"Segunda Confissão de Fé Helvética" 14. Do arrependimento e da conversão do homem (Parte III)

Das chaves do Reino do Céu. Quanto às chaves do Reino de Deus, que o Senhor entregou aos apóstolos, muitos tagarelam inúmeras coisas espantosas, e com elas forjam espadas, lanças, cetros e coroas, e pleno poder sobre os maiores reinos, e, afinal, sobre almas e corpos. Julgando de modo singelo, segundo a Palavra do Senhor, dizemos que todos os que são legitimamente chamados ministros possuem e exercem as chaves, ou o uso das chaves, quando anunciam o Evangelho; isto é, quando ensinam, exortam, confortam, repreendem e exercem a disciplina sobre o povo confiado aos seus cuidados. 
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Abrir e fechar (o Reino). Desse modo abrem o Reino dos Céus aos obedientes e o fecham aos desobedientes. O Senhor prometeu essas chaves aos apóstolos em Mateus, capítulo 16, e as deu em João capítulo 20, Marcos capítulo 16 e Lucas capítulo 24, quando enviou seus discípulos e os mandou pregar o Evangelho a todo o mundo, e perdoar pecados. 
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O ministério da reconciliação. Na carta aos Coríntios diz o apóstolo que o Senhor deu o ministério da reconciliação aos seus ministros (2ª Cor 5.18 ss). E ele explica qual é ele, dizendo que é a pregação ou o ensino da reconciliação. E, tornando suas palavras ainda mais claras, acrescenta que os ministros de Cristo desempenham o ofício de embaixadores em nome de Cristo, como se Deus mesmo por meio deles exortasse o povo a se reconciliar com Deus, sem dúvida nenhuma pela fiel obediência. Portanto, exercem o poder das chaves quando persuadem os homens à fé e ao arrependimento. Assim, reconciliam os homens com Deus. 
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Os ministérios proclamam a remissão de pecados. Assim, eles perdoam pecados. Abrem, assim, o Reino dos Céus e nele introduzem os crentes: mui diferentemente daqueles de quem o Senhor fala no Evangelho: “Ai de vós, intérpretes da lei! porque tomastes a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando” (Luc 11.52). 
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Que são as chaves do Reino dos céus e quem as têm? Primeiro é bom lembrar que só entra no céu quem o Senhor escolhe para trazer à Sua presença e fazer ali habitar. E Deus tem seus meios de fazer isso. O apóstolo Paulo disse que Deus salva o pecador pela pregação do Evangelho: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” - 1ª Coríntios 1.21. Então aí está uma chave do reino do céu: a pregação do santo evangelho, incumbência que Deus deu aos seus ministros. A pregação é uma chave que pode abrir as portas do reino dos céus para muitos homens que ouvindo o chamado de Deus, arrependem-se e rendem-se ao senhorio de Cristo. A mesma chave pode também fechar para outros tantos que ao ouvir a pregação endurecem-se e se vão desprezando o chamado ao arrependimento e à sujeição ao Rei Jesus. Essas chaves foram entregues primeiramente aos doze apóstolos, depois aos setenta, e obviamente à toda Igreja do Senhor. Nenhum homem na terra tem a exclusividade dessa chave. Para melhor entendermos em linguagem humana, é como se fosse uma porta de duas trancas: uma do lado de baixo e outra do lado de cima. A do lado de cima está nas mãos do Senhor Jesus e a do lado baixo está nas mãos da Igreja – “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” - Mateus 18.18. Se alguém entrou aqui o Senhor disse que também entrou lá. Se para alguém as portas se fecharam aqui, também se fecharam lá, porque fora da Igreja de Cristo não há salvação. Quanto à repreensão do Senhor aos escribas e fariseus pelo fato desses impedirem muitos de entrar no reino dos céus, mostra como a falsa igreja pode ser motivo de tropeço para muitos, pois aqueles representavam exatamente a falsa igreja daqueles dias, que só possuía legalismo e formalidade, mas lhe faltava graça.

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