A Confissão de Fé Escocesa - Capítulo 18 (III)


18º CAPÍTULO (Parte III)

Onde quer que essas marcas se encontrem e continuem por algum tempo - ainda que o número de pessoas não exceda de duas ou três - ali, sem dúvida alguma, está a verdadeira Igreja de Cristo, o qual, segundo a sua promessa, está no meio dela.10 Isto não se refere à Igreja universal de que falamos antes, mas às igrejas particulares, tais como as que havia em Corinto,11 na Galácia,12 em Éfeso13 e noutros lugares onde o ministério foi implantado por Paulo e às quais ele mesmo chamou igrejas de Deus.
Tais igrejas nós, habitantes do reino da Escócia, confessando a Jesus Cristo, afirmamos ter em nossas cidades, vilas e distritos reformados, porque a doutrina ensinada em nossas igrejas está contida na Palavra de Deus escrita, isto é, no Velho e no Novo Testamentos, nos livros originalmente reconhecidos como canônicos. Afirmamos que neles todas as coisas que devem ser cridas para a salvação dos homens estão suficientemente expressas.14 Confessamos que a interpretação da Escritura não é atribuição de nenhuma pessoa particular ou pública, nem mesmo de qualquer igreja em virtude de qualquer preeminência ou prerrogativa, pessoal ou local, que uma tenha sobre a outra, mas esse direito e autoridade só pertencem ao Espírito de Deus por quem as Escrituras foram escritas.15
Quando surge, pois, controvérsia acerca do exato sentido de qualquer passagem ou sentença da Escritura, ou para a reforma de algum abuso na Igreja de Deus, devemos perguntar não tanto o que os homens disseram ou fizeram antes de nós, como o que o Espírito Santo, uniformemente, fala no corpo das Escrituras Sagradas e o que Jesus Cristo mesmo fez e mandou.16 Pois todos reconhecem sem discussão que o Espírito de Deus, que é o Espírito de unidade, não pode contradizer-se a si mesmo.17 Assim, se a interpretação ou decisão ou opinião de qualquer doutor da Igreja ou concílio é contrária à expressa Palavra de Deus em qualquer outra passagem da Escritura, é certo que essa interpretação não representa a mente e sentido do Espírito Santo, ainda que concílios, reinos e nações a tenham admitido e aprovado. Não ousamos admitir nenhuma interpretação contrária a qualquer artigo principal de fé, ou a qualquer texto claro da Escritura, ou à regra do amor.

1. Gn 4:8.
2. Gn 21:9.
3. Gn 27:41.
4. Mt 23:34; Jo 15:18-20,24; 11:47,53; At 4:1-3; 5:17, etc.
5. Gn 4:1.
6. Sl 48:2-3; Mt 5:35.
7. Jo 12:42.
8. Ef 2:20; At 2:42; Jo 10:27; 18:37; 1Co 1:13; Mt 18:19-20; Mc 16:15-16; 1C. 11:24-26; Rm 4:11.
9. Mt 18:15-18; 1Co 5:4-5.
10. Mt 18:19-20.
11. 1Co 1:2; 2Co 1:2.
12. Gl 1:2.
13. Ef 1:1; At 16:9-10; 18:1, etc.; 20:17, etc.
14. Jo 20:31; 2Tm 3:16-17.
15. 2Pd 1:20-21.
16. Jo 5:39.
17. Ef 4:3-4.
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Comentário: O número de pessoas é algo importante a ser destacado. Obviamente que gostaríamos que o número dos salvos fosse sempre grande em todo o lugar, fosse nas congregações locais, fosse nas cidades, nas nações. Gostaríamos mesmo que toda a geração em que vivemos fosse cristã. Contudo, nunca foi assim. O evangelho sempre encontrou muito mais rejeição do que aceitação neste mundo. Os homens naturais estão totalmente inclinados a fazer oposição ao evangelho, a igreja e a Deus mesmo. Lendo a história do próprio Israel no Antigo Testamento constatamos que os profetas do Senhor sempre foram rejeitados. A fama da própria Jerusalém era de matar os mensageiros do Senhor - Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados!” (Mateus 23.37). A verdade de Deus nunca foi bem-vinda a este mundo governado por satanás. Logo, a pregação dos mensageiros de Deus, exceto em alguns poucos momentos da história, nunca reuniu grandes multidões. Uma pregação fiel, junto com a fiel administração dos sacramentos e uma disciplina eclesiástica fiel, dificilmente congregará multidões. Então não devemos procurar a igreja fiel começando pelo número de seguidores. Quando mencionamos os cinco solas da Grande Reforma, a propósito lembramos de colocar junto do Sola Scriptura, o Tota Scriptura, para enfatizar exatamente que tudo quanto está nas escrituras deve ser pregado e pregado com fidelidade, porque tudo quanto precisamos crer para a nossa salvação está ali contido. Cremos no Canon fechado e revelado. Fechado porque tudo quanto Deus queria falar a sua igreja está dito ali. E revelado no sentido que nele, Antigo e Novo Testamentos, Deus se revela como Criador, como Redentor e Mantenedor da vida. Todas as verdades que devem ser recebidas e cridas pelo seu povo estão registradas na Bíblia. De modo que podemos, sem medo de errar, rejeitar qualquer novidade que surgiu após o livro do Apocalipse. Por isso mesmo rejeitamos toda interpretação que seja de alguma igreja em particular, de algum corpo de presbíteros em particular, de algum concílio isolado das demais congregações na terra. Em fim qualquer coisa que seja abusiva, contraditória, estranha ao contexto do Antigo e do Novo Testamentos, tentando acrescentar ou diminuir às escrituras expostas por Cristo e seus apóstolos, repudiamos. Rejeitamos também as chamadas contextualizações, modernizações, inovações, e as consideramos ataques assassinos ao Canon Sagrado.

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