"Segunda Confissão de Fé Helvética" 14. Do arrependimento e da conversão do homem (Parte IV)
Como os
ministros absolvem. Os
ministros, portanto, absolvem correta e eficazmente quando pregam o Evangelho
de Cristo e nele a remissão de pecados, que é prometida a todo aquele que crê,
assim como cada um é batizado, e quando testificam que ela pertence a cada um
particularmente. E não julgamos que esta absolvição se torne mais eficaz por
ser murmurada no ouvido de alguém ou individualmente sobre a cabeça de alguém.
Pensamos, contudo, que a remissão de pecados pelo sangue de Cristo deve ser diligentemente
anunciada, e que cada um deve ser avisado de que o perdão de pecados lhe
pertence.
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Diligência
na renovação da vida. Ademais
os exemplos do Evangelho ensinam-nos quão vigilantes e diligentes devem ser os
arrependidos no esforço de renovação de vida e na mortificação do homem velho e
despertamento do homem novo. O Senhor disse ao paralítico que ele curara: “Olha
que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda cousa pior” (João
5.14). De igual modo, disse à adúltera a quem libertou: “Vai, e não peques
mais” (cap. 8.11). Sem dúvida, por estas palavras ele não quis dizer que o
homem, alguma vez, enquanto ainda vive nesta carne, não peque; mas recomenda
vigilância cuidadosa e diligência para que nos esforcemos de todos os modos e
supliquemos a Deus em nossas orações para não cairmos nos pecados dos quais
como que ressuscitamos, e para não sermos vencidos pela carne, pelo mundo e
pelo Diabo. Zaqueu, o publicano, recebido pelo Senhor em graça, exclama no
Evangelho: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se
nalguma cousa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Luc 19.8).
Portanto, do mesmo modo pregamos que restituição e misericórdia, e, até,
esmolas, são necessárias para aqueles que verdadeiramente se arrependem, e
exortamos todos os homens em toda parte com as palavras do apóstolo: “Não
reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às
suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado como
instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os
mortos, e os vossos membros a Deus como instrumentos de justiça” (Rom 6.12 ss).
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Erros. Por isso, condenamos todas as
afirmações ímpias de alguns que fazem mau uso da pregação do Evangelho e dizem:
“É fácil retornar a Deus; Cristo expiou todos os pecados: é fácil o perdão dos
pecados; portanto, que mal há em pecar? Nem precisamos estar muito preocupados
acerca do arrependimento, etc.” Não obstante, ensinamos sempre que o acesso a
Deus está aberto a todos os pecadores, e que ele perdoa todos os pecados a
todos os que creem, exceto o pecado contra o Espírito Santo (Mc 3.29).
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As seitas. Eis por que condenamos os antigos e
modernos novacianos e os cataristas.
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Indulgências
papais. Condenamos, de modo especial,
a doutrina lucrativa do Papa sobre a penitência, e contra a sua simonia e as
suas indulgências simoníacas usamos o julgamento de São Pedro com respeito a
Simão: “O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir por
meio dele o dom de Deus. Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o
teu coração não é reto diante de Deus” (At 8.20 ss).
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Satisfações. Não aprovamos também aqueles que
pensam que, pelas suas satisfações, reparam os pecados cometidos. Ensinamos que
só Cristo, pela sua morte ou paixão, é a satisfação, a propiciação ou a
expiação de todos os pecados (Is. cap. 53; Iª Co 1.30). Contudo, como já
dissemos, não cessamos de insistir na mortificação da carne. Mas acrescentamos
que essa mortificação não deve ser orgulhosamente exaltada perante Deus como
satisfação pelos pecados, mas deve ser realizada humildemente, de conformidade
com a natureza dos filhos de Deus, como uma nova obediência resultante da
gratidão pelo livramento e pela satisfação plena obtidos pela morte e satisfação
do Filho de Deus.
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Antes de prosseguir no assunto da absolvição dos
pecados e entrada no reino dos céus pela pregação da Palavra temos que nos
estender um pouco mais para olhar a outra chave do reino dos céus: a disciplina
cristã. Esta também é usada pela Igreja, pela Congregação do Senhor. Ela também
foi entregue primeiramente aos apóstolos e depois à toda a Igreja. Mas a Bíblia
ensina que a disciplina eclesiástica deve ser exercida pelos presbíteros
escolhidos pela Congregação. A disciplina também pode fechar a porta do reino
dos céus aos rebeldes, isto é, àqueles que promovem causam divisões e
escândalos morais, ensinam falsas doutrinas, entre outras coisas. Para esses
tais a Igreja deve fechar a porta aqui em baixo e o Senhor Jesus disse que
também fechará lá em cima. E a menos que haja arrependimento elas permanecerão
fechadas. Tornando à primeira chave, isto é, a pregação do santo evangelho, ela
foi dada à Igreja para que a use simplesmente sem dificultar a entrada dos
pecadores arrependidos e penitentes. Proclamação feita, coração derramado na
presença de Deus, pecador vindo através de Cristo, pela fé confiando em seu
sangue que purifica todos os pecados, porta do reino aberta. Nada mais, nada
menos. Daí para frente é cultivar uma vida de gratidão a Deus, rogos pela assistência
do Espírito Santo e vigilância para não retornar aos antigos pecados, para
isso, contando sempre com a graça de Deus.
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