A Confissão de Fé Escocesa - Capítulo 15


15º CAPÍTULO

A Perfeição da Lei e a Imperfeição do Homem

Confessamos e reconhecemos que a Lei de Deus é a mais justa, a mais imparcial e a mais santa, e o que ela ordena, se perfeitamente praticado, iluminaria e poderia conduzir o homem à felicidade eterna;1 mas a nossa natureza é tão corrupta, fraca e imperfeita que jamais seríamos capazes de cumprir perfeitamente as obras da Lei.2 Mesmo depois de sermos regenerados, se dissermos que não temos pecados, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade de Deus não está em nós.3 Por isso, importa que nos apeguemos a Cristo, em sua justiça e satisfação, pois ele é o fim e o complemento da Lei e é por ele que somos libertados, de modo que, embora não cumpramos a Lei em todos os pontos, contudo, estamos imunes da execração de Deus.4 Deus, o Pai contempla-nos no corpo de seu Filho Jesus Cristo, aceita como perfeita a nossa obediência imperfeita5 e cobre todas as nossas obras, que estão poluídas por muitas manchas,6 com a perfeita justiça do seu Filho.
Não queremos dizer que fomos libertados, de modo a não devermos mais obediência alguma à Lei - pois já reconhecemos o lugar dela - mas afirmamos que ninguém na terra, pela sua conduta - com exceção apenas de Cristo Jesus - deu, dá e dará à Lei a obediência que ela requer. Quando tivermos feito tudo, devemos prostrar-nos e confessar sinceramente que somos servos inúteis.7 Portanto, todos os que se vangloriam dos méritos de suas obras, ou põem sua confiança em obras de supererrogação, ou se vangloriam da vaidade, ou põem sua confiança em idolatria condenável.

1. Lv 18:5; Gl 3:12; 1Tm 1:8; Rm 7:12; Sl 19:7-9; 19:11.
2. Dt 5:29; Rm 10:3.
3. 1Rs 8:46; 2Cr 6:36; Pv 20:9; Ec 7:20; 1Jo 1:8.
4. Rm 10:4; Gl 3:13; Dt 27:26.
5. Fp 2:15.
6. Is 64:6.
7. Lc 17:10.

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Comentário: O santo apóstolo foi claro ao dizer que a Lei é espiritual e eu sou carnal - “Porque bem sabemos que a lei é espiritual: mas eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Romanos 7.14). Enquanto estivermos nesse corpo caído jamais conseguiremos obedecer a Lei moral de Deus perfeitamente. Não podíamos fazê-lo antes de sermos justificados por Cristo e não podemos fazê-lo depois de justificados, porque ainda estamos nesse corpo sujeito e inclinado ao pecado. Mas, não há nada de errado com a Lei e sim comigo, como ele mesmo completa: “Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Romanos 8.3). Nossa carne é enferma por causa do pecado que habita em nós. Contudo, isso não nos isenta da responsabilidade que temos diante da Lei. Ela é o nosso parâmetro que circunscreve nossos limites e nos exorta a agir como o Senhor Jesus agiu neste mundo. De modo que a Lei ainda é posta diante de nós como alvo, e mesmo que não tivéssemos de cumpri-la para sermos justificados, pois isso o nosso Redentor fez por nós, todavia a Lei ainda estabelece os parâmetros para a nossa conduta em santificação, a qual também não podemos realizar sozinhos, pelo que o Senhor Jesus nos deu o seu Espírito para estar em nós e nos conformar a sua vontade. Posto isto, não necessitamos dizer que obras de supererrogação são total e absolutamente impossíveis a quaisquer dos santos. Elas não passam de uma invenção da mente caída, que ainda não compreendeu o tamanho do estrago que a queda causou na humanidade, isto é a total depravação do ser humano.

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