A Confissão de Fé Escocesa - Capítulo 18
18º
CAPÍTULO (Parte I)
Os
Sinais pelos quais a Verdadeira Igreja será Distinguida da Falsa e
quem será Juiz da Doutrina
Satanás
vem trabalhando desde o princípio para adornar sua pestilenta
sinagoga com o título de Igreja de Deus, e inflamando corações de
crudelíssimos assassinos, para perseguirem, perturbarem e molestarem
a verdadeira Igreja e seus membros, como Caim com Abel,1
Ismael com Isaque,2
Esaú com Jacó3
e todos os sacerdotes dos judeus com Jesus Cristo e seus apóstolos
que vieram depois dele.4
Por isso, é necessário que a verdadeira Igreja, por sinais claros e
perfeitos, se distinga de tais sinagogas corruptas, a fim de que não
sejamos enganados e, para nossa própria condenação, recebamos e
abracemos a falsa pela verdadeira. As marcas, os sinais e as
características pelos quais a noiva imaculada de Cristo se distingue
da impura e horrível meretriz - a Igreja dos maldosos - nós
afirmamos que não são nem a antiguidade, nem o título usurpado,
nem a sucessão linear, nem a multidão de homens que aprovam o erro.
Caim existiu primeiro do que Abel e Sete5
quanto à idade e ao título; Jerusalém tinha precedência sobre
todos os outros lugares da terra,6
pois nela os sacerdotes descendiam linearmente de Aarão, e maior era
o número que seguia os escribas, fariseus e sacerdotes do que
aqueles que verdadeiramente criam em Jesus Cristo e aprovavam a sua
doutrina.7
No entanto ninguém de são juízo, supomos, sustentará que qualquer
dos acima nomeados era a Igreja de Deus.
Portanto,
nós cremos, confessamos e declaramos que as marcas da verdadeira
Igreja são, primeiro e antes de tudo, a verdadeira pregação da
Palavra de Deus, na qual Deus mesmo se revelou a nós, como nos
declaram os escritos dos profetas e apóstolos; segundo, a correta
administração dos sacramentos de Jesus Cristo, os quais devem ser
associados à Palavra e à promessa de Deus para selá-las e
confirmá-las em nossos corações;8
e, finalmente, a disciplina eclesiástica corretamente administrada,
como prescreve a Palavra de Deus, para reprimir o vício e estimular
a virtude.9
Onde quer que essas marcas se encontrem e continuem por algum tempo -
ainda que o número de pessoas não exceda de duas ou três - ali,
sem dúvida alguma, está a verdadeira Igreja de Cristo, o qual,
segundo a sua promessa, está no meio dela.10
Isto não se refere à Igreja universal de que falamos antes, mas às
igrejas particulares, tais como as que havia em Corinto,11
na Galácia,12
em Éfeso13
e noutros lugares onde o ministério foi implantado por Paulo e às
quais ele mesmo chamou igrejas de Deus.
Tais
igrejas nós, habitantes do reino da Escócia, confessando a Jesus
Cristo, afirmamos ter em nossas cidades, vilas e distritos
reformados, porque a doutrina ensinada em nossas igrejas está
contida na Palavra de Deus escrita, isto é, no Velho e no Novo
Testamentos, nos livros originalmente reconhecidos como canônicos.
Afirmamos que neles todas as coisas que devem ser cridas para a
salvação dos homens estão suficientemente expressas.14
Confessamos que a interpretação da Escritura não é atribuição
de nenhuma pessoa particular ou pública, nem mesmo de qualquer
igreja em virtude de qualquer preeminência ou prerrogativa, pessoal
ou local, que uma tenha sobre a outra, mas esse direito e autoridade
só pertencem ao Espírito de Deus por quem as Escrituras foram
escritas.15
Quando
surge, pois, controvérsia acerca do exato sentido de qualquer
passagem ou sentença da Escritura, ou para a reforma de algum abuso
na Igreja de Deus, devemos perguntar não tanto o que os homens
disseram ou fizeram antes de nós, como o que o Espírito Santo,
uniformemente, fala no corpo das Escrituras Sagradas e o que Jesus
Cristo mesmo fez e mandou.16
Pois todos reconhecem sem discussão que o Espírito de Deus, que é
o Espírito de unidade, não pode contradizer-se a si mesmo.17
Assim, se a interpretação ou decisão ou opinião de qualquer
doutor da Igreja ou concílio é contrária à expressa Palavra de
Deus em qualquer outra passagem da Escritura, é certo que essa
interpretação não representa a mente e sentido do Espírito Santo,
ainda que concílios, reinos e nações a tenham admitido e aprovado.
Não ousamos admitir nenhuma interpretação contrária a qualquer
artigo principal de fé, ou a qualquer texto claro da Escritura, ou à
regra do amor.
1.
Gn 4:8.
2.
Gn 21:9.
3.
Gn 27:41.
4.
Mt 23:34; Jo 15:18-20,24; 11:47,53; At 4:1-3; 5:17, etc.
5.
Gn 4:1.
6.
Sl 48:2-3; Mt 5:35.
7.
Jo 12:42.
8.
Ef 2:20; At 2:42; Jo 10:27; 18:37; 1Co 1:13; Mt 18:19-20; Mc
16:15-16; 1C. 11:24-26; Rm 4:11.
9.
Mt 18:15-18; 1Co 5:4-5.
10.
Mt 18:19-20.
11.
1Co 1:2; 2Co 1:2.
12.
Gl 1:2.
13.
Ef 1:1; At 16:9-10; 18:1, etc.; 20:17, etc.
14.
Jo 20:31; 2Tm 3:16-17.
15.
2Pd 1:20-21.
16.
Jo 5:39.
17.
Ef 4:3-4.
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Comentário:
A principal atividade de satanás na terra é roubar a adoração e a
glória de Deus. Por um lado, ele se vale dos meios mais infames,
canalhas, atrozes para atacar e corromper a Igreja de Deus, porque
odeia a Cristo e sua linda noiva. Por outro lado, ele tenta fazer uma
versão da Igreja adaptada ao gosto dos pecadores, a qual ele
ornamenta com tudo de mais aprazível para a carne, para o ego e para
os interesses imediatos ou temporais. Tudo que os homens naturais
buscam no mundo, podem encontrar na falsa Igreja, diversão,
entretenimento, lazer. A Igreja de Cristo é a única agência de
salvação na terra. Todas as atividades seculares nos levam a pensar
na terra, no temporal, no aqui e agora. A Igreja deve nos preparar
para a eternidade. Não vamos a Igreja para receber cura das
enfermidades físicas, receber bênçãos de prosperidade financeira,
resolver nossos problemas familiares, profissionais, emocionais,
entre outros. Vamos ali para ouvir sobre nosso futuro lar, a nova
terra-céu. Queremos ser preparados para o momento da travessia do
rio e entrada na terra prometida. Por isso precisamos ouvir sobre as
promessas eternas, aquelas que são incondicionais, que já temos em
Cristo e por causa de Cristo. Precisamos ouvir sobre o novo
domicílio, no qual estaremos em breve com Cristo e todos os seus
santos. Enfim precisamos ouvir sobre as coisas que nos deem
esperança, que nos confirmem nas promessas da aliança, precisamos
ouvir sobre o consolo que temos na vida e na morte. Se ela, a igreja,
falhar em nos proporcionar isso, falhou na sua preciosa missão.
(segue)
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