"Segunda Confissão de Fé Helvética" 14. Do arrependimento e da conversão do homem
A doutrina
do arrependimento está ligada ao Evangelho. Pois assim diz o Senhor no
Evangelho: “Que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados
a todas as nações” (Luc 24.47).
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Que é
arrependimento? Por
arrependimento entendemos uma volta atrás da mente no pecador provocado pela
Palavra do Evangelho e pelo Espírito Santo, e recebida pela verdadeira fé, com
o que o pecador imediatamente reconhece a sua corrupção inata e todos os seus
pecados denunciados pela Palavra de Deus; e entristece-se por eles em seu
coração, e não apenas os lamenta e francamente confessa diante de Deus com um
sentimento de vergonha, mas também com indignação os abomina; cuidando agora zelosamente
de emendar-se, num esforço constante em busca da inocência e da virtude, no
qual esforço se exercita santamente em todo o resto de sua vida.
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O
arrependimento é verdadeira conversão a Deus. E este é o verdadeiro arrependimento,
uma sincera volta para Deus e para todo o bem, e uma profunda aversão ao Diabo
e a todo o mal.
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O
arrependimento é dom de Deus. Dizemos
expressamente que este arrependimento é puro dom de Deus e não uma realização
de nossas forças. O apóstolo ordena a um fiel ministro que diligentemente
instrua aqueles que se opõem à verdade, “na expectativa de que Deus lhes
conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2ª Tim 2.25).
Lamenta os pecados cometidos. Aquela mulher que lavou os pés do Senhor com suas
lágrimas, e São Pedro, que chorou amargamente e lamentou ter negado o Senhor
(Luc 7.38; 22.62) mostram claramente como deve ser o espírito de um homem
arrependido, lamentando seriamente os pecados que cometeu. Confessa os pecados
a Deus. E o filho pródigo e o publicano no Evangelho, quando comparados com o
fariseu, apresentam-nos as fórmulas mais adequadas de confessar os nossos
pecados a Deus. O primeiro disse: “Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já
não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus
trabalhadores” (Luc 15.18 ss). E o segundo, não ousando erguer os olhos ao céu,
bate no peito, dizendo: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (cap. 18.13). E
não temos dúvida de que foram aceitos em graça por Deus, pois o apóstolo São
João diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não
temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós” (1ª
João 1.9 ss).
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Sem dúvida, o arrependimento tanto quanto a fé são dons da graça
que o Espírito Santo dá aos eleitos quando estes ouvem o evangelho. Esses dons
acompanham o chamado eficaz que é a operação realizada no íntimo do pecador,
convertendo-os a Deus. Ao mesmo tempo que a pregação do evangelho é um chamado
à fé, ao arrependimento e à conversão, o Senhor sabe que nenhum pecador irá
crer, arrepender-se e converter-se por iniciativa própria. É preciso que algo
seja feito nele, até porque o arrependimento não é apenas um ato, mas uma
consciência da sua miséria e depravação, que o acompanhará para o resto da vida,
enquanto vai sendo santificado e conformado ao Senhor Jesus Cristo. Haverá
sempre um reconhecimento da sua fraqueza e impotência, e a total dependência de
Deus para vencer o pecado e o mal neste mundo. Além disso alguém que tem a
compreensão do quanto foi perdoado também amará muito Aquele que o perdoou e
viverá num santo temor de tornar a ofendê-lo. Em outras palavras o santo
redimido não deseja jamais ofender a Deus, e quando fá-lo, sente muita tristeza
e logo se humilha em sua santa presença. Aqui podemos ver outra vez a diferença
entre o pio e o ímpio. O ímpio peca e prossegue em seu pecado acumulando ira
para o dia do juízo; o pio também peca, mas quando isso acontece, logo percebe
que o pecado afeta diretamente a sua comunhão com Deus. Logo se arrepende pois
deseja ver-se livre daquela mancha em suas vestes novas e tornar à comunhão do
Pai o quanto antes. Isso significa viver em contínuo arrependimento e contínua
conversão a Deus.
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