Confissão Belga – Artigo 15 - O Pecado Original

Cremos que, pela desobediência de Adão, o pecado original se estendeu por todo o gênero humano. Este pecado é uma depravação de toda a natureza humana e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas. É a raiz que produz no homem todo tipo de pecado. Por isso, é tão repugnante e abominável diante de Deus que é suficiente para condenar o gênero humano.

Nem pelo batismo o pecado original é totalmente anulado ou destruído, porque o pecado sempre jorra desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada. O pecado original, porém, não é atribuído aos filhos de Deus para condená-los, mas é perdoado pela graça e misericórdia de Deus. Isto não quer dizer que eles podem continuar descuidadamente numa vida pecaminosa. Pelo contrário, os fiéis, conscientes desta depravação, devem aspirar a livrar-se do corpo dominado pela morte (Romanos 7:24).

Neste ponto rejeitamos o erro do pelagianismo, que diz que o pecado é somente uma questão de imitação.

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Comentário: Em Adão toda a raça humana pecou e decaiu da glória, pois em Adão estava representada. Ele é o cabeça da humanidade, tendo ele caído, toda a sua descendência tornou-se uma raça caída. O homem nasce neste mundo e já traz consigo o gene adâmico contaminado pela queda, isto é, a hereditariedade caída. Uma criança não aprende a pecar aqui imitando os mais velhos, ao contrário, cada novo ser que vem ao mundo traz dentro de si a semente do pecado, que com o tempo frutificará e multiplicará, revelando a corrupção do coração do homem e sua rejeição a Deus e a sua santa lei. O homem é pecador não porque peca, mas ele peca porque é pecador, esta é a sua natureza. Um limoeiro produz limões porque é limoeiro, é sua natureza. Assim como a árvore produz seu fruto de acordo com sua natureza, assim também o homem. O pecado original é a fonte de onde jorram todos os demais pecados ao longo da nossa vida. Adão fora criado a imagem e semelhança de Deus e caíra desse estado glorioso. E o filho de Adão já trouxe a imagem caída de Adão - E Adão ... gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem (Gênesis 5.3), e não mais a imagem de Deus, agora seus filhos já nasciam caídos e depravados. Ser depravado não significa que o homem é tão mau quanto alguém poderia ser, mas que cada parte de seu ser está maculada pelo pecado – sua mente, vontade, emoções, suas ações e reações, tudo está envenenado, tudo no homem natural é desordenado. Até quando ele ora suas motivações são erradas. O regenerado foi liberto da culpa, da escravidão e domínio do pecado, mas ainda não da presença do pecado, pois esse ainda está em seu corpo de carne – mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum (Romanos 7.17, 18, 20). A Confissão explica que nem mesmo o batismo dá conta dessa fonte de morte que é o pecado original, nem mesmo a regeneração do nosso espírito resolve definitivamente o problema, só a morte encerra a atividade em nossas vidas aqui e, depois a glorificação exterminará o pecado de nós para sempre. Daí a necessidade de travar uma batalha diária contra as tentações, contra a cobiça, a concupiscência e impurezas; daí a importância da renúncia da nossa própria vontade. O grande sonho do crente é contemplar o dia em que será livre da presença do pecado para sempre; é ansiar por aquele lugar onde o pecado não entrará e pecar será uma opção inválida ou inexistente para sempre, eternamente, amém.

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