudo isso por um ato soberano e independente de Deus, que escolhe, elege, predestina, chama, justifica, santifica e glorifica a quem Ele decretou fazê-lo. Não há qualquer mérito em nós, mas Deus nos mostrou sua graciosa benevolência. Por isso a autojustificação ou caminho da salvação pelas obras e justiça pessoal está em franca oposição à doutrina da graça. A autojustificação é um insulto e grave ofensa a Deus, porque Ele já disse que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia” - Isaías 64.6. Logo, ninguém tem justiça que o torne aceitável diante de Deus. O Senhor Jesus disse que tentar justificar-se diante de Deus é um ato abominável - “E disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação” - Lucas 16.15. Cristo é a justiça do eleito - “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” - 1ª Coríntios 1.30. A única justiça reconhecida que atende o padrão divino é a justiça de Cristo. E é essa justiça que Deus imputa à nós graciosa e gratuitamente. A salvação é dom de Deus – a graça é dom de Deus, a fé é dom de Deus, o arrependimento é dom de Deus. Por meio da fé chegamos à graça e à salvação. Isso quer dizer que a nossa salvação não dependeu nem mesmo de crermos ou professarmos a fé ou de recebermos o batismo. Não há qualquer condição prévia para sermos salvos. O motivo da nossa salvação está oculto em Deus. Paulo disse: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores... Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho ...” - Romanos 5.8, 10. Fomos salvos na nossa incredulidade, rebeldia e oposição a Deus. Ele nos chamou e atraiu para si, mudou a inclinação natural do nosso coração, lavou nossa imundície e nos fez assentar à sua mesa. Por isso descansamos tranquilamente em Deus e nos dedicamos totalmente a Ele com toda gratidão dos nossos corações. Nada poderá nos separar do nosso Pai celestial pois o amor que nos une é eterno e infinito.

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A nossa santificação e as boas obras

Artigo 24: Cremos que essa fé verdadeira operada no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pelo agir do Espírito Santo, regenera-o e torna-o um novo homem; faz com que viva uma vida nova e o liberta da escravidão do pecado. Por isso, não é verdade que essa fé justificadora o torna indiferente para viver uma vida santa e boa. Ao contrário, sem ela, ninguém jamais poderia fazer algo por amor a Deus, mas somente por amor a si mesmo ou por medo da condenação. É, portanto, impossível que essa fé santa seja inoperante no homem, porque não falamos de uma fé vã, mas da que a Escritura chama de “a fé que atua pelo amor” (Gál. 5.6). Essa fé leva o homem a exercitar-se nas boas obras que Deus ordenou em sua Palavra. As boas obras, que procedem da boa raiz da fé, são boas e aceitáveis à vista de Deus porque são todas santificadas pela sua graça. Apesar disso, elas não cooperam para a nossa justificação porque é pela fé em Cristo que somos justificados, antes mesmo de fazermos quaisquer boas obras. De outro modo, essas obras não poderiam ser boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se a árvore não for boa.

Por isso, praticamos boas obras, mas não para termos mérito; pois que mérito poderíamos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que praticamos e não ele a nós, “porque Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp. 2.13). Tenhamos sempre em mente o que está escrito: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer” (Luc. 17.10). Contudo, não negamos que Deus recompensa as boas obras, mas é pela sua graça que ele coroa os seus dons.

Além disso, embora pratiquemos boas obras, não baseamos nelas a nossa salvação. Pois, nada podemos fazer, por mínimo que seja, que não seja contaminado pela nossa carne e que não mereça punição. Ainda que pudéssemos apresentar uma única boa obra, a mera lembrança de um único pecado seria suficiente para Deus rejeitá-la. Assim, estaríamos sempre em dúvida, lançados de um lado para o outro sem certeza alguma e com a nossa pobre consciência sempre atormentada, se não confiássemos no mérito do sofrimento e da morte do nosso Salvador.

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Comentário: Não se pode separar a santificação da justificação. Uma segue imediatamente a outra e são inseparáveis. Deus as uniu no novo homem. Ninguém pode ter certeza de que foi justificado se não tiver uma santificação crescente e progressiva em sua vida. O homem de fé é um santo crescendo, sendo aperfeiçoado e conformado a Cristo. A árvore boa produz bons frutos. Antes de ser regenerado o pecador não tem boas obras, por isso a justificação pelas obras é uma completa impossibilidade. Fomos justificados sendo nós ainda pecadores, isto é, a justificação veio antes de podermos fazer qualquer coisa boa - “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” - Romanos 5.8-9. A mesma fé que leva à justificação, também leva à santificação, porque a mesma graça que justifica também santifica e glorifica. A fé salvadora é operante, ativa e producente, e os seus frutos são benditos e agradáveis a Deus. Contudo sejam quantos e quais forem os frutos na vida do crente, jamais são levados em conta para a sua justificação, mesmo porque ela ocorreu antes; a justificação é baseada apenas e tão somente no sacrifício de Cristo na cruz. Todas as boas obras do crente são fruto da graça salvadora de Deus. Assim disse Deus: “E (Eu) dar-vos-ei um coração novo, e (Eu) porei dentro de vós um espírito novo; e (Eu) tirarei da vossa carne o coração de pedra, e (Eu) vos darei um coração de carne [nos regenera]. E (Eu) porei dentro de vós o meu Espírito [nos sela com o Espírito Santo], e (Eu) farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” [nos faz praticar boas obras] - Ezequiel 36.26-27. Tudo o que somos, tudo o que sabemos, tudo quanto fazemos devemos a Deus. Jesus disse: “… sem mim nada podeis fazer” - João 15.5. Ele nos regenerou e nos capacita a andarmos nas boas obras. De fato é ele quem opera em nós as boas obras. E ainda é bom lembrar que nossa corrupção é tão grande que até mesmo as melhores obras em nós não são perfeitas, mas ainda são contaminadas pelo pecado que habita em nós. O homem natural é uma árvore que tudo quanto produz é mau, por isso mesmo não poderia fazer boas obras para sua própria justificação, pois simplesmente não as tem. O regenerado está agora enxertado em Cristo e só por isso pode produzir bons frutos. As boas obras que o crente faz são devidas a Cristo, elas não procedem de si mesmo. Por isso até a recompensa que receberá por fazer tais obras é devida a Cristo - “Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?” - 1ª Coríntios 4.7. A santificação, portanto, é o estilo de vida do cristão. Os crentes são chamados de santos, significando, não que sejamos perfeitos, mas que não vivemos mais no pecado ou para o pecado. O Espírito Santo nos lavou: “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” - 1ª Coríntios 6.9-11.

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Cristo, o cumprimento da lei

Artigo 25: Cremos que as cerimônias e os símbolos da lei cessaram com a vinda de Cristo, e que todas as sombras foram cumpridas, de modo que o uso delas deve ser abolido entre os cristãos. Contudo, a verdade e a substância delas permanecem para nós em Jesus Cristo, em quem foram cumpridas.

No entanto, ainda usamos os testemunhos tirados da Lei e dos Profetas para nos confirmar nas doutrinas do evangelho, e para ordenarmos a nossa vida com toda honradez, conforme a vontade de Deus e para a sua glória.

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Comentário: A antiga era judaica foi um período de tipos ou figuras que apontavam para Cristo. O tabernáculo, o templo, os sacrifícios, os sacerdotes, os shabbats, as festas religiosas, eram todos, sombras de uma realidade que viria – Cristo - “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” - Colossenses 2.16-17. Tendo vindo o Messias, encerrou aquela era, dando início a uma nova, a era do novo Israel, a Igreja, que incluiu também os gentios na aliança abraâmica. O primeiro sinal de que a era do templo físico havia acabado foi o véu do Santíssimo rasgado, quando Jesus morreu na cruz - “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” - Mateus 27.51. A glória de Deus não habitaria mais ali, naquele santuário. As últimas palavras do Senhor Jesus na cruz foram: “Está consumado” - João 19.30, significando que tudo estava cumprido, sua missão redentora estava completada, e todos os cerimoniais da Lei estavam cumpridos, cuja substância agora está em Cristo, pois ele é o corpo que projetava aquelas sombras. Eram como profecias cumpridas. A partir daquele momento todo sacrifício, ofertas e rituais instituídos pela Lei, não faziam mais nenhum sentido, porque Jesus é o corpo que aquelas coisas anunciavam chegaria. Ele também cumpriu, isto é, obedeceu a Lei moral, para nos resgatar da maldição da Lei - “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” - Gálatas 3.13. O segundo sinal do fim da era das sombras foi a destruição definitiva do Templo, 37 anos após a morte de Jesus Cristo. Também o Templo era uma figura profética que teve seu cumprimento no Ungido. O plano da redenção é ascendente. Ele veio se desenvolvendo desde o Éden, passou pelos patriarcas, pela era judaica e chegou à era da Igreja. Judaizantes, ainda hoje, apegam-se à coisas que eram parte do culto exterior da Antiga Aliança. Celebram festas judaicas, usam símbolos e a bandeira de Israel, referem-se aos músicos como levitas, entre outras coisas. Supõem também que algum dia no futuro o templo judaico será reconstruído em Jerusalém, com os sacerdotes e sacrifícios. Tudo como na era passada. Afirmam ainda que Jesus Cristo um dia assentar-se-á no trono físico de Davi, em Jerusalém, de onde reinará sobre as nações. Contudo, a construção de um novo templo judaico e a retomada dos sacrifícios, seriam um retrocesso no plano da redenção, obviamente inconcebível. Ainda que algum templo judaico venha a ser reconstruído no futuro ele nada terá mais com o plano da redenção o qual é crescente e ascendente em revelação. Conquanto os cerimoniais da Lei fossem totalmente abolidos, porque eram apenas uma sombra da realidade que é Cristo, todavia a Lei moral permanece em plena vigência e deve continuar sendo ensinada, pois, “a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” - Gálatas 3.24. Além disso, a Lei moral é o gabarito de Deus. Ela funciona como um esquadro que esquadrinha e revela nossa assimetria moral e espiritual. Então buscamos a ajuda do Espírito Santo para obedecer e sermos fiéis. O povo de Deus não é salvo pela obediência da Lei moral. Somos salvos exclusivamente pela Graça e, a obediência de Cristo foi-nos atribuída. E sendo salvos, buscamos obedecer todos os mandamentos de Deus, como prova do nosso amor e gratidão - “Se me amais, guardai os meus mandamentos... Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama... Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor” - João 14.15, 21; 15.10.

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A intercessão de Cristo

Artigo 26: Cremos que não temos acesso a Deus senão pelo único Mediador e Advogado, Jesus Cristo, o Justo. Com esse propósito, ele se tornou homem, unindo as duas naturezas, a divina e a humana, para que nós homens não sejamos impedidos, mas tenhamos acesso à Majestade Divina. Mas esse Mediador, que o Pai constituiu entre ele e nós, não nos deve amedrontar por sua grandeza, a ponto de fazer-nos procurar outro, conforme a nossa imaginação. Porque não há ninguém, nem no céu, nem na terra, entre as criaturas, que nos ame mais que Jesus Cristo, pois, por nós, “ele subsistindo em forma de Deus … a si mesmo se esvaziou tornando-se em semelhança de homem, e assumindo a forma de servo” (Fp. 2.6,7), e em todas as coisas tornou-se semelhante a seus irmãos (Heb. 2.17). Contudo, se fôssemos procurar outro intercessor, acaso encontraríamos algum que nos amasse mais do que aquele que entregou a sua vida por nós, mesmo quando éramos seus inimigos? (Rom. 5.8,10). se tivéssemos que procurar alguém que tivesse autoridade e poder, quem os teria mais do que ele, que está assentado à direita do Pai e que tem toda a autoridade no céu e na terra? (Mat. 28.18). E quem será ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus?

Foi, portanto, a total falta de confiança que introduziu o costume de desonrar os santos, em vez de honrá-los, ao fazer o que eles mesmos jamais fizeram nem exigiram. Pelo contrário, como registram os seus escritos, sempre rejeitaram tal honra, como era seu dever. Aqui não se deve alegar que não somos dignos, pois não apresentamos as nossas orações baseadas em nossa própria dignidade, mas somente com base na excelência e na dignidade de Jesus Cristo, cuja justiça é nossa, mediante a fé.

Por isso, pelo bom motivo de extrair de nós esse medo tolo ou, antes, essa falta de confiança, o autor de Hebreus nos diz que convinha a Jesus Cristo que “em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Heb. 2.17,18). E depois, para nos encorajar mais ainda a procurá-lo, ele nos diz: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Heb. 4.14-16). A mesma carta diz: “Tendo pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus… Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé…” (Heb. 10.19,22). Cristo, no entanto, “porque permanece eternamente, tem um sacerdócio imutável. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Heb. 7.24,25). Então, que mais é necessário, visto que o próprio Cristo diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida: ninguém vem ao Pai senão por mim”? (Jo. 14.6). Por que procuraríamos outro advogado, visto que aprouve a Deus dar-nos seu Filho como o nosso Advogado? Não o abandonemos por outro que jamais haveremos de encontrar. Pois, quando Deus o deu a nós, bem sabia que éramos pecadores.

Portanto, segundo o mandamento de Cristo, clamamos ao Pai celestial mediante Cristo, nosso único Mediador, como nos foi ensinado na oração do Senhor. E temos a certeza de que o Pai nos concederá tudo o que pedirmos em seu nome (Jo. 16.23).

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Comentário: Que há um único Mediador entre Deus e os homens as Escrituras nos deixam muito claro: ele é Jesus Cristo - “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” - Atos 4.12. Estabelecer o expediente para a nossa reconciliação consigo é prerrogativa de Deus e de ninguém mais. É ele quem ensina o meio ou caminho para o homem retornar à sua presença e sua comunhão. A via de retorno estabelecida por Deus é única e exclusiva: Jesus Cristo, seu Filho. Jesus nos amou com amor eterno – amor sacrificial e infinito, como disse: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” - João 15.13. Os discípulos provaram esse amor sem limites e que não teme as consequências - “Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” - João 13.1. Em Cristo fomos amados e aceitos diante de Deus. Portanto, o ensino romanista que diz que precisamos chegar a Cristo através de sua mãe terrena Maria, é ignorante, insultuoso e blasfemo, porque sugere que Jesus seja durão, insensível e não muito disposto a atender seus súditos, por isso se faz necessária a intercessão de Maria. Considerar os santos que estão nos céus como co-mediadores, corredentores, intercessores, guias, protetores, não honra a Deus e nem aos próprios santos; tal prática é desconhecida das Escrituras, pois veio do paganismo. É importante saber que nenhuma criatura no céu e na terra é onipotente, onisciente, e nem onipresente. Esses atributos são exclusivos do Criador e são incomunicáveis e intransmissíveis. Para um santo que está no céu, ver um pedinte ou ouvir sua oração aqui na terra, esse santo teria que se onisciente ou onipresente, e isso nem os santos nem os anjos são. E para que pudesse atender os pedidos da terra, esse santo teria que ser onipotente e nenhum santo o é. Logo, nenhuma criatura no céu pode ouvir pedidos e atendê-los, porque não são capazes disso e nem receberam essa tarefa. Nosso único Mediador é Jesus Cristo - “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” - 1ª Timóteo 2.5. Quem está em Cristo não procura outro mediador, fazê-lo é forte indício de que tal pessoa não esteja de fato em Cristo. O Senhor Jesus é nosso intercessor diante do trono de Deus e não precisamos de outro; e não existe nenhum outro. Os méritos de Cristo são absolutamente suficientes para nos representar diante de Deus. Isso também tranquiliza nossa consciência pois estamos muito bem representados e nele fomos plenamente amados e aceitos. Deus é perfeitíssimo e jamais erra ou falta. Jamais nos teria ele dado um mediador que não fosse suficiente por si mesmo. Jesus Cristo, o Filho Eterno é o único Mediador entre Deus e os homens e ele é absolutamente suficiente para nos socorrer e salvar. Amém.

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A Igreja cristã católica ou universal

Artigo 27: Cremos e professamos uma única Igreja católica ou universal, que é a santa congregação e assembleia dos verdadeiros crentes em Cristo, que aguardam a sua total salvação em Jesus Cristo, são lavados por seu sangue, e são santificados e selados pelo Espírito Santo.

Essa Igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o final, pois Cristo é Rei Eterno que não pode ficar sem súditos. Essa santa Igreja é preservada por Deus contra o furor do mundo inteiro, mesmo que por um tempo pareça, aos olhos do homem, muito pequena e quase extinta. Assim, durante o perigoso reino de Acabe, o Senhor preservou para si sete mil pessoas que não dobraram os seus joelhos a Baal.

Além disso, essa santa Igreja não está confinada nem limitada a um lugar em particular, nem a pessoas específicas, mas está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro. Contudo, está integrada e unida, de coração e vontade, em um único e mesmo Espírito, pelo poder da fé.

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Comentário: Na verdade este mundo só existe por causa da Igreja de Cristo, que é o povo de Deus. É aqui, na terra, que os eleitos nascem e conhecem a Deus. A história da humanidade inclui a história da redenção dos eleitos. Na verdade a história da humanidade pode ser descrita em três eventos: Criação, Queda e Redenção. A princípio Deus pôs Adão e Eva no Paraíso do Éden e disse-lhes que se multiplicassem. Toda a sua descendência formaria uma congregação santa e habitaria toda a terra. Mas com a queda, a entrada do pecado no mundo dividiu a descendência de Adão em duas classes: uma seria descendência natural (caída e não redimida) e outra espiritual (caída mas redimida). A primeira foi chamada de descendência da serpente e a outra descendência da mulher. A história se desenvolve assim: A descendência da mulher seria redimida por um descendente da mulher: O Messias – Jesus Cristo. A descendência da serpente é formada pelos caídos e não redimidos, e será condenada juntamente com a serpente no juízo eterno. Aos santos Deus preparou um reino - “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” - Mateus 25.34. Aos ímpios e rebeldes Deus condenará no inferno eterno - “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos - Mateus 25.41. A Igreja de Cristo que é composta pela descendência da mulher, sempre dividiu espaço na terra com descendência da serpente que a odeia e persegue violentamente - “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia” - João 15.18-19. Houve lapsos de tempo na história em que a Igreja parecia estar sumindo ou sendo eclipsada, mas Cristo sempre teve seus servos fiéis espalhados neste mundo. Onde quer que a Palavra de Deus for pregada, e a redenção anunciada, o Espírito Santo regenera vidas unindo-as ao Corpo de Cristo. E onde quer que essas pessoas congreguem ali está a igreja católica, resultante da pregação da Palavra e da operação do Espírito Santo. Católica significa que a Igreja não está circunscrita a uma área restrita, mas espalha-se por todas as nações. Por isso, católica romana ou católica brasileira é incorreto, pois se a Igreja é católica, é universal. Católica não é uma denominação, mas um adjetivo da Igreja de Cristo, e não significa apenas universal ou mundial mas tem outras implicações. Universal indica sua extensão geográfica. Isto significa que existe apenas uma Igreja em toda a superfície da terra. Jesus Cristo é a cabeça e a Igreja é o corpo de Cristo. Não há duas cabeças e nem dois corpos, mas um só corpo e uma só cabeça - “Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo” - Efésios 5.23. Então isso se refere a catolicidade geográfica. Mas podemos também falar sobre a catolicidade temporal que significa que no tempo só existe uma Igreja, desde o Éden vindo até hoje e até o último dia da humanidade haverá uma única Igreja. Todos os crentes do primeiro ao último fazem parte da Igreja de Cristo. Os do Antigo Testamento serviam a Cristo de maneira velada, com pouca luz, através de tipos, figuras e sombras. Hoje servimos a Cristo de maneira revelada pois ele já veio pessoalmente a nós. Somos todos da mesma Igreja. Isso é catolicidade temporal. Podemos também falar da catolicidade histórica, que significa que sendo a Igreja única, tem também uma história única. A Igreja do Novo Testamento, que incluiu os gentios na aliança abraâmica, começou a dois milênios. Todo mistério oculto através dos séculos foi manifestado com a vinda do Messias, o Senhor Jesus Cristo. Ele é o ápice da revelação, pois nele estão todos os mistérios de Deus. Jesus Cristo é a revelação do Pai - “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa…” - Hebreus 1.1-3. Depois que Jesus veio não há mais nada a ser revelado. Todas as seitas que surgiram depois propondo novas revelações, são inteiramente falsas. Outro aspecto muito importante da Igreja de Cristo é a catolicidade doutrinária. Se há uma única Igreja, obviamente deve haver uma única doutrina. Tudo quanto diferir das palavras do Senhor Jesus pelos seus profetas e apóstolos deve ser inteiramente descartado como falso. Todas as congregações fiéis mantêm a palavra dos profetas e a doutrina dos apóstolos - “E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vossos corações” - 2a Pedro 1.19; “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina” - Efésios 2.19-20. Duas igrejas fiéis terão necessariamente a mesma doutrina, mas a que não andar nas antigas veredas será falsa. As seitas evangélicas que surgiram ao longo dos séculos são consideradas falsas e satânicas, porque uma igreja que ensina outra doutrina está oferecendo um mapa adulterado para os seus membros e alguém com um mapa adulterado jamais chegará ao destino verdadeiro. Além dessas ainda nos resta dizer que a Igreja de Jesus Cristo tem também uma catolicidade litúrgica, isto é, existe um padrão e modelo apostólico de culto. Deus não deixou a cargo do homem fazer o culto solene como bem entendesse. Ao contrário Deus é meticuloso com o aspecto litúrgico de seu culto. Havia uma catolicidade litúrgica nas sinagogas de Israel. Não se achava uma sinagoga diferente das demais, nem havia uma variedade de cultos para que os homens escolhessem conforme mais lhes agradasse. Três vezes ao ano os israelitas se deslocavam de suas cidades e iam ao monte do Senhor, ao Templo em Jerusalém para adorá-lo. Mas durante os demais shabats eles adoravam nas sinagogas espalhadas pela nação. E nas sinagogas havia uma catolicidade litúrgica. Todas operavam exatamente iguais. Havia leitura e exposição das escrituras, cânticos dos salmos [sem instrumentos musicais], orações, coletas de ofertas. Uma sinagoga não era diferente das outras, mas todas seguiam a mesma liturgia. As igrejas cristãs foram formadas no modelo das sinagogas judaicas. Todas as igrejas cristãs, em todo o mundo, deveriam seguir a mesma liturgia.

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O dever de juntar-se a Igreja

Artigo 28: Cremos que essa santa assembleia e congregação é a assembleia dos remidos e que fora dela não há salvação; por isso ninguém, seja qual for a sua posição ou reputação, deve se retirar dela e contentar-se com sua própria pessoa. Todos, porém, são obrigados a juntar-se e unir-se a ela, conservando a unidade da Igreja. Devem se submeter à sua instrução e disciplina, curvar sua cabeça sob o jugo de Jesus Cristo, e servir à edificação dos irmãos, de acordo com os talentos que Deus lhes concedeu como membros do mesmo corpo.

Para que isso se cumpra eficazmente, é dever de todos os crentes, segundo a Palavra de Deus, se separar dos que não pertencem à Igreja e se juntar a essa assembleia em todo lugar onde Deus a tenha estabelecido. Devem fazer isso, mesmo que governos, leis e autoridades lhes sejam contrários, e mesmo que sejam punidos fisicamente ou com a morte.

Portanto, todo o que se aparta da Igreja ou não se junta a ela contraria a ordenança de Deus.

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Comentário: Todos quantos Deus desperta o espírito, chama ao arrependimento e à salvação em Cristo são unidos à Igreja - “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” - Atos 2.47. Todos os que foram reconciliados com Deus são unidos a Cristo e introduzidos na sua Igreja, pois ela é o aprisco das ovelhas do Senhor. Doutores e teólogos cristãos, desde os mais antigos, declararam que fora da Igreja não há salvação, embora não seja a Igreja que salva - “Mas a Jerusalém que é de cima [Igreja] é livre; a qual é mãe de todos nós” - Gálatas 4.26. A Igreja é a mãe dos fiéis; ela é a comunhão dos santos que amam a comunhão de outros santos. Uma das primeiras evidências da conversão a Cristo é justamente o desejo de comungar com a irmandade - “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor” - Salmo 122.1; “Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermon, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre” - Salmo 133. Congregar é uma das grandes alegrias do crente - “E irão muitos povos, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do Senhor” - Isaías 2.3. Deus mandou-nos congregar porque há bênçãos na congregação. Jesus disse que onde estiverem duas ou três pessoas reunidas em seu nome Ele está presente. E presente de uma maneira especial, porque Ele está sempre, todos os dias conosco, mas “anda no meio dos sete castiçais de ouro [igrejas]” - Apocalipse 2.1. Também disse Davi pelo Espírito Santo que Jesus está no meio da Congregação: “Então, declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação” - Salmo 22.22. Todos os crentes, cada um deles, devem submeter-se ao governo da Igreja, pois é assim que serão: 1) exortados e encorajados pela pregação da Palavra de Deus; 2) receberão a ministração dos sacramentos; 3) serão corrigidos e disciplinados. Se Deus assim o ordenou, não há o que se discutir. Viver fora da Congregação do Senhor é estar em rebelião pois está rejeitando o governo de Deus por meio das autoridades que Ele instituiu. Um crente fora da Congregação é o mesmo que um israelita no deserto que não estivesse debaixo da nuvem ou andando fora da nuvem, não seguindo o mover da nuvem. As Escrituras nos ensinam a preservar a unidade da Igreja de Cristo, e para isto, onde quer que vivamos, devemos nos reunir regularmente para a adoração pública. Jesus orou pela unidade da Igreja: “Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós... Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós... E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um” - João 17.11, 21, 22. Comete grande pecado aquele que contraria tão grande desejo do Salvador. Congregar não é opcional mas uma ordem do Senhor: “Não endureçais agora a vossa cerviz, como vossos pais; dai a mão ao Senhor, e vinde ao seu santuário que ele santificou para sempre, e servi ao Senhor vosso Deus, para que o ardor da sua ira se desvie de vós” - 2º Crônicas 30.8. “Vinde ao seu santuário”, é uma convocação, uma ordem. Independente das dificuldades que há em muitos países, os crentes devem reunir-se em assembleia solene. A Igreja deve viver neste mundo separando-se dos pecadores, dando testemunho da verdade e da luz - “E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa” - Atos 2.40. Que ninguém deixe a Igreja - “Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” - Hebreus 10.25. Nosso maior testemunho diante do mundo é a Congregação cultuando publicamente ao Senhor no dia do Senhor. Quem estiver fora da Congregação não participa deste testemunho público. E o culto público deve realizado ainda que sob ameaças de perseguição e morte. Não ser cristão é pecado, tentar sê-lo fora da Igreja também é.

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As marcas da verdadeira e da falsa Igreja


Artigo 29: Cremos que devemos distinguir, com diligência e muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a verdadeira Igreja, pois todas as seitas que há hoje no mundo arrogam para si o nome de igreja. Não falamos aqui dos hipócritas que se misturam aos fiéis da Igreja, pois, embora participem visivelmente da Igreja, não fazem parte dela. Mas falamos do corpo e da comunhão da verdadeira Igreja que se deve distinguir daquelas seitas que se dizem Igreja.

A Igreja verdadeira é reconhecida pelas seguintes marcas: ela pratica a pura pregação do evangelho; mantém a pura administração dos sacramentos segundo Cristo os instituiu; e exercita a disciplina na igreja para a correção e punição dos pecados. Em síntese, governa a si mesma segundo a pura Palavra de Deus, rejeitando tudo o que lhe for contrário, e tem Jesus Cristo como o único Cabeça. Assim se re reconhece com certeza a verdadeira Igreja, e ninguém tem o direito de se separar dela.

Os que pertencem à Igreja devem ser reconhecidos palas marcas dos cristãos: eles creem em Jesus Cristo como o único Salvador; fogem do pecado e buscam por justiça; amam o verdadeiro Deus e o seu próximo sem se desviar para a direita nem para a esquerda; e crucificam a carne com as suas obras. No entanto, ainda permanece neles uma grande fraqueza, à qual combatem, pelo Espírito, todos os dias da sua vida. Apelam continuamente para o sangue, sofrimento, morte e obediência de Jesus Cristo, no qual têm a remissão de seus pecados, por meio da fé nele.

A falsa Igreja, contudo, atribui mais autoridade a si mesma e às suas ordenanças do que à Palavra de Deus; não quer se submeter ao jugo de Cristo; não administra os sacramentos conforme Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta e subtrai deles o tanto que lhe convém; baseia-se mais nos homens do que em Jesus Cristo; persegue aos que vivem de maneira santa, segundo a Palavra de Deus, e aos que lhe repreendem os seus pecados, cobiça e idolatrias. Essas duas Igrejas são facilmente reconhecidas e distinguidas uma da outra.

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Comentário: No meio da Congregação dos santos sempre existem aqueles que são falsos e hipócritas, como o joio que está no meio do trigal de Deus. Mas não é disso que trata esse ponto da Confissão. Aqui é tratado o problema das seitas que usam o nome de igreja que são inúmeras e se multiplicam a cada dia. É preciso dizer que muitas associações que têm nome de igreja, de fato não passam de seitas que mentem, desinformam e conduzem ao erro e ao pecado, desviam o rebanho para o abismo. Temos muitas comunidades e fundações filantrópicas que usam o nome de igreja, quando na verdade são organizações com cores eclesiásticas mas que servem apenas aos interesses de seus fundadores e associados. Uma igreja verdadeira segue o modelo apostólico e deve conter: 1) pura e fiel pregação do Evangelho; 2) pura e fiel administração dos sacramentos; 3) santo e fiel exercício da disciplina eclesiástica. Assim como para uma vida física saudável temos que cuidar da alimentação, da higiene e do exercício, outro tanto em relação à vida espiritual. A igreja verdadeira orienta-se e governa a si mesma pela Palavra de Deus. Cada igreja, em cada localidade, deve instituir seus próprios oficiais, os quais, uma vez eleitos, irão governá-la conforme a orientação da Palavra. Jesus Cristo é o único Cabeça da Igreja. Não há, portanto, hierarquia dentro da Congregação do Senhor. O modelo de um líder máximo que se põe sobre a comunidade não é bíblico. Os títulos: Sumo Pontífice, Pastor Sênior, Apóstolo, Bispo, que lideram outros oficiais como pertencendo a uma casta superior, é totalmente contrário ao ensino de Cristo - “E ele lhes disse: Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve. Pois qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve” - Lucas 22.25-27. Na Igreja de Cristo todos os oficiais são iguais entre si, só se diferindo no que diz respeito às suas funções. É verdade também que mesmo numa igreja fiel podem existir hipócritas que enganam-se a si mesmos, contudo esse fato, por si só, não descaracteriza a igreja. Deus, a seu tempo, os julgará. Os crentes fiéis devem expressar sua fé e confiança plena em Jesus Cristo e produzir os frutos da nova vida que dele receberam. Eles não são perfeitos em tudo, mas resistem e combatem o pecado, sem trégua e sem temor. Assim como uma igreja fiel tem suas marcas, do mesmo modo os crentes verdadeiros também as têm: eles creem somente em Jesus Cristo para a sua salvação; eles não se embaraçam com as coisas desta vida; fogem do mal e resistem às paixões carnais; mesmo em suas maiores fraquezas eles vão até as últimas consequências na luta contra o pecado e a corrupção da carne; vivem sujeitos a Cristo e servem na igreja local, sujeitando-se em amor aos demais irmãos.

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O governo da Igreja


Artigo 30: Cremos que a verdadeira Igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual que o nosso Senhor nos ensinou em sua Palavra. Deve haver ministros ou pastores para pegarem a Palavra de Deus e para administrarem os sacramentos; deve haver também presbíteros e diáconos para formarem, com os pastores, o conselho da igreja. Assim, eles preservam a verdadeira religião e zelam para que a sã doutrina siga o seu curso, para que os maus sejam disciplinados de forma espiritual e sejam contidos, e também para que os pobres e todos os aflitos sejam socorridos e consolados segundo as suas necessidades. Assim, tudo será bem feito e com boa ordem quando tais homens fiéis são escolhidos segundo a regra que o apóstolo Paulo deu a Timóteo.

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Comentário: A Confissão nos ensina, que encontramos no ensino apostólico, três funções diferentes no governo espiritual da igreja: presbíteros, diáconos e ministros da Palavra. Os presbíteros podem ser regentes e docentes, os que governam e os que se dedicam ao ensino. Todos devem ser aptos para ensinar, mas há alguns que são doutores na Palavra. Cada uma dessas funções deve ser exercida por homens escolhidos e eleitos pela congregação em cada localidade. Todos esses ofícios que encontramos na Bíblia, são exercidos sempre por homens e nunca mulheres. Os ministros da Palavra são responsáveis por alimentar o rebanho com o alimento sólido da Palavra de Deus. Os presbíteros são responsáveis pela supervisão e cuidado do rebanho, bem como da disciplina eclesiástica; eles cuidam da formação espiritual dos membros da congregação, zelam para que falsas doutrinas não entrem na igreja através de falsos mestres; também supervisionam a Ceia do Senhor para que ninguém dela participe estando em pecado e o sacramento seja profanado. Os diáconos têm a responsabilidade de atender às necessidades materiais daqueles que passam por privações, levar consolo e encorajamento aos que passam por tribulações. Todos esses homens juntos formam o conselho da igreja local. Não existe uma hierarquia espiritual entre essas funções, cada oficial exerce uma função diferente na congregação e todos eles são igualmente honrados, pois unânimes eles apascentam e governam o rebanho de Deus. Quando eleitos legitimamente sua autoridade é confirmada por Deus. Jesus disse: “Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou” - Lucas 10.16. Nenhum crente pode dizer que se submete unicamente a Deus. Afirmá-lo seria desprezar as autoridades delegadas por Deus. Quem não se submete à autoridade da igreja local também não se submete a Deus. Nenhum membro do nosso corpo pode ligar-se solitário à cabeça, mas todos unidos formam o corpo que está ligado à cabeça. Igualmente, nenhum cristão está ligado sozinho a Cristo, mas ele forma uma unidade com os demais membros do Corpo que está sujeito ao Cabeça da Igreja. A igreja deve submeter-se a autoridade de Cristo e cada membro deve submeter-se a autoridade da igreja. Assim, cada crente deve ouvir e obedecer às autoridades da igreja local, e todos devem ser submissos uns aos outros. Essa é uma sujeição voluntária a um governo de amor. Quem não entendeu o princípio da autoridade não entendeu o Reino de Deus - “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei” - Tito 1.5. Onde não há autoridade não há ordem, por isso Deus a estabeleceu para manter a boa ordem em todas as igrejas.

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Os oficiais da Igreja


Artigo 31: Cremos que os ministros da Palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para os seus ofícios mediante eleição legítima pela igreja, com oração e em boa ordem, como estipula a Palavra de Deus. Por isso, cada um deve cuidar para não se intrometer no ofício de modo impróprio; deve esperar até que seja chamado por Deus, para que possa ter testemunho da sua vocação e, assim estar certo de que esse chamado vem do Senhor. Os ministros da Palavra têm igual poder e autoridade onde quer que estejam, pois todos eles são servos de Jesus Cristo, o único Bispo universal e o único Cabeça da Igreja. E, para que essa sagrada ordenança de Deus não seja violada nem desprezada, instamos a todos para que nutram especial estima pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão da obra que realizam, e que estejam em paz com eles, o tanto quanto possível, sem murmurações ou contendas.

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Comentário: A Igreja é governada pela Palavra de Deus, isto é, ela mesma escolhe seus líderes baseados nos princípios das Escrituras. Temos instruções e exemplos na Bíblia em como proceder - “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio. Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra. E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia; E os apresentaram ante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos” - Atos 6.3-6. A congregação escolhe e os que já são oficiais reconhecidos instituem aos novos em seus ofícios. Ninguém deve forçar a situação para ser um oficial. Ao contrário, cada oficial deve ser chamado por Deus através da igreja local. A congregação escolhe, vota e cada deve pensar muito bem antes de assumir qualquer função para não dar mal testemunho. Um oficial deve ser exemplo para os fiéis - “Ninguém despreze a tua mocidade: mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” - 1a Timóteo 4.12. Os oficiais devem preencher todos os quesitos que também estão claros nas Escrituras - “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia ( Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo” - 1ª Timóteo 3.1-7. Os oficiais devem ser todos homens e homens piedosos, sábios, modestos, mansos e humildes, que tenham domínio próprio, disciplinados, que tenham bom conhecimento da doutrina apostólica e sejam firmes na fé, bons seguidores de Cristo, tendo bom testemunho dos que estão fora, isto é, entre os parentes, na sua vizinhança, no emprego e demais lugares. Na igreja de Cristo ninguém é maior ou menor, pois não há hierarquia espiritual. Todos são servos que servem em funções diferentes e diferentes tarefas. Contudo a Bíblia ordena honrar os oficiais, respeitando-os e submetendo-se a eles em amor - “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; E que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra” - 1ª Tessalonicenses 5.12-13. Os líderes serão cobrados pela sua fidelidade às Escrituras, por como guiaram o rebanho, e como honraram ao Senhor e a sua Palavra - “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil” - Hebreus 13.17. Os trabalhadores da obra de Deus serão cobrados pela sua fidelidade à Palavra do Senhor. Ninguém será cobrado pelo sucesso ou pelos resultados, mas tão somente pela sua fidelidade. Os resultados dependem unicamente da ação do Espírito Santo. Nós pregamos mas o Espírito assopra onde quer e vivifica a quem quer. Nós chamamos exteriormente, o nosso chamado chega aos ouvidos físicos, mas o chamado interior é obra exclusiva do Espírito Santo.

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A ordem e a disciplina da Igreja


Artigo 32: Cremos que, embora seja útil e bom para aqueles que governam a igreja estabelecer certa ordem para manter o corpo da igreja, eles devem sempre se guardar para não se desviarem daquilo que o nosso único Mestre, Cristo, nos ordenou. Por isso, rejeitamos todas as invenções e leis humanas introduzidas no culto a Deus, que de algum modo obrigue e force a consciência. Só aceitamos aquilo que é apropriado para preservar e promover a harmonia e unidade, e para manter tudo em obediência a Deus. Para esse fim, a disciplina e a excomunhão devem ser exercidas de acordo com a Palavra de Deus.

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Comentário: Os oficiais têm a responsabilidade de manter a boa ordem na igreja local. Deus lhes deu autoridade para exercer a disciplina cristã sempre que se fizer necessária. E Jesus ensinou como proceder - “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” - Mateus 18.15-18. Primeiramente o faltoso deve ser repreendido em particular e se ouvir e arrepender-se será perdoado e o caso encerrado. Se, contudo, isso não for suficiente e continuar na prática do pecado, a situação deve ser trazida aos oficiais e o faltoso deve ser confrontado e admoestado por mais irmãos; e se ainda assim não houver arrependimento, então o caso deve ser levado ao conhecimento da congregação; esta será sua última chance. Se porém não arrepender-se, mas endurecer-se no pecado, então deve ser reprovado e desligado da comunhão da igreja. Deve-se sempre primar pela restauração do transgressor, mas havendo endurecimento, depois de muitas exortações, tal pessoa deve ser afastada da comunhão dos santos, para o seu próprio bem e da congregação. O desligamento da igreja local é desligamento do Corpo de Cristo e do Céu. Se, depois de excluído, o faltoso arrepender-se, humilhar-se e rogar pelo retorno à comunhão dos santos, ainda pode ser perdoado e readmitido, mas se permanecer no pecado perder-se-á para sempre. O fato é que alguém que encrueceu no pecado não pode continuar na congregação dos santos, nem participar da comunhão do corpo e do sangue de Cristo, mas deve ser excomungado. O ensino apostólico diz: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” - Romanos 16.17. E também: “Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo” - 1ª Coríntios 5.11-13. A disciplina eclesiástica é para manter a saúde espiritual da igreja. Corrigir é amar, por isso Deus nos corrige quando pecamos. Fazer vista grossa para com o pecado de alguém não é amar, apoiar ou premiar alguém que está em pecado não é amor, não segundo a Bíblia, porque quando amamos alguém não queremos que viva no pecado, uma vez que o o salário do pecado é a morte. Os pais nunca devem premiar os filhos quando estes estão em desobediência, pois isto seria endossar seu erro. Deus corrige a quem ama e quando Deus entrega e abandona alguém no pecado essa pessoa está debaixo da ira e maldição, pois será destruída. Então, disciplinar e corrigir é um elevado ato de amor ao faltoso. Quando os líderes aplicam seriamente a disciplina estão honrando a Deus. Quando não o fazem, estão dando honra aos homens em detrimento da glória de Deus. É, contudo, necessário lembrar que quando alguma igreja começa colocar regras humanas, tradições de homens, usos e costumes, desvia-se do principal que é a piedade. Alguém pode ser muito rígido em questões secundárias e não ser de fato piedoso. Se alguma igreja apegar-se a preceitos humanos pode incorrer numa adoração vã e num culto inaceitável, como disse o Senhor: “Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” - Mateus 15.9. Somos servos de Cristo e do Seu reino, e não da religião dos homens - “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” - Gálatas 5.1. Por isso alguém deve ser disciplinado se houver pecado contra Deus e não por haver quebrado preceitos ou costumes de homens. Assim, a disciplina eclesiástica é uma das marcas de uma igreja fiel.

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Os sacramentos


Artigo 33: Cremos que o nosso Deus gracioso, atento à nossa insensibilidade e fraqueza, ordenou os sacramentos para selar em nós as suas promessas, para servirem como penhor da sua boa-vontade e graça conosco, e para alimentarem e sustentarem a nossa fé. Ele os acrescentou à Palavra do evangelho para apresentar melhor diante dos nossos sentidos externos aquilo que ele nos declara em sua Palavra e o que faz interiormente em nosso coração; assim, ele nos confirma a salvação a nós concedida. Os sacramentos são os sinais e os selos visíveis de algo interior e invisível, por meio dos quais Deus opera em nós pelo poder do Espírito Santo. Por isso, esses sinais não são vãos nem vazios de modo a nos enganar, porque Jesus Cristo é a verdade deles; sem Cristo, não seriam nada.

Além disso, nos contentamos com o número dos sacramentos que Cristo, nosso Mestre, nos ordenou, sendo somente dois, a saber, o sacramento do batismo e da santa ceia de Jesus Cristo.

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Comentário: Que são os sacramentos? São os selos ou sinais visíveis que Deus deu à sua Igreja para melhor compreender a obra da redenção. Juntamente com sua correspondência interior, obra do Espírito Santo, são como que penhores da nossa salvação, eles asseguram e garantem que a obra da redenção será completada em nós e que nós seremos conservados da corrupção deste e mundo e permaneceremos firmes até o último dia. Mas se não houver a correspondência interior eles serão sinais vazios. Os sacramentos são: Batismo e Ceia. O santo batismo é, bem como a antiga circuncisão era, a purificação dos pecados; a santa ceia, bem como o antigo sacrifício da páscoa, significa o alimento espiritual para a nossa alma. Os sacramentos estão unidos - “Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Esta é a ordenança da páscoa: nenhum filho do estrangeiro comerá dela. Porém todo o servo comprado por dinheiro, depois que o houveres circuncidado, então comerá dela… Porém se algum estrangeiro se hospedar contigo e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, seja-lhe circuncidado todo o homem, e então chegará a celebrá-la, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela” - Êxodo 12.43,44,48. Só participavam da páscoa aqueles que eram circuncidados; só participamos da santa ceia porque recebemos o santo batismo. Assim todas as vezes que participamos da ceia lembramos nossa aliança com o Senhor, pois também fomos selados com o batismo e fazemos parte do povo do Pacto; então somos fortalecidos na fé. O santo batismo, tal qual a circuncisão é administrado uma única vez, enquanto que a ceia tal qual a antiga páscoa, muitas vezes durante a nossa vida. Os sacramentos apontam para o sacrifício de Cristo na cruz para nos dar o perdão, a purificação e a vida eterna. Eles têm o seu valor porque foram instituídos por Deus. Seu valor não depende do ministro que os realiza; também o valor do sacramento não depende da dignidade nem do pleno entendimento de quem os recebe; nem está nos elementos usados, ou na forma que são feitos. Se o batismo é realizado com muita água ou pouca, se a água é salgada ou doce, quente ou fria, se a forma é imersão, efusão ou aspersão, nada disso é importante. Também se a ceia é realizada com mais ou menos pão, mais ou menos vinho, se é vinho ou suco de uva, pão sem fermento, nenhumas dessas coisas alteram o valor do sacramento, pois seu valor está na instituição divina, na Palavra de Deus, na agência pessoal do Santo Espírito de Deus que opera através do sacramento. O santo batismo é ordenado a cada membro da Aliança, que deve recebê-lo uma única vez e não deve ser repetido. Os sacramentos, como vimos, foram instituídos já na Antiga Aliança. Apenas a forma e os elementos usados mudaram. Antigamente a forma era mais grosseira e carnal, na era cristã são mais espirituais e sem derramamento de sangue. Os únicos elementos materiais que Deus nos deixou na nossa era foram: a água que é usada no santo batismo, e o pão junto com o vinho, usados na santa ceia.

Muitas vezes surgem dúvidas quanto à integridade do ministro, mas a validade do sacramento não está nele. Suponhamos que nasceu um menino em Israel e foi levado ao mohel (oficial que opera a circuncisão dos meninos judeus) e após a circuncisão descobre-se que aquele homem nem mesmo crê na berit milá, que a Aliança da circuncisão. Nem por isso aquele sinal da circuncisão será invalidado. Da mesma forma, suponhamos que nasce um menino na igreja do Senhor e é levado para receber a marca a Aliança - o santo batismo. Depois de batizado, descobre-se que o ministro tem um fraco entendimento da doutrina ou está em algum pecado grave. Nem por isso aquele batismo deixa de ter seu valor.

Digamos que um adulto fez profissão de fé e recebeu o batismo em seguida, porém mais tarde descobre que na época em que professou sua fé e recebeu o batismo nada entendia sobre a obra da redenção, nem sobre os sacramentos. Nem por isso seu batismo deixa de ter valor. Pois o valor do sacramento está em si próprio e naquele que o instituiu.

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O sacramento do batismo


Artigo 34: Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que é o fim da lei (Rom. 10.4), ao derramar o seu sangue, pôs fim a todo e qualquer derramamento de sangue que se poderia fazer como expiação ou satisfação pelos pecados. Ele aboliu a circuncisão, que envolvia sangue, e instituiu o sacramento do batismo em seu lugar. Pelo batismo, somos recebidos na Igreja de Deus e separados de todas as outras pessoas e falsas religiões, para estarmos totalmente comprometidos com ele, de quem carregamos a marca e o emblema, que nos servem como testemunho de que ele será eternamente o nosso Deus e Pai gracioso.

Por isso, Cristo ordenou que todos os seus sejam batizados simplesmente com água pura, “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mat. 28.19), dando-nos a entender com isso que, assim como a água, derramada em nós, lava completamente a sujeira do corpo, e assim como a água é vista no corpo do batizado quando derramada nele, o sangue de Cristo,pelo Espírito Santo, faz a mesma coisa no interior da alma. Ele lava e limpa a nossa alma do pecado e nos regenera de filhos da ira para filhos de Deus. Isso não é produzido pela água em si mesma, mas pelo aspergir do precioso sangue do Filho de Deus, que é o nosso Mar Vermelho, que precisamos atravessar para escapar da tirania de Faraó, ou seja, do diabo, para entrarmos na Canaã espiritual.

Assim os ministros, por sua parte, nos administram o sacramento e aquilo que é visível, mas o nosso Senhor nos dá aquilo que o sacramento significa, ou seja, os dons invisíveis e a graça. O Senhor lava, purifica e limpa a nossa alma de toda imundície e iniquidade; renova o nosso coração, enchendo-o de todo o consolo; dá-nos a verdadeira certeza da sua bondade paternal; reveste-nos da nova natureza; e despe-nos da velha natureza com todas as suas obras.

Portanto, cremos que aquele que almeja a vida eterna deve ser batizado uma vez com um só batismo. O batismo nunca deve ser repetido, pois não podemos nascer duas vezes. Além disso, o batismo não nos beneficia apenas quando a água está em nós e quando o recebemos, mas por toda a nossa vida. Por essa causa, rejeitamos o erro dos Anabatistas, que não se contentam com o batismo recebido uma única vez, e que também condenam o batismo dos filhos pequenos dos crentes. Cremos que essas crianças devem ser batizadas e seladas com o sinal da aliança, assim como os bebês em Israel eram circuncidados com base nas mesmas promessas que agora são feitas aos nossos filhos. De fato, Cristo derramou o seu sangue para purificar os filhos dos crentes do mesmo modo que o derramou pelos adultos. Por isso, devem receber o sinal e o sacramento daquilo que Cristo fez por eles, assim como o Senhor ordenou na lei que fosse oferecido um cordeiro logo após o nascimento dos filhos, que era o sacramento da paixão e morte de Jesus Cristo. Como o batismo tem para os nossos filhos o mesmo significado que a circuncisão tinha par o povo de Israel, Paulo chama o batismo de “a circuncisão de Cristo” (Col. 2.11).

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Comentário: Depois que o Senhor Jesus veio e morreu na cruz, derramando o seu precioso sangue para nos purificar de todo pecado, não deve haver mais derramamento de sangue, como a lei exigia no Antigo Testamento, tanto nos sacrifícios dos animais como na circuncisão. No lugar da antiga circuncisão, que era a marca no órgão genital masculino, o Senhor Jesus instituiu o batismo com água. O significado do batismo é o mesmo da circuncisão: 1) distingue um membro do povo de Deus dos demais, os pagãos; 2) selo ou sinal exterior da Aliança – indica que quem tem o sinal que pertence à congregação do Senhor; 3) é o sinal da iniciação na Aliança; 4) lavagem e purificação dos pecados; 5) regeneração (coração novo); 6) morte e sepultamento da vida velha e renascimento para a nova vida ressurreta com Deus; 7) é um ato de Deus e não do homem – Deus decide quem Ele deseja selar, pois é o nosso Dono. Jesus Cristo instituiu o batismo e a fórmula: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” - Mateus 28.19. Tendo o batismo com água substituído a antiga circuncisão, não apenas os adultos devem batizados, mas também as crianças, porque cada membro da congregação deve trazer a marca da Aliança, e os filhos dos crentes também fazem parte do povo de Deus - “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” - Atos 2.39. Assim Deus o ordenou, assim devemos cumprir - “No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, a circuncisão de Cristo; Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” - Colossenses 2.11-12. Tanto a circuncisão quanto o batismo devem ter a correspondência interior – que é a sua realidade. Ambos expressam a obra do Espírito Santo no coração do homem. Um verdadeiro judeu tinha o sinal externo da Aliança e um coração circuncidado pelo Espírito Santo; outro tanto um verdadeiro cristão tem o selo por fora e a correspondência interior que é o selo do Espírito Santo. Portanto, o que salva não é o selo exterior e sim a realidade interior operada pelo Espírito de Deus. A igreja deve contentar-se com os sacramentos que Cristo deixou que são dois: o batismo e a ceia. Não há outros sacramentos na Bíblia, mas apenas estes; e o batismo não pode ser repetido, mas uma vez realizado por uma autoridade oficial da Igreja, com água, “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, ele terá validade para sempre. Sendo como é um selo ele é visto por Deus sobre nós. O significado do selo mesmo sendo físico e exterior, é primeiramente espiritual, pois é Deus quem o ordena e é ele quem o vê sobre os seus. Isto pode ser compreendido no sinal da circuncisão, no sinal do arco nas nuvens, no sinal do sangue nas vergas das portas dos israelitas no Egito, e o mesmo no sinal da água do batismo. É Deus quem vê o selo que identifica o povo da aliança. Do arco nas nuvens foi dito: “E estará o arco nas nuvens, e eu o verei, para me lembrar da aliança eterna entre Deus e toda alma vivente de toda carne, que está sobre a terra” - Gênesis 9.16. Do sangue do cordeiro nos umbrais das portas dos israelitas está escrito: “Porque o SENHOR passará para ferir aos egípcios, porém, quando vir o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, o SENHOR passará aquela porta e não deixará ao destruidor entrar em vossas casas para vos ferir” - Êxodo 12.23. Deus disse que ele vê o selo ou sinal e se lembra da sua aliança conosco. Isto é maravilhoso!

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O sacramento da santa ceia do Senhor


Artigo 35: Cremos e confessamos que o nosso Salvador Jesus Cristo instituiu o sacramento da santa ceia para nutrir e sustentar aos que já regenerou e incorporou à sua família, que é a sua Igreja.

Aqueles que nasceram de novo possuem duas vidas diferentes. Uma é a física e temporal, que é recebida no seu primeiro nascimento e é comum a todos os homens; a outra é espiritual e celestial, que lhes é dada no seu segundo nascimento e é efetuada pela Palavra do evangelho, na comunhão do corpo de Cristo. Essa vida não é comum a todos os homens, mas somente aos eleitos de Deus.

Para a manutenção da vida física e terrena, Deus estabeleceu o pão material e terreno. Esse pão é comum a todos, assim como também a vida é comum a todos. Para a manutenção da vida espiritual e celestial, que os crentes possuem, ele lhes enviou o pão vivo que desceu do céu (Jo. 6.51), que é Jesus Cristo. Este nutre e sustenta a vida espiritual dos crentes quando é comido por eles, isto é, ao ser apropriado e recebido espiritualmente pela fé.

Para representar o pão espiritual e celestial, Cristo instituiu o pão visível e terreno como sacramento do seu corpo, e o vinho como sacramento do seu sangue. Ele nos testifica que, tão certo como tomamos e seguramos em nossas mãos o sacramento, e o comemos e bebemos com nossa boca para sustentar nossa vida física, assim também, com certeza recebemos pela fé (que é a mão e a boca da nossa alma) o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso único Salvador, para a sustentação da nossa vida espiritual.

Não há a menor dúvida de que Cristo não nos recomendou os seus sacramentos em vão. Portanto, Cristo opera em nós tudo aquilo que, nesses santos sinais, ele representa para nós. Não entendemos o modo isso se realiza, exatamente como também não compreendemos as atividades ocultas do Espírito de Deus. Contudo, não nos enganamos ao dizermos que, o que comemos e bebemos é o corpo verdadeiro e natural, e o sangue verdadeiro de Cristo. Todavia, não comemos com a boca, mas em espírito pela fé. Desse modo, Jesus Cristo permanece sempre assentado à destra de Deus, seu Pai, no céu, porém, ele não deixa de nos comunicar a si mesmo pela fé. Esse banquete é uma mesa espiritual, na qual Cristo nos torna participantes de si mesmo, com todos os seus benefícios, e nos concede a graça de desfrutar dele mesmo e dos méritos do seu sofrimento e morte. Ele nutre, fortalece e consola a nossa alma pobre e desolada pelo comer da sua carne, e a refresca e renova pelo beber do seu sangue.

Embora o sacramento esteja unido com o que é por ele significado, esse significado nem sempre é recebido por todos. O ímpio certamente toma os sacramentos para a própria condenação, mas não recebe a verdade do sacramento, assim como Judas e Simão, o mago, receberam o sacramento sem, contudo, receberem a Cristo, que é aquilo que o sacramento representa. Cristo é comunicado somente aos crentes.

Finalmente, recebemos esse santo sacramento na congregação do povo de Deus, com humildade e reverência, enquanto celebramos com ações de graça a lembrança sagrada da morte de Cristo, nosso Salvador, e confessamos a nossa fé e religião cristã. Por isso, ninguém pode vir à essa mesa sem cuidadoso autoexame, para que, ao comer desse pão e beber desse cálice, não coma e beba juízo sobre si mesmo (1a Cor. 11.28-29). Em resumo, o uso desse santo sacramento nos leva a amar fervorosamente a nosso Deus e a nosso próximo. Por essa razão, rejeitamos como profanação todos os acréscimos e invenções malditas que os homens acrescentaram e misturaram aos sacramentos. Declaramos que devemos nos contentar com a ordenação que Cristo e seus apóstolos ensinaram, e falar disso da mesma maneira que eles falaram.

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Comentário: Como já vimos, a Santa Ceia que é um dos sacramentos neotestamentários, ficou em lugar da Páscoa, sacramento veterotestamentário. No próprio dia da Páscoa (a sua última Páscoa) o Senhor Jesus instituiu a Ceia - “E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” - Mateus 26.26-28. O Cordeiro Pascoal havia vindo e Ele daria a Sua carne para ser comida pelo Seu povo - “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre: e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo” - João 6.51. O apóstolo Paulo disse que ele é o nosso Cordeiro pascoal: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” - 1ª Coríntios 5.7. A partir daquele momento, não apenas a Páscoa, mas todos os outros sacrifícios, juntamente com todos os demais cerimoniais da lei, não seriam mais necessários. A realidade de todos os tipos, figuras, sombras do Antigo Testamento estava ali – Jesus Cristo. Na Ceia do Senhor, a carne de Cristo é representada pelo pão, e o sangue de Cristo, representado pelo vinho. A substância desses elementos não é alterada após as ações de graças do ministrante; o pão continua sendo essencialmente pão e o vinho continua sendo essencialmente vinho. Contudo, ao participarmos da mesa do Senhor e recebermos esses elementos com fé, o Espírito Santo opera e ministra a nós verdadeira comunhão espiritual com Cristo - “Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” - 1ª Coríntios 10.16. Os sacramentos estão unidos com a realidade espiritual que representam, mas ainda assim, nem todos que recebem os sinais externos possuem a correspondência interior. Esse é um mistério que não nos cabe perscrutar. Por isso diz também o apóstolo que quando uma pessoa irregenerada ou ímpia recebe os sacramentos, o faz para a sua própria condenação. A Ceia é para alimentar a alma do crente, mas se alguém não tem a nova vida de Cristo e ainda é servo do pecado, e ainda assim participa da mesa do Senhor, “será culpado do corpo e do sangue do Senhor…, come e bebe para sua própria condenação… ” - 1ª Coríntios 11.27, 29. Todo infiel ou hipócrita que participar, o faz de maneira indigna e irreverente, portanto será julgado pelo Senhor da Ceia. Mas para o santo, tomar o pão e beber o cálice é de grande edificação e fortalecimento. Ele lembra-se das maravilhosas promessas do Senhor - “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” - João 6.54-56.

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O governo civil


Artigo 36: Cremos que, por causa da depravação do gênero humano, o nosso Deus gracioso estabeleceu reis, governos e oficiais civis. Ele quer que o mundo seja governado por leis e estatutos para restringir as ilegalidades dos homens e para que tudo transcorra em boa ordem entre eles. Para isso, colocou ele a espada na mão das autoridades para castigar os malfeitores e proteger os que praticam o bem (Rm. 13.4). Eles têm, por ofício, não apenas restringir e conservar a boa ordem pública, mas também a proteção da Igreja e do seu ministério para que o reino de Cristo possa vir, a Palavra do evangelho seja pregada em toda parte, e Deus seja honrado e servido por todos – como ele determina em sua Palavra.

Além disso, cada um, independente da sua qualidade, condição ou classe é obrigado a submeter-se aos oficiais civis, pagar impostos, respeitá-los e honrá-los, e obedecê-los em tudo aquilo que não contrarie a Palavra de Deus. Devemos orar por eles, para que Deus os dirija em todos os seus caminhos e também “para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1a Tim. 2.1,2).

Em razão disso, reprovamos os Anabatistas e outros rebeldes, e, em geral, todos quantos se opõem às autoridades e aos oficiais civis, subvertem a justiça, introduzem a comunhão de bens e perturbam a boa ordem que Deus estabeleceu entre os homens.

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Comentário: Deus estabeleceu as autoridades para governar neste mundo, para que haja ordem e boa convivência entre os homens. Diz a Bíblia que “... não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” - Romanos 13.1. Todas as essas autoridades procedem do trono de Deus. Quem de fato reina sobre tudo e todos é o Senhor Jesus Cristo - “E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído” - Daniel 7.14. Toda autoridade que existe neste mundo é apenas uma delegação direta do trono de Deus onde está o verdadeiro Comandante - “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre” - Apocalipse 11.15. Para os crentes é grandemente consolador saber disto, porque sabemos que todos os postos de autoridade estão nas mãos de Jesus Cristo. Independente da forma de governo ou da ideologia política, todos, absolutamente estão concentrados numa única mão, a mão, que rege toda a criação nos céus e na terra: “É-me dada toda a autoridade no céu e na terra” - Mateus 28.18. A Bíblia diz que Deus eleva e abate a quem quer - “Mas Deus é o Juiz: a um abate, e a outro exalta…”; “Ele remove os reis e estabelece os reis” - Salmo 75.7 e Daniel 2.21, e a nós, seus filhos nos ordena que nos submetamos a todas as autoridades onde estamos inseridos, que as honremos e oremos por elas, porque isso é bom e agradável a Ele que nos ordenou: “Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; Quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem” - 1ª Pedro 2.13-14. Contudo, nossa obediência às autoridades delegadas deve ir até o ponto em que essas autoridades não colidam com a lei moral de Deus. Por exemplo, se alguma autoridade quiser nos impedir de adorar a Deus ou congregar, então devemos obedecer a Deus, que é a autoridade máxima. Se algum sistema de governo nos proibir de anunciar o evangelho, de forma alguma devemos obedecer, porque temos a ordem do Rei dos reis que é: “Ide, e fazei discípulo de todas as nações...”. Os apóstolos nos dão exemplo dessa submissão às autoridades delegadas, mas obediência irrestrita a Deus - “Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” - Atos 5.29. Obediência absoluta e irrestrita devemos somente a Deus, e aos homens devemos sujeição absoluta mas obediência relativa. Entre obedecer a Deus e obedecer ao homem, obviamente obedecemos a Deus. Contudo, em caso de termos que obedecer a Deus e contrariar os homens, jamais devemos agir com rebeldia. Honramos o rei, mas honramos acima dele o Rei dos reis. Deus, em sua autoridade ordena as autoridades delegadas a agirem com justiça e temor - “E no mesmo tempo mandei a vossos juízes, dizendo: Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele... Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas; porquanto a peita cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos” - Deuteronômio 1.16; 16.19. Ele julgará e punirá os maus juízes - “Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios... Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo. Todavia morrereis como homens, e caireis como qualquer dos príncipes” - Salmo 82.2-7.

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O juízo final


Artigo 37: Por fim, cremos, conforme a Palavra de Deus, que ao chegar o tempo ordenado pelo Senhor – mas desconhecido por todas as criaturas – e se completar o número dos eleitos, o nosso Senhor Jesus Cristo voltará do céu, de maneira visível e corporal, assim como ele ascendeu (Atos 1.11), com grande glória e majestade. Ele instalará a si mesmo como o Juiz dos vivos e dos mortos, e porá este antigo mundo em chamas para o purificar. E então, todas as pessoas – homens, mulheres e crianças – que existiram no mundo, desde o seu princípio até o seu final, aparecerão pessoalmente diante desse Grande Juiz, intimados pela voz do arcanjo e pela trombeta de Deus (1a Tss. 4.16).

Todos os que morreram antes desse dia, ressurgirão da terra, quando o espírito deles se reunir ao corpo no qual viviam. Os que estiverem vivos não morrerão como os outros, mas, num piscar de olhos, serão transformados de corrupção em incorrupção. Então se abrirão os livros e os mortos serão julgados (Ap. 20.12) segundo o que fizeram, de bom ou de mal, neste mundo (2a Cor. 5.10). Na verdade, nesse dia todos prestarão contas de toda palavra frívola que proferiram (Mat. 12.36), as quais o mundo considera apenas como zombaria e diversão. E os segredos e as hipocrisias dos homens serão revelados publicamente diante dos olhos de todos. Por isso, pensar neste juízo é coisa terrível e apavorante para os ímpios e malfeitores, mas é grande deleite e conforto para os justos e eleitos. Para estes, a plena redenção será completada, e eles receberão os frutos de seus labores e das angústias que sofreram. A todos será manifesta a sua inocência e contemplarão a terrível vingança que Deus trará sobre os ímpios que os perseguiram, oprimiram e atormentaram neste mundo.

Os ímpios serão condenados pelo testemunho da sua própria consciência e se tornarão imortais, tão somente para serem atormentados no “fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mat. 25.41). Por outro lado, os fiéis e eleitos serão coroados de glória e de honra. O Filho de Deus confessará o nome deles diante de Deus seu Pai (Mat. 10.32) e dos anjos eleitos. Deus “lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap. 21.4), e a causa deles – no presente, condenada como herética e maligna por tantos juízes e autoridades civis – será reconhecida como a causa do Filho de Deus. O Senhor, por graciosa recompensa, lhes fará possuir tal glória, que é impossível de ser concebida pelo coração do homem. Por isso, ansiamos com grande expectativa por aquele Grande Dia, para desfrutarmos da plenitude das promessas de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor. “Amém! Vem Senhor Jesus!” (Ap. 22.20).

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Comentário: Jesus garantiu que num dia determinado por Deus, voltará do céu para o Juízo Final: “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas” - Mateus 25.31-32. O Espírito Santo lembrou aos apóstolos essa promessa: “Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” - Atos 17.31. Naquele grande, glorioso e terrível dia, que será o fim do mundo, todos os homens, mulheres e crianças, tanto os que já morreram como os que estiverem vivos, comparecerão diante do trono de Jesus Cristo para receberem cada um a sua sentença definitiva e eterna. Todos, sem exceção, deveriam ser condenados, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus… e o salário do pecado é a morte” - Romanos 3.23, 6.23. Mas, Jesus Cristo, morrendo na cruz, resgatou seu povo, quitando nossa dívida com a justiça divina, livrando-nos assim da punição eterna e ira vindoura. Os crentes não serão condenados, porque condená-los seria cobrar uma dívida duas vezes, o que Deus jamais faria. O Filho Eterno já cuidou da nossa falência espiritual, moral e física. Contudo, os que não creram em Cristo e não foram redimidos, terão que enfrentar o trono de Deus e seu julgamento. Baseados nas obras, todos os homens estariam perdidos eternamente, inclusive os crentes - “E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” - Apocalipse 20.12. Abriram-se os livros e todos foram julgados e condenados pelas obras que estavam ali escritas. Mas, abriu-se outro livro, e nesse livro não há obras, mas apenas os nomes dos eleitos e agraciados com a salvação - “E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” - vers. 15. Portanto para os crentes fiéis será um grande dia, porque para eles não haverá condenação. Eles ressuscitarão para receberem o corpo glorificado e gozar eternamente da comunhão com Deus e todos os santos. Estarão de corpo de alma no céu - “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz [de Jesus Cristo]. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para a ressurreição da condenação” - João 5.28-29. Entretanto, para os incrédulos, ímpios, infiéis, desprezadores de Deus, será um dia terrível porque para eles não haverá recursos. Esses, sairão das sepulturas para o terror eterno. Também receberão seus corpos de volta, mas para receberem a punição que seus pecados merecem. Estarão de corpo e alma no inferno - “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” - Mateus 10.28. Glória a Deus, por Jesus Cristo o nosso Senhor e Salvador. Hoje ele está de braços abertos e pronto a receber e reconciliar todo que vem a ele. Naquele dia, contudo, estará assentado no grande trono branco para julgar. Assim, todos os homens serão conquistados e rendidos por ele – uns para a salvação e outros para a condenação, mas, todos reconhecerão que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória do Pai. Amém.


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