"Segunda Confissão de Fé Helvética" 21. Da Santa Ceia do Senhor (II)

O sinal e a coisa significada. E isto é visivelmente representado de modo exterior por este sacramento pelo ministrante e, como que exposto aos olhos para ser contemplado, aquilo que pelo Espírito Santo é concedido interiormente na alma de maneira invisível. O pão é exteriormente oferecido pelo ministro, e ouvem-se as palavras do Senhor: “Tomai, comei; este é o meu corpo”; e “Recebei e reparti entre vós. Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue”. Portanto, os fiéis recebem o que é dado pelo ministro do Senhor, e comem o pão do Senhor e bebem do cálice do Senhor. Ao mesmo tempo, pela obra de Cristo por meio do Espírito Santo, interiormente recebem também a carne e o sangue do Senhor e deles se alimentam para a vida eterna. Pois a carne e o sangue de Cristo são o verdadeiro alimento e a verdadeira bebida para a vida eterna; e Cristo mesmo, desde que foi entregue por nós e é nosso Salvador, é o principal elemento na Ceia, e não permitimos que nenhuma outra coisa seja colocada em seu lugar. 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Mas, para que se compreenda mais retamente e com clareza como a carne e o sangue de Cristo são o alimento e a bebida dos fiéis, e são recebidos pelos fiéis para a vida eterna, acrescentaríamos estas poucas coisas. Há mais de uma espécie de comer. Há o comer corporal, pelo qual o alimento é posto pelo homem na boca, mastigado com os dentes e deglutido para o estômago. No passado, os cafarnauenses acharam que a carne do Senhor devia ser comida desse modo, mas são refutados pelo próprio Senhor, em João, cap. 6. Desde que a carne de Cristo não pode ser comida corporalmente, sem infâmia e selvageria, assim ela não é alimento para o estômago. Todos os homens são obrigados a admitir isso. Desaprovamos, portanto, o cânon nos decretos do papa, Ego Berengariust (De Consecrat., Dist. 2). Nem a piedosa antiguidade cria, nem cremos nós que o corpo de Cristo possa ser corporalmente e essencialmente comido pela boca. 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
O comer o Senhor espiritualmente. Há também um comer espiritual do corpo de Cristo; não que pensemos que, por isso, o próprio alimento se mude em espírito, mas o corpo e o sangue do Senhor, embora permanecendo em sua própria essência e propriedade, nos são espiritualmente comunicados, certamente não de modo corporal, mas espiritual, pelo Espírito Santo, que aplica em nós e nos confere estas coisas que nos foram preparadas pelo sacrifício do corpo e do sangue do Senhor por nós, a saber, a remissão de pecados, o livramento e a vida eterna; de tal modo que Cristo vive em nós e nós vivemos nele, sendo que ele nos possibilita recebê-lo pela verdadeira fé para que possa tornar-se, para nós, esse alimento e bebida espirituais, isto é, nossa vida. 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 
Cristo como nosso alimento sustenta-nos a vida. Assim como o alimento e a bebida corporal não só refazem e fortalecem nossos corpos, mas também os conservam vivos, também a carne de Cristo, entregue por nós e seu sangue vertido por nós não só refazem e fortalecem nossas almas, mas também as conservam vivas, não na medida em que sejam corporalmente comidos e bebidos, mas na medida em que nos são comunicados espiritualmente pelo Espírito de Deus, como diz o Senhor: “O pão que darei pela vida do mundo, é a minha carne” (João 6.51), e “a carne” (sem dúvida, corporalmente comida) “para nada aproveita; o espírito é o que vivifica” (v. 63). E mais: “As palavras que eu vos tenho dito, são espírito e são vida”. 
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 

Quando participamos da Santa Ceia do Senhor, vemos o pão e o cálice de vinho diante de nós; vemos esses elementos com nossos olhos, tocamo-los com as mãos, levamos à boca e os comemos. Nosso corpo físico recebe um verdadeiro alimento, que lhe sacia a fome, dá-lhe novas energias e o mantém vivo e saudável. Enquanto isso, o Espírito Santo opera as mesmas coisas dentro de nós. Essa obra é invisível, mas de fato comemos a carne e bebemos o sangue de Cristo; nossa alma é alimentada, saciada, fortalecida e mantida viva. Não porque ingerimos os elementos físicos, mas pela fé. Por isso é tolo afirmar que para que nossa alma seja alimentada, saciada, fortalecida e mantida viva, é necessário que os elementos sofram mutações e sejam transubstanciados. Ao participarmos da Santa Eucaristia nossos corações devem estar em Cristo, não nos elementos físicos, nem na própria cerimônia, nem no ministrante, mas em Cristo somente. É ele que nos é comunicado pelo Espírito Santo, sendo o verdadeiro pão do céu.   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Salmos Metrificados na Melodia Genebrina - I

"Segunda Confissão de Fé Helvética" - A História

Os Cânones de Dort Comentados