A Confissão Rochelle - XXXVI - A Santa Ceia

 36. A Santa Ceia

Nós confessamos, que a Santa Ceia, nos traz o testemunho de nossa união com Jesus Cristo. De fato, Cristo não somente foi uma única vez morto e ressuscitado por nós, mas ele verdadeiramente nos alimenta também de sua carne e sangue, a fim de que sejamos um com ele, e que sua vida nos seja comunicada. Ora, ainda que ele esteja no céu até que venha para julgar o mundo, nós cremos, entretanto, que ele nos alimenta e vivifica – pela ação secreta e incompreensível de seu Espírito – da substância de seu corpo e de seu sangue. Nós afirmamos que isso se faz espiritualmente, não para substituição do efeito e da verdadeira realidade da Ceia por imaginação ou pensamento, mas que este mistério ultrapassa por sua grandeza nossa capacidade humana, e toda a ordem da natureza; em resumo, porque ele é celeste, entendemos que não pode ser apreendido a não ser pela fé.

1 Co 10.16,17; 11.24; Jo 6.55-57; 17.21; Rm 8.32; Mc 16.19; At 1.2-11; 3.21; Jo 6.35.

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Comentário: Sacramentum [Latim] traduzia mysterion [Grego]; as duas ideias são importantes, tanto a ideia latina que significa um penhor, um depósito feito como garantia do cumprimento da obrigação; quanto a ideia grega de um sinal que oculta uma realidade espiritual. Santo Agostinho dizia que o Cristo é o sacramento de Deus. Jesus Cristo é o Mistério de Deus; nele está Deus transcendente e imanente, o Deus Altíssimo e inacessível tornando-se acessível ao homem. Os sacramentos trazem e selam os mistérios de Deus em nós; na Santa Ceia está o corpo e o sangue de Cristo compartilhados a nós. Jesus disse: E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede…. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre: e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo…. Jesus pois lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmo…. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim” - João 6.35,51,53,56,57. Não cremos na transubstanciação como muitos, porque sabemos que quando o Senhor deu o pão e o cálice aos discípulos, na noite da traição, eles não comeram nem sua carne nem seu sangue, embora suas palavras fossem que ali estavam sua carne e sangue: E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” - Mateus 26.26-28. Então ali estava o grande mistério; ao participarem daquela ceia, comendo o pão e bebendo o vinho abençoados pelo Senhor, estavam de forma espiritual participando da Sua vida. Quando o ministro distribui o pão e o cálice à congregação, a sua ação de graças não transforma os elementos físicos, mas naquela hora somos abençoados pelas Palavras do Senhor Jesus, e o Espírito Santo ministra a nós o mistério; então de forma espiritual participamos de Cristo e somos unidos a Ele.

Não podemos deixar de dizer que, ainda que os selos exteriores sejam mandamento, contudo não são eles que salvam; o que salva o pecador é a obra do Espírito Santo no seu interior. Não há nada físico ou exterior que possa salvar ou ajudar na salvação; nada que o homem possa fazer contribui com sua salvação; esta é uma obra exclusiva do Senhor Jesus, aplicada a nós pelo Espírito Santo. Sendo assim, os sacramentos não são essenciais à salvação; são, contudo, ordenanças do Senhor e devemos cumpri-los.

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