"Segunda Confissão de Fé Helvética" 17. Da Igreja de Deus, santa e católica, e do único Cabeça da Igreja (IV)

Cristo o único Pastor da Igreja.  Ensinamos que Cristo, nosso Senhor, é e continua a ser o único Pastor universal e sumo Pontífice diante de Deus seu Pai, e que na Igreja ele mesmo realiza todas as funções de um pontífice ou pastor, até o fim do mundo; [VIGÁRIO] e, consequentemente, não necessita de vigário, que é substituto de quem está ausente. Mas Cristo está presente com sua Igreja e é sua cabeça vivificadora.
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Nenhum primado na Igreja.  Ele proibiu, com toda a severidade, aos seus apóstolos e sucessores qualquer veleidade de primado e domínio na Igreja. Portanto, todos os que resistem, opondo-se a essa verdade transparente e introduzem outro governo na Igreja de Cristo devem ser ligados àqueles a respeito de quem profetizam os apóstolos de Cristo, São Pedro e São Paulo, em 2ª Pedro capítulo 2, e Actos 20.2, 2ª Coríntios 11.2, 2ª Tessalonicenses, capítulo 2, assim como em outros passos.
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Nenhuma confusão na Igreja.  Contudo, repudiando o cabeça romano, não introduzimos na Igreja de Cristo nenhuma confusão ou perturbação, pois ensinamos que o governo da Igreja, estabelecido pelos apóstolos, nos é suficiente para conservar a Igreja na devida ordem. No princípio, quando a Igreja não tinha esse chefe romano, que hoje, como se diz, a conserva em ordem, não estava em confusão ou desordenada. O chefe romano preserva, na verdade, a sua tirania e a corrupção que foi introduzido na Igreja; e, ao mesmo tempo, ele impede, resiste e, com todas as suas forças, arruína a conveniente reforma da Igreja. 
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Dissentimento e luta na Igreja.  Objetam-nos que tem havido várias lutas e dissensões em nossas igrejas desde que se separaram da Igreja Romana, e que por isso elas não podem ser igrejas verdadeiras. Como se nunca tivesse havido seitas na Igreja Romana, nem dissensões e lutas a respeito de religião, e na verdade presentes não tanto nas escolas como nos púlpitos no meio do povo. Sabemos, certamente, que o apóstolo disse: “Deus não é Deus de confusão; e, sim, de paz” (1ª Cor. 14.33). E: “porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais?” Contudo, não podemos negar que Deus estava na Igreja apostólica e que a Igreja apostólica era Igreja verdadeira, não obstante a existência de combates e dissensões nela. O apóstolo São Paulo repreendeu o apóstolo São Pedro (Gál. 2.11 ss), e Barnabé divergiu de Paulo. Grande luta surgiu na Igreja de Antioquia entre os que pregavam o único Cristo, como Lucas registra nos Atos dos Apóstolos, capítulo 15. E tem havido, em todos os tempos, graves lutas na Igreja, e os mais eminentes doutores da Igreja divergiram de opinião entre si acerca de importantes assuntos, sem, no entanto, a Igreja deixar de ser aquilo que ela era, por causa de tais contendas. Pois, dessa forma, é do agrado de Deus usar as dissensões que surgem na Igreja para a glória do seu nome, para elucidar a verdade e para que os que são aprovados sejam manifestados (1ª Cor. 11.19).
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Depois que os apóstolos morreram, o Espírito Santo instituiu os presbíteros para governar as igrejas locais, conforme podemos ver ensino claro nas escrituras: Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” - Atos 20.28. Todos os presbíteros têm a mesma autoridade e são iguais entre si. As escrituras condenam veementemente alguém desejar sobrepor-se ao outro: “Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” - Marcos 10.42-45. As igrejas locais devem ser independentes e governadas pelos presbíteros eleitos pela própria congregação. Nenhum presbítero pode impor sua autoridade sobre outro e tampouco qualquer igreja impor sua autoridade sobre outra. O Pastor universal da Igreja católica é o Senhor Jesus Cristo. Ele disse de si mesmo: “Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor” - João 10.15-16. Um só rebanho – a Igreja católica; um único Pastor – Jesus Cristo. Propositadamente também o Senhor falou que seus discípulos não deveriam ter um líder a quem chamassem Pai, Padre, Papa – “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus” - Mateus 23.9. A objeção feita de que pelo fato de não haver um poder central ou uma sede a Igreja fica mais sujeita à divisões, não se sustenta, porque dissensões e divisões têm havido tanto de um lado quanto de outro, isto é, tanto do lado da Igreja Romana, quanto da Igreja que apartou-se dela. Tal fato nos entristece muito, mas até as divergências que têm surgido no seio da Congregação do Senhor, ele mesmo usa e converge para o bem – “E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” - 1ª Coríntios 11.19. Na verdade, grande parte das cartas do Novo Testamento devemos à esse fato, isto é, foram escritas para combater erros doutrinários, falsos ensinos que perturbavam e ameaçavam dividir a igreja nascente. 

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