A Confissão de Fé Escocesa - Capítulo 20


20º CAPÍTULO

Dos Concílios Gerais, seu Poder, sua Autoridade e Causas de sua Convocação

Assim como não condenamos irrefletidamente o que homens bons, reunidos em concílio geral legalmente convocado, estabeleceram antes de nós, assim não admitimos sem justo exame tudo o que tenha sido declarado aos homens em nome de concílio geral, pois é manifesto que, sendo humanos, alguns deles manifestamente erraram, e isso em questões de máximo peso e importância.1 Então, na medida em que um concílio confirma sua decisão e seus decretos pela clara Palavra de Deus, nós os respeitamos e acatamos. Mas, se homens, em nome de um concílio, pretendem forjar-nos novos artigos de fé, ou tomar decisões contrárias à Palavra de Deus, então devemos definitivamente negar como doutrinas de demônios tudo aquilo que afasta nossas almas da voz do único Deus para levar-nos a seguir doutrinas e decisões de homens.2
A razão por que os concílios gerais se reuniram não foi para elaborar qualquer lei permanente que Deus não tivesse feito antes, nem para formular novos artigos para a nossa fé, nem para conferir autoridade à Palavra de Deus; muito menos para afirmá-la como Palavra de Deus, ou para dela dar a verdadeira interpretação que não fora previamente expressa pela sua santa vontade em sua Palavra.3 Mas a razão dos concílios - pelo menos daqueles que merecem tal nome - foi em parte refutar heresias e fazer confissão pública de sua fé a ser seguida pela posteridade, e eles fizeram uma e outra coisa pela autoridade da Palavra de Deus escrita, sem apelar a qualquer prerrogativa de que, pelo fato de serem concílios gerais, não poderiam errar. Foi essa a razão primeira e principal dos concílios gerais, em nossa opinião. Uma segunda foi constituir e observar boa administração na Igreja, em que - como casa de Deus que é4 – convém que tudo seja feito com decência e ordem.5 Não que pensemos que a mesma administração ou ordem de cerimônias possa ser estabelecido para todas as épocas, tempos e lugares; pois, como cerimônias que os homens inventaram, são apenas temporais, e, assim, podem e devem ser mudadas quando se percebe que o seu uso fomenta antes a superstição que a edificação da Igreja.

1. Gl 2:11-14.
2. 1Tm 4:1-3; Cl 2:18-23.
3. At 15:1, etc.
4. 1Tm 3:15; Hb 3:2.
5. 1Co 14:40.
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Comentário: A única coisa que não está para ser julgada é a Palavra de Deus. Decisões de concílios, documentos e escritos de homens, ainda que santos, tudo pode e deve ser avaliado, julgado, considerado, sejam recentes ou remotos. Isto porque a Palavra inspirada é infalível e nós somos falíveis. Os concílios não são para buscar nova luz ou iluminação sobre a doutrina, com objetivo de contextualizar a mensagem e proclamação do evangelho. Isso pode parecer espiritual, mas é igualmente perigoso. Um concílio serve para fortalecer a igreja nas antigas veredas. E aí, sim, se houver algo que destoe das veredas apostólicas, então isto deve ser corrigido. A Palavra de Deus não precisa ser adaptada, reinterpretada, modernizada, contextualizada. Também o modo como ela deve ser proclamada Deus já nos ensinou – é a pregação. Não há nada nas escrituras que diga que a igreja deve representá-la com peças teatrais, com expressões dos folclores regionais, com shows, etc. Apenas diz que devemos pregá-la. Os profetas pregaram, João pregou, o Senhor Jesus pregou, os apóstolos pregaram e ordenaram que assim a igreja continuasse a fazer. CONJURO-TE pois diante de Deus, e do SENHOR Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2a Timóteo 4.1-2). E até mesmo a liturgia sagrada não deve ser mudada de uma região para outra, a não ser que haja vital necessidade. Se não, a catolicidade litúrgica deve ser mantida tanto quanto a catolicidade doutrinária.

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